Milhares de sistemas de água dos EUA contém níveis perigosos de produtos químicos cancerígenos

Por Carey Gillam para o “The New Lede” 

Milhões de pessoas nos Estados Unidos podem estar bebendo água contaminada com níveis perigosos de substâncias criadas quando as concessionárias de serviços públicos desinfetam água contaminada com esterco animal e outros poluentes, de acordo com um relatório divulgado na quinta-feira.

Uma análise dos resultados dos testes de sistemas de água comunitários em 49 estados descobriu que quase 6.000 desses sistemas, atendendo 122 milhões de pessoas, registraram um nível inseguro de produtos químicos conhecidos como trihalometanos pelo menos uma vez durante os testes de 2019 a 2023.

Os produtos químicos são subprodutos criados quando o cloro ou outros desinfetantes usados ​​em sistemas de água interagem com matéria orgânica, como folhas em decomposição, vegetação, resíduos humanos ou animais e outras substâncias. Um ou mais desses produtos químicos – clorofórmio, bromodiclorometano, dibromoclorometano e bromofórmio – têm sido associados a vários riscos à saúde humana, incluindo câncer. Como resultado, a Agência de Proteção Ambiental (EPA) estabeleceu um nível médio anual máximo permitido de 80 partes por bilhão (ppb) para o que a agência chama de “trihalometanos totais” ou TTHMs. A regra, que se aplica a sistemas públicos de água, está em vigor há mais de duas décadas.

Os sistemas de água do Texas apresentaram a maior prevalência de sistemas de água com níveis inseguros de TTHMs, com mais de 700 desses sistemas atendendo mais de 8,6 milhões de pessoas relatando contaminantes acima dos 80 ppb da EPA, de acordo com o relatório emitido em 10 de abril pelo Environmental Working Group (EWG).

Nova York, Oklahoma, Califórnia e Illinois seguiram o Texas, com centenas de sistemas de água em cada um desses estados apresentando níveis de TTHM acima do permitido durante o período de teste, segundo o relatório do EWG. Mais de 64,5 milhões de pessoas são atendidas por 3.170 sistemas nos dez estados que apresentaram o maior número de violações.

“O esterco das fazendas industriais está poluindo nossos suprimentos de água, e quando as concessionárias tentam tornar essa água segura para beber, elas involuntariamente criam outro risco à saúde pública que aumenta o risco de câncer e defeitos congênitos”, disse Anne Schechinger, diretora do EWG para o Centro-Oeste, em uma declaração que acompanha a divulgação do relatório.

O relatório do EWG estabelece uma conexão entre os altos níveis de TTHMs e as operações pecuárias em larga escala, às vezes chamadas de operações de alimentação animal concentrada, ou CAFOs. Seis dos 10 estados que possuíam sistemas onde os testes mostraram contaminação igual ou superior ao “nível máximo de contaminante” (MCL) da EPA de 80 ppb pelo menos uma vez entre 2019 e 2023 estão entre os estados com maior número de bovinos, aves e/ou suínos, de acordo com dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) .

Muitos sistemas comunitários de água dependem de reservatórios e outras águas superficiais para abastecimento de água potável, que são frequentemente contaminadas com escoamento de campos agrícolas, incluindo pesticidas e esterco animal.

Embora o relatório tenha se concentrado em sistemas de água com níveis acima do MCL da EPA, evidências científicas dos últimos anos indicaram que o THM na água potável em níveis abaixo dos limites regulatórios atuais ainda aumenta os riscos de certos tipos de câncer. As pessoas também podem estar em risco por inalação durante o banho, de acordo com pesquisas .

Vários estudos relacionaram a exposição a TTHM a cânceres de bexiga e colorretal, e algumas pesquisas também descobriram que problemas durante a gravidez, incluindo natimortos, podem estar relacionados ao consumo de água contendo TTHMs durante a gravidez.

A diretriz de saúde do EWG para TTHMS na água potável é de 0,15 ppb, representando um risco de câncer ao longo da vida de um em um milhão, conforme mostrado pela pesquisa do EWG.

Não há razão para acreditar que os níveis inseguros tenham sido mitigados desde 2023, o período final para os testes abrangidos pelo relatório do EWG. As violações continuam.

Em fevereiro, autoridades municipais de Battle Creek, Michigan, encontraram níveis excessivamente altos de TTHM no sistema de água da cidade.

Em novembro, a cidade de San Angelo, Texas, foi notificada de que sua água excedeu os níveis permitidos pela EPA para TTHMs.

E em dezembro, a Comissão de Qualidade Ambiental do Texas notificou a Base Aérea de Goodfellow que a água potável da comunidade também excedia os níveis seguros.

“Algumas pessoas que bebem água contendo trihalometanos acima do MCL ao longo de muitos anos podem ter problemas no fígado, rins ou sistema nervoso central e podem ter um risco maior de desenvolver câncer”, alertou a agência estadual.


Fonte: The New Lede

Água contaminada: testes detectam agrotóxicos acima do limite em (pelo menos) 28 cidades

Agrotóxicos foram encontrados acima do limite seguro, de acordo com o sistema de vigilância do Ministério da Saúde (Sisagua)

mjnFoto em destaque: mrjn Photography/ Unsplash)

Por Hélen Freitas | Análise de dados: Marina Gama Cubas para a Repórter Brasil

O alerta máximo para contaminação da água acendeu em 28 municípios brasileiros em 2022. Em cidades de Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso e Tocantins, testes de qualidade encontraram agrotóxicos na rede de abastecimento em níveis acima do limite considerado seguro pelo Ministério da Saúde.

