Estudo publicado pela Frontiers in Public Health relaciona dieta contendo alimentos contaminados por agrotóxicos ao desenvolvimento de câncer no Brasil

agrotoxicos

A partir dos últimos dados publicados liberados em 2018 pelo “Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos” (PARA), um grupo de pesquisadores de diferentes instituições públicas de ensino superior do Paraná e de Santa Catarina, do Instituto Nacional do Câncer e da Universidade de Montréal do Canadá produziram um estudo publicado na revista científica Frontiers in Public  Health que lança luz sobre o consumo de alimentos contaminados por diferentes tipos de agrotóxicos e sobre o risco de desenvolvimento de diferentes tipos de câncer associados diretamente à dieta alimentar dos brasileiros.

Uma das novidades deste estudo é que os pesquisadores não apenas identificaram o número de agrotóxicos presentes em cada alimento analisado , mas também apontaram os tipos de câncer que estão relacionados a cada um desses agrotóxicos. Além disso, o estudo aponta para a necessidade de que se leve em conta a interação que acaba ocorrendo no organismo dos indivíduos que consomem múltiplos tipos de agrotóxicos, cada um deles sendo potencial causador de diferentes formas de câncer (ver figura abaixo).

alimentos residuos

Os autores alertam para a gravidade do problema relacionado à exposição a alimentos contaminados por agrotóxicos e lembram que “aproximadamente 80% dos agrotóxicos autorizados no Brasil não são permitidos para uso em pelo menos três países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), incluindo países que têm a agricultura como atividade econômica essencial”.   O problema é que várias das principais empresas fabricantes dessas substâncias proibidas estão sediadas em países que são fornecedores diretos de agrotóxicos utilizados em larga escala pelo latifúndio agro-exportador no Brasil e na maior parte do chamado Sul Global.

Os autores argumentam ainda que a exposição a agrotóxicos no Brasil viola muitos direitos humanos da população, na medida em que o direito à vida é potencialmente violado quando os agrotóxicos contaminam os alimentos e a água para consumo humano. 

O que mostrará o PARA após quatro anos de liberou geral do governo Bolsonaro?

Há que se lembrar que o PARA ficou paralisado durante os quatro anos de governo de Jair Bolsonaro, o mesmo período em que foram liberados 2.030 agrotóxicos, muitos deles inclusos na lista de agrotóxicos banidos na União Europeia. Como nesse período também foram afrouxados os mecanismos de comando e controle, o que inevitavelmente deve ter aumentado o uso descontrolado de agrotóxicos, inclusive naquelas culturas produzidas para abastecer o mercado interno de frutas e legumes.

A questão é que muito certamente a próxima edição do PARA deverá trazer informações que confirmarão a extrapolação dos limites considerados seguros para a presença de resíduos de agrotóxicos nos alimentos consumidos pelos brasileiros. E com isso, como mostrado neste estudo, a chance de que as relações de sinergia entre os diferentes agrotóxicos presentes nos alimentos produzidos para alimentar os brasileiros também estejam mais aceleradas não é nada desprezível.

Rede Alerta Contra Desertos Verdes revela face nada amigável da Suzano Papel em cartilha

O que você precisa saber sobre a empresa Suzano Papel e Celulose

cartilha suzano

A Suzano é uma multinacional brasileira que planta eucalipto para produzir celulose. Ela é uma das principais empresas do setor no mundo.

A Suzano se tornou a maior empresa de plantações de eucalipto no Brasil ao comprar, em 2018, a Fibria, seu principal concorrente. A Fibria, por sua vez, resultou da fusão, em 2009, entre duas outras empresas: a Votorantim Celulose e Papel e a Aracruz Celulose. Desde o ano 2018, 50% da empresa Veracel Celulose também pertence a Suzano.

Como resultado, as plantações de eucalipto da Suzano ocupam hoje uma área imensa, inclusive diversos territórios que pertencem a povos e comunidades indígenas, quilombolas e camponesas, que foram invadidos por essas empresas.

A Suzano é responsável por graves danos sociais, ambientais e climáticos, incluindo desmatamento, poluição e escassez da água, e destruição de terras férteis que deveriam produzir alimentos, dentre outros.

Leia esta cartilha e conheça alguns fatos importantes sobre a Suzano, fatos muitas vezes invisíveis por trás da máquina de propaganda dessa megaempresa.

Boa leitura!

Clique aqui para baixar a cartilha


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Este texto foi originalmente publicado pela Rede Alerta contra Desertos Verdes [Aqui!].

Pesquisa conclui que faltam estudos sobre os efeitos de agrotóxicos sobre as florestas tropicais

plaguicidas-bosques-996x567O estudo dos efeitos dos inseticidas e herbicidas usados ​​na produção de banana também deve incluir os fungicidas, segundo o estudo. Crédito da imagem: Alliance of Bioversity International & CIAT/Flickr , bajo licencia Creative Commons (CC BY-NC-SA 2.0) .

Por Nicolás Bustamante Hernández

[BOGOTÁ] Os efeitos colaterais dos agrotóxicos em florestais tropciais e outros ecossistemas terrestres onde se encontram algumas plantações comerciais (ou florestais) não estão bem documentados pela literatura científica. Os estudos sobre agrotóxicos estão mais concentrados na agricultura, onde são bem conhecidas as sequelas negativas para os sistemas de água doce e os seres humanos, por exemplo.

Usando como exemplo a produção a grande escala de exportação de banana na Costa Rica , uma equipe internacional de cientistas revisou a literatura disponível, oferecendo um estado da arte sobre os efeitos dos agrotóxicos (incluídos inseticidas, fungicidas e herbicidas) em um cultivo tropical. Os resultados foram publicados na revista Environmental International .

Os autores mostram que se bem os agrotóxicos jogam um papel na diminuição da biodiversidade nas regiões temperadas (que serviram como modelo para estabelecer as regulamentações sobre o uso dessas substâncias a nível mundial), apenas há poucas pesquisas sobre esse problema nas trópicos, onde estas substâncias são mais utilizadas .

“A ideia é que esses agrotóxicos, especialmente quando são usados ​​por meio de aplicações aéreas, podem chegar até os fragmentos de bosques com alta biodiversidade e, potencialmente, ter um impacto total. O problema é que, até agora, isso não foi suficientemente estudado”, diz a SciDev.Net Carsten A. Brühl, um dos autores do estudo.

O estudoencontrou que, com os muito agrotóxicos sintéticos envolvidos na produção de banana, “a abordagem nos inseticidas, que revela os riscos aquáticos mais altos e, nos herbicidas, deve estender-se aos fungicidas, que se aplicam por via aérea em áreas mais grandes”.

“ “[…] estes agrotóxicos, especialmente quando são utilizados por meio de aplicações aéreas, podem chegar até os fragmentos de bosques com alta biodiversidade e, potencialmente, ter um impacto total.  O problema é que, até agora, isto não foi suficientemente estudado ”.

Carsten A. Brühl, professor de Ecologia Comunitária e Ecotoxicologia – Instituto de Ciências Ambientais da Universidade de Koblenz y Landau, Alemanha

Brühl, professor de Ecologia Comunitária e Ecotoxicologia no Instituto de Ciências Ambientais da Universidade de Koblenz e Landau (Alemanha), sinaliza que geralmente se assume que os inseticidas apresentam um alto risco.

