Sensor de papel detecta agrotóxico em alimentos de modo rápido e barato

maça agroDispositivo criado na USP se assemelha a um medidor de glicose usado por diabéticos; ao entrar em contato com a superfície de frutas e legumes, ele identifica e mensura a quantidade do fungicida carbendazim – amplamente empregado no Brasil, apesar de proibido (foto: acervo dos pesquisadores)

Por Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram um sensor eletroquímico de papel kraft capaz de detectar em tempo real a presença de pesticida em frutas e verduras. Ao entrar em contato com maçãs ou repolhos, por exemplo, o sensor, ligado a um dispositivo eletrônico, identifica a presença e mensura a quantidade do fungicida carbendazim – amplamente utilizado no Brasil, apesar de proibido.

O trabalho, apoiado pela FAPESP por meio de três projetos (18/22214-619/13514-9 e 22/03758-0), envolveu grupos dos institutos de Física (IFSC-USP) e de Química (IQSC-USP) do campus de São Carlos. Os resultados foram divulgados na revista Food Chemistry.

“Para verificar a presença de pesticidas em alimentos por meio de abordagens convencionais é preciso triturar uma amostra, submetê-la a processos químicos demorados para só então detectar a substância. Os sensores vestíveis, como o que desenvolvemos para o monitoramento contínuo da concentração de pesticidas na agricultura e na indústria de alimentos, eliminam a necessidade desses procedimentos complexos. Fica muito mais fácil, barato, além de ser muito mais confiável para um supermercado, restaurante ou importador fazer a verificação”, afirma Osvaldo Novais de Oliveira Junior, professor do IFSC-USP.

O novo dispositivo tem grande sensibilidade e se assemelha aos medidores de glicose [glicosímetro] utilizados por diabéticos. Para medir a quantidade de agrotóxico em alimentos, o sensor eletroquímico capta a presença do fungicida e o resultado pode ser acessado, em questão de minutos, por meio de um aplicativo de celular.

“Nos testes que realizamos, o dispositivo teve sensibilidade semelhante à do método convencional. Tudo de uma forma mais rápida e barata”, conta José Luiz Bott Neto, pós-doutorando e autor correspondente do artigo que descreve o desenvolvimento da ferramenta.

Como funciona

Como explica Bott Neto, o dispositivo é basicamente um substrato de papel modificado com tinta de carbono e submetido a um tratamento eletroquímico em meio ácido para a ativação de grupos carboxílicos – o que permite fazer a detecção.

“Utilizamos o mesmo sistema empregado na serigrafia [estamparia de roupas] para fazer a transferência da tinta condutora de carbono para a tira de papel kraft, criando assim um dispositivo baseado em eletroquímica. O dispositivo é confeccionado com três eletrodos de carbono e mergulhado em uma solução ácida para a ativação dos grupos carboxílicos. Em outras palavras, átomos de oxigênio são adicionados na estrutura do eletrodo de carbono. Ao entrar em contato com uma amostra contaminada com carbendazim, o sensor induz uma reação de oxidação eletroquímica que permite a detecção do fungicida. Assim, a quantidade de carbendazim é medida via corrente elétrica”, explica Bott Neto à Agência FAPESP.

Para desenvolver o dispositivo, os pesquisadores avaliaram a estabilidade e o impacto da estrutura do papel na construção dos sensores. “Além do desenvolvimento do dispositivo, o trabalho teve uma parte voltada para entender a questão das propriedades do papel na fabricação do dispositivo”, conta o pós-doutorando Thiago Serafim Martins.

Melhor opção

Os pesquisadores analisaram dois tipos de papel: o kraft e o pergaminho. Ambos se mostraram estáveis o suficiente para a construção dos sensores. Porém, segundo Martins, a natureza porosa do papel kraft conferiu maior sensibilidade ao sensor e aos grupos carboxílicos formados durante a ativação eletroquímica.

Ele explica que a fabricação dos eletrodos em papel abre a possibilidade para diversas aplicações. “Existem eletrodos comerciais feitos com plástico ou cerâmica. No nosso trabalho, conseguimos desenvolver sensores eletroquímicos com papel, um material muito mais maleável, o que amplia o seu uso em vários campos, não apenas na agricultura ou no setor alimentício, mas em outras áreas como a da saúde, por exemplo”, diz.

O artigo Optimized paper-based electrochemical sensors treated in acidic media to detect carbendazim on the skin of apple and cabbage pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0308814623000456?via%3Dihub.


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Este texto foi originalmente publicado pela Agência FAPESP [Aqui!].

Planos de empresas de alimentos para meta climática de 1,5°C ficam aquém do necessário, dizem ativistas

Grandes produtores de soja e carne bovina acusados ​​de não cumprir promessas de parar o desmatamento

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O gado pasta perto de uma área queimada da floresta amazônica perto de Novo Progresso, estado do Pará, Brasil. Fotografia: João Laet/AFP/Getty

Por Patrick Greenfield para o “The Guardian”

As maiores empresas de alimentos do mundo, cujos produtos estão ligados à destruição generalizada de florestas tropicais, não conseguiram criar uma estratégia adequada para alinhar suas práticas de negócios com a meta climática de 1,5°C, de acordo com ativistas.

Os principais produtores de soja, óleo de palma, cacau e gado publicaram seu roteiro para se alinhar com 1,5°C no início desta semana, prometendo desenvolver e publicar metas específicas de commodities e com prazo determinado para interromper o desmatamento, que serão apoiadas pela ciência e verificadas a cada ano. As empresas incluem a empresa brasileira de carne bovina JBS, a empresa agrícola americana Cargill e a empresa de processamento de alimentos de Cingapura Wilmar International.

A mudança no uso da terra é o segundo maior fator de aquecimento global atrás da queima de combustíveis fósseis e a maior causa de perda de biodiversidade, enquanto deter a destruição de florestas tropicais é uma parte fundamental do combate às crises climáticas e de biodiversidade. Para cumprir o 1.5C, toda a conversão do uso da terra deve parar até 2030, com progressos significativos feitos até meados da década, segundo os cientistas .

Embora os ativistas reconheçam que algum progresso foi feito, especialmente com o óleo de palma, eles argumentam que as empresas falharam em grande parte em cumprir a ambição que prometeram em soja e carne bovina.

O desacordo entre ativistas e empresas é sobre a data em que as empresas devem parar o desmatamento. Cristiane Mazzetti, uma ativista florestal sênior do Greenpeace Brasil, disse que algumas das empresas haviam prometido eliminar o desmatamento de suas cadeias de suprimentos até 2020 e falharam.

