Em São Paulo, periquitos, maracanãs e papagaios buscam alimento em 79 espécies de plantas

Periquito-rico verde se alimenta de coquinho de jerivá em árvore no campus da USP.

Periquito-rico se alimenta de coquinho de jerivá no campus da USP.  Foto: José Carlos Motta Junior

Agência BORI

Uma pesquisa realizada no campus da Universidade de São Paulo (USP) acompanhou durante três anos a dieta de psitacídeos (aves da família dos papagaios, araras e periquitos) em vida livre e trouxe informações inéditas sobre como eles estão se adaptando ao ambiente urbano. O artigo com os resultados será publicado em breve na Revista do Instituto Florestal. 

A escolha do campus da USP não foi por acaso: trata-se de uma área extensa e heterogênea, que reúne desde prédios e estacionamentos até jardins arborizados e bordas de Mata Atlântica, funcionando como um verdadeiro laboratório vivo para estudar a biodiversidade em cidades. O levantamento registrou 2.929 eventos alimentares, envolvendo principalmente três espécies: periquito-rico (Brotogeris tirica), maracanã-pequena (Diopsittaca nobilis) e papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva).

A motivação para o estudo surgiu da grande incidência de psitacídeos observada no campus e da constatação de que havia pouca produção científica sobre sua alimentação em áreas urbanas. “Notamos que a maioria dos trabalhos era realizada em ambientes naturais. Ao registrar essas aves no campus da USP, buscamos compreender como elas estão se adaptando a um cenário bastante modificado”, explica o professor doutor sênior José Carlos Motta-Junior, mestre em Zoologia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e doutor em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de São Carlos (Ufscar).

Um dos principais diferenciais do trabalho é o uso exclusivo de fotografias (e eventualmente vídeos) para registrar os hábitos alimentares. Essa metodologia, pouco explorada até mesmo em nível mundial, trouxe mais precisão aos resultados. “Ao fotografar, conseguimos analisar depois no computador e confirmar o que estava sendo consumido. Por exemplo, em alguns casos o que parecia ser extração de néctar numa primeira impressão, ao ampliar as imagens, se revelava consumo de pólen. Se dependêssemos apenas da observação direta, poderíamos registrar de forma incorreta”, comenta o pesquisador.

O levantamento identificou 83 itens alimentares, sendo 79 espécies de plantas, a maioria arbóreas. Na cidade, a dieta dos periquitos, maracanãs e papagaios se baseia em grande parte nos coquinhos do jerivá, no araçá-roxo e nas sementes da paineira. Aproximadamente 60% das plantas consumidas eram nativas, fornecendo sementes, frutos e flores, enquanto cerca de 40% eram exóticas. Essa diversidade demonstra a flexibilidade alimentar das aves, fundamental para sua permanência em áreas modificadas. “Esse jogo de cintura permite que não apenas sobrevivam, mas também se reproduzam localmente, sem necessidade de migração”, acrescenta Motta-Junior.

Apesar do grande número de registros, o estudo reconhece algumas limitações, uma vez que, muitas vezes, as aves permanecem escondidas e em silêncio nas copas das árvores, dificultando a observação. Mesmo assim, a amostragem foi considerada robusta, representando a heterogeneidade do campus, que vai de áreas com forte intervenção humana até bordas de Mata Atlântica. Outro aspecto interessante é a mudança das estações do ano (sazonalidade), com maior consumo de flores em períodos secos, mostrando a adaptação às variações na disponibilidade de alimento.

A pesquisa também se destacou por não depender de financiamento externo. Os equipamentos utilizados já estavam disponíveis e a própria dinâmica de coleta não exigiu recursos adicionais. Para o pesquisador, a colaboração de estudantes de graduação da USP foi essencial no processo de coleta e análise dos dados, resultando em um trabalho coletivo de grande impacto.

Além de ampliar o conhecimento sobre a dieta dessas aves, o estudo oferece subsídios importantes para o manejo das áreas verdes urbanas. A predominância do consumo de plantas nativas reforça a importância de priorizar essas espécies em projetos de arborização. “É fundamental valorizar a flora nativa, mas sem excluir totalmente algumas exóticas, especialmente as que fornecem alimento em épocas de escassez e que não apresentam risco de invasão”, afirma Motta-Junior.

Para o especialista, os resultados também têm um papel educativo e de sensibilização. “Há um ditado que diz: conhecer é preservar. Ao divulgar dados básicos de ecologia e história natural, aproximamos a população da biodiversidade que ainda existe nas cidades, tornando mais pessoas conscientes e dispostas a valorizar essa riqueza”, destaca.

Os próximos passos da pesquisa incluem a continuidade do monitoramento para ampliar a lista de itens alimentares registrados e o aprofundamento em estudos sobre interações ecológicas, como polinização e dispersão de sementes. Também está em andamento a produção de um fotolivro digital gratuito sobre os psitacídeos do campus e a sua relação com as plantas, a ser disponibilizado futuramente no Portal de Livros Abertos da USP.


Fonte: Agência Bori

Fundação Heinrich Böll lança edição atualizada do “Atlas dos Agrotóxicos”

Atlas dos Agrotóxicos: Fatos e dados do uso dessas substâncias na agricultura

atlas 2024

Por Fundação Heinrich Böll 

Nas frutas, nos vegetais, no leite materno, no ar e até mesmo nos solos de territórios protegidos – vestígios de agrotóxicos usados na agricultura podem ser encontrados em toda parte. Os agrotóxicos deterioram a saúde humana, a biodiversidade, a água e o solo, mas isso não é, de jeito algum, novidade. Em 1962, por exemplo, tivemos a publicação do livro mundialmente aclamado Primavera Silenciosa, da bióloga Rachel Carson, que descreveu os efeitos nocivos do uso desses produtos. O trabalho foi inovador para o movimento ambiental e levou à proibição de agrotóxicos altamente tóxicos, como o DDT (diclorodifeniltricloroetano).

Porém, sessenta anos após o lançamento do livro de Carson, os agrotóxicos estão sendo usados no mundo inteiro em quantidades cada vez maiores, mesmo com regulamentações de aprovação mais rígidas – e acordos voluntários e obrigatórios sobre o manuseio desses produtos. O cultivo de plantas geneticamente modificadas como a soja, criadas pelas mesmas corporações que estão produzindo agrotóxicos, tem contribuído para o aumento do uso de herbicidas, principalmente em países ricos em biodiversidade. O mercado global de agrotóxicos é altamente lucrativo. Algumas empresas agroquímicas influentes estão expandindo seu controle sobre o mercado e prosperando com lucros cada vez maiores. Na vanguarda: empresas europeias como Bayer e BASF. A União Europeia (UE) é o maior mercado de exportação de agrotóxicos do mundo, e vem investindo cada vez mais em países do Sul Global. As empresas da região exportam agrotóxicos que são proibidos em seus próprios territórios, devido aos seus efeitos nocivos na saúde humana e no meio ambiente.

