Emergência climática continua no Brasil: Acre é a bola da vez, mas não esta sozinho

acre chuvas

Com 32 mil afetados por chuvas, Acre entra em situação de emergência

Depois das cenas devastadoras que foram produzidas por chuvas intensas no litoral norte do Rio de Janeiro, agora a destruição climática está se abatendo sobre o estado do Acre, incluindo a capital do estado, Rio Branco.  Aliás, chuvas intensas também estão causando estragos de grande monta em outras partes da região Norte, incluindo o Amazonas. Segundo o que me informou o professor Irving Foster Brown, que atua na Universidade Federal do Acre, as inundações que estão causando caos neste momento se devem a uma confluência de chuvas intensas que ocorreram em Rio Branco (em torno de 180 mm em 48 horas) e das precipitações igualmente intensas que ocorreram nas cabeceiras do Rio Acre.

acre

A ocorrência de chuvas intensas e transbordamento de rios é uma marca do novo estado climático que é agravado no caso da Amazônia pelo intenso processo de desmatamento e degradação que está ocorrendo na Amazônia. O estado do Acre, por exemplo, que já foi um símbolo da resistência em defesa das florestas, agora se transformou em um dos polos mais dinâmicos dentro do chamado Arco de Desmatamento.

Por detrás desse processo de intensa remoção das florestas está, obivamente, o avanço das monoculturas de exportação, principalmente a soja e a cana-de-açúcar que, por sua vez, empurram as pastagens cada vez mais para regiões anteriormente intocadas da bacia Amazônica.

Essa conexão entre perda de florestas e mudanças climáticas que causam devastação em cidades que são marcadas pela profunda desigualdade social é conhecida, mas os promotores desse modelo continuam levando suas ações como se ela não existisse. Por isso mesmo, tivemos nesses primeiros meses de 2023 a continuidade das altas taxas de desmatamento na maioria dos biomas brasileiras, especialmente na Amazônia.

Como o último relatório do IPCC aponta que a janela de tempo para se impedir uma grande catástrofe climática está se encurtando cada vez mais, a manutenção desse quadro de ignorância proposital sobre a necessidade de deter a perda de florestas em prol de termos um mínimo de chances de que ela seja impedida, eu diria que não me sinto otimista neste momento. 

Aliás, o meu pessimismo aumenta ainda mais quando vejo as concessões sendo feitas pelo governo Lula para o latifúndio agro-exportador e para as empresas de petróleo que representam parte significativa das emissões de gases estufa. A verdade é que a ministra Marina Silva, com todas as suas qualidades e defeitos, está sendo deixada a ver navios em um contexto em que isso beira o suicídio climático. 

TV Cultura estreia documentário sobre Tragédia da Chuva no litoral de São Paulo

Com reportagem de Laís Duarte, produção inédita da emissora vai ao ar neste sábado (18/3), a partir das 20h

unnamed (2)

Neste sábado (18/3), estreia na TV Cultura o documentário São Sebastião – Uma tragédia no paraíso. Produzida pelo Jornalismo da emissora, a produção inédita relata a situação dos desabrigados pela pior chuva da história do Brasil, Vai ao ar às 20h.

Em meio à tragédia, a repórter Laís Duarte e os repórteres cinematográficos Alexandre Silva, Marco Antonio Gallo e Euclides Jose testemunharam cenas tocantes de solidariedade entre os moradores que perderam parentes e amigos. Imagens que dão esperança aos sobreviventes que precisam recomeçar do zero.

O documentário traz imagens das principais áreas destruídas em São Sebastião, o resgate de vítimas soterradas e o trabalho de amparo às famílias que perderam tudo. E conta também com relatos de quem perdeu amigos e parentes e de quem conseguiu escapar da lama.

A produção relembra ainda outra tragédia no litoral de São Paulo, ocorrida em 17 de março de 1967, em Caraguatatuba, quando cerca de 500 pessoas morreram.