“Mas é muito provável que o uso contínuo de fungicidas nas bananeiras também tenha um grande impacto, quando são aplicados regularmente – por exemplo, todas as semanas – também podem afetar outros microrganismos. Portanto, os fungicidas também devem estar no centro de atenção” seguro.

Ainda que a pesquisa está centrada na Costa Rica, e não são oferecidos dados sobre outros lugares da América Latina, Brühl acredita que a situação poderia ser semelhante em outras regiões e com outros tipos de cultivos, já que a regulamentação dos agrotóxicos se baseia em cenários da União Européia e dos Estados Unidos, e não se referem ao contexto tropical no qual são usados.

Silvia Restrepo, professora titular da Universidad de los Andes, especialista na área de fitopatologia e que desenvolveu ampla investigação em doenças da mandioca e de cultivos da família Solanaceae, afirma que na atualidade existe uma preocupação séria sobre o uso de estes produtos químicos em diferentes tipos de cultivos. A prova disso seria o fato de que existe uma ampla literatura sobre o tema.

“Se falamos de palavras-chave como ‘agrotóxicos’ e ‘América’ em uma base de dados como o Google Scholar , aparecem mais de 17 mil artigos ou livros e capítulos de livros. Hoje em dia está se financiando projetos para acompanhar vários sistemas na América do Sul para a redução do uso de agrotóxicos”, disse Restrepo em conversa telefónica com SciDev.Net .

Sobre as conclusões da investigação, relacionadas com os efeitos sobre os ecosistemas terrestres , Restrepo –que não participou da revisão – reconhece que essas são preocupações compartilhadas pela comunidade científica dedicada aos estudos agrícolas.

Restrepo citou o caso da Colômbia, onde, disse que “”Não apenas os ecossistemas terrestres causam preocupação, mas na maioria das vezes os agricultores não têm equipamentos de proteção individual para aplicar esses produtos químicos”.”.

“Muitas vezes os vi aplicando agrotóxicos com suas roupas normais, mesmo de bermuda e com as crianças brincando na beira da lavoura. Também encontramos muitas análises sobre a contaminação que esses produtos causam. Pesquisas realizadas pela Universidad de los Andes investigaram o efeito de contaminantes no DNA humano”, afirma Restrepo..

Por sua parte, Brühl faz um chamado para que os países das regiões tropicais não utilizem agrotóxicos proibidos na União Européia ou nos Estados Unidos. As razões −explica- são os efeitos potenciais na saúde humana, que “são os mesmos em todos os lugares”.

“Em alguns cultivos tropicais o uso deagrotóxicos é enorme. Atualmente, a União Européia tem como objetivo reduzir o uso de agrotóxicos em 50% até 2030, e isso também é contemplado no Acordo de Montreal. Por isso, fica muito trabalho a fazer ser feito para se ter uma agricultura com um menor uso de agrotóxicos”, assinala.

Link para o artigo na Environmental International


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Este artigo foi produzido pela edição de América Latina e Caribe de  SciDev.Net e está publicado [Aqui!]

Novo estudo comprova impactos devastadores do Glifosato sobre populações de abelhas nativas

Jatai bee of the species Tetragonisca angustula

Abelhas Jataí da espécie Tetragonisca angustula

Um estudo de autoria de um grupo de pesquisadores brasileiros ligados à Universidade Federal da Bahia (UFBA)e à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) que acaba de ser publicado na revista Ecotoxicology revela os impactos do herbicida glifosato sobre a abelha nativa Tetragonisca angustula (Jataí). 

Segundo o grupo liderado pelo professor Vinícius Cunha Gonzalez,  do Laboratório de Bioquímica e Biofísica do Instituto Multidisciplinar em Saúde, Universidade Federal da Bahia  do campus de Vitória da Conquista, os experimentos realizados detectaram que o contato das abelhas Jatai com o glifosato resultaram em morte, alterações motoras (diminuição da velocidade e tremores), autolimpeza excessiva e desorientação (voltar à luz e parar).  Em outras palavras, o glifosato mostrou ter um efeito devastador sobre esse grupo de abelhas nativas, mesmo em doses baixas.

Além disso, os pesquisadores alertaram que “embora não tenhamos testado os efeitos da polinização, podemos inferir de nossos resultados que esta formulação pode afetar negativamente a atividade de polinização de T. angustula“. Em outras palavras, o uso do glifosato está provavelmente afetando a capacidade desses polinizadores de alcançarem a sua melhor performance, quando não morrem de forma imediata pelo contato com esse herbicida que simplesmente é o agrotóxico mais vendido em todo o planeta.

A importância deste estudo é ainda maior quando se considera que o declínio das populações de abelhas diminui os serviços de polinização, danificando plantas e a biodiversidade agrícola, sendo importante notar que os agrotóxicos são um dos principais responsáveis por tal declínio.

Syngenta foi dona de fazenda sobreposta à TI Porquinhos, no Maranhão

Multinacional fabricante de agrotóxicos vendeu imóvel de 900 hectares incidente no território do povo Canela-Apãnjekra; UOL contou que funcionários da empresa conspiraram para esconder amostras de insumos altamente poluentes durante inspeção do Ibama

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Por Bruno Stankevicius Bassi para “De olho nos ruralistas”

Dona de um quarto do mercado mundial de agrotóxicos e 9,2% da produção global de sementes transgênicas, a holding sino-suíça Syngenta tem uma história marcada por fatos desabonadores. Da perseguição a cientistas que questionaram a segurança do pesticida Paraquate à condenação pelo assassinato de um sem-terra no Paraná, são várias as denúncias de movimentos sociais, imprensa e grupos de pesquisa contra o modus operandi da multinacional.

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A última dessas denúncias ocorreu nesta terça-feira (02), em reportagem publicada pelo UOL, que revelou a ação de funcionários da empresa para ocultar embalagens do bactericida bronopol, um insumo altamente poluente, antes de uma inspeção de fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) na planta da empresa em Paulínia (SP). A conspiração para esconder o produto foi comprovada por mensagens internas de funcionários e executivos da empresa e motivou uma multa ambiental de R$ 1,3 bilhão. Segundo o Ibama, 292 lotes de agrotóxicos receberam a adição de bronopol, considerado perigoso para a vida marinha e no caso de ser ingerido por humanos.

Um lado menos conhecido da Syngenta é a sua faceta fundiária. Segundo dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), compilados para a produção do relatório “Os Invasores: quem são os empresários brasileiros e estrangeiros com mais sobreposições em terras indígenas”, a empresa aparecia como dona, até 2021, da Fazenda Olho D’Água, em Fernando Falcão (MA), um imóvel de 900,87 hectares inteiramente sobreposto à área demarcada para ampliação da Terra Indígena Porquinhos dos Canela-Apanyekrá. A TI se espalha por quatro municípios maranhenses e aguarda a conclusão de seu processo de reestudo desde 2009.

Segundo os dados do Sistema de Gestão Fundiária (Sigef) do Incra, a fazenda teve sua titularidade transferida em 2022, passando da Syngenta Proteção de Cultivos Ltda para o fazendeiro Neuri Genevro, cujo CPF aparece no descritivo de restrição de uso do Cadastro Ambiental Rural (CAR) do imóvel, que também aponta a sobreposição em área indígena. A data da atualização do CAR é justamente de 2022.

