Lockdown, pandemia, desemprego, e extermínio das políticas sociais criam uma mistura explosiva na terra dos Goytacazes

Arquivos Rafael Diniz - Cidadania23Rafael Diniz se elegeu com a promessa de aprimorar as políticas sociais, mas após sentar na cadeira de prefeito, o que se viu foi o massacre da rede de segurança social herdada de outros governos

Estamos a pouco mais de 7 horas do início do lockdown em versão light determinado pelo jovem prefeito Rafael Diniz para conter o avanço da pandemia da COVID-19.  Ainda que eu tenha a sensação de que a adoção de uma versão mais estrita de confinamento social poderia ter sido evitada se Rafael Diniz tivesse se articulado com o governo do estado para implementar as medidas anteriores, agora vejo o lockdown como uma via praticamente inevitável. É que não há outra caminho para evitar o colapso da rede pública de saúde, em uma cidade em que os hospitais privados não estão nem próximos de suprir a demanda que ocorrerá caso mantenhamos os níveis atuais de crescimento do processo de infecção pelo coronavírus.

Esse lockdown, entretanto, aprofundará as dificuldades que muitos pequenos comerciantes já enfrentam em face do período prolongado de confinamento, onde o fechamento de estabelecimentos pune exatamente aqueles segmentos menos capitalizados e, consequentemente, com menos gordura para suportar a situação recessiva que está posta.

Mas feitas as observações acima, eu sou obrigado a notar que a crise social que fincou raízes em Campos dos Goytacazes tem um aspecto ainda mais crítico do que comerciantes em dificuldades. É que segundo artigo publicado pelo site “Campos 24 horas”, cerca de 128 mil campistas serão beneficiadas pelos repasses do auxílio de R$ 600,00 ou R$ 1.200,00  que foi aprovado pelo congresso nacional para minimizar a crise econômica causada pela pandemia da COVID-19. Esse é um número incrível, pois segundo o que o economista Ranulfo Vidigal afirmou em seu perfil na rede social Facebook, o número de empregados antes da erupção da pandemia era de 130 mil pessoas.  Em outras palavras, praticamente equivalentes, o que é muito revelador do tamanho da crise que temos pela frente em um município que durante de mais de duas décadas esteve entre os maiores orçamentos da América Latina.

O problema é que rotineiramente as análises que são feitas acerca das raízes dessa crise omitem um dado fundamental, que foi a decisão do jovem prefeito Rafael Diniz de extirpar os pobres do orçamento municipal, enquanto cifras bilionárias eram gastas em Saúde e Educação, sem que se visse qualquer melhoria na qualidade dos serviços prestados à maioria pobre da população. Somente na área da Saúde Rafael Diniz dispendeu uma quantia acima de R$ 2 bilhões em três anos de seu governo. Mas o que se vê agora é que nossa rede pública de saúde está totalmente despreparada para enfrentar uma pandemia que estava mais do que anunciada. Restou agora a Rafael Diniz decretar o lockdown, mas sem dar as devidas explicações como uma rede de saúde tão cara não está dando conta de atender a população.

Execução orçamentária do segmento da saúde no município de Campos dos Goytacazes (RJ), comparando os três primeiros anos dos prefeitos Arnaldo Vianna, Alexandre Mocaiber, Rosinha Garotinho e Rafael Diniz. Fonte: Blog do José Alves Neto

Outro detalhe que não há como deixar de fora desse cenário de crise é que somente com o programa “Cheque Cidadão” ,  em 2014 o governo municipal chegou a atender 20 mil famílias (algo em torno de 80 mil pessoas). Esse número foi reduzido a pó logo no início do governo Rafael Diniz, e nunca mais foi retomado, com as alegações conhecidas de que vivíamos uma crise econômica sem precedentes na história do município.  O fato é que ao acabar com o Cheque Cidadão, Rafael Diniz ajudou a exterminar centenas de empregos, especialmente nas áreas mais periféricas do município (mas não apenas lá como bem demonstram as centenas de lojas fechadas no centro histórico de Campos), contribuindo assim para aumentar o estoque de pessoas que ficaram sem fonte de renda. Por isso, não chega ser surpreendente que o número de pessoas elegíveis para o auxílio emergencial do governo federal seja próximo dos que foram abandonados pelo extermínio das políticas sociais que foi promovido por Rafael Diniz e seus menudos neoliberais.

campos

Mesmo com profunda crise social e econômica, desmanche das ...