Essa situação representa um risco à saúde, de acordo com especialistas, principalmente se a água contaminada for consumida de forma contínua.

As informações são resultado de um cruzamento de dados realizado pela Repórter Brasil a partir de informações publicadas pelo Ministério da Saúde no Sisagua (Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano).

O consumo de água com altas concentrações de agrotóxicos aumenta os riscos para doenças crônicas, como câncer e distúrbios hormonais, e para problemas no sistema nervoso, nos rins e no fígado, explica Fábio Kummrow, professor de toxicologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Ele afirma que o consumo esporádico dessa água configura baixo risco à saúde. Porém, “o consumo frequente por longos períodos representa sérios riscos, em razão dos efeitos tóxicos crônicos pela exposição durante meses ou anos”, acrescenta.

As empresas de abastecimento de água são responsáveis por realizar os testes e publicar os resultados no Sisagua. Cabe aos municípios, estados e ao próprio ministério fiscalizar os casos e cobrar das empresas medidas para impedir que as substâncias ultrapassem os limites fixados.

Baixe aqui a tabela completa com os nomes dos municípios e empresas responsáveis pelo abastecimento.

Agrotóxicos proibidos

De acordo com os dados do Sisagua, no ano passado foram realizados 306.521 testes consistentes em 2.445 cidades para identificar agrotóxicos na água. O número poderia ser maior, já que a maior parte dos testes realizados no país para essas substâncias apresentavam erros e foram classificados como inconsistentes pelo Ministério da Saúde.

Segundo o painel, 55 testes em 28 municípios apontaram agrotóxicos acima dos valores máximos permitidos, o que representa 0,02% de todos os exames válidos realizados. Os dados foram extraídos pela reportagem em 8 de agosto deste ano (os resultados podem ser atualizados diariamente por estados e municípios).

O agrotóxico com mais testes acima do limite foi o endrin, com dez registros em municípios de Goiás, Minas Gerais, Tocantins e São Paulo. A substância, cujo uso é proibido no Brasil, pode afetar o sistema nervoso, causando tremores e convulsões, segundo estudos realizados em animais.

Na sequência aparece o aldrin, também proibido no país. Esse agrotóxico é considerado um Poluente Orgânico Persistente, pois não se degrada facilmente e se acumula em tecidos dos organismos vivos.

Com relação à saúde, o aldrin é classificado como “provavelmente cancerígeno” pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer, órgão da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Como seu uso é vetado no Brasil há mais de duas décadas, sua presença na água pode ser justificada por dois fatores: a entrada ilegal no país, por contrabando, ou pela presença persistente no meio ambiente. A pesquisadora Cassiana Montagner, do Instituto de Química da Unicamp, aposta na primeira explicação.

“Não dá mais para falar que agrotóxicos proibidos há 20 anos ainda estão na água porque são persistentes. A gente sabe que há uma entrada clandestina”, afirma Montagner.

“Esses químicos ainda estão sendo usados nas lavouras brasileiras, mesmo com os riscos comprovados à saúde da população. Ao detectar essas substâncias, o poder público deveria aumentar a fiscalização para mitigar o uso”, diz ela.

Cidade mais afetada

De acordo com os dados publicados no Sisagua, a cidade com mais registros de água contaminada no ano passado foi Aruanã (GO). São 17 testes ao todo, incluindo para endrin e aldrin.

A 314 km de Goiânia e às margens do rio Araguaia, Aruanã fica em uma região destacada pela produção de soja, feijão, milho e arroz – culturas com elevado uso de agrotóxicos, segundo estudo da Universidade Federal de Mato Grosso.

O secretário de saúde de Aruanã, Leonel Cupertino, afirmou que não sabia da presença de agrotóxicos acima do limite na água do município e pediu esclarecimentos à Saneago, empresa de abastecimento da cidade.

Em nota, a companhia confirmou que os agrotóxicos foram identificados nos exames, porém, em concentrações dentro dos limites permitidos por lei e, portanto, sem riscos para a população.

A empresa alega que houve erro de digitação no preenchimento da planilha do Ministério da Saúde e que os dados divulgados na plataforma apresentam “equívocos”, pois estão acima dos resultados encontrados pela empresa. A Saneago informou que há “total garantia da segurança da água tratada distribuída no município”. Confira a nota completa.

Apesar da justificativa, a pesquisadora Cassiana Montagner, da Unicamp, afirma que qualquer nível de agrotóxico encontrado deveria ser motivo de atenção das autoridades, para evitar o consumo contínuo dessa água.

Baixe aqui a tabela completa com os nomes dos agrotóxicos e as doenças relacionadas a eles

Lobby

Outro agrotóxico detectado em concentração acima do que é considerado seguro para a saúde foi a atrazina, encontrada em municípios de Goiás, Mato Grosso e São Paulo.

Esse produto é proibido na União Europeia desde 2004 e está associado à ocorrência de distúrbios endócrinos. Contudo, nos Estados Unidos e no Brasil, a substância segue na lista dos cinco agrotóxicos mais vendidos anualmente

Uma dos municípios onde a atrazina foi encontrada na água da população em níveis perigosos foi Marcelândia (MT), que está em franca expansão agrícola, sobretudo na produção de soja e milho.

O município foi procurado, mas não respondeu até a publicação da reportagem.