“Não podemos permitir mais lavagem verde ou comportamento imprudente dessas empresas que lucram com a destruição de ecossistemas e apresentam mais atrasos e planos inadequados para deter e reverter a destruição que causam e que continuará a fritar o planeta”, disse ela.

A Malásia e a Indonésia, que abrigam a maior parte do setor mundial de óleo de palma, tiveram sucesso na redução do desmatamento nos últimos anos, em parte por causa de uma melhor regulamentação.

Nico Muzi, diretor-gerente do grupo ambientalista Madre Brava, disse que o plano anunciado na Cop27 representa algum progresso, mas disse que o compromisso ficou aquém do que era necessário, especialmente no setor de carnes. “Há duas omissões flagrantes: uma data limite para parar o desmatamento causado pela soja agora e a exclusão da conversão pela pecuária e expansão da soja da maior região de savana da América do Sul, o Cerrado brasileiro”, disse ela.

André Vasconcelos, da Global Canopy, disse que o plano é encorajador, pois as empresas envolvidas representaram mais de 60% das exportações de soja brasileira, 50% da carne bovina brasileira e 45% das exportações de óleo de palma da Indonésia em 2020, embora alguns dos principais produtores estejam faltando . Mas ele acrescentou que as empresas precisam ir mais longe para que o plano tenha credibilidade.

“Combater o desmatamento é essencial para ficar abaixo de 1,5°C”, disse ele. “Os comerciantes precisam ir mais longe, mais rápido. O roteiro precisa de uma postura proativa para evitar desmatamento e conversão futuros, incluindo um compromisso concreto de não investir em mais desenvolvimento de infraestrutura nas principais fronteiras de desmatamento. É preciso haver um compromisso com uma data de corte comum entre commodities que inclua todos os tipos de ecossistemas”.

Jack Hurd, diretor executivo da Tropical Forest Alliance que ajuda a supervisionar o roteiro através do Fórum Econômico Mundial, disse discordar de que não houve progresso suficiente e disse estar particularmente satisfeito com o movimento na indústria pecuária.

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Este artigo escrito originalmente em inglês foi publicado pelo jornal “The Guardian” [Aqui!].

Disparada da inflação no preço dos alimentos é a maior desde o início do Plano Real

Inflação dos alimentos é a maior até setembro desde o início do Plano Real. Carestia da comida reflete uma série de fatores em 2022 

carestia alimentosConsumidor tem sentido a elevação dos preços a cada vez que vai às compras(foto: Geraldo Magela/Agência Senado)

Por Leonardo Vieceli para a FolhaPress

Apesar dos recentes sinais de trégua dos preços no Brasil, o grupo alimentação e bebidas ainda acumula inflação de 9,54% no ano, de janeiro a setembro.

Trata-se do avanço mais intenso para o acumulado de janeiro a setembro desde 1994 (915,08%), quando o Brasil ainda vivia o reflexo da hiperinflação.

O IPCA, calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), é o índice oficial de preços do país.

De acordo com analistas, a carestia da comida reflete uma série de fatores em 2022. No começo do ano, fortes chuvas prejudicaram plantações em regiões como o Sudeste. O Sul, por outro lado, amargou período de seca.

Os extremos climáticos reduziram a oferta de mercadorias diversas, como verduras e legumes, o que afetou os preços.

Também houve pressão de custos. Insumos usados no campo ficaram mais caros durante a pandemia, elevando os gastos para a produção de alimentos.

A situação foi intensificada pela Guerra da Ucrânia. Commodities agrícolas tiveram alta nas cotações após o início do conflito, em fevereiro. A guerra ainda gerou pressão adicional sobre os preços de insumos no mercado internacional.

“O diagnóstico ainda é de uma inflação alta”, diz o economista Luca Mercadante, da Rio Bravo Investimentos.

“É uma inflação que tem impacto importante, que pesa na vida das pessoas. Elas percebem isso”, completa.

Em setembro, o grupo alimentação e bebidas até recuou 0,51% no IPCA. Foi a maior baixa desde maio de 2019 (-0,56%) e a primeira desde novembro de 2021 (-0,04%).

Com o resultado, a inflação acumulada no ano desacelerou de 10,10% até agosto para 9,54% até setembro. No acumulado de 12 meses, a alta passou de 13,43% para 11,71%.

A trégua em setembro foi puxada pelo leite longa vida, que havia disparado anteriormente, em meio a período de entressafra.

“Temos uma desaceleração. Setembro foi um sinal disso, muito em razão do leite”, diz o economista Raphael Rodrigues, do banco BV.

Analistas avaliam que os alimentos tendem a ficar em um patamar elevado de preços até dezembro, mas com avanços mais moderados do que no começo do ano. Por ora, as projeções não sinalizam novas deflações para o grupo até o final de 2022.

“Tende a desacelerar, mas deve continuar pressionado, inclusive em 2023”, indica Rodrigues.

Ele acrescenta que, antes da pandemia, os preços de alimentos como as carnes já vinham em alta, devido a descompassos entre oferta e procura.

A carestia afeta sobretudo a população mais pobre, porque a compra de alimentos consome uma fatia maior do orçamento dessas famílias na comparação com faixas de renda mais elevadas.

Nesse sentido, o governo federal anunciou a ampliação do Auxílio Brasil para R$ 600 a partir de agosto. O benefício pretende aumentar o poder de compra dos mais pobres no ano eleitoral, enquanto a inflação dos alimentos ainda pesa no bolso dos brasileiros.

No acumulado do ano, o melão foi o alimento que mais subiu dentro do IPCA. A alta dos preços alcançou 74,37% até setembro.

Cebola (63,68%) e leite longa vida (50,73%) vieram em seguida. O tomate, por outro lado, teve a maior queda (-28,01%).

Auxílio só compra cesta em cinco capitais Em setembro, o preço médio da cesta básica diminuiu em 12 das 17 capitais que integram levantamento mensal do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).

Mesmo assim, apenas 5 das 17 metrópoles pesquisadas tinham cesta básica abaixo de R$ 600, o valor do Auxílio Brasil.

São Paulo, por outro lado, seguiu com a cesta básica mais cara em setembro: R$ 750,74. Florianópolis (R$ 746,55), Porto Alegre (R$ 743,94) e Rio de Janeiro (R$ 714,14) vieram na sequência.