O Brasil é um dos países mais importantes para esse mercado, ocupando o pódio dos maiores consumidores e importadores de agrotóxicos. O país permite limites de resíduos em água e alimentos muito superiores aos da UE. Isto possibilita o registro cada vez maior de novos agrotóxicos, com recordes sendo batidos a cada ano, além do crescimento da importância das commodities na economia brasileira, a partir da ampliação da área plantada e da produção de culturas mais dependentes desses produtos. Este processo gera uma série de problemas nacionais relativos ao uso de agrotóxicos, que por sua vez são sui generis, como o crescimento dos registros de conflitos no campo envolvendo a contaminação de comunidades da agricultura familiar ou de povos tradicionais.

Em contrapartida ao consumo cada vez maior desses produtos, multiplicam-se também os movimentos sociais e organizações da sociedade civil que pesquisam e denunciam os impactos dos agrotóxicos, para combater o seu avanço e apresentar alternativas a este modelo, como a agroecologia. Pesquisas recentes indicam um aumento no consumo de alimentos orgânicos entre brasileiros durante os últimos anos, o que mostra que as pessoas estão cada vez mais conscientes em relação à importância do acesso aos alimentos cultivados sem o uso de agrotóxicos. O debate sobre os riscos do consumo de agrotóxicos não cresce apenas em solo brasileiro. O tema tem visibilidade mundial, a partir do avanço de graves A União Europeia é o maior mercado de exportação de agrotóxicos do mundo, e vem investindo cada vez mais em países do Sul Global.”

“Diante do papel central do Brasil no debate sobre os impactos dos agrotóxicos, o escritório da Fundação Heinrich Böll considerou fundamental produzir uma edição brasileira do Atlas dos Agrotóxicos. impactos. A morte massiva de abelhas causada por agrotóxicos à base de fipronil em diferentes partes do planeta e a contaminação de escolas por produtos aplicados via pulverização aérea são dois exemplos que ilustram os riscos do uso dessas substâncias. Assim, diante do papel central do Brasil no debate sobre os impactos dos agrotóxicos, o escritório da Fundação Heinrich Böll considerou fundamental produzir uma edição brasileira do Atlas dos Agrotóxicos, publicado originalmente na Alemanha, em 2022. Este material faz um raio-x sobre a questão dos agrotóxicos no Brasil a partir de um conjunto de artigos traduzidos e outros originais, escritos por autores que são referência na pesquisa do tema no Brasil. Todos os textos apresentam dados e fatos sobre o uso e o impacto dos agrotóxicos na agricultura e na saúde humana.

Desde seu lançamento, o Atlas dos Agrotóxicos já foi adaptado e lançado pelos escritórios das Fundação Heinrich Böll em mais de oito países e cinco línguas. Este movimento contribui com as ações para a costura de acordos internacionais que buscam enfrentar o avanço do uso de agrotóxicos. Na União Europeia, a Estratégia Farm to Fork (do campo ao garfo) foi elaborada para pedir que os Estados-Membros reduzam o uso de agrotóxicos e os riscos associados em 50% até 2030. Em paralelo, organizações internacionais como o Programa Mundial de Alimentos (WFP) e a Organização para Agricultura e Alimentação (FAO) enfatizam a necessidade da transição para sistemas alimentares mais sustentáveis.

As mudanças climáticas têm se tornado um tema central em qualquer debate sobre políticas e direitos humanos, e a redução de insumos de agrotóxicos na agricultura é um ponto chave dessa discussão. A Fundação Heinrich Böll já publicou uma série de materiais voltados para os impactos sociais e ambientais dos sistemas alimentares, entre elas o Atlas do Agronegócio, o Atlas da Carne e o Atlas dos Insetos. É crucial que alternativas mais sustentáveis sejam ampliadas, trabalhando com a natureza – e não contra ela. Temos que definir o curso agora. A agroecologia e o manejo integrado de pragas (MIP), além da produção de mais pesquisas com biopesticidas, podem ajudar nesse processo.

Para a Fundação Heinrich Böll e muitos parceiros, comer é um ato político. Porque debater as origens dos alimentos e como eles são produzidos é condição fundamental para que todes tenham garantido o direito ao acesso a alimentos saudáveis e de qualidade. Acreditamos que este atlas fornece material que contribui para um debate dinâmico e para uma transformação em nossa forma de produzir e consumir.

Annette von Schönfeld

Diretora do escritório da Fundação Heinrich Böll no Brasil

Marcelo Montenegro

Coordenador de programas e projetos de Justiça Socioambiental

Julia Dolce

Co-Editora do Atlas dos Agrotóxicos


Fonte: Fundação Heinrich Böll

A violação do direito à alimentação e nutrição no Brasil

A existência de mais de 33 milhões de brasileiros passando fome é a negação do respeito ao Dhana (direito humano à alimentação e nutrição adequada), associado a privação de outros direitos humanos

Comida servida em restaurante em Brasília.

Comida servida em restaurante em Brasília

Por Sandra Maria Chaves dos Santos

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Podemos afirmar que a Declaração dos Direitos Humanos pela Organização das Nações Unidas, no pós-guerra, em 1948, em face da destruição e da destituição de vidas e dignidade, geradas pelas guerras, foi um avanço nos marcos civilizatórios das sociedades democráticas modernas. Desde então afirmava-se: “toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis.”

Inicialmente tratava-se de um princípio ético-político, o qual alcançou dimensão jurídica por meio do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos Sociais e Culturais – PIDESC, visando tornar obrigatório os compromissos estabelecidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Se o artigo 1 do referido Pacto reconhece para todos o direito a um nível adequado de vida, destacando especificamente o Direito Humano à Alimentação Adequada – DHAA, o artigo 11 vai além ao destacar o dever dos Estados em adotar medidas apropriadas para garantir o direito fundamental de toda a pessoa estar livre da fome. No Brasil, apenas em 2010, o direito humano à alimentação, a partir de uma emenda popular que deu origem à emenda Constitucional n. 64, foi incorporado ao Artigo 6º da Constituição. Portanto, prover, promover, respeitar, garantir esse direito é lei.