Apesar de a Europa reconhecer os riscos da atrazina, a substância tem forte lobby da indústria para não sair dos mercados brasileiro e norte-americano.

Reportagem publicada pela Repórter Brasil e Agência Pública, em 2021, mostra que a fabricante Syngenta passou décadas questionando e perseguindo cientistas para manter a comercialização da atrazina. Procurada pela reportagem na época, a Syngenta Brasil não quis comentar os documentos divulgados.

Apesar de a atrazina aparecer com frequência em análises de água e de haver evidências que a associam ao desenvolvimento de disfunções hormonais, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirma que a substância não está na lista de prioridades para reavaliação sobre o uso no país. Segundo o órgão, o produto foi proibido na Europa por risco ambiental, e não de saúde. A Anvisa ressaltou que análises ambientais não são da competência da agência. Leia o posicionamento completo.

Falta de transparência

Desde 2018, os testes realizados por empresas ou órgãos de abastecimento em amostras de água fornecida para a população são publicados no Sisagua. Isso só aconteceu após a Repórter Brasil revelar que 25% das cidades brasileiras tinham um coquetel com 27 agrotóxicos na rede de água entre 2014 e 2017.

A quantidade de substâncias testadas, frequência e limite máximo são definidos pelo Ministério da Saúde, que leva em consideração o risco que oferecem à saúde e a maior probabilidade de estarem na água.

No ano passado, a Repórter Brasil lançou o Mapa da água, plataforma interativa em que é possível verificar a qualidade da água de cada município entre 2018 e 2020, além de trazer explicações sobre as substâncias encontradas na água.

Após o lançamento, o Ministério publicou sua própria plataforma para trazer os dados sobre a qualidade da água. As informações estão disponíveis em sete painéis informativos do Programa Nacional de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Vigiagua). Neles, é possível encontrar gráficos, mapas e tabelas com informações sobre as substâncias testadas.

Apesar de públicas, informações sobre qualidade da água ainda são técnicas, dificultando o acesso da população (Foto: Pixabay)

Apesar de estarem disponíveis, as informações não são acessíveis ao público não especializado, pois siglas e códigos dificultam o entendimento. “O governo disponibilizou a informação, mas continua difícil de usar. Além disso, há publicidade zero, as pessoas nem sabem que esses painéis existem”, critica Kummrow, da Unifesp.

Embora trabalhe com o tema há anos, ele só tomou conhecimento da plataforma do governo após contato da reportagem.

Mesmo com críticas, Kummrow avalia que a publicação dos painéis pelo Ministério da Saúde representa um avanço. “De alguma forma os dados se tornaram públicos, sofreram uma validação e representam uma realidade”.


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Este texto foi originalmente publicado pela Repórter Brasil [Aqui!].

Pesquisadores da USP criam sensor de papel que detecta forma de caseira contaminantes na água, incluindo agrotóxicos

sensores-papel-996x567Usar os copos de água como vertedouros de todo tipo de lixo afeta a qualidade da água usada nas residências. Crédito da imagem: Alexander Schimmeck/Unsplash . Foto no domínio público

Projetado por pesquisadores brasileiros, o dispositivo consiste em um pedaço de caixa, sobre qualquer um que dispare um raio de laser. Este processo converte a celulose em carbono, um material com propriedades elétricas. A seguir, é adicionada uma solução com nanopartículas de ouro, que gera a reação eletroquímica que identifica as substâncias na água.

Ao receber o raio de laser, o cartão converte a celulose em carbono. Adicionar uma solução com nanopartículas de ouro gera a reação eletroquímica que identifica as substâncias na água. Crédito da imagem: Cortesia de Thiago Paixão para SciDev.Net

“Quanto maior for a corrente elétrica, maior a presença do composto químico ou dos contaminantes que você deseja identificar”, assinalou ao SciDev.Net o químico Thiago Paixão, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), um dos os autores do artigo publicado na revista Sensors & Diagnostics fornecendo a contagem dos resultados.

No laboratório, o sensor obtuvo desempenhos equivalentes aos dispositivos mais caros usados ​​para detectar rastros de hipoclorito de sódio, matéria prima para a produção de lejía. Esta substância é comumente usada para regular a qualidade da água da casa e das piscinas, mas em quantidades elevadas pode prejudicar a saúde humana.

“Estamos falando de um dispositivo descartável de uso seguro, que poderia ser distribuído à população para monitorar a qualidade da água em sua própria casa”, acrescenta Paixão.

Se estima-se que até 5.500 milhões de pessoas, especialmente nos países em desenvolvimento, tenderão a ter contato regular com água contaminada em 2100, o que provavelmente terá efeitos na saúde pública, segundo um estudo na revista Nature Water .

O sensor pode ser facilmente adaptado ao monitoramento de outros compostos químicos de interesse para a saúde . “Um exemplo de uso seria a medição dos níveis de mercúrio na água dos rios consumidos por comunidades indígenas e ribeirinhas que habitam em áreas próximas às centrais hidrelétricas da Amazônia”, acrescenta o químico.

O sensor mede apenas 3 centímetros e seu custo de fabricação é de R$ 0,50 (alrededor de US$ 0,10). Mas seu valor final arrecadou R$ 10 (aproximadamente US$ 2), considerando os outros componentes do dispositivo, como a caixa que o enjoa e a tela que mostra o resultado da meditação.