Além de ampliar o Auxílio Brasil, Bolsonaro também apostou no corte de tributos para aliviar a inflação, o que atingiu itens como combustíveis e energia elétrica.

Em setembro, o IPCA, de modo geral, caiu 0,29%. A deflação foi a terceira consecutiva, movimento puxado pela baixa da gasolina.

O petróleo, contudo, voltou a subir nos últimos dias, o que pressiona os preços dos combustíveis no Brasil. A Petrobras vem evitando repasses nas refinarias às vésperas do segundo turno das eleições.

Mesmo assim, após 15 semanas de queda, o valor médio da gasolina passou a avançar nos postos brasileiros, conforme pesquisa semanal da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis). O combustível foi vendido a R$ 4,86 por litro, em média, na semana passada.


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Este texto foi publicado pelo jornal “Estado de Minas” [Aqui!].

Entidades se articulam e grupo de senadores assina requerimento para que o PL que enfraquece fiscalização sanitária dos alimentos seja votado em plenária

Organizações alertam que se aprovado, este PL do Autocontrole poderá trazer enormes prejuízos para a saúde pública, para o bem-estar dos animais, terá impacto ambiental, comprometerá a renda de pequenos produtores, além de ir contra o direito do consumidor.

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São Paulo, 01 de julho de 2022 – ONGs de proteção animal, ambiental, de defesa do consumidor, direitos dos trabalhadores da indústria de alimentos, direito dos pequenos produtores rurais, organizações de saúde humana e os próprios fiscais agropecuários se uniram contra o Projeto de Lei (PL) Nº 1.293/2021, também conhecido por PL do Autocontrole. As organizações estão preocupadas com os riscos que esse PL pode trazer para a sociedade, pois ele visa transferir para o setor privado a responsabilidade da fiscalização sanitária, que de acordo com a Constituição Federal, é responsabilidade do Estado.

O PL foi aprovado pela Comissão de Agricultura e Reforma Agrária e seguiria para sanção do presidente Bolsonaro, mas após intensa mobilização das organizações em questão, elas conseguiram que o PL passe por votação plenária, ou seja, todos os demais senadores também deverão avaliar e votar o PL. De acordo com o regimento da Casa, a votação plenária pode ser solicitada, mesmo após a aprovação de uma comissão, caso seja apresentado um recurso assinado por ao menos 9 senadores (10% do total de parlamentares). Por meio da articulação das organizações, já houve a adesão de 16 senadores (veja a lista abaixo) e a expectativa agora é que o Senado barre definitivamente o PL do Autocontrole. “Consideramos imoral aprovar um projeto que visa transferir do poder público a responsabilidade de supervisionar a saúde pública e a dignidade animal”, destacam as organizações em carta aberta.

As organizações alertam que os prejuízos que podem ser causados pelo PL são inúmeros. Entre eles: dificuldade de identificar e punir fraudadores em caso de adulteração e contaminação de produtos como leite, carne, azeite, bebidas em geral e outros alimentos; registro automático de medicamentos para animais, que podem gerar resíduos nos alimentos e colocar a saúde do consumidor em risco, por exemplo ingerir carne ou leite com resíduos de antibióticos; aumento de doenças e infecções por causa da ingestão de produtos impróprios para consumo humano; pequenos produtores e agricultura familiar poderão ser severamente prejudicados por não conseguirem arcar com os custos da fiscalização privada.

Para o presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais (ANFFA Sindical), Janus Pablo, o PL além de desastroso, possui muitas lacunas e ambiguidades que podem favorecer as grandes empresas agropecuárias em detrimento da sociedade. “Os auditores agropecuários atuam em todas as áreas de produção de alimentos, incluindo a supervisão dos agrotóxicos utilizados na produção agrícola. Sem a fiscalização agropecuária governamental, na prática, as empresas ficarão livres para reportar se elas estão cumprindo as normas sanitárias, sem que seja necessário o auditor conferir as informações in loco“, diz.

Além de riscos para a saúde pública, o PL também representa um grave risco para o bem-estar dos animais. Sem a fiscalização governamental, os animais serão ainda mais expostos ao extremo sofrimento nos abatedouros, a exemplo de cenas documentadas por organizações de defesa dos animais como a Animal Equality e a Mercy For Animals, que mostram as péssimas condições que os animais são submetidos quando os fiscais agropecuários não estão presentes e o não cumprimento das normas higiênico-sanitárias.

Algumas das organizações que estão fazendo parte dessa articulação são: ACT Promoção da Saúde, Alianima, Animal Equality, Associação dos Fiscais Agropecuários do Rio Grande do Sul (AFAGRO), Associação dos Municípios da Microrregião do Vale do Paranaíba (AMVAP), Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável, Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins (CNTA), Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, Greenpeace, Instituto Akatu, Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), Instituto Protecionista S.O.S. Animais e Plantas, Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), Instituto Socioambiental (ISA), Mercy for Animals, Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Núcleo de Justiça Animal da Universidade Federal da Paraíba, Observatório do Clima, Organização pelo Direito Humano à Alimentação e à Nutrição Adequadas (FIAN), Proteção Animal Mundial (World Animal Protection), Slow Food Brasil, Sinergia Animal, Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais (ANFFA Sindical) e TJCC – Movimento Todos Juntos Contra o Câncer.

Várias outras organizações têm apoiado diretamente os Auditores Fiscais Federais, como pode ser visto neste comunicado recém lançado. É importante destacar que se os próprios auditores fiscais, que são quem mais entende de fiscalização, são contra o PL do Autocontrole, obviamente o PL representa uma ameaça se for aprovado da forma que está redigido.

Senadores que assinaram o requerimento para votação plenária:

  1. Senador Paulo Rocha (PT/PA)
  2. Senador Jean Paul Prates (PT/RN)
  3. Senador Fabiano Contarato (PT/ES)
  4. Senador Paulo Paim (PT/RS)
  5. Senador Jaques Wagner (PT/BA)
  6. Senadora Eliziane Gama (CIDADANIA/MA)
  7. Senador Rogério Carvalho (PT/SE)
  8. Senadora Mara Gabrilli (PSDB/SP)
  9. Senadora Leila Barros (PDT/DF)
  10. Senadora Zenaide Maia (PROS/RN)
  11. Senador Alessandro Vieira (PSDB/SE)
  12. Senador Randolfe Rodrigues (REDE/AP)
  13. Senador Reguffe (UNIÃO/DF)
  14. Senador Telmário Mota (PROS/RR)
  15. Senador Jorge Kajuru (PODEMOS/GO)
  16. Senador Humberto Costa (PT/PE)

Agro é pop? Devastação ambiental, fome e inflação: entenda porque o modelo é insustentável

Brasil troca cada vez mais áreas de plantio de alimentos pela produção de commodities para exportação

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As exportações do agronegócio brasileiro tiveram um saldo positivo de US$ 43,7 bilhões no acumulado do ano – SILVIO AVILA / AFP

Por Gabriela Moncau para o jornal “Brasil de Fato”

 trabalhador rural alegre, operando um trator no meio da plantação. Uma família sorridente passando manteiga no pão ao sol da manhã. A cana de açúcar e uma narração dizendo como ela possibilita que os carros andem pelas ruas. A criação de ovelhas e depois vistosas roupas na vitrine do shopping.  