Assim, os resultados do 2º Inquérito nacional de insegurança alimentar e covid-19 no Brasil – II Vigisan, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional – Penssan, divulgados em 08 de junho deste ano, revelam um desrespeito à lei maior do país. Foi evidenciado que 15,5% dos domicílios brasileiros, ou mais de 33 milhões de pessoas, se encontravam entre o final de 2021 e início de 2022 em insegurança alimentar grave – IAG, compatível com fome, por expressar redução quantitativa de alimentos, para além das mudanças de qualidade, atingindo todos os moradores dos domicílios, incluindo crianças. No conjunto os dados denunciam que 58,7% dos brasileiros conviviam com algum grau de insegurança alimentar – IA, isto é, em cada 10 domicílios brasileiros, aproximadamente 6 se encontravam em dificuldades para garantir a alimentação de seus membros.

Infelizmente este resultado não foi uma surpresa. O I Vigisan, conduzido no final de 2020 pela Rede Penssan identificou que 55,2% dos domicílios brasileiros viviam em algum grau de IA e 9,0%, cerca de 19 milhões de pessoas, em IAG.  Em uma primeira leitura poderia ser atribuída à pandemia tal situação, considerando os efetivos impactos sanitários, sociais e econômicos. Os resultados da Pesquisa sobre IA realizada junto a POF – IBGE  2017-18, no entanto, desautorizam essa avaliação unívoca. Àquela época foi identificado que 36,6% dos domicílios estavam convivendo com algum grau de IA, contra 22,9% encontrados na pesquisa junto a PNAD – IBGE, em 2013. Se consideramos a série histórica, portanto, é possível reconhecer que a violação do direito humano à alimentação vinha ganhando contornos dramáticos desde a pesquisa de 2017, agravando-se desde então.

Os resultados da pesquisa Vigisan 2021-22 sobre consumo alimentar evidenciam também que em todo o país mais de 40% das famílias reduziram a aquisição de feijão, arroz, carne, vegetais e frutas no período de referência do estudo. São estes os alimentos que caracterizam a nossa melhor alimentação. Portanto, trata-se de uma violação da dimensão nutricional do direito à alimentação.

A violação do Dhana não atinge igualmente todos os brasileiros, e nem caracteriza um problema isolado. A fome está presente nos lares brasileiros, em todas as regiões do país, mas a situação é mais grave no norte e nordeste, com prevalência de domicílios em IA cerca de 2 vezes maior do que o encontrado na região sudeste e sul. A IA é maior em domicílios rurais, com baixa renda, com pelo menos um desempregado na família, com pessoa de referência do sexo feminino, de raça/cor preta ou parda e baixa escolaridade. Mais um direito violado, a insegurança hídrica, falta de acesso à água para todos os usos, esteve presente em 42,0% dos domicílios em IAG.

Na medida em que os direitos humanos são para todos, toda e qualquer desigualdade é em si uma quebra do pacto democrático. E a existência da fome nos lares brasileiros, com tendência de agravamento do quadro, descumpre o contrato social ético-moral, e como visto, a lei. Cabe à sociedade cobrar e ao Estado responder com políticas públicas emergenciais e estruturantes.

Sobre a autora

Sandra Maria Chaves dos Santos é nutricionista, doutora em administração pública e professora da Escola de Nutrição da UFBA. Vice-coordenadora da Rede Penssan. Atua em ensino de graduação e pós-graduação, pesquisa e extensão na área da saúde coletiva e da segurança alimentar e nutricional e avaliação de políticas públicas de saúde, alimentação e nutrição e SAN


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Este texto foi originalmente publicado pela Agência Bori [Aqui!].

Microplásticos causam danos às células humanas, mostra estudo

Os danos incluíam morte celular e ocorreram em níveis de plástico ingerido pelas pessoas através de seus alimentos

plastico oceanosResíduos de plástico em Rize, Turquia. Fotografia: Agência Anadolu / Getty Images

Por Damian Carrington, editor de Meio Ambiente do “The Guardian”

Microplásticos causam danos às células humanas em laboratório em níveis conhecidos por serem ingeridos pelas pessoas através da alimentação, descobriu um estudo.

Os danos incluíram morte celular e reações alérgicas e a pesquisa é a primeira a mostrar que isso acontece em níveis relevantes para a exposição humana. No entanto, o impacto na saúde do corpo humano é incerto porque não se sabe por quanto tempo os microplásticos permanecem no corpo antes de serem excretados.

A poluição por microplásticos contaminou todo o planeta, desde o cume do Monte Everest até os oceanos mais profundos . Já se sabia que as pessoas consumiam as minúsculas partículas por meio de alimentos e água , além de respirá-las .

A pesquisa analisou 17 estudos anteriores que analisaram os impactos toxicológicos dos microplásticos em linhas de células humanas. Os cientistas compararam o nível de microplásticos no qual o dano foi causado às células com os níveis consumidos pelas pessoas através da água potável contaminada , frutos do mar e sal de cozinha .

Eles descobriram tipos específicos de danos – morte celular, resposta alérgica e danos às paredes celulares – causados ​​pelos níveis de microplásticos que as pessoas ingerem.

“Os efeitos nocivos nas células são, em muitos casos, o evento inicial para os efeitos na saúde”, disse Evangelos Danopoulos, da Hull York Medical School, no Reino Unido, e que liderou a pesquisa publicada no Journal of Hazardous Materials. “Devemos nos preocupar. No momento, não há realmente uma maneira de nos proteger. ”

Pesquisas futuras poderiam permitir identificar os alimentos mais contaminados e evitá-los, disse ele, mas a solução definitiva foi parar a perda de resíduos de plástico: “Uma vez que o plástico está no meio ambiente, não podemos realmente retirá-lo. ”

A pesquisa sobre o impacto dos microplásticos na saúde está aumentando rapidamente, Danopoulos disse: “Está explodindo e por um bom motivo. Estamos expostos a essas partículas todos os dias: estamos comendo-as, estamos inalando-as. E não sabemos realmente como eles reagem com nossos corpos, uma vez que estão dentro. ”

A pesquisa também mostrou que microplásticos de formato irregular causam mais morte celular do que os esféricos. Isso é importante para estudos futuros, pois muitos microplásticos comprados para uso em experimentos de laboratório são esféricos e, portanto, podem não ser representativos das partículas ingeridas pelos humanos.

Danopoulos disse que o próximo passo dos pesquisadores é examinar os estudos de danos microplásticos em animais de laboratório – experimentos em seres humanos não seriam éticos. Em março, um estudo mostrou que minúsculas partículas de plástico nos pulmões de ratas grávidas passam rapidamente para o coração, cérebro e outros órgãos de seus fetos.

