10 anos após a morte de Cícero Guedes, a Quiprocó Filmes anuncia novo documentário sobre a vida do líder do MST brutalmente assassinado em Campos

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No ano em que se completam 10 anos do emblemático assassinato do agricultor rural e ex-líder do MST em Campos, Cícero Guedes, a Quiprocó Filmes anuncia a produção, em parceria com o MST-Rio, do documentário “Brava Gente”, com direção e roteiro de Fernando Sousa e Gabriel Barbosa, que abordará por meio de depoimentos e imagens de arquivo, a luta do trabalhador rural pela conquista da terra, pela defesa da educação e da universidade pública, além do seu legado e o pioneirismo no desenvolvimento de técnicas agroecológicas de produção no Norte Fluminense. 

Cícero Guedes foi brutalmente executado com tiros na cabeça e nas costas, numa estrada rural perto do Assentamento Oziel Alves, em Campos dos Goytacazes. Em 2019, em um julgamento relâmpago, o principal suspeito por ser o mandante do crime foi inocentado por um júri composto em sua maioria por estudantes da Faculdade de Direito de Campos por 4 a 2 votos. A morte completará dez anos no dia 26 de janeiro de 2023.

Fernando Sousa, produtor executivo do projeto, foi amigo pessoal do líder agrário e atuou em diferentes frentes de luta com Cícero Guedes, entre 2005 e 2010. Ele o encontrou pela última vez em dezembro de 2012, pouco antes da execução. 

“Cícero Guedes tinha uma enorme capacidade de articulação e mobilização política. Foi uma das principais lideranças do MST no Estado do Rio de Janeiro, influenciou e foi fundamental na formação de estudantes em nível de graduação e pós graduação da UENF e UFF, em Campos dos Goytacazes. Particularmente, destacaria a sua contribuição com o movimento estudantil na luta pela universidade pública e pela construção do Restaurante Universitário, o Bandejão da UENF, que hoje leva seu nome”, diz o cineasta.

Já a deputada estadual Marina do MST, eleita recentemente pelo PT-RJ e dirigente nacional do MST, diz que um documentário sobre o líder é uma forma de manter vivo o seu legado. “Nesse ano, se completam 10 anos do assassinato do companheiro Cícero Guedes. Um documentário que  resgate e registre o legado de Cícero é muito importante,  pois é a maior referência para a juventude e conjunto da  militância, de lutas, mística e  compromisso com o projeto do MST e da Reforma Agrária Popular”, afirma.

A Quiprocó Filmes já produziu documentários premiados como “Entroncamentos”, sobre a ascensão e queda das ferrovias do Sul-Fluminense; “Nosso Sagrado” e “Respeita Nosso Sagrado”, sobre o Acervo de 523 peças sagradas da umbanda e do candomblé que ficou mais de cem anos em poder da Polícia do Rio de Janeiro; e “Nossos Mortos Têm Voz”, com mães e familiares vítimas da violência do Estado na Baixada Fluminense.

Mais sobre Cícero Guedes

Cícero Guedes foi pioneiro na criação de feiras de distribuição e venda dos produtos da reforma agrária, à exemplo da Feira Estadual da Reforma Agrária Cícero Guedes, batizada com o nome do agricultor após o seu assassinato. Natural do interior de Alagoas, ainda criança, Cícero foi submetido ao trabalho análogo à escravidão em monoculturas de cana de açucar. À exemplo de outros milhares de trabalhadores negros e pobres da região, resolveu migrar para o Sudeste e tentar a vida com esposa e filhos. Em Campos dos Goytacazes, voltaria a trabalhar no plantio e colheita de cana no começo da década de 90, em uma maldita profecia que parecia teimar em lhe perseguir. 

O trabalhador rural que chegou ao Rio de Janeiro sem alfabetização formal, acabou tendo contato com a ocupação da reforma agrária Zumbi dos Palmares, nas terras da falida Usina São João, cuja desapropriação e emissão de posse aconteceu em 1997. A trajetória de vida e a leitura de mundo adquirida na luta pela terra forjaram Cícero Guedes como uma das principais lideranças políticas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra no Norte Fluminense. Cícero também trabalhou como operário nas obras da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, onde mais tarde contribuiria de forma pioneira no desenvolvimento de pesquisas e técnicas agroecológicas. Sua sensibilidade no manejo da terra, tornaria seu sítio uma referência nacional na produção agroecológica, no uso de técnicas sustentáveis de cultivo sem o uso de agrotóxicos. 