“Agro é pop, agro é tech, agro é tudo”: o slogan das propagandas transmitidas desde 2016 pela rede Globo trazem a ideia de que o modelo do agronegócio fornece, basicamente, todas as coisas boas e necessárias da vida.  

A “indústria” que, segundo o bordão da peça publicitária, é a “riqueza do Brasil” e que tem como base a produção e exportação de commodities  (produtos em estado bruto, de origem agropecuária ou de extração mineral, usados como matéria prima para a fabricação de outros produtos), em especial a soja transgênica, só cresce em um país que vê sua população empobrecer. 

Com um saldo de US$ 43,7 bilhões (cerca de R$ 210 bi) no acumulado do ano, as exportações do agronegócio brasileiro em abril de 2022, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), foram 81,6% maiores que o mesmo mês de 2019, 52,3% maiores que em 2020 e 14,9% que 2021. 

Contraditoriamente, nesse mesmo período, entre 2019 e o fim de 2021, a população vivendo abaixo da linha da pobreza no Brasil saltou, segundo a FGV Social, de 23 para 28 milhões de pessoas.  

Pior: enquanto o agronegócio infla em lucro e em área ocupada, sobem também os números da inflação, da fome, e da devastação ambiental no país. Segundo pesquisadores e ativistas ouvidos pelo Brasil de Fato, não é coincidência que tudo isso cresça junto. 

Commodity não enche barriga 

“O agronegócio não produz comida. Produz commodities”, sintetiza Kelli Maffort, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).  

Citando o último Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), feito em 2017, Maffort ressalta que quem produz alimentos é a agricultura familiar e camponesa. No Brasil, no entanto, a área de plantio de alimentos vem perdendo significativo espaço para as commodities.  

“Na região sudoeste do estado de São Paulo houve um avanço significativo da soja sobre áreas que antigamente se dedicavam à produção de feijão. Então obviamente que isso vai representar uma diminuição de oferta de alimentos”, ilustra Kelli. 

Tendo como base os dados do IBGE, o artigo Expropriação, violência e R-existência: uma geografia dos conflitos por terra no Brasil (2021) mostra que em 1988 o país dedicava 24,7% da sua área cultivada para arroz, feijão e mandioca. Em 2018, essa proporção despenca para 7,7%.  

Em contrapartida, salientam os autores Carlos Walter Porto-Gonçalves, Luiz Jardim Wanderley, Amanda Guarniere, Pedro Catanzaro da Rocha e Vinícius Martins, nesse período de 30 anos, as culturas voltadas para a exportação, que representavam 49,8% da área de cultivo do país, passaram a ocupar 78,3% dela. 


Arte: Brasil de Fato / Arte: Brasil de Fato

“Mais de 3/4 do total da área das lavouras temporárias e permanentes são de apenas três produtos: soja, cana e milho”, expõe o artigo, ao explicar que esses cultivos são voltados, primordialmente, para alimentar gado e produzir combustíveis fora do Brasil. “Se a função primeira da agricultura é a alimentação”, avaliam os autores, “o padrão da agricultura brasileira vem ignorando sua própria população”. 

Para Sílvio Isoppo Porto, professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), “é incontestável a redução de área na produção de alimentos para o mercado interno”.  

“Em decorrência da desestruturação de políticas e de sistemas de produção vinculados à agricultura familiar e camponesa, de cultivos diversificados, há uma transferência de área, principalmente para a soja”, aponta Isoppo, que é também diretor de Sistemas Alimentares e Agroecologia do Instituto Fome Zero.  

A venda e o arrendamento de terras para o agronegócio se explicam, reflete Sílvio, pela falta de políticas que estimulem a produção de alimentos básicos e possivelmente também pelo envelhecimento da população rural. “Isso afeta diretamente a disponibilidade, o que por consequência agrava a situação de abastecimento do país”, salienta.  

Escolha política 

E a rota, pelo visto, segue nesse sentido. Até 2030 o Ministério da Agricultura prevê, por um lado, a redução de dois milhões de hectares para arroz, feijão e mandioca e, por outro, o avanço em 27% da área voltada para soja e milho, com a projeção de que até lá esses cultivos ocupem 70,8 milhões de hectares.  

Mas nem é preciso consultar as projeções do Ministério da Agricultura para confirmar que esse processo faz parte de uma política estatal. “A produção de alimentos no Brasil está completamente abandonada”, avalia Maffort.   

“Não tem programa melhor para enfrentar a fome do que o PAA [Programa de Aquisição de Alimentos], porque o governo compra a preço justo o alimento do agricultor e o direciona para quem está ligado a entidades sociais, nas periferias, quem está precisando de comida. No governo Bolsonaro o seu orçamento foi reduzido”, explica a dirigente do MST. 

“Também o PNAE [Programa Nacional de Alimentação Escolar], a lei obriga os municípios a destinarem 30% do investimento em alimentos da agricultura familiar, camponesa, indígena”, diz Kelli, “mas o governo federal faz de tudo para desidratar essa política e a obrigatoriedade. Há verdadeiras máfias por trás das merendas”. 

Sílvio Isoppo argumenta que a redução das áreas de plantio de banana, batata, cebola e tomate na última década não se explica só pelo avanço da soja, mas por uma falta de estímulo estatal – como um consistente seguro agrícola em caso de perdas – que, em sua visão, vem desde 2005. 

“De lá para cá, o crédito para o agronegócio cresce sistematicamente, assim como o volume de recursos aplicados pelo tesouro para fazer a equalização de juros”, diz Isoppo, ex-diretor da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). 