“Estamos falando de um dispositivo descartável de uso seguro, que poderia ser distribuído à população para monitorar a qualidade da água em sua própria casa”.

Thiago Paixão, Instituto de Química da Universidade de São Paulo, Brasil

Se uma empresa fosse fabricada em grande escala, o dispositivo seria convertido em um aparelho portátil e barato e poderia ser produzido em qualquer parte do mundo depois de Paixão.

Um dos principais desafios de garrafa enfrentados por pesquisadores é que muitas empresas não têm interesse em produzir novas tecnologias para considerar incipientes. “Seria necessário realizar inversões para promover a transferência de tecnologia para a indústria, através de acordos de licença e desenvolvimento de colaborações, o que nem sempre é fácil ou rápido”, disse o químico José Luiz Bott Neto, do Instituto de Física de São Paulo. Carlos (IFSC) da USP, que não participou do estudo em Sensors & Diagnostics .

No entanto, além do uso de nanopartículas de ouro ser prometido, isso aumenta a condutividade do papel e intensifica a sensibilidade do sensor. “O dispositivo também é sustentável, já que é fabricado com material biodegradável, para reduzir o impacto ambiental de sua eliminação”, comentou.

O pesquisador está em contato com algumas empresas interessadas, como a Empresa de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, uma das maiores do mundo em termos de ingressos e população atendida pelos serviços prestados (28,4 milhões de pessoas).

A equipe espera patentear a tecnologia no escritório brasileiro de patentes antes do final do ano.

Sensores de papel, usos múltiplos

O potencial dos sensores de papel para diversas aplicações é enorme, especialmente em ambientes com recursos limitados. São simples de fabricar, econômicos, fáceis de operar, portáteis e desmontáveis, e atraem cada vez mais a atenção de vários grupos de investigação no Brasil.

Científicos do Instituto de Química da Universidade Federal de Goiás, por exemplo, criaram um sensor de papel capaz de medir os níveis de glicose na lágrima de indivíduos com diabetes

O dispositivo funciona como sensores de embarque portáteis, podendo dar uma resposta positiva ou negativa, mas também quantitativa. É composto por papel de filtro impregnado com reativos químicos que mudam de cor ao entrar em contato com a glicose na lágrima. Quanto mais azul se volta o papel, mais alterado é o nível de açúcar em sangue.

Assim, o paciente só precisa tirar um olhar para obter o resultado em minutos, sem ter que apertar o dedo. “Cada sensor cuesta alrededor de R$ 0,10 (aproximadamente US$ 0,02), por lo que cremos que resultaria em um horror para o sistema público de saúde, responsável por comprar e distribuir o aparelho para medir a glicose, as tiras reativas e lancetas”, assinalou a química Ellen Flávia Moreira Gabriel, uma das inventoras do dispositivo.

No IFSC-USP, um pesquisador desenvolveu um sensor eletroquímico de papel kraft capaz de detectar a presença de pesticidas em frutas e verduras em tempo real.

Ao entrar em contato com maçãs ou repolhos, por exemplo, o sensor, conectado a um dispositivo eletrônico, identifica a presença e mede a quantidade do fungicida carbendazim , amplamente utilizado no Brasil, apesar de ser proibido.

“É muito mais fácil e barato, além de muito mais confiável para que supermercados, restaurantes ou importadores realizem a verificação”, disse o físico Osvaldo Novais de Oliveira Junior, professor do IFSC-USP, um dos autores do dispositivo.

Acesse o artigo completo sobre Sensor e Diagnóstico


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Este artigo foi produzido pela edição da América Latina e Caribe do  SciDev.Net e publicado aqui [Aqui!]

Estudo diz que a água potável de quase metade das torneiras dos EUA contém produtos químicos potencialmente nocivos

analisesEquipamento usado para testar substâncias perfluoroalquil e polifluoroalquil, conhecidas coletivamente como PFAS, na água potável é visto nos Laboratórios Trident na Holanda, Michigan, 18 de junho de 2018. A água potável de quase metade das torneiras dos EUA provavelmente contém “produtos químicos permanentes” ligado ao câncer renal e outros problemas de saúde, de acordo com um estudo do governo divulgado na quarta-feira, 5 de julho de 2023. (Cory Morse/The Grand Rapids Press via AP, Arquivo)

Por John Flesher para a Associated Press

TRAVERSE CITY, Michigan (AP) – A água potável de quase metade das torneiras dos EUA provavelmente contém “produtos químicos permanentes” que podem causar câncer e outros problemas de saúde, de acordo com um estudo do governo divulgado na quarta-feira.

Os compostos sintéticos conhecidos coletivamente como PFAS estão contaminando a água potável em graus variados em grandes e pequenas cidades – e em poços privados e sistemas públicos, disse o US Geological Survey.

Os pesquisadores descreveram o estudo como o primeiro esforço nacional para testar o PFAS na água da torneira de fontes privadas, além das regulamentadas. Baseia-se em descobertas científicas anteriores de que os produtos químicos estão amplamente difundidos, aparecendo em produtos de consumo tão diversos quanto panelas antiaderentes, embalagens de alimentos e roupas resistentes à água e chegando ao abastecimento de água.

Como o USGS é uma agência de pesquisa científica, o relatório não faz recomendações de políticas. Mas as informações “podem ser usadas para avaliar o risco de exposição e informar decisões sobre se você deseja ou não tratar sua água potável, fazer testes ou obter mais informações do seu estado” sobre a situação localmente, disse o principal autor Kelly Smalling, um hidrólogo pesquisador.