Se incluirmos o fechamento do Restaurante Popular, o fim da passagem de transporte social e o congelamento do programa “Morar Feliz”,  o peso da pandemia na crise colossal que o município vive neste momento será, no mínimo, relativizado.  E lembremos que existe uma grande probabilidade de que a imensa maioria dos que estão morrendo por causa da COVID-19 seja oriunda da mesma faixa da população que foi abandonada ao Deus dará pelo extermínio das políticas sociais promovido por Rafael Diniz e seus menudos neoliberais.

Crise financeira

Assim, qualquer resgate da saúde econômica de Campos dos Goytacazes após a passagem da pandemia terá que passar por uma profunda reanálise da eficiência da retirada dos pobres do orçamento municipal.  É que por tudo o que se viu nesses quase 3,5 anos de governo de Rafael Diniz, não apenas se continuou a gastar fortunas sem o devido retorno da qualidade dos serviços prestados à população, como houve um aumento drástico do número de desempregados e cidadãos dependendo de bicos para sobreviver.  

Finalmente, gostemos ou não, o aprofundamento do isolamento social é ainda a medida mais eficaz para determos a expansão do processo de contaminação pelo coronavírus, de forma a garantir que não haja o colapso da rede pública de saúde. Mas que depois da pandemia, nos coloquemos a responsabilidade de realizar o devido debate sobre o tipo de cidade que precisamos para que a maioria dos nossos concidadãos possam viver com a dignidade que merecem.

Singelas dicas para o prefeito Rafael Diniz reabrir imediatamente o restaurante popular

Desde que o jovem prefeito Rafael Diniz decidiu fechar o Restaurante Popular Romilton Bárbara em nome de uma economia que considero canhestra [1], venho usando o valor de R$ 250.000,00 para estimar o custo mensal daquela importante unidade de mitigação da fome a que muitos cidadãos campistas estão sentindo neste momento de grave crise econômica. 

Também já apontei minha quase incredulidade que após o fechamento do restaurante popular, o prefeito “da mudança” tenha assinado um contrato de R$ 5.000.000,00 para abastecer a fábrica de propaganda oficial por 12 meses e outro no valor de R$  R$ 4.566.306,74, também por 12 meses, para manter em funcionamento o aeroporto Bartolomeu  Lysandro, perfazendo um gasto total de R$ 9.566.306,74 apenas nestes dois contratos [ 2 e 3

Pois bem, hoje li uma nota publicada pela jornalista Suzy Monteiro sobre um processo que será aberto pela Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes contra o  ex-governador Anthony Garotinho pelo valor que teria sido distribuído ilegalmente na forma de “cheques Cidadão” no total de R$ 11.000.000,00 (ver reprodução abaixo).

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Nessa nota é que surge uma informação interessante. É que segundo declaração atribuída ao prefeito “da mudança”, o valor de R$ 11.000.000,00 possibilitaria o funcionamento do restaurante popular por 4 anos (ou 48 meses).  Desta forma, o custo do oferecimento mensal de refeições a pessoas pobres pela Prefeitura de Campos dos Goytacazes não custaria os aludidos R$ 250.000,00, mas sim R$ 229.166,67!

Aí é que fazendo um pouco mais de contas, agora usando os dois contratos supramencionados que custarão R$ 9.566.306,74 aos cofres municipais, se o prefeito Rafael Diniz tivesse optado por alimentos os mais pobres, este montante permitiria manter o restaurante popular funcionando por 41 meses! Mas como ele optou por pagar por propaganda e por manter um aeroporto que serve a um grupo seleto de munícipes, e, é claro,  por fechar o restaurante popular e deixar um monte de gente  desprovida de pelo menos uma refeição diária.