Dono da Agropecuaria Italbrasil, Neuri é dono de duas fazendas de pecuária em Monte Do Carmo, no Tocantins, sendo a maior delas de 2.358,27 hectares. Ele também é presidente da Associação dos Produtores Rurais da Fazenda Olho D’Água da Soledade, com sede em São Félix de Balsas (MA).

Enquanto isso, o povo Canela sofre com o desmatamento de seu território tradicional: a TI Porquinhos foi a mais desmatada do Cerrado brasileiro em 2019, conforme estudo do Instituto Cerrados.

Confira abaixo o mapa da sobreposição do imóvel vendido pela Syngenta:

Observatório destaca casos em série de reportagens

A aventura em terras maranhenses não foi a única sobreposição ligada à Syngenta identificada no relatório “Os Invasores“. A 2.500 quilômetros da TI Porquinhos, no município de Itaporã (MS), fica a Fazenda Vazante, que possui 13.626,94 hectares incidentes sobre a área de reestudo demarcada da TI Cachoeirinha. Trata-se da sexta maior sobreposição em terra indígena do Brasil, ocupando 37% da área total delimitada para a ampliação do território do povo Wedezé.

Unidade da rede Agro Jangada, comprada pela Syngenta em 2022. (Foto: Grupo Jangada)

A propriedade pertence a Waldir da Silva Faleiros, antigo dono da Agro Jangada, distribuidora de agrotóxicos e insumos agrícolas comprada pela multinacional suíça, em negociação aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em outubro de 2022. A negociação faz parte da estratégia de verticalização da Syngenta, que vem adquirindo distribuidoras regionais de modo a ampliar seu controle sobre a cadeia produtiva.

As 1.692 sobreposições em terras indígenas reveladas pelo observatório comprovam que a violação dos direitos indígenas não é um mero subproduto do capitalismo agrário. Entre os atores dessa política de expansão desenfreada sobre os territórios tracionais estão algumas das principais empresas do agronegócio brasileiro e global.

Os casos descritos na pesquisa estão sendo explorados também em uma série de vídeos e reportagens deste observatório. Com detalhes — muitos deles complementares ao dossiê — sobre as principais teias empresariais e políticas que conectam os “engravatados”, em cada setor econômico, legal ou ilegal.

Confira abaixo o vídeo sobre o relatório:

| Bruno Stankevicius Bassi é coordenador de projetos do De Olho nos Ruralistas. |

Foto principal (Lunaé Parracho/Repórter Brasil): agrotóxico produzido pela Syngenta continha doses ilegais de bactericida altamente tóxico para vida marinha


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Este texto foi inicialmente pelo site “De olho nos ruralistas” [Aqui!].

Estudo do Greenpeace-Alemanha encontra agrotóxicos proibidos em limões brasileiros vendidos na União Europeia

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Bruxelas – Um estudo do Greenpeace Alemanha sobre limões brasileiros vendidos na União Europeia (UE) encontrou resíduos de vários agrotóxicos, alguns deles proibidos para uso na Europa. Um laboratório credenciado e certificado testou mais de 50 amostras de limões comprados em supermercados e mercados atacadistas na Áustria, Bélgica, França, Alemanha, Itália, Holanda, Espanha e Suécia e encontrou resíduos de agrotóxicos em quase todas as amostras, exceto uma. 

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Os agrotóxicos – entre eles o herbicida glifosato, e os inseticidas imidaclopride e cipermetrina – são vendidos por empresas europeias no Brasil, um dos maiores usuários de agrotóxicos do mundo. O estudo foi conduzido à luz do planejado acordo comercial entre a UE e os países do Mercosul Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. O acordo UE-Mercosul eliminaria as tarifas sobre as exportações de agrotóxicos da UE para os países do Mercosul e reduziria os controles sobre os alimentos importados, o que significa que tanto o uso de pesticidas quanto os efeitos adversos devem aumentar acentuadamente.

Lis Cunha, ativista comercial do Greenpeace Alemanha, disse“Os gigantes químicos da UE exportam substâncias tóxicas para o Brasil, algumas das quais nem mesmo são aprovadas para uso dentro das fronteiras da UE, e a UE as reimporta como resíduos em alimentos. O acordo UE-Mercosul colocaria esse ciclo tóxico em marcha acelerada e consolidaria uma relação neocolonial e extrativista que favorece a UE. O acordo perpetua um modelo econômico que está destruindo nosso planeta, por isso estamos pedindo aos formuladores de políticas que enterrem o acordo UE-Mercosul de uma vez por todas”.

Marina Lacorte, ativista de alimentos e agricultura do Greenpeace Brasil, disse: “Os agrotóxicos já estão envenenando milhares de pessoas todos os anos no Brasil e matando milhões de abelhas, para citar apenas duas das muitas consequências. Então, quem se beneficiará com o acordo UE-Mercosul? Indústrias nocivas, como a indústria de agrotóxicos – mas certamente não as pessoas na Europa ou na América do Sul”.

Atualmente, mais de 3.000 produtos agrotóxicos comerciais estão registrados para uso no Brasil. Em fevereiro de 2023, 63% dos ingredientes ativos autorizados no Brasil não tinham autorização correspondente na UE . Um terço dos princípios ativos encontrados pelo estudo também são encontrados em agrotóxicos vendidos no Brasil pelas empresas europeias BASF e Bayer. Essas empresas devem se beneficiar do acordo comercial, que eliminaria as tarifas de mais de 90% das exportações de produtos químicos da UE, incluindo pesticidas.

Os ministros do Comércio europeus se reunirão em Bruxelas em 25 de maio para discutir o acordo UE-Mercosul.

Principais conclusões do estudo 

  • Das 52 amostras, 51 continham resíduos de agrotóxicos
  • Foram encontrados 27 ingredientes ativos: um biocida (clorato desinfetante), três herbicidas, dez fungicidas e 13 inseticidas
  • Seis dos ingredientes ativos encontrados não são aprovados ou proibidos na UE
  • Um terço das amostras continha o herbicida glifosato potencialmente cancerígeno
  • Mais de 90% das amostras contendo resíduos apresentaram um coquetel tóxico de até sete agrotóxicos diferentes
  • Mais da metade dos agrotóxicos encontrados nos limões brasileiros são considerados altamente perigosos porque representam um alto risco à saúde humana, aos animais ou ao meio ambiente.

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Este texto escrito originalmente em inglês foi originalmente publicado pelo Greenpeace Europe [   ].

Fazendas fornecedoras da Coca e Nestlé usam agrotóxicos que adoecem comunidades em SP

Coceira, manchas no corpo e dores no estômago fazem parte dos sintomas relatados pelas populações atingidas. Investigação exclusiva da Repórter Brasil e Lighthouse Reports mostra produtos que são jogados pelos ares em plantações em São Paulo

agrotóxicos

Por Hélen Freitas e Beatriz Silva, da Repórter Brasil e da Lighthouse Reports 

Sabe aquele suco de laranja que te dá forças para começar o dia ou o chocolate que te acolhe em momentos difíceis? Eles podem ser responsáveis por uma verdadeira chuva tóxica que adoece adultos, idosos e crianças no interior de São Paulo.

Investigação da Repórter Brasil com a Lighthouse Reports revela que fazendas fornecedoras da Coca-Cola e Nestlé estão pulverizando de avião agrotóxicos perigosos, muitos deles capazes de gerar câncer e que são proibidos na Europa. Em alguns casos, os químicos caem diretamente sobre a pele de famílias que vivem no entorno, gerando sintomas de intoxicação aguda.