A Agência de Proteção Ambiental dos EUA propôs em março os primeiros limites federais de água potável em seis formas de PFAS, ou substâncias per e polifluoradas, que permanecem no corpo humano por anos e não se degradam no meio ambiente. Uma decisão final é esperada ainda este ano ou em 2024.

Mas o governo não proibiu as empresas que usam os produtos químicos de despejá-los em sistemas públicos de águas residuais, disse Scott Faber, vice-presidente sênior do Environmental Working Group, uma organização de defesa.

“Deveríamos tratar esse problema onde ele começa, em vez de colocar um semáforo após o acidente”, disse ele. “Deveríamos exigir que os poluidores tratem seus próprios resíduos.”

Estudos com animais de laboratório encontraram ligações potenciais entre os produtos químicos PFAS e alguns tipos de câncer, incluindo renal e testicular, além de problemas como pressão alta e baixo peso ao nascer.

Programas federais e estaduais normalmente medem a exposição a poluentes como PFAS em estações de tratamento de água ou poços de água subterrânea que os fornecem, disse Smalling. Em contraste, o relatório do USGS foi baseado em amostras de torneiras em 716 locais, incluindo 447 que dependem de abastecimento público e 269 que usam poços privados.

As amostras foram coletadas entre 2016 e 2021 em vários locais – principalmente residências, mas também algumas escolas e escritórios. Eles incluíam terras protegidas, como parques nacionais; áreas residenciais e rurais sem fontes de PFAS identificadas; e centros urbanos com indústrias ou locais de resíduos conhecidos por gerar PFAS.

A maioria das torneiras foi amostrada apenas uma vez. Três foram amostrados várias vezes ao longo de um período de três meses, com resultados que mudaram pouco, disse Smalling.

Os cientistas testaram 32 compostos PFAS – a maioria dos detectáveis ​​pelos métodos disponíveis. Acredita-se que existam milhares de outros, mas não podem ser identificados com a tecnologia atual, disse Smalling.

Os tipos encontrados com mais frequência foram PFBS, PFHxS e PFOA. Também fazendo aparições frequentes estava o PFOS, um dos mais comuns em todo o país.

As amostras positivas continham até nove variedades, embora a maioria estivesse próxima de duas. A concentração média foi de cerca de sete partes por trilhão para todos os 32 tipos de PFAS, embora para PFOA e PFOS tenha sido de cerca de quatro partes por trilhão – o limite que a EPA propôs para esses dois compostos.

As exposições mais intensas ocorreram nas cidades e perto de fontes potenciais dos compostos, particularmente na Costa Leste; centros urbanos dos Grandes Lagos e Grandes Planícies; e Central e Sul da Califórnia. Muitos dos testes, principalmente em áreas rurais, não encontraram PFAS.

Com base nos dados, os pesquisadores estimaram que pelo menos uma forma de PFAS poderia ser encontrada em cerca de 45% das amostras de água da torneira em todo o país.

O estudo ressalta que os usuários de poços privados devem ter sua água testada para PFAS e considerar a instalação de filtros, disse Faber do Grupo de Trabalho Ambiental. Filtros contendo carvão ativado ou membranas de osmose reversa podem remover os compostos.

O estudo do USGS é “mais uma evidência de que o PFAS é incrivelmente difundido e as pessoas que dependem de poços privados são particularmente vulneráveis ​​aos danos causados ​​por esses produtos químicos”, disse Faber.


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Este artigo escrito originalmente em inglês foi publicado pela Associated Press [Aqui!]

Resultados do Mapa da Água: Ministério da Justiça notifica 300 concessionárias em todo o Brasil

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Divulgado aqui neste blog em março de 2022, o chamado “Mapa da Água” mostrou a contaminação da água de torneira pelo menos mil municípios brasileiros com uma quantidade significativa de contaminantes, incluindo agrotóxicos. Pois bem,  agora surgiu um resultado prático da divulgação dos dados obtidos junto ao Sisagua. É que Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), ligada ao Ministério da Justiça, notificou, ontem (24/08), 300 organizações, entre empresas de saneamento básico e de outras naturezas, que são responsáveis pelo tratamento de água, por sistemas de distribuição gerais ou individuais em 1.194 cidades brasileiras.

A Senacon informou em nota que  uma perícia foi realizada pelo Instituto Nacional de Criminalística (INC) da Polícia Federal, que examinou mais de 3 milhões de resultados de análises laboratoriais, referentes ao controle de qualidade na saída do tratamento ou nos sistemas de distribuição de 8.856 unidades de tratamento de água, localizados em 3.342 municípios, que tiveram dados lançados no Sisagua nos últimos cinco anos.  A partir dos resultados de tal pericia é que ficou comprovada a existência de substâncias químicas e radiológicas nocivas à saúde, em valor acima do máximo permitido, na água de 1.194 municípios.

Como apontado nas postagens realizadas por mim, uma das cidades que estavam servindo água contaminada por agrotóxicos e outros micropoluentes emergentes é Campos dos Goytacazes, cuja concessionária, a Águas do Paraíba, passa neste momento por uma análise de seu processo de concessão pela Câmara Municipal de Vereadores.