Em dezembro, microplásticos foram identificados nas placentas de bebês em gestação, o que os pesquisadores disseram ser “uma questão de grande preocupação”. Em outubro, cientistas mostraram que bebês alimentados com leite em pó em mamadeiras engoliam milhões de partículas por dia.

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Este texto foi inicialmente escrito em inglês e publicado pelo jornal “The Guardian” [Aqui!].

Crise climática, pandemias: nossa dieta tem que mudar

Problemas globais como pandemias e crise climática só podem ser resolvidos se os produtos de origem animal forem retirados do cardápio, exige Kurt Schmidinger

farmSem mais fábricas de animais! Foto: dpa / Stefan Sauer

Por Kurt Schmidinger para o Neues Deutschland

Secas e inundações ao mesmo tempo na Europa: também aqui sentimos há muito os arautos da catástrofe climática. Nas medidas para enfrentar a crise climática, porém, quase sempre falta um ponto essencial: temos que reduzir drasticamente o consumo de produtos de origem animal. Globalmente, a organização agrícola das Nações Unidas (FAO) estima a participação da pecuária nas mudanças climáticas entre 14,5 e 18%, o que é pelo menos igual à participação no tráfego global total. Os comitês agrícolas nacionais, por outro lado, têm o prazer de servir-nos de estudos embelezados nos quais, por exemplo, alimentos importados da floresta tropical e muitas outras coisas não estão incluídos – lembre-se também que mais de 90 por cento da soja consumida neste país é alimentação do gado.

Mas mesmo a FAO está apresentando apenas metade da história – as emissões de gases de efeito estufa. O que ainda falta no balanço são os chamados »custos de oportunidade«: a produção de carne ocupa enormes terras aráveis ​​porque os animais só produzem uma caloria de carne, leite e ovos de cinco a sete calorias de ração, o resto se torna líquido estrume e resíduos de matadouro. Em muitas outras áreas problemáticas, o pasto puro de gado ou ovelhas é melhor do que a pecuária industrial, mas não quando se trata de requisitos de terra. Apenas a mudança de alimentos de origem animal para vegetais reduz enormemente a necessidade de espaço. O crescimento da vegetação natural nas áreas vazias seria nosso trunfo contra a crise climática: como com uma esponja, poderíamos reter muito CO2 da atmosfera como biomassa e aliviar enormemente o clima.

Nosso outro grande problema global são as pandemias. Também poderíamos reduzir sua transferência para nós, humanos, mudando nossos hábitos alimentares e abolindo a pecuária industrial: por um lado, porque precisaríamos de menos espaço e, portanto, menos florestas tropicais e biodiversidade teriam que ser destruídas, o que significa que somos menos probabilidade de entrar em contato com vírus estranhos em tais áreas viria.

Por outro lado, porque as próprias fábricas de animais industriais são sempre uma fonte de epidemias. Sabemos que a distância física nos protege em tempos de pandemia. Na pecuária industrial apenas na Alemanha, mais de 200 milhões de animais estão sendo forçados a praticar exatamente o oposto: eles ficam em massa, corpo a corpo com um sistema imunológico enfraquecido, em sua própria sujeira. Surtos de gripe aviária, gripe suína, incluindo mutações de Covid-19 nas gigantescas fazendas de visons dinamarquesas que foram fechadas em novembro de 2020 – há tantas evidências de que a pecuária industrial tem um efeito acelerador de fogo aqui!

Outro fiasco de saúde para o qual estamos caminhando é o fim dos antibióticos eficazes. Devemos usá-los com moderação para evitar o desenvolvimento de resistência. Mas como usamos três quartos dos antibióticos em todo o mundo? Com o propósito puramente de trazer o gado para o matadouro ainda de alguma forma vivo, apesar de ser mantido no menor dos espaços em condições na maioria das vezes terríveis.

Precisamos explicar isso não apenas para os animais. Se a pneumonia pode ter se tornado um perigo mortal novamente em 2060, como explicamos às gerações posteriores que o schnitzel barato da fábrica de animais era mais importante para nós?

Sem uma mudança radical nos hábitos alimentares, nós, como humanidade, falharemos ética e ecologicamente. Os principais políticos que comem schnitzel de porco em público, infelizmente, demonstram uma total falta de competência para resolver urgências globais.

Temos muitas opções: nutrição completa à base de plantas ou pratos fartos preparados com alternativas à base de plantas para carne, leite e ovos , ou o uso de inovações técnicas, como a carne produzida a partir de células animais. Haverá e deverá haver todos esses caminhos em paralelo, e podemos escolher qual caminho gostamos pessoalmente aqui. Há apenas uma opção que um homo sapiens capaz de aprender certamente não tem: continuar com a pecuária industrial.

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Este texto foi escrito inicialmente em alemão e publicado pelo “Neues Deutschland” [Aqui!].

Em meio à pandemia, movimentos sociais do campo e assentados da reforma agrária doam alimentos

Em meio à cenas que expressam o mais agudo individualismo que são realizadas por pessoas que não ousam sair de seus veículos importados não deixa de ser animador verificar que, em diferentes partes do Brasil, a ação humanitária se desenvolvendo pelas mãos dos assentados de reforma agrária que estão distribuindo gratuitamente toneladas de alimentos nas periferias mais pobres em cidades localizadas e aldeias indígenas em diferentes partes do país (ver imagens abaixo).

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Tal distribuição de alimentos é fruto da ação organizada de movimentos sociais do campo como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), mas também ocorre de forma espontânea a partir de assentamentos de reforma agrária, muitas vezes sob inspiração de lideranças locais.

Ainda que não esteja aparecendo de forma destacada na mídia corporativa que prefere se concentrar nas notícias sobre os supostos embates que estão ocorrendo dentro do governo Bolsonaro,  essas ações deverão abrir uma nova fase no relacionamento político das populações periféricas e os agricultores que hoje lideram essa corrente de solidariedade. É que enquanto grandes redes de supermercados aproveitam-se deste momento de pandemia para aumentar os preços de gêneros básicos, os assentados oferecem comida de graça para os mais pobres.

O fato é que após a passagem do pior da pandemia, o que deverá ocorrer em cerca de um mês, o Brasil e muitos países da América Latina irão se ver diante de uma enorme crise econômica e política. Neste sentido, as ações que os movimentos sociais do campo e os assentados da reforma agrária estão realizando neste momento poderão ter consequências concretas nos enfrentamentos que deverão ocorrer.

De quebra, a ação dos movimentos sociais do campo e dos agricultores assentados demonstra de forma bastante didática como a organização política pode ser usada para gerar dinâmicas que unam de forma objetiva a classe trabalhadora na cidade e no campo.  Em um contexto marcado pela caos político, isto não é, de forma alguma, algo que seja menos importante para o nosso futuro.

