Servidor público: a vítima que não passa de um bode na sala

O jornal O DIA, funcionando na prática como um porta-voz do (des) governo do Rio de Janeiro, publicou uma matéria ontem (10/07) dando conta que os servidores fluminenses poderão ser as primeiras vítimas do uso de uma regra da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) que permite demissões para equilibrar as contas públicas (Aqui!).

Como já abordei neste blog, esse anúncio vai de encontro ao que estabelece a própria LRF que indica que entes federativos que possuam regime de previdência próprio não podem incluir os gastos com pensões e aposentadorias como gastos de pessoal (Aqui!).

E é sempre bom lembrar que o (des) governo do Rio de Janeiro está tendo que arcar com os custos de pensões e aposentadorias por causa da malfadada operação de captação de recursos no paraíso fiscal de Delaware via o hoje encrencado “Rio Oil Finance Trust”que tornou o estado do Rio de Janeiro mais um prisioneiro dos fundos abutres  (Aqui!).

Deste forma, até os mais ingênuos membros do (des) governo do Rio de Janeiro sabem que qualquer tentativa de usar ilegalmente a LRF para demitir servidores concursados vai ser enfrentada com milhares de ações judiciais com grande chance de derrota para o estado.

Se é assim, por que então fazem essa propaganda toda em torno da demissão de servidores concursados? Minha impressão é que os servidores são o famoso “bode na sala”. Em outras palavras, não bastasse terem seus salários atrasados e parcelados, os servidores ainda servem como massa de manobra para todo tipo de coação junto ao governo federal, e de quebra para ocultar o objetivo real dos formuladores dessa tática de “bode na sala”.

É que em minha opinião,  o que está realmente em jogo é a privatização total do estado, e o aprofundamento dos ganhos auferidos pelas corporações privadas, seja pela apropriação de empresas públicas ou pela farra dos incentivos fiscais.

Resta saber como essa verdade oculta vai ser revelada aos que têm mais a perder com a continuidade das políticas vigentes no Palácio Guanabara há várias décadas, e que foram levadas ao limite do escândalo após a chegada de Sérgio Cabral ao poder.

PT: é o bode fedorento na sala de estar da política brasileira

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Acompanhando com alguma atenção as análises feitas no “day after” dos “coxinhatos” pelo Brasil afora, vejo ainda alguns analistas e políticos sem mandato se refastelando com o que eles percebem ser a colocação do Partido dos Trabalhadores (PT) como o símbolo da corrupção no Brasil. Alguns mais afoitos, como o “expert” e suposto filósofo Luiz Fernando Pondé, o colunista favorito das noites da Rede Globo, equipara o PT a uma seita que estaria em um anticlímax apocalíptico rumo ao seu juízo final.

Eu diria que nem tanto ao céu, nem tanto à terra. É que mesmo se provadas as principais acusações sendo feitas no âmbito da Operação Lava Jato, o PT não é nem de perto o partido que possua mais políticos barrados pelos variados tipos de crimes na constelação partidária brasileira (ver gráfico abaixo).

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Aliás, o PSDB tem bem mais gente enrolada neste momento, a começar pelo governador do Paraná, Beto Richa. MAs depois ainda temos PMDB, PP, PR, PSB, PTB e PSD com mais candidatos barrados. Como outros tantos devem ter passado pelo crivo dos tribunais, não há porque se imaginar que os partidos com mais candidatos barrados sejam que tenham detentores de cargos de caráter mais ilibado. 

Mas vá lá, que o mundo dos contos de fadas malvadas que foi criado pela mídia corporativa se transforme em realidade, a retirada de Dilma Rousseff e do PT do controle do governo federal longe de resolver a crise poderá significar um aumento inédito na instalabilidade política no Brasil.

É que usando outra metáfora zoológica, o PT se transformou numa espécie de bode na sala de estar da política brasileira. Se tem alguém que acha que ao retirá-lo de cena as hordas revoltadas da classe média e das elites que foram às ruas ontem serão acalmadas, indico que procurem ver o que efetivamente aconteceu com os senadores Aécio Neves e Aloysio Nunes, e com o governador Geraldo Alckmin e Aloysio Nunes nas mãos dos que deveriam tê-los recebido em glória. 

Além disso, alguém acha que se conseguirem tirar o PT do poder, a maioria pobre desse país não vai exigir o mesmíssimo tratamento para todos os outros partidos? E como os pobres não desfilam bebendo champanhe importado, o risco de instalabilidade contínua com a retirada do bode da sala será enorme. A ver!