Um convite à “Águas do Paraíba”: divulguem seus resultados sobre os níveis  de agrotóxicos presentes na água servida aos campistas! – Tribuna NF

Uma pergunta que eu faria aos responsáveis pela gestão das águas servidas nas torneiras campistas é se a empresa concessionária já foi notificada pela Senacon (na verdade já foi, ver Aqui!), e o que se pretende fazer para eliminar os contaminantes que foram identificadas nas análises realizadas pela própria Águas do Paraíba e remetidas ao Ministério da Saúde. O detalhe aqui é que o Ministério da Justiça deu o prazo de 20 dias para que as concessionárias respondam à sua notificação. Como diria o relógio… tic.toc.tic.toc.

Responder isso não deverá ser difícil, especialmente quando se acaba de conseguir na justiça um generoso reajuste nas contas cobradas dos campistas.

Relatório anual da qualidade da água da “Águas do Paraíba” “esquece” dos agrotóxicos

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Como deve ter ocorrido com muitos consumidores cativos da concessionária “Águas do Paraíba”, recebi ontem minha conta do mês de maio acompanhada do “relatório anual de qualidade da água do sistema de abastecimento ETA Coroa  (ver imagens abaixo).

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Curiosamente, este relatório (sic!) não traz qualquer informação sobre medidas feitas para verificar a presença dos chamados micro-poluentes emergentes, dos quais os agrotóxicos são uma das espécies mais preocupantes pelo que a exposição crônica a eles pode causar na saúde humana.

Não custa lembrar que os dados divulgados pelo chamado “Mapa da Água” apontaram a presença de agrotóxicos na água que chega nas torneiras dos campistas. 

Aparentemente a “Águas do Paraíba” acredita que se os seus relatórios não trouxerem dados sobre esses contaminantes emergentes, isso significará que eles não estão sendo servidos na água que o campista recebe diariamente em suas torneiras a um custo nada camarada. O problema é que, como a ciência sempre mostra, a negligência no fornecimento do dado não significa que aquilo que foi medida deixa simplesmente de existir.

Entrevista sobre a questão da qualidade da água em Campos dos Goytacazes

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Estive hoje na redação do “Portal Viu” para participar de uma interessante entrevista com o jornalista Roberto Barbosa que teve como mote central a questão da qualidade (ou falta dela) da água que chega na torneira dos campistas via os serviços prestados pela concessionária “Águas do Paraíba” (ver vídeo abaixo).

Nessa entrevista fiz um esforço especial para utilizar uma linguagem que fosse o mais clara possível, pois considero que esta é uma questão que precisa ser entendida por todos da forma mais ampla, especialmente pelos clientes cativos da concessionária que são todos os campistas que recebem água em suas casas via a “Águas do Paraíba”.

Sob pressão dos fatos, Águas do Paraíba emite nota “estilo Chacrinha” que mais confunde do que explica

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De uma forma bem atípica, a concessionária “Águas do Paraíba” finalmente resolveu vir à público para tentar responder à divulgação dos resultados sobre a qualidade da água de torneira divulgados pelo “Mapa da Água” e repercutidos por mim neste blog. O problema é que a nota emitida pela concessionária que monopoliza os serviços de água e esgoto em Campos dos Goytacazes está contaminada pelo que eu caracterizo como sendo “estilo Chacrinha” que é aquele imortalizado pelo saudoso comunicador Abelardo Barbosa que dizia que não tinha vindo “para explicar para confundir”.

Uma primeira faceta curiosa da nota “Chacrinha” da Águas do Paraíba é que há um reconhecimento de que a empresa forneceu dados errados para o banco de dados do Sisagua (será que ofereceu mesmo), gerando uma desconformidade entre o que teria sido medido e o que foi informado ao Ministério da Saúde.  Aqui, assumindo então que agora os dados são verdadeiros, haveria que se agradecer ao pessoal do “Mapa da Água” por alertar, gratuitamente, a Águas do Paraíba de que os dados fornecidos estavam incorretos.

A segunda faceta é que, diferente do que consta no “Mapa da Água“, a Águas do Paraíba declarou que suas medições encontraram apenas um agrotóxico (qual?) nas águas que analisou.  O curioso é que em 2019 na edição anterior do “Mapa da Água”, os resultados para Campos dos Goytacazes eram de que os 27 agrotóxicos medidos na água servida aos campistas tinham sido detectados, sendo que 9 deles estavam acima dos limites máximos permitidos. Naquela ocasião, talvez por não ter havido a mesma repercussão de agora, a Águas do Paraíba não se deu ao trabalho de contradizer os dados divulgados.  Por outro lado, me parece curioso que agora apenas 1 dos 27 agrotóxicos tenha sido encontrado e dentro dos limites máximos permitidos. Faltou a nota da Águas do Paraíba nos contar como se conseguiu esta performance tão melhor agora.

A terceira faceta que me chamou a atenção é que a nota da “Águas do Paraíba” informou que  a “concessionária informa que seus processos de tratamento de água estão de acordo com as tecnologias e procedimentos necessários, conforme características da água bruta tratada em cada unidade, sendo suficientes para o atendimento dos parâmetros previstos na legislação vigente.”  Em outras palavras, a água estaria chegando nas torneiras em atendimento ao que a lei determina.  Aqui faltou dizer que a legislação brasileira é bem mais tolerante, por exemplo, no caso dos agrotóxicos. 

No seu “Atlas dos Agrotóxicos” a professora Larissa Bombardi mostrou que no caso do glifosato (hoje caracterizado pela  como sendo causador do Linfoma de Non-Hodgkin) tem um limite legal 5.000 maior no Brasil do que o valor praticado na União Europeia. Em outras palavras, atender os parâmetros previstos na legislação vigente não assegura aquilo que todo consumidor deseja, qual seja, que a água que chega em suas torneiras é totalmente seguro.