Na lista de exemplos da opção política do governo em fomentar o modelo do agronegócio em detrimento da produção de alimentos saudáveis, Sílvio cita a alíquota zero para exportação; o desmantelamento das normas e fiscalizações ambientais que tem feito avançar o fogo, o desmatamento e a grilagem de terras; e a liberação de 1.529 novos agrotóxicos durante o governo Bolsonaro.  

O professor também menciona a Lei Assis Carvalho (14.274/2021), que prevê um auxílio financeiro para agricultores familiares prejudicados pela pandemia de covid-19. “Até agora o governo não aportou nem um centavo”, critica.  

O que isso tem a ver com a inflação 


Um dos resultados imediatos da alta inflação é o aumento no custo médio da cesta básica / Foto: Annelize Tozetto

alta no preço dos alimentos, que vem esvaziando o carrinho de supermercado de boa parte da população brasileira, se explica por uma combinação de fatores – que não são apenas, como vem bradando Jair Bolsonaro (PL), decorrentes da guerra na Ucrânia e da pandemia. A hegemonia do agronegócio é um deles.  

Engenheiro agrônomo especializado em economia rural e engenharia de produção, Leonardo Melgarejo estabelece conexões entre o destino do que é produzido no Brasil, a desvalorização da moeda, a escassez de alimentos, a fome e a alta de preços no mercado interno.  

“A terra é escassa. Se vier a ser utilizada com um tipo de lavoura, as outras opções serão descartadas. A redução na oferta de produtos como feijão, arroz e mandioca faz com que seus preços aumentem”, apresenta Melgarejo.  

“O real se desvalorizando em relação ao dólar faz com que as exportações de soja e minérios sejam mais rentáveis e atraentes. Isso aumenta a busca por novas áreas de plantio e de mineração. Resulta no que estamos vendo”, constata Leonardo, que faz parte da coordenação do Fórum Gaúcho de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos.  

“Questão agrária e ambiental estão intrinsecamente ligadas”   

Enquanto isso, no primeiro semestre de 2022, as queimadas no Pantanal, na Amazônia e no Cerrado não só continuaram, como já superam as de 2021. Conforme dados do Instituo Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), só no Pantanal os focos de incêndio cresceram 18,2% em relação ao ano passado. No Cerrado, subiram 20%.   

dossiê Agro é Fogo, lançado no fim do ano passado por uma rede de cerca de 30 movimentos e pastorais sociais, traz evidências de que boa parte dos grandes incêndios recentes no Brasil foram provocados por ações humanas e beneficiaram o agronegócio.  

Imagens de satélite e cruzamento de dados como focos de calor e mapeamento de áreas atingidas mostram que, em 2020, o fogo no Mato Grosso começou em cinco fazendas de gado e, no Mato Grosso do Sul, em outros quatro latifúndios. 

Para Diana Aguiar, pesquisadora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), o desmatamento e a grilagem de terras tem conexão intrínseca.  

“Como sabemos, grilagem é um tipo de roubo de terras que do ponto de vista jurídico são públicas, as chamadas terras devolutas. Essas terras, em sua imensa maioria, ainda não foram regularmente destinadas para os regimes fundiários prioritários, que seriam, a titulação de territórios tradicionais, os assentamentos de reforma agrária e a regularização de pequenos agricultores posseiros ou a proteção ambiental”, explica Aguiar. 

“Grileiros se aproveitam da leniência e inação do Estado, invadem terras públicas, desmatam e fraudam os registros de propriedade”, expõe Diana.  

“É nessas terras – com frequência ocupadas por povos tradicionais, com a vegetação nativa e ricas em biodiversidade – onde se dá a maior parte dos conflitos no campo, em razão da pressão da expansão da fronteira agrícola para a produção de commodities”, resume. 

“Titular os territórios e fazer a reforma agrária é, ao mesmo tempo, uma questão de direitos dos povos do campo e também é o melhor caminho para conter o desmatamento”, defende Diana Aguiar.  

Em sua opinião, esse “problema estrutural mostra que a questão agrária e a questão ambiental estão intrinsecamente conectadas no Brasil”.


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Este texto foi originalmente publicado pelo jornal “Brasil de Fato”  [Aqui! ].

Preços mundiais de alimentos sobem em ritmo recorde em meio ao conflito Rússia-Ucrânia

bélgicaUma cliente escolhe óleo de cozinha no supermercado Colruyt em Bruxelas, Bélgica, 29 de março de 2022. Devido ao aumento dos altos preços da energia, os mercados da Bélgica testemunharam o aumento dos preços da gasolina, diesel, óleo de cozinha, farinha, etc. [Foto/Xinhua]

ROMA – Os preços mundiais das commodities alimentares deram um salto significativo em março para atingir seus níveis mais altos, à medida que o conflito entre a Rússia e a Ucrânia continua aumentando os custos de energia e causando desacelerações na cadeia de suprimentos.

O índice mensal de preços dos alimentos, divulgado sexta-feira pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), subiu 12,6%, atingindo 159,3 pontos em março, em comparação com uma linha de base de 100 pontos para a média de 2014-2016 (ajustada pela inflação).

Este é de longe o maior total da história do índice, que foi lançado em sua forma atual em 1990.

Todas as cinco subcategorias do índice subiram, com os preços de grãos e cereais – o maior componente do índice – subindo impressionantes 17,1%.

A FAO disse que o principal fator por trás desse aumento é que a Rússia e a Ucrânia são grandes produtores de trigo e grãos grossos, e os preços deles dispararam devido ao conflito.

Preocupações com as condições das colheitas nos Estados Unidos também foram um fator, disse a FAO. Os preços do arroz, por sua vez, ficaram praticamente inalterados em relação a fevereiro.

Enquanto isso, os preços dos óleos vegetais subiram 23,2% devido ao aumento dos custos de transporte e à redução das exportações, novamente devido ao conflito Rússia-Ucrânia.

Os outros subíndices foram todos mais altos, mas subiram menos dramaticamente. Os preços dos lácteos foram 2,6% mais altos, os preços da carne subiram 4,8% e os preços do açúcar 6,7%. O conflito e questões relacionadas também foram fatores por trás desses aumentos de preços, disse a FAO.

O Índice de Preços de Alimentos da FAO é baseado nos preços mundiais de 23 categorias de produtos alimentícios, abrangendo os preços de 73 produtos diferentes em comparação com um ano de referência.


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Este texto foi escrito inicialmente em inglês e publicado pelo jornal “China Daily” [Aqui!].