É o caso de Cristina dos Santos Silva. Ela e seu marido tiveram dor de cabeça, falta de apetite e dor no estômago depois de um avião agrícola sobrevoar sua casa em fevereiro deste ano. As sequelas são ainda piores para bebês e idosos. Bianca Lopes relata que sua mãe e sua filha, então com apenas 6 meses, desenvolveram um quadro de conjuntivite hemorrágica um dia depois que um avião jogou agrotóxicos perto da sua casa. Este caso ocorreu há sete anos.

Após a pulverização aérea sobre sua casa, Ivanete Santos relata que perdeu a visão de um olho e que sua neta, Izadora, teve conjuntivite hemorrágica e sofreu sequelas na córnea (Foto: Alexandre de Souza/ Repórter Brasil)

Não é raro que esses moradores sintam cheiro forte e gotículas na pele ao verem o avião contratado pela Usina Atena sobrevoar perto de suas casas. A usina é vizinha de assentamentos onde moram Cristina e Bianca, no município de Rancharia, a 500 km da capital paulista. A reportagem descobriu que a Usina Atena fornece açúcar para uma empresa chinesa que, por sua vez, revende para a Nestlé e Coca-Cola.

A filial britânica da fabricante de bebidas negou manter relações comerciais com o grupo chinês e a Usina Atena. Porém, a firma é citada como cliente no site da empresa chinesa. Além disso, fonte ouvida pela reportagem também confirmou a relação entre as duas companhias.

Em outros casos levantados pela equipe, fazendas de cana e laranja que pulverizam de avião agrotóxicos proibidos na Europa fornecem diretamente para Nestlé, Coca-Cola e PepsiCo. A base de dados com o nome das fazendas e os agrotóxicos utilizados foram obtidos pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo. Já o rastreamento de clientes dessas fazendas foi feito pela Repórter Brasil e Lighthouse Reports.

Proibidos na Europa, despejados pelo ar no Brasil

Os dados revelam que duas fornecedoras diretas da Nestlé, a Copersucar e a Usina São Martinho, pulverizaram agrotóxico fabricado pela Basf que é proibido na União Europeia. Câncer no fígado, problemas no sistema reprodutivo e no desenvolvimento do feto são algumas das possíveis sequelas da exposição ao epoxiconazol. Devido às evidências internacionais sobre seus riscos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) está reavaliando a autorização para uso deste agrotóxico no Brasil.

A plantação de cana-de-açúcar da Usina Altena fica a cerca de 1km da porta da casa de Cristina Silva (Foto: Alexandre de Souza/ Repórter Brasil)

O epoxiconazol foi o agrotóxico suspeito de causar câncer mais pulverizado de avião pela cana no ano de 2019 em São Paulo. Foram 64 mil hectares, ou 64 mil campos de futebol, que receberam uma verdadeira chuva tóxica. Este estudo foi publicado pela Repórter Brasil em 2022, quando a Basf garantiu a segurança do produto. “O epoxiconazol continua sendo usado com segurança desde 1993 em mais de 60 países e contribui com sucesso para manter o potencial produtivo dos cultivos recomendados”.

Outra fornecedora da Nestlé investigada é a Tereos. Segunda maior produtora de açúcar do Brasil, o grupo tem fazendas nas regiões de Barretos e Presidente Prudente, onde morreram por câncer, em média, 214 e 180 homens a cada 100 mil habitantes, respectivamente, números maiores do que os valores do estado (138) e do país (120).

De acordo com os documentos, a empresa pulverizou o inseticida tiametoxam em suas plantações. Comercializado pela Syngenta, o produto é suspeito de causar problemas para o sistema reprodutivo e no desenvolvimento do feto, de acordo com a Agência Europeia de Produtos Químicos. A substância é proibida para uso na União Europeia devido aos seus efeitos nocivos às abelhas. O Ibama está reavaliando a sua permissão no Brasil.

A CropLife, associação que representa empresas produtoras de agrotóxicos como Basf, Bayer, FMC e Syngenta, afirma que embora os seus membros considerem cuidadosamente as decisões das autoridades reguladoras globais, não ser permitido para uso na União Europeia, não significa automaticamente que um produto não pode ser utilizado em outro país. “Os agrotóxicos não são automaticamente ‘mais perigosos’ ou ‘menos necessários’ porque não são autorizados na Europa”.

A Nestlé disse que realiza auditorias regulares em seus fornecedores e exige o “cumprimento de diretrizes e normas de fornecimento responsável, o que inclui políticas rigorosas referentes ao uso de bioquímicos”.

A São Martinho informou que a aplicação aérea de agrotóxicos é uma exceção e que quase não utiliza os químicos em sua produção. Já a Copersucar se limitou a dizer que segue as legislações nacionais e internacionais.

A Tereos Brasil afirmou que garante a total rastreabilidade dos voos a fim de analisar e garantir a aplicação mais precisa em suas plantações. Além disso, não negou sua relação com a Nestlé, nem com o mercado europeu. Já a Tereos francesa, utilizou de ironias para dizer quem seriam seus compradores. Sua assessoria de imprensa, entretanto, negou que o açúcar fornecido à Nestlé europeia seja brasileiro. Confira as respostas completas.

As produtoras e multinacionais contatadas pela reportagem não negaram suas relações comerciais.

Gilvan Silva, marido de Cristina, perdeu plantações com a pulverização aérea de agrotóxicos (Foto: Alexandre de Souza/ Repórter Brasil)

O lado amargo da laranja

Assim como o açúcar, os produtores de laranja também espalham agrotóxicos de forma descuidada pelos ares de São Paulo. Fornecedoras da Coca-Cola e PepsiCo pulverizaram inseticida com bifentrina em suas plantações. Este agrotóxico, produzido pela FMC, é proibido na União Europeia por ser classificado como cancerígeno e neurotóxico.

As responsáveis pela pulverização foram as fazendas da Citrosuco, fornecedora das duas multinacionais, e a Cutrale, da Coca-Cola. Nos últimos 10 anos, a Coca-Cola comprou mais de 3 mil toneladas de produtos da Cutrale. José Henrique Cutrale, um dos herdeiros da companhia, faz parte do conselho de administração da Coca-Cola Femsa, empresa mexicana de bebidas parceira de distribuição da The Coca-Cola Company.

A Cutrale já apareceu em outras investigações da Repórter Brasil. Apesar de afirmar que tem cláusulas em seus contratos sobre a necessidade de cumprimento da legislação trabalhista, trabalhadores acusaram um fornecedor de laranjas da empresa de trabalho escravo no ano passado Durante a pandemia, a Cutrale também cometeu outra violação ao demitir trabalhadoras grávidas, suspender vale-alimentação e não fornecer equipamento de proteção individual, que é fundamental sobretudo para trabalhadores em contato com agrotóxicos.

Por meio de sua assessoria, a Coca-Cola afirmou que todos os ingredientes utilizados contam com rigorosos protocolos de inspeção para avaliação do padrão de qualidade e segurança, levando em consideração as diretrizes globais da companhia. “Neste âmbito, a empresa destaca seus laboratórios para o controle dos insumos, a fim de garantir que estejam adequados aos critérios estabelecidos pelos órgãos reguladores no Brasil e autoridades competentes em cada país onde opera”.