Tragédia no Litoral Norte

Cerca de dez milhões de brasileiros moram em áreas de risco, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais. E na madrugada do dia 19 para 20 de fevereiro, em pleno carnaval pós-pandemia, uma chuva de mais de 600 milímetros atingiu seis cidades deixando um rastro de morte, centenas de casas destruídas e as principais estradas do litoral paulista fechadas. São Sebastião, Caraguatatuba, Guarujá, Bertioga, Ilhabela e Ubatuba.
 

Bertioga registrou 682 milímetros. São Sebastião, 626 milímetros por metro quadrado. São os maiores volumes acumulados já registrados no país. A Barra do Sahy foi o ponto mais atingido e as famílias mais pobres as que mais sofreram. Mães e pais tiveram que acordar seus filhos às pressas, enquanto suas casas eram inundadas pela lama, galhos de árvores e todo o entulho que despencou junto com os morros. Muitos não tiveram sequer uma chance de reação. Morreram dormindo ou quando davam os primeiros passos para fugir de casa.
 

Do alto dos morros desceu a avalanche de detritos. As casas foram esmagadas tirando a vida de mulheres, homens, idosos e muitas crianças. A união e solidariedade dos moradores não esmoreceram. Uma corrente humana se formou para dar comida, roupa e alojamento aos desabrigados e desalojados. Mantimentos chegaram de todas regiões. Os governos federal, estadual e municipal se uniram para socorrer os sobreviventes, reabrir estradas e reconstruir moradias.

Documentário “São Sebastião – Uma tragédia no paraíso”

Dia 18/3/23 (sábado), às 20h
Reportagem de Laís Duarte
Imagens: Alexandre Silva, Marco Antonio Gallo e Euclides Jose
Assistentes: Carlos Jardim, Erinaldo Clemente e Ricardo Coelho
Produção: Ricardo Ferreira
Edição: Jorge Valente, Simão Scholz e Leandro Silva

MCTI anuncia expansão do monitoramento do Cemaden para 2.120 municípios brasileiros

Número representa mais que o dobro das cidades monitoradas pela unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

Salasituacaocachoeira

Sala de Situação do Cemaden – Cachoeira Paulista/SP

A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, anunciou, nesta quinta-feira (2), a expansão do sistema de monitoramento do Cemaden, que alcançará 2.120 municípios do país. O número representa mais que o dobro das cidades hoje monitoradas pelo instituto de pesquisa do MCTI. O anúncio foi feito durante o 10º Seminário Técnico-Científico de Análise de Dados do Desmatamento na Amazônia Legal, promovido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.

“Com esse esforço, dobramos a cobertura monitorada, atingindo 70% da população brasileira”, disse a ministra.

A expansão significa que o Cemaden passará a monitorar, 24 horas por dia, sete dias por semana, mais municípios localizados em Regiões Metropolitanas, emitindo alertas sobre alagamentos, inundações, enxurradas e deslizamentos de terra.

“Após quatro anos de um governo negacionista, que desacreditou a ciência e promoveu desmonte das políticas ambientais, o MCTI trabalha na construção de uma arrojada agenda de mitigação dos impactos causados pelas mudanças climáticas”, afirmou a ministra.

Ela também antecipou que, em colaboração com outros Ministérios e a comunidade científica, o MCTI trabalha na construção de um novo arcabouço que contemple a produção de dados meteorológicos, o monitoramento climático, a emissão de alertas de risco e as ações de prevenção e redução dos impactos provocados por eventos extremos.

“Não há saída para os esforços de mitigação e adaptação das mudanças climáticas, para o combate ao desmatamento ilegal e o enfrentamento das desigualdades sem ciência”, ressaltou a ministra Luciana Santos. “A pesquisa científica e o desenvolvimento tecnológico são ferramentas fundamentais na busca de soluções para estes desafios. Por isso, vamos ampliar os nossos investimentos para que os resultados da melhor ciência sejam revertidos em benefícios para a população”, concluiu.