O longo braço do colonialismo digital do Facebook na Índia não deixa nem a comida de fora

Controle total: como o Facebook está impulsionando a monopolização do fornecimento de alimentos na Índia

india cartõesProtesto contra o poder corporativo: agricultores queimam cartões SIM Reliance Jio em Amritsar (30/09/2020)

Por Satyajeet Malik para o JungeWelt

Um estudo do grupo de jornalistas indianos The Reporters’ Collective, publicado em meados de março, está causando um rebuliço no país. De acordo com o relatório, o Facebook, a rede social de propriedade da empresa norte-americana Meta, cobra menos dinheiro para anúncios do partido nacionalista hindu Bharatiya Janati (BJP) do primeiro-ministro Narendra Modi do que de outros partidos políticos. Esses anúncios foram veiculados no Facebook por uma startup de tecnologia de propriedade da Reliance Industries (RI), como a Al-Jazeerarelatado. A RI é a maior empresa privada da Índia com monopólios no varejo, telecomunicações e petroquímica. No entanto, os relatórios são apenas uma pequena indicação da complexa colaboração entre o Facebook e a Reliance, que é um bom exemplo de “colonialismo digital”.

E o Facebook conquista a Índia

A Índia é o maior e possivelmente o mais importante mercado para o Facebook. Dos cerca de 1,4 bilhão de habitantes do país, cerca de 1,15 bilhão utilizam os serviços do Facebook, WhatsApp e Instagram, que também pertencem ao Meta. A Índia também é uma das maiores áreas de teste para novos produtos e recursos.

O Facebook há muito tenta ganhar uma posição mais forte no país, mas encontrou obstáculos. Ele falhou em 2016 com o lançamento de seu aplicativo Free Basics, que oferece acesso gratuito, mas limitado à internet. Várias organizações protestaram, acusando a Free Basics de monopolizar a Internet. O Whats-App queria lançar um aplicativo para pagamentos móveis (Whats-App Pay), mas encontrou vários obstáculos legais relacionados à privacidade. O serviço de mensagens também tentou atuar como um provedor de empréstimos para pequenas empresas. As coisas não estavam indo bem para o Facebook até conhecer a Reliance Industries.

Entre outras coisas, a empresa é proprietária da Reliance Jio, a maior provedora de telecomunicações da Índia, com quase 428 milhões de usuários. Também é proprietária da Reliance Jio Fibre, a segunda maior provedora de banda larga com 3,71 milhões de clientes. O RI também é o maior player no varejo, onde a mercearia online Reliance Jio Mart domina o mercado de US$ 900 bilhões. O RI também está a caminho de se tornar o maior comprador de produtos agrícolas e lançou o aplicativo Jio Krishi – uma plataforma para comprar diretamente dos agricultores. As duas plataformas – Jio Krishi e Jio Mart – estão conectadas.

A situação do Facebook na Índia mudou quando a empresa adquiriu uma participação de 9,9% na Reliance Jio por US$ 5,7 bilhões em 2020. Desde então, o Facebook recebeu permissão para adotar totalmente o WhatsApp Pay. O sistema de pagamento também integrou a plataforma de mercearias Reliance Jio Mart, o que significa que os pagamentos podem ser feitos ao Jio Mart sem sair do Whats-App. Além disso, estão agora a ser concedidos empréstimos a pequenas empresas até ao equivalente a 11.800 euros, que podem ser aprovados em dez minutos.

O poder de precificação

No entanto, o acordo Reliance-Facebook é muito mais do que apenas a entrada da empresa norte-americana no segmento de pagamentos móveis e empréstimos para pequenas empresas da Índia. Trata-se de um »controle de 360 ​​graus« sobre toda a cadeia de abastecimento alimentar.

Como já mencionado, o aplicativo Jio Krishi está conectado ao Jio Mart, que por sua vez está conectado ao Whats-App Pay. O aplicativo Jio Krishi não é apenas uma plataforma para compra de produtos agrícolas, mas também um serviço de análise de dados. Usando dados sobre terras agrícolas, o aplicativo informa os agricultores sobre o momento certo para semear, irrigar e fertilizar suas plantações. Estes Reliance mais tarde comprariam do fazendeiro. A integração do Jio Krishi com o Jio Mart e o Whats-App Pay forneceria à Reliance e ao Facebook informações completas sobre o que está sendo produzido, quais insumos são necessários para a produção e qual é a situação financeira do agricultor.

Para cada transação feita através do Whats-App Pay, o Whats-App obteria informações financeiras valiosas de seus usuários, que podem ser compartilhadas com o Facebook. O Facebook pode vender esses dados do usuário para terceiros, o que ajuda a empresa a gerar grandes receitas. Além disso, o acesso aos dados financeiros dos agricultores permitiria que o WhatsApp emitisse empréstimos com altas taxas de juros.

Um monopólio sobre o setor alimentar, o mercado retalhista e a distribuição retalhista ajudaria a Reliance a fixar os preços em toda a cadeia de abastecimento alimentar. Essa parceria coloca a Reliance e o Facebook em posição de usar seu poder de empréstimo e monopólio geral para sujeitar concorrentes, fornecedores e compradores ao poder de precificação da Reliance. “É um controle de 360 ​​graus”, comentou Parminder Jeet Singh, diretor executivo da organização de direitos humanos “IT for Change”, à revista norte-americana Washington Monthly em junho de 2021.

Trabalhar com a Reliance permitiria ao Facebook alavancar o amplo alcance da empresa nos mercados indianos e extrair dados. Por outro lado, a Reliance tem a oportunidade de trabalhar com os recursos de análise de dados do Facebook. Juntos, eles monopolizariam grande parte do mercado indiano, de sistemas de pagamento móvel ao varejo, de informações do usuário a decisões sobre o que os agricultores produzem, compram e vendem e, potencialmente, toda a cadeia de fornecimento de alimentos.


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Este texto foi originalmente escrito em alemão e publicado pelo jornal “JungeWelt” [Aqui!].

Certificadora “Red Tractor” não regulamenta uso de agrotóxicos que chegam nos supermercados do Reino Unido

Pesquisa considera o esquema de garantia agrícola e alimentar ineficaz para ajudar os agricultores a reduzir o uso de produtos químicos nocivos

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Um pulverizador químico em ação. Estudos recentes revelaram declínios globais alarmantes nas populações de insetos devido em parte ao uso de agrotóxicos. Fotografia: geogphotos/Alamy

Por Helena Horton para o “The Guardian”

O esquema Red Tractor, usado para marcar alimentos produzidos com “alto padrão”, não está regulamentando o uso de agrotóxicos nas fazendas, segundo um relatório.