Já a Citrosuco se limitou a dizer que cumpre a legislação nacional e internacional. Confira as respostas.

A Cutrale e PepsiCo foram procuradas, mas não responderam até o fechamento da reportagem.

Lobby tóxico

Diferentemente da Europa, onde a pulverização aérea é banida, sendo permitida apenas em casos excepcionais, no Brasil a prática é liberada e pouco fiscalizada. São poucos os municípios e apenas um estado, o Ceará, que proíbem essa aplicação. Mas essas decisões não são bem aceitas por gigantes do setor agrícola e de transporte aéreo, o que fez com que elas entrassem com ações no STF (Supremo Tribunal Federal) questionando a constitucionalidade das legislações.

O lobby da cana também é forte em São Paulo. Na região do Pontal do Paranapanema, oeste paulista, o Ministério Público estadual chegou a proibir a pulverização aérea devido a denúncias de assentados que perderam produções de seda em razão das usinas. O caso ocorreu em 2015 e a liminar foi derrubada três meses depois pela Justiça, a pedido dos produtores de cana investigados.

O município de Buriti, no Maranhão, é um dos poucos lugares onde a proibição de pulverização por avião resiste. O local foi palco de um dos mais escandalosos e recentes casos de intoxicação. Em abril de 2021, as vítimas filmaram agrotóxicos sendo jogados de avião sobre casas de uma comunidade rural. André Lucas, na época com 7 anos, sentiu as gotículas em sua pele, que logo começou a arder até que se abriram feridas. Dos 80 moradores, ao menos oito relataram sintomas de intoxicação, como coceiras, febre e manchas no corpo. As imagens do menino e de outras vítimas foram denunciadas pelaRepórter Brasil e viralizaram.

Tanto no caso do Maranhão como no do Pontal do Paranapanema, alguns dos agrotóxicos encontrados pelas autoridades nas fazendas são proibidos na União Europeia e fabricados por empresas com origem no continente. Ou seja, a Europa libera a produção de substâncias tóxicas que ela própria rejeita.

No Maranhão, foram identificados os produtos da Syngenta que tem o ingrediente tiametoxam e ciproconazol, ambos banidos na Europa. Esses produtos podem provocar irritação dos olhos e da pele, além de falta de ar. Mesmos sintomas relatados pela comunidade.

“Passei o ano inteiro sem produzir um cacho de banana”, conta Bianca Lopes, que virou líder comunitária dos assentamentos vizinhos à Usina Atena para proteger sua família da chuva tóxica (Foto: Alexandre de Souza/ Repórter Brasil)

Em São Paulo, o Ministério Público também encontrou o ciproconazol no depósito da Usina Atena, vizinha aos assentamentos onde vivem Cristina e Bianca. O órgão achou ainda os produtos feitos pelas empresas alemãs Basf e Bayer com os ingredientes fipronil e triflumurom, ambos proibidos na União Européia. A primeira substância é possivelmente cancerígena para humanos, de acordo com a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, e a segunda é classificada como perigosa ao meio ambiente.

Por meio de seu advogado, a Usina Atena afirmou que realiza pulverização aérea desde 2008, sempre respeitando a legislação vigente e as condições de voo e meteorológicas. Além disso, disse que os voos não foram realizados nas proximidades dos assentamentos. “Quando os aviões sobrevoam as proximidades do assentamento são exclusivamente para manobras ou transposição de áreas, jamais para pulverização”. Leia a resposta completa.

As vítimas invisíveis

Apesar de serem constantes as denúncias sobre pulverizações aéreas que atingem comunidades rurais, os casos ficam invisíveis. A primeira barreira é no sistema de saúde. Cristina e seu marido foram ao médico enquanto sentiam os sintomas e relataram o contato com o produto que caiu do avião agrícola. Mesmo assim, o médico deu o diagnóstico de infecção intestinal e descartou a possibilidade de intoxicação por agrotóxico.

O mesmo problema é relatado por Bianca, que virou líder comunitária para lutar por melhor controle de agrotóxicos após ver diversos casos de intoxicação se repetindo. “Num dia de atendimento, a médica chegou a atender 80 pessoas intoxicadas, mas pra ela era virose, conjuntivite, catapora”, afirma. De acordo com Bianca, os casos aparecem sempre após as pulverizações aéreas feitas pela Usina Atena.

Assentados de Rancharia (SP) relataram cheiro forte e outros sintomas após aviões da Usina Atena sobrevoarem a área (Foto: Arquivo Pessoal)

O promotor Gabriel Pires, que investiga casos de pulverização no interior de São Paulo, afirma que a subnotificação dificulta a sustentação dos casos na Justiça. Apesar de todas as denúncias que ele ouviu, o promotor diz ser difícil encontrar registros de intoxicações por agrotóxico no município. Em tese, quando há uma intoxicação, os médicos deveriam preencher um formulário que é enviado ao Ministério da Saúde. Estimativas da Organização Mundial da Saúde apontam que apenas uma em cada 50 intoxicações são registradas.

O registro não aconteceu sequer no caso do Maranhão, que ganhou repercussão nacional. Uma semana após as imagens do menino com feridas na pele terem sido divulgadas, o governo enviou a polícia e uma equipe de saúde para atender as vítimas. Mesmo assim, o caso nunca foi registrado como intoxicação por agrotóxico.

Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, a demora em fazer testes nas vítimas e no ambiente prejudicou a produção de provas, já que nesse tempo os agrotóxicos podem ser dissipados ou expelidos do corpo. Apesar das imagens que revelam o avião passando por cima das casas, das imagens das crianças com problemas na pele e diversas denúncias feitas pelas vítimas sobre sintomas de intoxicação, o inquérito policial concluiu que as comunidades não sofreram intoxicação. Há outra investigação sendo conduzida pelo Ministério Público do Maranhão, que ainda não foi concluída.

Dois anos depois, Antônia Peres, mãe do menino atingido, conta que ele ainda tem marcas na pele que ficam mais evidentes quando estão aplicando agrotóxicos por trator, o que continua sendo permitido. Segundo ela, a pele do menino ficou grossa e ele nunca teve um atendimento com dermatologista para tratá-la.

Peres reclama da falta de comunicação dos órgãos sobre o andamento da ação. “O exame que a gente fez, a gente nunca recebeu o resultado, eles sumiram com o resultado. A gente procura, eles falam que ainda não chegou, que quando chegar eles vão entregar. Dois anos depois, a gente nunca recebeu um exame sequer”.


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Este texto foi inicialmente publicado pela Repórter Brasil [Aqui!].

Brasil: de lixeira química a polo mundial da fabricação de agrotóxicos (banidos)

É o que acredita Leonardo Melgarejo, especialista no tema. Segundo ele, ao estimular os agrotóxicos, Brasil sustenta empregos nas atuais “fábricas de lixo” na Europa, que aos poucos vai banindo esses produtos. “Qual é a proposta do Pacote do Veneno senão transferir essas fabricas para cá?”, questiona

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Indústria dos agrotóxicos têm no Brasil regras facilitadas e muitos incentivos fiscais

Por Cida de Oliveira, da RBA

São Paulo – O Brasil aprovou 2.170 novos agrotóxicos para uso no país entre 2019 e 2022, durante o governo de Jair Bolsonaro. E já liberou mais 103 de janeiro para cá. Dos liberados no governo anterior, 1.056 (49% do total) foram banidos na União Europeia (UE). Ou seja, não puderam sequer ter registros por lá. E do total desse princípios ativos barrados nesses países, 88 são permitidos pelas autoridades brasileiras, conforme um levantamento recente da professora aposentada Sonia Hess, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Especialista no tema e autora de diversas pesquisas e pareceres técnicos, a professora é categórica. “O Brasil é a lixeira química do mundo”, afirma à RBA. Sonia se refere principalmente aos efeitos nocivos à saúde humana e animal desses produtos que levaram os europeus a vetá-los. Mas que o Brasil libera sem a menor dificuldade.