Mesmo com a conquista do lote conhecido como Brava Gente, Cícero Guedes continuou contribuindo de forma efetiva na luta pela terra na região, fundou o Comitê Popular de Combate e Erradicação do Trabalho Escravo, engrossou as fileiras do movimento estudantil na defesa da universidade pública e esteve na luta e conquista do restaurante universitário da UENF, batizado com seu nome após a sua execução, no dia 26 de janeiro de 2013.

Pesquisadores da UENF fazem registro histórico do local onde Fernando Santa Cruz e outros 11 militantes teriam sido incinerados

Um dia após o Ministério Público Federal (MPF) ter reconhecido que o pai do presidente da OAB-Nacional, Filipe Santa Cruz, o militante desaparecido Fernando Santa Cruz foi incinerado nos fornos da Usina Cambahyba em Campos dos Goytacazes, pesquisadores do Núcleo Cidade, Cultura e Conflito (NUC) da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) estiveram no local e realizaram um importante registro das ruínas da tinga usina de açúcar e álcool (ver imagens abaixo).

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Essas imagens são fundamentais para que se mantenha a memória histórica dos acontecimentos violentos que marcaram o extermínio dos que se insurgiram contra o regime militar, especialmente em um momento em que a violência cometida naquele período está sendo relativizada e naturalizada desde a presidência da república.

Outro registro igualmente importante dos fatos envolvendo a Usina Cambahyba é o documentário “Forró em Cambaíba“, realizado sob a direção do jornalista Vitor Menezes, que registra a ocupação do MST nas terras da antiga Usina Cambaíba, em Campos dos Goytacazes (RJ), o assassinato do líder sem terra Cícero Guedes dos Santos, e as denúncias do ex-delegado do Dops, Cláudio Guerra, de que o local foi usado para queimar cadáveres durante a Ditadura Civil-Militar brasileira.

 

MPF faz acareação entre envolvidos com incineração de corpos em Campos (RJ) durante ditadura militar

A audiência será hoje (9), às 14 horas, na sede do MPF em Campos (RJ)

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O Ministério Público Federal (MPF) em Campos (RJ) põe cara a cara duas pessoas envolvidas em episódios ocorridos durante a ditadura, quando a Usina Cambaíba era usada para incinerar corpos de possíveis vítimas do regime militar. A acareação entre o ex-delegado do Departamento de Ordem e Política Social (Dops), Cláudio Guerra, e o ex-funcionário da Usina Cambaíba Erval Gomes da Silva será hoje (9) na sede do MPF em Campos (RJ), às 14 horas. 

A acareação irá instruir o procedimento investigatório criminal nº 1.30.002.000105/2012-04, instaurado para apurar fatos relativos a eventual violação de direitos humanos e incineração de corpos na Usina Cambaíba, no Município de Campos dos Goytacazes/RJ. 

Reconstituição da incineração

Em agosto deste ano, o MPF realizou uma reconstituição do episódio de incineração de corpos na usina. Para a reconstituição dos fatos, foram usados manequins. Na ocasião, o ex-delegado Cláudio Guerra indicou como os corpos eram trazidos e jogados no forno da Usina Cambaíba.

“Cláudio Guerra, apesar de colaborar, é um assassino frio e confesso. Foi braço do Regime Militar e merece pagar à justiça por suas atrocidades. A reconstituição mostrou que a queima era possível. Vamos prosseguir nas investigações”, destacou o procurador Eduardo Santos de Oliveira

As investigações sobre a incineração de corpos na usina foram abertas em maio de 2012. Na época, foi instaurado procedimento investigatório criminal para apurar declarações do ex-delegado no livro “Memórias de uma guerra suja”.

FONTE:  Assessoria de Comunicação Social/ Procuradoria da República no Estado do Rio de Janeiro