Seminário

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, lembrou que o desmatamento na Amazônia é um dos maiores problemas do mundo e destacou a importância da soma de esforços para enfrentar este desafio. “O sucesso do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal, lançado em 2004, se deve a um esforço coletivo. Não se faz política pública sem ouvir o que a ciência e a sociedade civil têm a dizer.”

Coordenador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o pesquisador Cláudio Almeida alertou para a necessidade de ação urgente e para a importância de produção de dados confiáveis. “É fundamental a produção de um dado público, transparente e confiável”, destacou. “O país tem que ter capacidade tecnológica para manter esse monitoramento, desde a produção da imagem até a operação do sistema, e entregar informação para a sociedade”, defendeu.

Agricultores pedem socorro no Rio de Janeiro

Movimento Pequenos Agricultores e Movimento dos Atingidos por Barragem alertam para as perdas da produção camponesa devido as fortes chuvas

mpa roça

Por Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)

As intensas chuvas dos últimos 20 dias no estado do Rio Janeiro afetaram a produção de hortaliças, verduras, legumes e tubérculos da agricultura familiar. Até o momento nenhum dos órgãos ligados à Secretaria de Agricultura do Estado do Rio Janeiro fez contato com as famílias produtoras para mensurar e contabilizar as perdas. Além de afetar as famílias produtoras, as perdas afetam de imediato o consumo, pois o ciclo da produção foi interrompido, havendo possibilidade de aumento de preços dos produtos pela diminuição da oferta.

Para os circuitos agroecológicos de comercialização já é possível ver a redução da disponibilidade dos produtos. Bruno Geraldo, coordenador do Raízes do Brasil e militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), responsável pela logística da produção da Cesta Camponesa, afirma que “já é notável ver as roças vazias devido os estragos das chuvas e diminuição de produtos disponíveis para cesta”.

Segundo a Rosana Martuchelli, presidente da APROLUC (Associação de Pequenos Produtores Rurais de Lúcios e Comunidades Vizinhas) e militante do MPA, “na região do Vale dos Lúcios em Teresópolis a perda foi entre 60 a 70%”. Rosana alerta ainda que todo município foi afetado e a perca para produtores até momento não foi contabilizado.

Em Magé, baixada fluminense, não foi diferente. Matheus Teixeira, presidente da Associação dos Produtores Rurais do Assentamento Fazenda Pau Grande, também militante do Movimento dos Pequenos Agricultores, afirma que muitas famílias perderam batata doce e aipim devido ao excesso de chuvas na região.

No município de Cachoeiras de Macacu, segundo Silas, militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) as chuvas afetaram os assentamentos São José da Boa Morte e Marubaí. “Essas inundações atingiram mais de 300 propriedades rurais, onde são cultivados alimentos que abastecem o CEASA-RJ, e deixou algumas famílias desabrigadas” alerta Silas. A previsão é de que isto possa provocar alta no preço de alguns alimentos como, por exemplo, o aipim.

Em caráter de urgência o Movimento Pequenos Agricultores e o Movimento dos Atingidos por Barragem reivindicam do Governo do Estado:

1) Equipe técnica que contabilize as perdas da produção das famílias;

2) Liberação imediata de seguro safra para famílias que perderam a produção;

3) Liberação de linha de credito especial para as famílias voltarem a investir na produção;

4) Chamada pública emergencial para áreas afetadas no formato de um PAA modalidade doação simultânea para garantir comercialização da produção.

Agricultura Camponesa Familiar para Rio de Janeiro não passar fome!

color compass

Este texto foi inicialmente publicado pelo “Midia Ninja” [Aqui!].