São efeitos agudos e crônicos tanto pela ingestão dos alimentos que receberam esses produtos, como pela exposição a eles. Exposição essa que pode ser no ambiente de trabalho, no caso dos agricultores. Ou mesmo daqueles que, mesmo sem trabalhar diretamente na lavoura, estão sujeitos às nuvens de veneno em pulverizações. E esse risco inclui até crianças em escolas nas zonas rurais.

Na UE, como lembra a professora, as autoridades prezam pelo rigor e levam a sério os resultados das pesquisas científicas que confirmam esses perigos. Como a associação constatada entre essas substâncias e o desenvolvimento de diversos tipos de câncer, malformações fetais e alterações no sistema nervoso central, no sistema imunológico e no hormonal.

Alterações essas que levam a diversos outros problemas. A lista de malefícios causados por agrotóxicos vai muito além. Inclusive para o meio ambiente.

Permissividade para o setor no Brasil

Já o Brasil segue caminho oposto, com total flacidez em suas regras. Fora os incentivos fiscais, os fabricantes contam com a permissividade em seu favor:

  • A autorização é por prazo indeterminado, o que na prática acaba se tornando ad eternum.
  • Não há observância dos avanços científicos sobre os efeitos adversos na saúde humana e no meio ambiente nem na reavaliação de produtos e nem diante de um fato novo.
  • Há problemas na qualidade das pesquisas, sendo aceitos estudos realizados somente pelos fabricantes, com limitações metodológicas.
  • Não há participação social na tomada de decisão por meio de agências governamentais nesse processo.

O levantamento mostra também que entre esses 2.170 “novos” produtos liberados no governo Bolsonaro – ela ainda não começou os estudos sobre as liberações a partir de janeiro –, há ingredientes ativos produzidos na China e que são proibidos lá. Entre eles o fipronil.

Desenvolvido para matar insetos, formigas e cupins, o Fipronil tornou-se conhecido como o terror das colmeias, segundo variados estudos. Em outras palavras, está por trás da mortandade massiva das abelhas, insetos polinizadores imprescindíveis na reprodução de espécies vegetais, principalmente alimentos.

Em agosto passado, a 9ª Vara Federal de Porto Alegre (RS) deu um ano para o Ibama concluir os processos de reavaliação de toxicidade da substância. No entanto, isso sequer havia sido iniciado na época.

Indústria dos agrotóxicos e o grande mercado do Brasil

Outra informação importante trazida pela professora Sonia Hess é que do total liberado entre 2019 e o ano passado, 614 formulações (61%) têm aplicação principal nas lavouras de soja, 443 (44%) de algodão, 428 (42%) de milho e 336 (33%), de cana. Ou seja, embora também tenham uso na produção de arroz, feijão, frutas, hortaliças, esses 1.821 “novos” produtos estão voltados sobretudo para as grandes culturas de exportação. É a indústria de olho nesse grande mercado.

Na avaliação do engenheiro agrônomo Leonardo Melgarejo, isso significa dizer que haverá no Brasil mais veneno do tipo que não pode ser usado na União Europeia.

Todos esses produtos e suas variações, combinações e arranjos, na verdade envolvem as mesmas substâncias. “Quando a patente de uma delas perde a validade, muitas outras empresas passam a fabricar venenos com o mesmo princípio ativo, mas com outras roupagens. Afinal, existirão formulações com os mesmos princípios ativos, porém mais concentradas”, disse à RBA.

Isso porque, segundo Melgarejo, em princípio, para sobreviver, os organismos alvo desenvolvem resistência aos agrotóxicos, “o que requer a aplicação de dosagens cada vez mais fortes para fazerem efeito”.

Conforme explicou, suprir essa necessidade de agrotóxicos mais potentes é uma das motivações das liberações dos “novos” agrotóxicos, que na verdade resultam da combinação de velhas moléculas. Ou seja, é o argumento ruralista para a suposta necessidade de aprovação de “agrotóxicos melhores e mais modernos”. “O ‘ser melhor’, aí, tende a ser pior. Mais tóxico na adição de outro princípio ativo ou com maior concentração do mesmo princípio ativo, ou com misturas”.

Pacote do Veneno aguarda aprovação no Senado

Paralelamente a essas liberações todas, avançou no governo de Jair Bolsonaro o chamado Pacote do Veneno. Aprovado na Câmara, o PL 1.459/2022 chegou às portas do plenário do Senado pouco antes do Natal, mas não foi pautado na ultima sessão do ano. O projeto que facilita ainda mais a importação, registro, fabricação, venda, uso, exportação e dificulta a fiscalização desses produtos integra um outro pacote, o “da destruição”. Esse conjunto de projetos que tramita no Congresso assim foi batizado pelas consequências nefastas à saúde e ao meio ambiente.

Pesou a forte mobilização somada a recomendações contra a aprovação. Ainda no governo de Michel Temer (2016-2018), entidades nacionais e internacionais, inclusive a ONU, pediram o arquivamento. As manobras ruralistas que levaram à aprovação na Câmara se repetiram no Senado. Em comissão especial, o relator, senador Acir Gurgacz (PDT-RO), aprovou texto sem debate. Nem sequer ouviu outras comissões relacionadas, como de Meio Ambiente, Direitos Humanos e Legislação Participativa e de Assuntos Sociais.

Desde 2008, o Brasil é o maior importador e consumidor de agrotóxicos da América Latina. Em meio ao mar de veneno, os países que compram produtos brasileiros vão aumentando restrições a esses produtos. Esse descompasso, no entender de Melgarejo, não aponta para prejuízos ao agronegócio exportador, que em tese perderia esse mercado. Isso porque, da mesma forma que faz a China, maior parceiro comercial do Brasil, outros países, inclusive europeus, compram essencialmente produtos para produção de ração animal, como soja e milho.

Lucro do agro, contaminação, doenças e impactos ao SUS

“Esses animais são abatidos no final da juventude, antes de os problemas crônicos aparecerem”, disse, referindo-se aos males causados pelos agrotóxicos. “E além do mais, dessa maneira, esses países estão protegendo suas reservas de água. Mas nós estamos envenenando as nossas. Também estamos fragilizando sistemas imunológicos dos povos que vivem aqui. Vale o mesmo para toda América Latina e África.”

Integrante do Movimento Ciência Cidadã e representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) de 2008 a 2014, Melgarejo apresenta outro motivo de preocupação: a transformação do país em polo mundial de produção desses venenos.

“Ao estimular os agrotóxicos como faz, o Brasil sustenta empregos nas atuais ‘fábricas de lixo’ na Europa”, disse. E no continente em que esses produtos vão sendo banidos, não haverá espaço para elas. “Qual é a proposta do Pacote do Veneno senão transferir essas fábricas para cá?”, questiona.