O fato é que pensada ou não parece replicar o estilo de comunicação do Chacrinha, a nota da Águas do Paraíba confunde mais do que explica. Como haverá uma audiência pública no dia 31 de março na Câmara de Vereadores para discutir a qualidade dos serviços prestados pela empresa, vamos aguardar para ver se até lá temos informes mais precisos e menos enrolados.  Afinal de contas, isto é o mínimo que se espera de uma empresa que cobra tão caro por seus serviços.

Um breve descrição dos agrotóxicos presentes na água que chega nas torneiras em Campos dos Goytacazes

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No dia 09 de março publiquei uma postagem apresentando os últimos resultados sobre contaminantes presentes na água fornecida pela concessionária “Águas do Paraíba” aos seus consumidores cativos em Campos dos Goytacazes. Entretanto, em função da alta demanda de trabalho imposta pela retorno do trabalho presencial na Universidade Estadual do Norte Fluminense, acabei não olhando com mais profundidade um elemento que me interesse bastante, qual seja, a presença de resíduos de agrotóxicos (muitos deles considerados como agrotóxicos altamente perigosos por sua alta toxicidade humana e ambiental).

Pois bem, hoje estou voltando ao assunto para apresentar alguns elementos sobre os 27 agrotóxicos que foram detectados e inseridos no “Mapa da Água” como estando presentes na água de torneira em nossa cidade.

Um primeiro detalhe é que nessa lista estão presentes agrotóxicos que já tiveram seu uso descontinuado há algum tempo, sendo o DDT o mais exemplar deles, pois no caso da União Europeia, a proibição do uso deste composto ocorreu em 1978. Mas como mostra a figura abaixo, a maioria dos agrotóxicos detectados na água servida aos campista foi banida na União Europeia ao longo da primeira década do atual século.

ano pesticide

Outro aspecto interessante tem a ver com a função dos agrotóxicos encontrados na água de torneira em Campos dos Goytacazes, cuja maioria é de inseticidas, seguido pelos herbicidas. Tal característica é esperada em função da predominância da monocultura da cana de açúcar. O problema aqui é que muitos herbicidas possuem alta taxa de persistência ambiental, o que explica a descoberta dos mesmos na água, mesmo após terem tido seu uso descontinuado há algum tempo.

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Um aspecto particularmente interessante acerca desse grupo de substâncias presentes na água de torneira é que 74% deles estão banidos na União Europeia, o que corrobora com a tese de que a proibição no continente europeu não é suficiente para acabar com os impactos ambientais e sobre a saúde humana, na medida em que esses produtos continuam a ser exportados para países cujos governos são mais tolerantes ao uso de venenos agrícolas altamente tóxicos.

EU status

Mas o mais impactante, ao menos para mim, é verificar o tipo de doença que os agrotóxicos encontrados na água de torneira em Campos dos Goytacazes como mostra a tabela abaixo.  Dentre a característica mais comum dessas substâncias está o fato de que têm sido associadas não apenas a diferentes tipos de câncer, mas também de serem disruptores endócrinos e ainda teratogênicos (i.e., causarem o desenvolvimento anormal e defeitos de nascimento)

Doenças atribuídas pelo contato ou ingestão dos agrotóxicos detectados na água de torneira em Campos dos Goytacazes

2,4 D + 2,4,5 T  Possível carcinogênico 
Alaclor Carcinogênico, teratogenicidade, possível disruptor endócrino 
Aldicarbe + Aldicarbesulfona + Aldicarbesulfóxido   Suspeito de ser disruptor endócrino
Aldrin + Dieldrin   Câncer 
Atrazina  Câncer 
Carbendazim + benomil   Embriotoxicidade,  teratogenicidade, câncer
Carbofurano   Disruptor endócrino
Clordano   Câncer de mama e próstata, suicídio 
Clorpirifós + clorpirifós-oxon   Disruptor endócrino, teratogenicidade
DDT + DDD + DDE  Câncer 
Diuron   Câncer, possível disruptor endócrino
Endossulfan (a, ß e sais)  Possível disruptor endócrino
Endrin   Teratogênico
Glifosato + AMPA (Agrotóxicos) Cãncer ( Linfoma de  de Non-Hodgkin)
Lindano (gama HCH)   Câncer, possível disruptor endócrino
Mancozebe   Câncer, problemas teratogenicidade
Metamidofós  Câncer, teratogenicidade
Metolacloro   Possível carcinogênico e suspeito de ser disruptor endócrino
Molinato  Inibidor de colinisterase, possível cancerígeno e suspeito de ser disruptor endócrino
Parationa Metílica   Inibidor de colinisterase e suspeito de ser disruptor endócrino
Pendimetalina   Possível cancerígeno e suspeito de ser disruptor endócrino
Permetrina   Câncer e suspeito de ser disruptor endócrino
Profenofós   Inibidor de colinesterase
Simazina  Teratogenicidade
Tebuconazol   Possível carcinogênico e suspeito de ser disruptor endócrino
Terbufós  Inibidor de colinesterase
Trifluralina  Possível carcinogênico e suspeito de ser disruptor endócrino

Micro-poluentes emergentes requerem novas formas de tratamento da água

Agrotóxicos fazem parte daquilo que se convenciona chamar de micro-poluentes emergentes, na medida que mesmo em baixas concentrações podem conferir à água características de toxicidade, sendo, portanto, um problema de alta gravidade, na medida que os efeitos da contaminação múltipla por agrotóxicos ainda são pouquíssimo estudados.  