Desta forma, que se aja para recuperar os tais R$ 11.000.000,00 que teriam sido desviados para utilizar indevidamente o “Cheque Cidadão”.  Entretanto, que não se coloque o fechamento do restaurante popular nesse balaio, já que foi o prefeito Rafael Diniz que optou por fazer propaganda e manter o aeroporto aberto.  É o famoso cada um, cada qual. simples assim!


[1] https://blogdopedlowski.com/2017/06/11/redes-sociais-sao-usadas-para-convocar-ato-em-defesa-do-restaurante-popular/

[2] https://blogdopedlowski.com/2017/09/11/governo-rafael-diniz-e-suas-prioridades-tortas-tem-dinheiro-para-propaganda-mas-nao-tem-para-alimentar-os-pobres/

[3] https://blogdopedlowski.com/2017/07/28/rafael-diniz-e-suas-curiosas-prioridades-fecha-se-o-restaurante-popular-para-economizar-enquanto-se-gasta-milhoes-para-manter-aeroporto-aberto/

Em Campos temos outra crise seletiva: Câmara que corta programas sociais tem dinheiro para propaganda auto-congratulatória

Em Campos dos Goytacazes, outra crise seletiva! Câmara de Vereadores que corta programas sociais é a mesma que gasta com propaganda auto-congratulatória! Para este tipo de coisa não há crise. Enquanto isso, o restaurante popular continua fechado e o cheque cidadão suspenso. 

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E ainda sobra espaço no outdoor ao lado para o prefeito Rafael Diniz também fazer a sua própria propaganda.

E depois ainda reclamam das críticas e suposta perseguição de Anthony Garotinho.

Que beleza!

Mesmo com profunda crise social e econômica, desmanche das políticas sociais deve continuar em Campos dos Goytacazes

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Apesar da péssima repercussão causada pelo fechamento do Restaurante Popular, do aumento de 100% no valor da passagem de ônibus, e da suspensão do programa Cheque Cidadão, ainda não foi sacia a volúpia da administração do prefeito Rafael Diniz (PPS) de desmantelar o pouco de assistência social aos mais pobres no município de Campos dos Goytacazes.

É que acabo de receber de uma fonte que considero idônea a informação de que o programa “Cheque Cidadão”, ora suspenso, deverá ser substituído por outro programa que será denominado de “Cartão Cooperação”. Na sua nova roupagem, o “Cartão Cooperação” será vedado a cidadãos pobres que já sejam detentores do programa federal conhecido como “Bolsa Família”.  

Se isto de fato se concretizar, a vedação dos detentores do “Cartão Cooperação” ao benefício do Bolsa Família poderá representar um duro golpe a famílias mais pobres que dependem hoje da combinação destes dois programas, cuja soma máxima chega a R$ 395,00.

Interessante notar que este encolhimento nos programas sociais municipais ocorrerá em meio a uma profunda crise econômica no plano nacional, e que localmente tem se traduzido não só no aumento na população de rua, mas principalmente nos níveis de violência, especialmente nas áreas mais pobres do município de Campos dos Goytacazes.

Enquanto isso, e a despeito do discurso oficial,  inúmeras evidências no sentido do aumento das nomeações para cargos comissionados, incluindo parentes diretos de vereadores que fazem parte da base de sustentação do prefeito Rafael Diniz na Câmara de Vereadores.

Como já afirmei anteriormente, essa regressão no fornecimento de apoio aos segmentos mais pobres da população não apenas é extremamente insensível, como também tem todo o potencial para gerar situações de profundos conflitos sociais. Se isso realmente acontecer, não será suficiente culpar uma suposta “herança maldita” herdada do governo da ex-prefeita Rosinha Garotinho. É que na idade das redes sociais, não há como esconder ou sequer maquiar a profunda distância que existe entre programa de campanha e ação de governo.  Simples assim.