Sua dedução envolve ainda outros questionamentos. O que justificaria a autorização de uso de centenas de alternativas ineficazes? Se são distintas em termos de impacto sobre a saúde, ou seja, sobre o SUS, ou sobre o chamado Custo Brasil, o que justifica a presença das piores substâncias, em um mercado cujas externalidades afetam a todos?

Falta orientação política para reverter processo

Alternativas ao modelo existem. A mais eficaz é a agroecologia, que experimenta alguns esforços para a transição no país. Há inclusive alguns insumos de base biológica aprovados para proteger culturas. Mas são poucos, de empresas nacionais. Não estão sendo incorporados pelas grandes transnacionais do setor. Ou seja, falta interesse econômico, o que poderia viabilizar as mudanças, mas que tende a ser orientado por uma visão de curto prazo.

Mais do que isso, falta também orientação política. “Precisamos de agendas de médio e longo prazo para mudar a forma de produzir. Esta aí, que promove o aquecimento global, não poderia estar sendo subsidiada. Estamos pagando para encurtar o horizonte de vida. Veja que os adubos minerais ‘naturais’, como o que importamos da Rússia, vão se esgotar”, disse.

“Então uma agricultura que depende dele é sem futuro. Qual a solução proposta? Demolir a Amazônia para aproveitar reservas minerais que existirem lá? Pois isso vai reduzir os serviços ecossistêmicos fornecidos pela floresta, apenas para manter um agronegócio cego para o futuro próximo.”

“Salvar o sistema?”

A saída seria países que, como o Brasil, que se dispõem a absorver todo esse lixo, adotassem políticas mais responsáveis. “Assim, a inteligência humana apresentaria soluções que talvez já existam. Ou, se inexistem, bastaria o fechamento destes mercados para que as pesquisas buscassem outras soluções”, disse Melgarejo, que alerta para uma guerra química em curso. “Ou fazemos isso ou daremos realismo às hipóteses de O Relatório Lugano” comparou.

O engenheiro se refere ao livro (de 1999) de Susan George. A ficção aborda a eliminação de parte da população mundial com o objetivo de salvar o sistema capitalista de um colapso.

“Nesse aterrador livro de ficção, alguém misterioso contrata uma série de profissionais para analisar a situação global e encontrar alternativas para manter o sistema capitalista em funcionamento. A solução encontrada por esses profissionais é dizimar 1/3 da população mundial. Eles não só fornecem a solução, como sugerem as formas de concretizar a barbárie”, diz a apresentação da editora Boitempo.


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Este texto foi inicialmente publicado pela Rede Brasil Atual [Aqui!].

Relatório da CPT denuncia aumento dos conflitos no campo e violações contra comunidades por uso de agrotóxicos

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Lançamento da 38ª edição do Caderno Conflitos no Campo Brasil  da Comissão Pastoral da Terra. l Foto: André Gouveia

Por André Gouveia e Roberta Quintino l Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida

Em 2022 foram contabilizados 1.572 registros de conflitos por terra no Brasil. Esse e outros dados alarmantes fazem parte da 38º edição do relatório “Conflitos no Campo Brasil 2022” lançado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), nesta segunda (17), na Universidade de Brasília (UnB). O documento aponta que 46 camponeses foram assassinados no período, aumento de 123% em comparação à 2020.

O relatório traz um apanhado sobre os diversos conflitos do campo e apresenta dados de pessoas resgatadas em condições de trabalho análogas à escravidão, pistolagem, famílias despejadas, grilagem e contaminação por agrotóxicos e aponta o agronegócio como principal responsável pelas práticas criminosas.

O levantamento apresenta importantes informações sobre a realidade das comunidades rurais e mostra uma escalada de violências no campo, tendo a região Amazônica como um foco dos conflitos, além do crescimento dos ataques às populações indígenas.

Os dados dos conflitos no campo, que abrangem informações dos conflitos por terra, por água e trabalhistas, são registrados pelo Centro de Documentação Dom Tomás Balduino, da Comissão Pastoral da Terra.

O documento informa que foram contabilizados 1.572 registros de conflitos por terra no Brasil. l Foto: André Gouveia.

A data escolhida para o lançamento do relatório é marcada pela memória e luta dos trabalhadores do campo. No dia 17 de abril 1996, um massacre da polícia, em Eldorado dos Carajás, localizado no sudeste do Pará, deixou 21 trabalhadores Sem Terra mortos.

Arma química contra povos e comunidades

A publicação aponta que os agrotóxicos impactaram 6.831 famílias em conflitos por terra no Brasil em 2022, um aumento de 86% em comparação com 2021 e o maior registrado pela CPT desde 2010, quando esse tipo de violência passou a ser apurada pelo Centro de Documentação da Comissão.

As populações afetadas denunciam que o uso criminoso de agrotóxicos tem servido como arma química para expulsá-las do campo, inviabilizando a permanência das famílias na terra, com impacto direto ao direito à alimentação adequada, a água limpa e à saúde.

Um dos casos registrados no relatório ocorreu nas comunidades dos Engenhos Fervedouro e Barro Branco, localizadas no município de Jaqueira, Zona da Mata Sul de Pernambuco. As famílias agricultoras posseiras da localidade já enfrentavam um conflito por terra provocado por empresários pecuaristas quando, em setembro, foram surpreendidas com a pulverização de agrotóxicos, por meio de drones, em suas lavouras. A aplicação do veneno devastou as plantações e contaminou ainda as fontes de água que abastecem os agricultores e agricultoras da comunidade.


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Este texto foi originalmente publicado no site da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida [Aqui!].

Sindicatos de trabalhadores rurais seguem a trilha do trabalho escravo e dos agrotóxicos sob a pressão do lobby agrícola

A Confederação Nacional dos Trabalhadores Assalariados e Assalariadas Rurais (Contar) está tentando descobrir violações da lei trabalhista 

plantationA Contar busca contato com trabalhadores rurais nas plantações, mas isso nem sempre é possível. Foto: imago/photothek/Ute Grabowsky

Por Knut Henkel, em Juazeiro, para o “Neues Deutschland”

O trator da propriedade vizinha puxa atrás de si uma nuvem que se espalha sobre as vinhas. “Cuidado. Mantenha distância. Isso são agrotóxicos”, grita Carlos Eduardo Silva para o pequeno grupo que lidera na fazenda de uvas Dona Maria*, no São Francisco. A planície fluvial no estado brasileiro da Bahia é uma região central de cultivo de uvas e mangas no Brasil. Silva, advogado do sindicato Contar, que trabalha para os trabalhadores rurais, está aqui regularmente. O homem de barba espessa e careca lida com violações dos direitos trabalhistas, mas também distribui folhetos de treinamento para membros potenciais e existentes do sindicato. “Quem não sabe quais são seus direitos está em desvantagem”, ele sussurra.

Não é sempre que Silva, a quem seus colegas chamam de Cadu, tem a chance de visitar uma fazenda de uvas. Muitas empresas são de propriedade de grandes proprietários de terras, que geralmente não são bem-intencionados em relação ao seu sindicato. A relação foi tensa nos últimos anos. “O governo de Jair Bolsonaro  foi hostil aos sindicatos. Discutiu-se até o cerceamento da liberdade sindical”, diz o advogado de 41 anos, que tem escritório na sede da Contar, em Brasília, mas regularmente em estados agrícolas do Brasil, como Bahia, Minas Gerais ou Espírito Santo o processo está sendo encaminhado. Embora não tenha havido ataque a direitos sindicais básicos, como se discutia nos bastidores dos partidos conservadores e do lobby agrícola, os sindicatos estiveram sob constante pressão durante os quatro anos do governo de Jair Bolsonaro.