Entretanto, as empresas concessionárias, públicas ou privadas, ainda não adotaram procedimentos procedimentos adequados para remover essa classe de poluentes da água que é fornecida aos consumidores brasileiras. 

Por outro lado, não há nenhuma indicação que as concessionárias irão modernizar suas formas de tratamento se não houver forte pressão da sociedade civil organizada, na medida em que os tratamentos mais modernos também são considerados mais caros e, desta forma, uma ameaça aos lucros fabulosos que essas empresas auferem em troca de fornecer uma água cuja qualidade é claramente aquém do que deveria ser.

No caso de Campos dos Goytacazes, há uma ótima oportunidade para que essa discussão ocorra se aproximando no horizonte. Falo aqui da audiência pública que a Câmara de Vereadores deverá realizar para avaliar a oportunidade e o interesse de se manter a concessão do sistema de águas e esgotos da cidade nas mãos da Águas do Paraíba.  Espero que essa oportunidade seja bem utilizada não apenas pelos vereadores, mas também pela população e sindicatos, especialmente o dos médicos.

Para quem tiver interesse em analisar a lista de agrotóxicos presentes na água de torneira em Campos dos Goytacazes, basta clicar [Aqui!].


Um post scriptum necessário: alguns dos dados fornecidos aqui são de difícil “mineração” e podem haver incongruências em termos das datas de banimento e o tipo de doenças que os agrotóxicos listados causam. Entretanto, dificilmente o quadro descrito será alterado substancialmente.  Em outras palavras, o problema é grave mesmo.

Autoridades dos EUA alertam sobre ameba “comedora de cérebro” na água de torneira

Como micróbios potencialmente fatais foram descobertos no abastecimento de água de uma cidade no Texas, os residentes não estão usando temporariamente a água da torneira. Um menino morreu da infecção extremamente rara.

amebaA ameba destruidora de cerebros.  (REUTERS / Next Animation Studio)

A ameba Naegleria Fowleri normalmente é inofensiva. Mas se entrar no corpo humano pelo nariz, a infecção geralmente é fatal. As autoridades dos EUA já detectaram o patógeno no abastecimento público de água potável no estado do Texas . Oito municípios foram inicialmente afetados. Os residentes foram solicitados a usar água da torneira apenas para dar descarga. As autoridades anunciaram que o sistema público de água seria desinfetado, lavado e reexaminado para a possível presença do patógeno.

O exame foi solicitado depois que um menino de seis anos morreu de infecção pelo protozoário. Não está claro se a criança foi realmente infectada pela água da torneira.

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Não transferível de pessoa para pessoa

O aviso agora se aplica apenas à cidade de Lake Jackson, com uma população de pouco menos de 27.000 habitantes. Você pode usar a água da torneira novamente, mas deve fervê-la antes de bebê-la e ter cuidado para não deixar entrar água pelo nariz durante o banho ou ducha.

Naegleria Fowleri só sobrevive em água doce quente. De acordo com o Instituto Robert Koch, a ameba é particularmente comum em águas e solos das regiões subtropicais e tropicais, mas também em água doce aquecida natural ou artificialmente em climas temperados.

De acordo com a autoridade de saúde dos EUA, o CDC , as pessoas afetadas geralmente são infectadas se água contaminada entrar no nariz durante o banho ou mergulho. Se a ameba migra para o cérebro, pode desencadear uma inflamação com risco de vida.

Na Alemanha, nenhum caso é conhecido até o momento 

Como o tecido é destruído no processo, Naegleria Fowleri também é conhecida como a ameba “comedora de cérebro”. Os especialistas descartam infecções por engolir ou beber. O patógeno também não pode ser transmitido de pessoa para pessoa.

Embora a ameba seja relativamente comum, as infecções são raras. Nos EUA , apenas 34 casos foram documentados entre 2009 e 2018; mais são conhecidos na Austrália e na França . Os pesquisadores também presumem que muitos casos em países em desenvolvimento e emergentes não são reconhecidos como tal e, portanto, não são relatados. Até agora, nenhuma infecção com a ameba foi documentada na Alemanha.

Depois que a ameba infecta o cérebro, geralmente leva de um a nove dias para a doença aparecer. Os primeiros sintomas incluem dor forte na parte frontal da cabeça, febre e náusea. Isso pode causar confusão, alucinações, torcicolo e desequilíbrio até que as pessoas percam a consciência.

De acordo com um artigo científico de 2014 , mais de 95% das infecções conhecidas são fatais. Em média, a morte ocorre dentro de cinco dias após os primeiros sintomas. Nesse ínterim, entretanto, foram documentados alguns casos em que pessoas doentes sobreviveram à infecção após receberem o ingrediente ativo miltefosina, que na verdade é usado contra a leishmaniose .

Como a infecção por Naegleria Fowleri é muito rara, a doença geralmente é reconhecida tarde demais. Em 2018, um homem de 29 anos morreu em conseqüência da infecção no estado de Nova Jersey . Seus parentes então anunciaram campanhas anuais de arrecadação de fundos para aumentar a conscientização sobre a doença.

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Este artigo foi escrito originalmente em alemão e publicado pela Die Spiegel [Aqui!].