Instituto de Arquitetos do Brasil lança nota sobre “tragédia anunciada da mineração” em Minas Gerais

mina pau branco

Mina Pau Branco, da mineradora francesa Vallourec, que causou incidente ambiental em Nova Lima após rompimento de barragem de rejeitos

As chuvas intensas em Minas Gerais põem a nu a tragédia anunciada pela mineração no quadrilátero chamado de ferrífero. O perímetro do quadrilátero – para lhe fazer jus, o quadrilátero aquífero – cerca as serras do Curral, da Piedade, do Caraça, do Gandarela, de Ouro Branco, da Moeda, do Rola Moça, encosta em Belo Horizonte na face da Serra do Curral, e guarda preciosidades: cidades, igrejas, sítios arqueológicos, grutas, parques naturais, vida silvestre, casas, gentes. E água. 

Guarda ainda seu maior pecado: minério. Desde a descoberta do ouro no final do século XVII, nossa riqueza é para inglês ver, é para rechear os cofres do quinto, é o minério de ferro sendo arrancado e expatriado, deixando seu rastro de crateras, águas exauridas, solo contaminado, rios mortos, famílias destroçadas.

A tragédia em Capitólio é de outro espectro, mas da mesma ordem predatória do território. Nos falta cuidado, discernimento, escolhas justas, diretrizes claras. Nos falta bom senso, e nos falta, principalmente, governo. O simulacro que hoje temos não cuida, não protege, não planeja, não confia nos especialistas, não toma providências.

2022 chega com horror e tristeza. O Instituto de Arquitetos do Brasil une-se à dor das famílias atingidas por tantas tragédias.

Maria Elisa Baptista

Presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil

10/01/2022

iab-dn_logo-menu

Desastre ambiental no Brasil: Jair Bolsonaro passeia de jet ski em vez de enviar ajuda

Inundações severas no Brasil. O presidente Bolsonaro está de férias. Bahia aceita ajuda da Argentina

chuvas bahiaMorador de Dario Meira na Bahia tentou na última terça-feira resgatar alguns pertences a cavalo

Por Frederic Schnatterer para o JungeWelt

O chefe de estado da ultradireita Jair Bolsonaro passou os dias próximos ao Ano Novo no estado brasileiro de Santa Catarina. Enquanto outras regiões do país sofriam fortes inundações,  Jair Bolsonaro se divertia no jet ski ou no parque de diversões, como mostram as imagens da TV. Para interromper as férias, o presidente finalmente foi movido por dores abdominais na segunda-feira. Ele deu entrada em um hospital de São Paulo na madrugada (hora local) para tratamento.

De acordo com as autoridades locais, no domingo, o estado de emergência foi declarado para 153 comunidades no estado da Bahia, devido ao recorde de chuvas, e 124 vilas e cidades no leste de Minas Gerais. A emissora de notícias latino-americana Telesur informou que pelo menos 31 pessoas já morreram nas enchentes . Além disso, há dezenas de feridos  e dezenas de milhares de pessoas tiveram que deixar suas casas para chegar a um local seguro. Diversos meios de comunicação noticiaram que as chuvas estão diminuindo novamente, principalmente na Bahia. Para as demais regiões do Brasil, porém, a previsão é de fortes chuvas nos próximos dias.

Na quinta-feira, o Bolsonaro – já de férias – recusou uma oferta de ajuda da Argentina, país vizinho ao sul. Ignorando a situação dramática, ele afirmou através do Twitter que o suporte “não era necessário” no momento. Em sua “live” diária, que é transmitida semanalmente nas redes sociais, ele agradeceu ao presidente argentino Alberto Fernández pela oferta. Ao mesmo tempo, porém, afirmou que “dez pessoas não nos ajudariam no momento e podem causar ainda mais dificuldades”. O embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli, já havia se oferecido para usar dez chamados capacetes brancos na Bahia, que poderiam, por exemplo, tratar água potável, desinfetar áreas ou aconselhar as autoridades locais.