Isso também pode ser sentido na região de Juazeiro, onde uvas e mangas são cultivadas a granel no solo solto e levemente arenoso da planície do rio. José Manoel dos Santos cresceu aqui, mas o sindicato não é permitido nas grandes fazendas de frutas: “A gente vem de manhã antes do início do turno, fala com os nossos contatos, mas não temos direito de entrar na fazenda local”, explica. Hoje Silva e María Samara de Souza, representante da Contar na Bahia têm a oportunidade de falar aos trabalhadores organizados na fazenda de Dona Maria. No entanto, isso ocorre na presença do proprietário.

“Aí funciona de forma semelhante às inspeções de grandes auditores como Global Gap ou Rainforest Alliance”, explica Silva. Ele critica que não é possível falar com os trabalhadores de forma independente e separada e que muitas vezes as condições de trabalho exploradoras não são reconhecidas. E a exploração é comum na safra de café, laranja ou uva. O último escândalo foi descoberto no início de março. Dezenas de trabalhadores foram libertados de condições extremamente precárias em vinícolas gaúchas. Eles teriam sido forçados a trabalhar nas plantações sob o risco de receberem choques de pistolas elétricas.

Esses não são casos isolados. No Brasil, 2.575 pessoas foram libertadas de trabalhos análogos à escravidão em 2022. É o maior número desde 2013, escreve Leonardo Sakamoto, diretor do Repórter Brasil. A organização não governamental, que utiliza estudos, documentação e relações públicas para chamar a atenção para a legislação trabalhista e violações de direitos humanos, aponta que os números reais podem ser significativamente maiores. »O orçamento da ouvidoria dos direitos fundamentais foi drasticamente reduzido. O Ministério do Trabalho em nível nacional também foi interrompido e as inspeções em cidades remotas às vezes falhavam devido à falta de combustível”, explica Sakamoto.

Assim como o advogado de Contar, Silva,  Sakamoto espera uma melhora na situação com o novo governo, que tem prometido isso. Diante da magnitude do problema, isso também é necessário, diz Silva: »Entre 1995 e 2022, 77 mil pessoas foram libertadas da condição análoga ao trabalho escravo no Brasil.«

No entanto, o governo e os sindicatos enfrentam forte oposição. Porque o lobby agrícola do Brasil, que produz soja, café, concentrado de suco de laranja, manga e muito mais nos supermercados da Europa, está bem conectado no parlamento. Liderada por produtores de soja, esse lobby financiou duas vezes a campanha eleitoral de Jair Bolsonaro. Bolsonaro, por sua vez, reduziu os controles destinados a erradicar a escravidão moderna no setor agrícola. O lobby agrícola é poderoso e vai tentar desacelerar os planos do novo governo, que pede mais sustentabilidade na agricultura e declarou o fim do desmatamento ilegal na região amazônica até 2030.

São objetivos que os sindicatos também apoiam. “Claro que é do interesse dos trabalhadores”, explica a presidente da Contar para o estado da Bahia, María Samara de Souza. Até quatro anos atrás, a jovem de 32 anos, com longos cabelos negros e óculos espelhados, que junto com um boné de beisebol deveriam protegê-la do sol alto, trabalhava ela mesma nas vinhas altas. “Os frutos pequenos ainda precisam de três ou quatro meses para serem colhidos”, estima.

»Ao contrário de outras zonas vitivinícolas, estamos bem posicionados nesta região e temos uma taxa de sindicalização de quase 50%. A mulher tem um papel importante nisso.” Samara de Souza é a primeira mulher a presidir o sindicato da Contar na Bahia. Tem que se afirmar não só contra as estruturas patriarcais, mas também contra a polarização do país: nos campos de Bolsonaro e Lula. “Aqui na Bahia, o Partido dos Trabalhadores venceu por pouco, mas definitivamente temos apoiadores de Bolsonaro no sindicato também”, diz ela.

Ela precisa de diplomacia e assertividade para moderar o realinhamento do sindicato para rumos mais sustentáveis ​​do governo. O mesmo se aplica às negociações sobre um novo acordo coletivo com empregadores como Dona María. Ela fica feliz por ter parceiros de negociação confiáveis ​​nas negociações coletivas, diz a empresária. “Isso garante uma convivência tranquila entre mim, o corpo diretivo e os cerca de 50 trabalhadores da plantação de 17 hectares.” Porém, ela reclama, ainda não sabe como vai lidar com o reajuste mensal de R$ 1.302, o equivalente a 235 euros, para 1.420 reais, o que está sendo exigido pela Contar nas negociações salariais em andamento. “Então eu tenho que fechar”, ela avisa sucintamente.

Trabalho rural no Brasil: na trilha do trabalho escravo

A reação da proprieitária rural é típica de muitos empresários no Brasil, onde a maior parte da área cultivada, mas também depósitos bancários e imóveis, está nas mãos de um estrato relativamente pequeno. O Brasil possui a maior concentração de terras e renda de toda a América Latina. Essa desigualdade se agravou no governo de Jair Bolsonaro, argumentam ONGs como a Reporter Brasil.

Para que os trabalhadores da safra consigam um bom resultado salarial, eles também esperam o apoio de grandes importadores da Alemanha. “São as redes de supermercados e os grandes importadores de frutas que precisam se adequar à lei da cadeia produtiva que vigora por lá desde 1º de janeiro”, diz Silva. Ele espera que a lei ajude a proteger os direitos dos trabalhadores rurais. »Temos algumas expectativas«, ele diz e espera que uma lei semelhante da União Europeia surja este ano: »A pressão internacional para proteger os direitos trabalhistas no Brasil é expressamente desejada.«

A verificação de resíduos de agrotóxicos nos alimentos também pode ter um efeito positivo nas condições de trabalho. No caso do café, a qualidade orgânica entregue já foi devolvida porque a carga continha resíduos de agrotóxicos. Isso também pode acontecer com uvas e mangas, que, segundo o sindicato, usam até 36agrotóxicos diferentes em seu cultivo. Cada vez mais aplicações de agrotóxicos estão sendo feitas, diz Samara de Souza. “No Brasil, são permitidos agrotóxicos que são proibidos na Europa. Isso pode se tornar um problema na exportação de manga e uva”, acredita a sindicalista. É bem possível que cargas inteiras de mangas e uvas sejam devolvidas devido a resíduos de agrotóxicos.

Isso seria um desastre para os produtores de frutas no Brasil e uma consequência direta dos anos de Jair Bolsonarojá que seu governo aprovou várias dezenas de novos agrotóxicos com diferentes ingredientes ativos. Isso agora pode se tornar um bumerangue. A redução nos agrotóxicos Isso seria desejável para os catadores, concordam Silva e Samara de Souza. Afinal, eles estariam menos expostos a substãncias tóxicas.

*Nome alterado pelos editores


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Este texto escrito originalmente em alemão foi publicado pelo jornal “Neues Deutschland” [Aqui!].