Restaurante Popular: qual política está posta na mesa? (parte 1)

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Democracia serve para todos ou não serve para nada. (Betinho)

Por Bruna Machel, Juliana Tavares e Paulo Sérgio Ribeiro

 

É difícil precisar como e quando nasce o projeto dos Restaurantes Populares (RPs) no Brasil. Alguns dirão que sua origem data de 1940 pela iniciativa de Getúlio Vargas, que instituiu o chamado Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS)[1], o modelo de restaurantes públicos que ofereciam alimentação às populações pobres, posteriormente destruído pelo golpe civil-militar, precisamente em 1968[2]; outros dirão que os RPs foram iniciativa inédita do Governo do Estado do Rio de Janeiro, em 2000, quando Garotinho implementou o Restaurante Cidadão na Central do Brasil, ofertando alimentos a R$ 1,00 com subsídio estatal[3]. Porém, é absolutamente indiscutível que os RPs foram sistematicamente implementados, enquanto estratégia de promoção da segurança alimentar em grande escala, somente em 2003 como parte integrante do programa Fome Zero do Governo Federal sob comando do então Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tal programa tinha por objetivo superar o problema da fome no Brasil através de uma série de ações articuladas que envolviam desde a participação de setores sociais na formulação destas políticas (tendo como principal consequência positiva a então reorganização do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – CONSEA), como também o fomento à criação de RPs nas cidades com mais de 100 mil habitantes em todo território nacional.

Os princípios que regem o restaurante popular e a importância dessa política pública

Segundo o Manual dos Restaurantes Populares de 2004 do Governo Federal[4], Restaurantes Populares consistem em: 

[…] estabelecimentos administrados pelo poder público que se caracterizam pela comercialização de refeições prontas, nutricionalmente balanceadas (…) a preços acessíveis, servidas em locais apropriados e confortáveis, de forma a garantir a dignidade ao ato de se alimentar. São destinados a oferecer à população que se alimenta fora de casa, prioritariamente aos extratos sociais mais vulneráveis, refeições variadas, mantendo o equilíbrio entre os nutrientes…

Nota-se no manual dos RPs a preocupação em caracterizar esses estabelecimentos como pontos de apoio para pessoas extremamente pobres que vivem em situação de vulnerabilidade social, mas também voltados para as classes trabalhadoras nos centros urbanos. Tais segmentos, submetidos à precarização das condições de vida sob o sistema capitalista, sem poder se alimentar de forma saudável no cotidiano das médias e grandes cidades, acabam lançando mão de alimentações inapropriadas do ponto de vista nutricional, sofrendo, por consequência, muitas vezes com a subnutrição ou a obesidade. E como bem diz a resolução do CONSEA de 2009[5]

O direito humano a alimentação adequada e saudável e a soberania e segurança alimentar e nutricional não se limita a aqueles(as) que passam fome ou que são pobres ou socialmente excluídos(as), mas diz respeito a qualquer cidadão ou cidadã que não se alimenta adequadamente, seja porque tem renda insuficiente ou não tem acesso aos recursos produtivos (terra e outros), seja por ser portador(a) de necessidades alimentares especiais que não são respeitadas, mas, principalmente, porque a disponibilidade e o acesso aos alimentos condicionam de forma significativa suas práticas alimentares.

A partir desses debates e resoluções nacionais, os RPs foram implementados de formas distintas pelos Estados, porém mantendo como forma predominante o princípio universalizante orientado pelo CONSEA. As filas de acesso ao restaurante se tornaram o crivo natural entre aqueles que precisam e aqueles que “não precisam” de alimento a baixo custo, sem que houvesse a necessidade de qualquer medida restritiva por parte do Poder Público. Tal política melhorou a vida de milhões de aposentados, sem-tetos, estudantes pobres e trabalhadores precarizados do Brasil, tornando os centros urbanos mais humanizados. 

No entanto, com o agravamento da crise, especialmente a partir de 2014, a realidade dos RPs foi modificada radicalmente. Alguns governos decretaram então o fechamento destes equipamentos ou a criação de critérios de acesso que visavam a reduzir o número de usuários, vide a cidade do Rio de Janeiro[6]. Como diz o ditado popular: “A corda sempre arrebenta do lado mais fraco”… E o lado mais fraco na luta de classes, por óbvio, tende a ser o lado do trabalhador, da mãe de família, do jovem desempregado.

É didático recordar, por exemplo, que mesmo em meio à crise nacional, o então Governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, não abriu mão de dar isenção fiscal para empresas “amigas”, sem que elas aumentassem sua contrapartida do ponto de vista do interesse público[7]; tão pouco deixou de realizar licitações fraudulentas, que comprometeram drasticamente a arrecadação estadual, como aponta recentemente a operação Boca de Lobo[8]. Tais práticas antirrepublicanas, corriqueiras em todo o Brasil, garantem o beneficiamento econômico de meia dúzia de empresas privadas e acabam por gerar prejuízos incalculáveis para a manutenção dos serviços públicos. É nesse contexto que programas como o Restaurante Popular são interrompidos ou descaracterizados. 

A situação em Campos dos Goytacazes

O debate sobre a reativação do Restaurante Popular (RP) em Campos dos Goytacazes-RJ, que será rebatizado de Centro de Segurança Alimentar e Nutricional (CESAN) pela atual gestão municipal, está longe de chegar ao consenso. Se há questões pendentes em sua formulação, deparamos agora com um fator agravante: o fim do CONSEA, uma das primeiras canetadas do presidente recém-empossado Jair Bolsonaro. Esse conselho reunia o melhor da inteligência nacional sobre a temática, tendo sido um referencial para diferentes programas de governo. 

Decretado o fim do CONSEA, aumenta-se a margem de experimentação dos governos municipais no terreno da segurança alimentar e nutricional e, não menos, a necessidade de fortalecer a participação popular nessa política em um momento de tantas incertezas quanto à cooperação entre União, estados e municípios para assegurar o abastecimento alimentar, o combate às causas da pobreza e dos fatores de marginalização, entre outras competências comuns dos entes da federação.

Segundo a apresentação da Prefeitura durante plenária do Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS), em 09 de Novembro de 2018, para se alimentar no CESAN, as pessoas passarão por uma triagem, onde serão divididas em 3 categorias de renda, que definirá quem pode ou não contar com o subsídio público.