Como o maior esquema de garantia agrícola e alimentar do Reino Unido, que certifica cerca de 50.000 agricultores, a Red Tractor é confiável para manter os padrões ambientais. Os produtos são vendidos em todos os principais supermercados do Reino Unido. 

O esquema Red Tractor certifica cerca de 50.000 agricultores.O esquema Red Tractor certifica cerca de 50.000 agricultores. Fotografia:  Red Tractor

No entanto, a maioria dos agricultores entrevistados pela Nature Friendly Farming Network disse que o esquema não os ajudou a reduzir os pesticidas.

No geral, os agricultores sentiram que a Red Tractor estava falhando em ajudá-los a considerar seu manejo de pesticidas de maneira significativa e era ineficaz em ajudá-los a reduzir o uso de pesticidas. Apenas cinco dos 24 entrevistados da pesquisa disseram que foram incentivados pela Red Tractor a revisar seu gerenciamento de pesticidas.

Martin Lines, coautor do relatório e presidente da Nature Friendly Farming Network, disse: “Nossas entrevistas com agricultores certificados pela Red Tractor revelaram que os padrões são pouco encorajadores – e muito menos apoiam – os agricultores a reduzir o uso de pesticidas.

“Há muitos agricultores do Reino Unido trabalhando duro para mudar para o uso de alternativas não químicas e é hora da Red Tractor, como nosso maior esquema de garantia de fazendas e alimentos, se tornar um ator fundamental na condução da transição para sistemas agrícolas mais sustentáveis. Os agricultores querem – e precisam – do seu apoio para trabalhar com a natureza em vez de contra ela.”

O relatório também apontou que a Red Tractor não tinha metas para reduzir o uso desses produtos químicos nocivos. Estudos recentes revelaram declínios globais alarmantes nas populações de insetos , com mais de 40% das espécies de insetos em declínio e um terço em perigo. Juntamente com a perda de habitat, os agrotóxicos foram identificados como um dos principais fatores que impulsionam esses declínios. No Reino Unido, as borboletas diminuíram 50% desde 1976 e 13 espécies de abelhas foram extintas.

Talvez como resultado do declínio dos insetos, mais acima na cadeia alimentar as aves agrícolas caíram 54% desde 1970 e o número de ouriços caiu até 50% nas áreas rurais desde 2002.

Além disso, os pesticidas que representam maiores riscos à saúde humana e ao meio ambiente, conhecidos pela ONU como “agrotóxicos altamente perigosos”, não estão sendo eliminados pelo esquema. Os padrões da Red Tractor não incluem quaisquer restrições adicionais sobre quais pesticidas os agricultores podem usar.

Josie Cohen, chefe de políticas e campanhas da Pesticide Action Network UK, disse: “Se quisermos ter alguma esperança de resolver a crise da biodiversidade, devemos nos afastar de nossa dependência de pesticidas. Mas os padrões da Red Tractor continuam a priorizar o uso de produtos químicos, sem colocar limites em quanto ou onde eles podem ser usados. Ao contrário de muitos supermercados do Reino Unido, a Red Tractor permite que seus agricultores usem qualquer agrotóxico legal, independentemente das preocupações com os impactos à saúde humana ou ao meio ambiente.”

A Red Tractor respondeu que o setor como um todo precisava mudar sua atitude em relação aos agrotóxicos, caso contrário, um grande número de agricultores seria deixado para trás e excluído dos esquemas de padrões. Acrescentou que o novo relatório “faz algumas sugestões construtivas sobre como o conteúdo da Red Tractor pode evoluir para enfrentar esses desafios e congratulamo-nos com esta contribuição para o debate”.


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Este texto foi escrito originalmente em inglês e publicado pelo jornal “The Guardian” [Aqui!].

Produtos químicos eternamente tóxicos contaminam o ar de interiores em níveis preocupantes, segundo estudo

Alimentos e água foram considerados as principais formas pelas quais os humanos são expostos ao PFAS, mas o estudo aponta para o risco de respirá-los

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Os especialistas acreditam que os produtos tratados com PFAS, como carpetes, são a fonte dos compostos de PFAS transportados pelo ar. Fotografia: Alamy Stock Photo

Por Tom Perkins para  o “The Guardian”

Compostos tóxicos de PFAS estão contaminando o ar dentro de casas, salas de aula e lojas em níveis alarmantes, descobriu um novo estudo.

Pesquisadores da Universidade de Rhode Island e do Green Science Policy Institute testaram o ar interno em 20 locais e detectaram os “produtos químicos eternos” em 17 locais. Acredita-se que os compostos transportados pelo ar se desprendam de produtos tratados com PFAS (substâncias per e polifluoroalquil), como carpetes e roupas, e se fixem na poeira ou flutuem livremente no ambiente interno.

Os especialistas consideravam anteriormente que comida e água eram as duas principais rotas pelas quais os humanos são expostos ao PFAS, mas os autores do estudo observaram que muitos humanos passam cerca de 90% de seu tempo dentro de casa, e as descobertas sugerem que respirar os produtos químicos provavelmente representa um terço rota de exposição significativa.

“É uma fonte subestimada e potencialmente importante de exposição ao PFAS”, disse Tom Bruton, coautor e cientista sênior da Green Science.

Ling Ling e Tom Perkins.Eu testei minha água da torneira, meus produtos domésticos e meu gato quanto a ‘produtos químicos para sempre’ tóxicos. 

PFAS são uma classe de cerca de 9.000 compostos usados ​​para tornar os produtos resistentes à água, manchas ou calor. Por serem tão eficazes, os produtos químicos são usados ​​em dezenas de indústrias e em milhares de produtos de consumo diário, como protetores contra manchas, carpetes e sapatos. Os fabricantes de tecidos os usam para produzir roupas à prova d’água e são usados ​​em ceras para pisos, utensílios de cozinha antiaderentes, embalagens de alimentos, cosméticos, espuma de combate a incêndios e muito mais.

PFAS são apelidados de “produtos químicos para sempre” porque eles não se decompõem naturalmente. Eles se acumulam em animais, incluindo humanos, e estão ligados ao câncer, defeitos congênitos, doenças do fígado, doenças da tireóide, diminuição da imunidade, distúrbios hormonais e uma série de outros problemas graves de saúde.