Terão direito à gratuidade pessoas cuja renda familiar seja de até R$ 178,00per capita, comprovada pelo Cadastro Único do Governo Federal (CadÚnico). À primeira vista, parece uma iniciativa cuja justificativa é auto-evidente. No entanto, esbarramos no problema da dimensão de seu impacto real na vida destas pessoas, já que elas, em sua maioria, vivem em bairros periféricos e têm um acesso dificultado ao centro da cidade em face das não poucas insuficiências que temos em mobilidade urbana. Não seria exagero dizer que, com o fim das passagens a preços populares, o impacto da gratuidade do RP no cotidiano das populações extremamente pobres será, provavelmente, menor do que se desejaria.

Já famílias com renda mensal de até três salários mínimos per capitareceberão subsídio de 50% do valor licitado. Tal valor ainda não foi definido. Porém, é plausível estimar, com base no contrato anterior, que vigorou até o fechamento do restaurante em 2017, que o preço final para o usuário nessa faixa de renda deva variar em torno de R$ 4,00. Estamos diante de uma possibilidade que, caso se confirme, será um tanto contraditória: pessoas em variadas situações de privação e de vulnerabilidade terão de pagar 300% mais caro por uma alimentação que custava, até 2017, R$ 1,00. Tudo isto em um momento de desvalorização do salário mínimo, altíssimos índices de desemprego e desmonte de programas sociais como o Cheque Cidadão.

Também é preocupante o fato de a Prefeitura de Campos anunciar o fim do subsídio para todos aqueles que, por alguma razão, não estejam inscritos no CadÚnico do Governo Federal ou que, simplesmente, não se enquadrem nos critérios de renda delimitados. Para esse trabalhador e trabalhadora, restará pagar o valor integral do contrato entre a Prefeitura e a empresa privada concessionária do serviço público? Valor este onde se incluem o custo real e o lucro do empresário, pagando, desse modo, o mesmo que se pagaria em qualquer estabelecimento comercial no Centro de Campos dos Goytacazes

Após a breve abordagem feita na seção inicial sobre os princípios que regem a política dos RPs, é possível afirmar que sua função social vai muito além de uma noção minimalista de “focalização” na assistência social, pois envolve uma visão democrática de cidade voltada para as classes populares, não se caracterizando, portanto, pela seletividade, mas pelo conceito ampliado de Cidade para os Trabalhadores. Na segunda parte deste texto, discutiremos com mais detalhes o que venha a ser focalização nas políticas sociais e algumas polêmicas que julgamos desnecessárias em torno da mesma quando contraposta ao princípio da universalização.

Longe estamos de viver em uma cidade cujos trabalhadores compartilhem os mesmos lugares de cidadania. Dividimo-nos em classes sociais na cidade do capital, que nada mais é do que a cidade da segregação, da especulação imobiliária, do exército de reserva de trabalhadores desempregados ou subempregados, da reprodução da miséria em “escala industrial”. Ações que tornam a cidade mais conectada com a demanda dos trabalhadores, no sentido de efetivação de direitos, entram em confronto com o interesse daquela entidade que paira fantasmagoricamente acima dos governos, o dito mercado.

Sigamos o exemplo de cidades como Teresina[9] (que curiosamente possui um PIB per capita menor do que Campos dos Goytacazes), ou o exemplo das mais de 30 cidades do Rio Grande do Norte[10], ou mesmo de Belo Horizonte[11], que mantém os RPs em pleno funcionamento. Ademais, não negamos o fato de que existe uma população em situação de rua crescente, localizada no área central da cidade. Essas pessoas, que devem ser assistidas pelo Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP), contam hoje com a solidariedade de grupos religiosos que distribuem alimentos em porta de igrejas e nas praças públicas, além de projetos sociais como o Café Solidário.

De fato, a reabertura do restaurante popular deverá amenizar um pouco a dor destas pessoas e isso é inegavelmente importante do ponto de vista da dignidade da pessoa humana. Sem subestimarmos essa virtualidade, o que propomos debater aqui é o estilo de política social a ser implantado e, por conseguinte, a clareza e a efetividade dos critérios de focalização que serão adotados em uma política cuja razão de ser é conjugar segurança alimentar e nutricional com outras demandas não menos essenciais para redistribuir a riqueza produzida socialmente.


[2] Ibid. ibidem.

 


Este texto foi originalmente publicado no Blog Autopoiese e Virtu [Aqui!]

Curta metragem vencedor do “Sundance Festival” aborda a questão da produção de alimentos em condições climáticas desfavoráveis

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O curta-metragem “Man in the Maze” (ou O Homem no labirinto), produzido por Phil Buccellato and Jesse Ash,  tem menos de 8 minutos de duração, mas traz uma série de reflexões importantes sobre a situação do alimento no mundo, e de como os povos que viviam nas regiões desérticas do estado do Arizona (EUA) conseguiam produzir alimentos em condições climáticas totalmente adversas. 

Apesar da dificuldade de ainda não estar legendado em português, assistir e entender a mensagem do “Man in the maze” acaba sendo possível, pois as imagens são auto-explicativas.

A concentração das empresas nas gôndolas do supermercado

Dez grandes companhias abocanham de 60% a 70% das compras de uma família e tornam o Brasil um dos países com maior nível de concentração no mundo.

Reporter Brasil

reprodução

Talvez passe despercebido àqueles que vão ao supermercado que um conjunto pequeno de grandes transnacionais concentra a maior parte das marcas compradas pelos brasileiros. Dez grandes companhias – entre elas Unilever, Nestlé, Procter & Gamble, Kraft e Coca-Cola – abocanham de 60% a 70% das compras de uma família e tornam o Brasil um dos países com maior nível de concentração no mundo. O que sobra do mercado é disputado por cerca de 500 empresas menores, regionais.

Quer um exemplo dessa concentração? Quando um consumidor vai à seção de higiene pessoal de um estabelecimento comercial e pega nas gôndolas um aparelho de barbear Gilette, um pacote de absorventes Tampax e um pacote de fraldas Pampers, ele está comprando três marcas que integram o portfólio da gigante norte-americana Procter & Gamble – que também é dona dos produtos Oral-B, para dentes.

 O poder da Unilever

Uma dona de casa vai uma vez por mês ao supermercado fazer as compras para sua família: ela, o marido e duas crianças. Para a cozinha, ela compra Knorr, Maizena, suco Ades e a maionese Hellmann’s. Para a limpeza da casa, sabão em pó Omo e Brilhante. Compra ainda Comfort para lavar a roupa. Passa na área de cosméticos e pega o desodorante Rexona para seu marido, e sabonete Lux para ela. Compra pasta de dente Closeup, a marca preferida da filha.

Quase ao sair do supermercado, o filho liga e diz que quer sorvete. Ela compra picolés Kibon. Todas as marcas adquiridas por ela pertencem à Unilever, que em 2013 foi o maior investidor no mercado publicitário do Brasil, com R$ 4,5 bilhões aplicados. Omo possui 49,1% de participação de mercado em sua categoria, segundo pesquisa do instituto Nielsen em 2012.  A Hellmann´s detém mais de 55% do mercado. A Unilever vende cerca de 200 produtos por segundo no Brasil.

unilever

 Mercado de Bebidas

ambev

O que o refrigerante Coca-Cola, o energético Powerade, o suco Del Vale, a água Crystal e o chá Matte Leão têm em comum? Eles são marcas da Coca-Cola, que apenas no segmento de refrigerantes detém cerca de 60% do mercado nacional. E sabe quando está um dia de calor e você quer tomar uma cerveja? Há uma grande chance de que ela seja produzida pela Ambev, que concentra cerca de 70% do mercado com produtos como Brahma, Antarctica, Skol e Bohemia. A companhia Brasil Kirin (ex-Schincariol) possui pouco mais de 10%, e o Grupo Petrópolis, cerca de 10%.

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Quer um chocolate?

Na hora dos desenhos, uma criança se senta à frente da televisão e pede para a mãe alguma coisa para comer. Uma vez no mês, ela decide trocar as frutas por doces. A mãe então oferece algumas opções: um chocolate Suflair ou um Kit Kat? Um chá Nestea ou um Nescau? Um Chambinho ou iogurte Chandelle? Uma bolacha Tostines ou Negresco?

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No fundo, ele está perguntando à criança qual marca e linha de produtos da Nestlé ela quer, porque todas acima citadas pertencem à gigante suíça. O segmento de chocolates é concentrado. Segundo pesquisa do instituto Mintel, ele é dominado por três companhias líderes que possuem 85% do mercado. Kraft lidera ranking, seguida por Nestlé e Garoto (a empresa Garoto pertence à Nestlé, mas tem posicionamento independente, e ambas somam 46% de participação).

Empresas Brasileiras também concentram mercado

A BRF – nascida da união entre Sadia e Perdigão – é líder em vários segmentos das gôndolas: está presente em 28 das 30 categorias de alimentos perecíveis analisadas pelo instituto Nielsen, como massas, congelados de carne, margarinas e produtos lácteos. A BRF está na mesa de aproximadamente 90% dos 45 milhões de domicílios do Brasil. Ela é responsável por 20% do comércio de aves no mundo. Em pizzas, a empresa detém 52,5% do mercado e 60% do de massas congeladas no país.

Outra empresa brasileira com grande presença na mesa dos brasileiros e de outros países é a JBS, dona de várias marcas conhecidas, como Friboi, Seara, Swift, Maturatta e Cabana Las Lilas. Com essa variedade de produtos e a presença em 22 países de cinco continentes (entre plataformas de produção e escritórios), ela atende mais de 300 mil clientes em 150 nações.

brf

Governo brasileiro incentivou a concentração empresarial?

Para alguns economistas, tem havido um aumento da presença do Estado na economia brasileira, um movimento que ganhou força no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando o BNDES passou a conceder financiamentos a juros mais baixos para promover as chamadas “campeãs nacionais”.

Nesse caso, foi estimulada a fusão entre as operadoras de telefonia Brasil Telecom e a Oi, e a criação da BRF, fruto da união entre Sadia e Perdigão. Esse movimento de empresas brasileiras mais fortes no exterior cria gigantes, mas não necessariamente essa liderança traz vantagens para os consumidores brasileiros, que continuam com poucas opções quando vão ao supermercado. Será que essa ação do Estado beneficiou o consumidor final?

Em paralelo, as empresas estatais têm ganhado peso. No setor bancário, CEF e Banco do Brasil estão entre as cinco maiores instituições do país, sendo que a Caixa é líder em financiamento habitacional, e o BB, no setor agrícola. Em energia, a Petrobras é a maior empresa do setor, enquanto a Eletrobrás detém a liderança em geração de energia elétrica.

Mas essa concentração de poder nas empresas públicas é diferente das privadas. Um exemplo está no setor de energia, em que a Petrobras tem tido uma política de reajuste dos preços dos combustíveis alinhada à política de inflação do governo federal. Empresas estatais bem administradas podem render bons lucros, que se tornam dividendos para o governo federal, que, por sua vez, com esse dinheiro dos lucros, pode investir em setores essenciais, como saúde e educação.

Créditos da foto: reprodução

FONTE: http://cartamaior.com.br/?%2FEditoria%2FEconomia%2FA-concentracao-das-empresas-nas-gondolas-do-supermercado%2F7%2F32575

Dez documentários que irão mudar suas ideias sobre alimentação

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Eles debatem obesidade, uso descontrolado de agrotóxicos, crueldade com animais. E propõem encarar boa comida como parte essencial da cultura humana

Por Constantino Oliveira, no Obvious

Acredito que o ser humano se condiciona a determinados hábitos para facilitar a sua vida diária na sociedade. Criamos rotinas, processos e conceitos sociais para vivermos de forma harmoniosa entre nossos pares e para usufruir de um convívio pacífico e prazeroso. Muito do que fazemos são heranças atávicas de como os nossos pais nos criaram e dos valores que nos foram passados durante a nossa infância. E essa cultura e seus valores estão impregnados no nosso inconsciente, fazendo com que nos comportemos de uma ou de outra maneira. De certa forma, agimos e tomamos decisões nas nossas vidas baseados em crenças e valores das quais não temos consciência e não discernimos.

Assim, a nossa relação com a comida é também exercida, na sua maior parte, de maneira inconsciente. A mesa não é apenas um local para nos abastecer nutritivamente, mas um local de convívio importante. Um local de encontros familiares ou encontro com os amigos. Também é um local para relaxar e se desligar do trabalho, seja sozinho, com uma boa conversa, ouvindo uma música ou um noticiário, ou assistindo à televisão. Nesse sentido, a comida é um elemento agregador e de apaziguamento interno.

A comida também serve como um refúgio psicológico contra o estresse. Para algumas pessoas, quanto mais estressados e ansiosos, maior o desejo de comer. Assim, a comida funciona com uma válvula de escape para as nossas frustrações diárias.

A nossa relação atávica e social com a comida não se refere só à forma em que nós comemos, mas, principalmente, ao que comemos. Desde pequeno, ouve-se que uma criança saudável é aquela gordinha e bochechuda. Já, na mais tenra idade, o indivíduo cria estereótipos que vão se perpetuar ao longo da sua vida. Um docinho como prêmio por ter comido todo o prato, um sorvete pelo mérito de alguma conquista, um lanche em uma franquia fastfood midiática, no final de semana, para sair da monotonia doméstica. Mensagens subliminares que vão sendo incorporadas a nossa percepção sobre alimentação e sobre a nossa relação com a comida.