Uma análise do Guardian de fevereiro de produtos domésticos encontrou flúor , um indicador de PFAS, presente em 15 itens. Os produtos químicos são tão amplamente usados ​​que é difícil dizer com precisão de onde vêm todos os PFAS transportados pelo ar, embora o novo estudo também tenha detectado sua presença em tapetes e roupas em alguns locais.

O estudo, publicado na terça-feira na Environmental Science & Technology , usou uma nova técnica de medição PFAS para verificar o ar. Ele encontrou níveis particularmente altos em várias salas de aula do jardim de infância e também verificou o estoque de uma loja de roupas ao ar livre, escritórios, várias salas de aula da universidade, laboratórios da universidade e um elevador.

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Um estudo de 2017 encontrou uma correlação entre altos níveis de PFAS no ar e no soro do sangue humano, e o novo estudo usou um modelo que descobriu que os alunos do jardim de infância provavelmente foram expostos a mais PFAS respirando-os do que ingerindo os compostos.

“Isso reforça que enquanto houver PFAS nos produtos que temos ao nosso redor em nossas casas e em nossas vidas, vai haver uma quantidade que vai acabar no ar, vai acabar em pó, e vamos acabar respirando ”, disse Bruton.

Também são notáveis ​​os tipos de PFAS que o estudo detectou. Entre os mais prevalentes estava o FTOH 6: 2, um composto usado em ceras para pisos, protetores contra manchas e embalagens de alimentos. A indústria alegou anteriormente que o FTOH 6: 2 era seguro, mas em maio o Guardian revelou que dois grandes produtores de PFAS ocultaram estudos que sugeriam que os compostos são altamente tóxicos em baixas doses em animais de laboratório e permanecem nos corpos dos animais por muito mais tempo do que antes conhecido anteriormente.

A ciência da indústria, agências federais e pesquisadores independentes agora liga 6: 2 FTOH a doenças renais, câncer, danos neurológicos, problemas de desenvolvimento, dentes manchados e doenças autoimunes, enquanto os pesquisadores também encontraram taxas de mortalidade mais altas entre animais jovens e mães humanas expostas aos produtos químicos .

O novo estudo também encontrou altos níveis de 8:2 FTOH, um tipo de composto que os principais fabricantes de PFAS nos EUA alegaram ter retirado de produção por ser muito perigoso. Sua presença sugere que nem todas as empresas o eliminaram ou que ele está em produtos feitos em países onde o produto químico não foi eliminado.

“Para mim, este é mais um motivo para fechar a torneira da produção e do uso do PFAS”, disse Bruton.

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Este texto foi escrito originalmente em inglês e publicado pelo jornal “The Guardian” [Aqui!  ].

CONTAG denuncia extinção do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e exigência de contrapartida em “programa substituto”

paa-16-10A Medida Provisória 1061/2021, encaminhada pelo governo federal ao Congresso Nacional no último dia 9, vai extinguir o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). É o que afirma a Contag em nota divulgada nesta sexta-feira (20). No comunicado, a Contag informa que está propondo emendas a parlamentares para alterar o texto da MP.

Após analisar com calma a Medida Provisória 1061/2021, que institui o Programa Auxílio Brasil e o Programa Alimenta Brasil, e propor emendas a parlamentares para alterar o seu conteúdo, a Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (CONTAG) vem denunciar a proposta.

Duas coisas iniciais são fundamentais: a primeira é que o governo apresentou uma MP que não tem clara a fonte de recursos nem a estimativa orçamentária e financeira, um argumento utilizado por ele, inclusive, para vetar quase todos os projetos aprovados pelo Congresso Nacional; a segunda é que não tem nenhum parâmetro claro sobre questões centrais como a linha de base para a definição de situação de pobreza e extrema pobreza, além dos valores para os demais programas, como o Auxílio de Inclusão Produtiva.

Estas e outras definições serão feitas somente posteriores à aprovação da referida MP, o que a CONTAG vê como um grande risco para os beneficiários e beneficiárias do Programa Bolsa Família e do PAA, atualmente, pois muitas pessoas que estão hoje poderão ficar de fora.

Com esta MP, o que está em jogo é a extinção do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), um dos principais programas de geração de renda no campo brasileiro, de formação de estoques e de fortalecimento da Agricultura Familiar. Outro retrocesso é a exigência de pagamento por parte dos(as) beneficiários(as) da ação “Inclusão Produtiva Rural” do Programa Auxílio Brasil e é omisso quanto às regras da entrega da contrapartida exigida.

Conforme o texto da MP, o programa visa beneficiar famílias que se enquadrem nas condições de pobreza extrema, ou pobreza, mas não traz os critérios de enquadramento no seu conteúdo. Ao mesmo tempo, faz duras exigências de contrapartidas a quem acessar a linha de Inclusão Produtiva Rural que se constitui como um benefício provisório: já no primeiro ano, após três meses, o pagamento do auxílio inclusão produtiva só será mantido mediante a efetivação da doação de alimentos para famílias em situação de vulnerabilidade social, em valor correspondente a 30% do valor anual do auxílio recebido. Ou seja, se a família mantém microestrutura para resolver a sua segurança alimentar e nutricional, enfrentará o maior sufoco para começar a pagar o auxílio no curtíssimo prazo, e criará um cenário de inadimplência por não atender a tal exigência, ampliando o endividamento e o consequente bloqueio ao acesso a outras políticas em decorrência da pandemia.

Diante de tais riscos para a agricultura familiar brasileira, que depende de políticas que realmente a incentive a produzir mais e com qualidade, inclusive estimulando a sua permanência no campo, a CONTAG afirma que é contrária a essa Medida Provisória, que já está dialogando com as bancadas para evitar mais um retrocesso para os agricultores e agricultoras familiares.

Somos contra qualquer tipo de contrapartida, principalmente envolvendo agricultores(as) familiares em situação de pobreza e extrema pobreza. Se o Congresso Nacional entender que há a necessidade de contrapartida, ao menos que seja uma única vez, num volume aceitável para quem está em situação de pobreza e que seja no final do ciclo de 36 meses. Também somos contra a extinção do PAA sem qualquer justificativa, sendo substituído por um programa sem vínculo institucional definido por esta MP e sem um valor claro por linha; bem como esta Medida deixa claro que boa parte do público da agricultura familiar estará excluída do programa e que também fica extinta a modalidade de aquisição de sementes.

Continuaremos na luta para evitar mais retrocessos para a agricultura familiar, setor estratégico para o país e responsável pela produção de alimentos saudáveis que chegam diariamente às nossas mesas.