Dessa forma, chegamos a práticas alimentares que destoam, verdadeiramente, do que o nosso corpo está apto a receber. Somos produtos daquilo que ingerimos, seja mental ou fisicamente, portanto aquilo que lemos, assistimos, ouvimos e comemos é causa, na razão direta, daquilo que nos tornamos. Devemos analisar o tipo de alimento que estamos ingerindo e repensar, distante dos nossos atavismos e das nossas conveniências sociais, o que é melhor para o nosso corpo. Hoje, 33% das crianças brasileiras pesam mais do que deviam e, pela primeira vez, essa geração de crianças vem apresentando sintomas de doenças que só existiam anteriormente em adultos.

Longe de querer doutrinar ou propagar ideais vegetarianos ou de qualquer outra forma, penso que o dialogo, mais do que as disputas de filosofias e crenças pessoais, é extremamente relevante. Nunca fiz, nem acredito que regimes, em sua conotação estrita, funcione a longo prazo. Mas, creio que possamos melhorar nossos hábitos alimentares diários. Também entendo que não há uma “receita de bolo” para todos os indivíduos, mas acho que podemos tirar proveito da quantidade e qualidade (tem que filtrar muita coisa!) de informações que estão disponíveis nas livrarias, locadoras e na internet, e nos questionar sobre aquilo que realmente é importante para nós. Hoje, podemos agir melhor informados, diferentemente do que fomos “programados” a pensar durante a nossa vida, seja através da nossa cultura familiar, nossa cultura social, de uma cultura médica totalmente descompromissada ou das informações midiáticas da nossa indústria de alimentos. Podemos discernir melhor sobre o que é importante para uma criança e para um adulto ingerir.

Abaixo, segue a relação dos dez documentários que achei mais interessantes. Alguns desses documentários estão disponíveis nos seus próprios sites e outros se encontram facilmente no youtube ou por outros meios na internet. Boa sorte!

DOCUMENTÁRIOS

1. Muito além do Peso (Way Beyond Weight)

Pela primeira vez na história da raça humana, crianças apresentam sintomas de doenças que antes só existiam em adultos. Problemas de coração, respiração, depressão e diabetes tipo 2. Todos têm em sua base a obesidade. Esse documentário discute por que boa parte das crianças brasileiras pesam mais do que deviam. As respostas envolvem a indústria, o governo, os pais, as escolas e a publicidade. Com histórias reais e alarmantes, o filme promove uma discussão sobre a obesidade infantil no Brasil e no mundo.

2. A Carne é Fraca

Esse documentário mostra aspectos da indústria da carne de aves e gado que normalmente não são divulgados. Através de depoimentos de técnicos ambientais, médicos, pediatras e de jornalistas, ele nos possibilita entender a realidade de como e por que comemos.

3. Terráqueos (Earthlings)

Talvez, desta lista, é o documentário contém as imagens mais impactantes sobre como os animais são tratados até chegarem ao nosso prato. É um documentário sobre a absoluta dependência da humanidade em relação aos animais (para estimação, alimentação, vestuário, diversão e desenvolvimento científico).

4. Forks over Knives (Garfos ao invés de Facas)

Esse documentário talvez seja o que traga o maior número de dados substanciais para a mudança de um novo paradigma alimentar. Apesar dos avanços das tecnologias médicas, o ser humano se encontra cada dia mais doente. Cerca de 50% da população dos EUA toma, ao menos, um remédio receitado e as cirurgias de grande porte viraram rotina. Doença cardíaca, câncer e AVC são as três principais causas de morte no país, mesmo gastando-se bilhões anualmente para combatê-las. Os dados científicos mostrados nesse documentário são impactantes e instigantes.

http://www.alluc.to/documentaries/watch-forks-over-knives-2011-online/329436.html

5. Meet the Truth – Uma Verdade Mais que Inconveniente

Meat the Truth é um documentário que fala sobre o porquê tem se ignorado, repetidamente, uma das mais importantes causas da mudança climática no mundo: a pecuária intensiva. O documentário demonstra com dados estatísticos que a criação de gado gera mais emissões de gases de efeito estufa em todo o mundo que todos os carros, caminhões, trens, barcos e aviões somados. O título é uma provocação ao documentário de Al Gore e o porquê do ex-vice-presidente dos EUA não mencionar coisa alguma sobre o dano ecológico da pecuária intensiva no seu filme.

6. Food Matters (O Alimento é Importante)

Esse documentário é extremamente provocativo sobre diferentes aspectos dos nossos hábitos alimentares. Ele é contrário ao argumento da medicina moderna de que existe uma pílula para cada doença (a pill for every ill). Esse filme propõe educação e não medicação como uma forma de melhorar a vida do indivíduo.

7. Food Inc (Comida S/A)

O documentário concorreu ao Oscar em 2010. É um filme que traça muito bem o perfil sobre como são criados e abatidos os animais pela indústria de carnes, utilizando de excessos de hormônios e antibióticos. Através de entrevistas com pessoas que mudaram seus hábitos alimentares, ele também aponta possíveis soluções.

8. Planeat

O documentário fala da historia de três homens que dedicaram as suas vidas para descobertas de uma dieta alimentar que seria a mais indicada para o ser humano. Ele apresenta uma variedade de alimentos que são verdadeiramente importantes para a saúde e o meio ambiente. Esse documentário serviu de “matéria-prima” para o filme Forks over Knives.

http://planeat.tv/

9. Hungry for Change (Faminto por Mudança)

Dos mesmos diretores e produtores de “Food Matters”, esse é mais um filme que, de forma bem orquestrada, dá importantes argumentos para mudança de hábitos alimentares. Esse documentário mostra que, nós educando sobre o que se come e de onde vem a comida, nos podemos ter o controle da nossa aparência, da nossa saúde e da nossa vida.

http://www.frequency.com/video/famintos-por-mu/78882123

10. Fat, Sick & Nearly Dead (Gordo, Doente & Quase Morto)

Finalizo essa seleção com um documentário leve, mas inspirador. O documentário fala da saga de alguns personagens que, através da mudança de hábitos e da alimentação, conseguiram mudar as suas vidas e contornar doenças físicas e emocionais.

Para assistir com legenda acesse: http://www.methodus.com.br/video/105/gordo-doentequase-morto.html

FONTE: http://outraspalavras.net/outrasmidias/destaque-outras-midias/dez-documentarios-que-irao-mudar-suas-ideias-sobre-alimentacao/