O governador do Partido dos Trabalhadores (PT) da Bahia, Rui Costa, que já havia afirmado que foi “a pior catástrofe da história baiana”, condenou a oposição de Bolsonaro. Ele anunciou também no Twitter que seu estado aceitaria o auxílio argentino, independentemente da atitude do governo federal. E acrescentou: “Falo a todos os países do mundo: a Bahia aceitará qualquer ajuda neste momento – diretamente, sem que passe pelos canais diplomáticos oficiais”. Costa descreveu 21 milhões de euros oferecidos pelo governo federal para dar conta das consequências das chuvas como “totalmente inadequados”.

Bolsonaro afirmou que o motivo da rejeição da ajuda argentina não se deveu a divergências ideológicas com o governo de Buenos Aires, e que Brasília em geral estava aberta a ofertas semelhantes. Grande parte do público brasileiro não acredita nisso. Fernández é conhecido por criticar duramente o governo brasileiro e é considerado amigo do ex-presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva. O político do Partido dos Trabalhadores (PT), que governou o Brasil de 2003 a 2010 e foi afastado impedido de participar das eleições de 2018 com a ajuda de uma acusação que agora foi claramente identificada como politicamente motivada, deve concorrer contra Bolsonaro nas eleições presidenciais de outubro. Enquanto o apoio à ultradireita continua diminuindo e, segundo a última pesquisa do Datafolha de 17 de dezembro, é de apenas 21%, enquanto Lula deve receber 47% dos votos.

Lula ainda não anunciou oficialmente sua candidatura. Na sexta-feira, porém, ele se dirigiu aos seus compatriotas no estilo de um futuro chefe de Estado. Em saudação de Ano Novo, disse que em 2022 trabalhará para garantir “que todos os brasileiros possam levar uma vida com dignidade e que tenhamos de volta um país que nos enche de orgulho”. Lula também expressou solidariedade aos moradores das regiões inundadas.

color compass

Este texto foi escrito originalmente em alemão e publicado pelo jornal “JungeWelt” [Aqui!].

Vivendo na crise climática

Por que chuvas intensas estão se tornando a norma na Alemanha 

flooding germanyFortes tempestades de Luxemburgo à Renânia do Norte-Vestfália causaram devastação

Por Nick Reimer para o Neues Deutschland

Isso ainda é o tempo ou já é a mudança climática? ”Perguntou um apresentador do Bayerischer Rundfunk quando uma“ tempestade do século ”causou graves danos em Landshut no início de julho. O Wolfratshausen da Alta Baviera foi devastado por pedras de granizo do tamanho de uma bola de golfe, em quase todos os distritos administrativos do Estado Livre havia árvores caídas, porões cheios, linhas ferroviárias bloqueadas.

Esta questão mostra ignorância: o clima é a média do tempo ao longo de um período de pelo menos 30 anos, razão pela qual “ainda tempo” ou “já mudança climática” não podem ser aplicáveis. Nessa questão, há “uma atitude defensiva por trás disso ou a esperança de que ainda não estejamos vivendo na crise climática”, disse o meteorologista da ZDF Özden Terli. Destrói a esperança: já vivemos a crise climática.

A ciência explica repetidamente que um único fenômeno climático não pode provar que a mudança climática já aconteceu há muito tempo. No entanto, ela também nos explica que os mecanismos de uma mudança na atmosfera da Terra fazem com que o clima mude. Mesmo conosco, como a forte chuva mostrou mais uma vez esta semana. 45 pessoas morreram nas enchentes de Elba em 2002, desta vez ainda mais mortes devem ser lamentadas – embora em 2002 tenha chovido duas vezes mais do que agora na Alemanha Ocidental.

Do ponto de vista físico, os crescentes eventos de chuvas fortes são lógicos: o ar mais quente pode armazenar mais água e as massas de ar absorvem sete por cento mais umidade por grau. De acordo com o Serviço Meteorológico Alemão (DWD), a Alemanha subiu 1,6 graus desde 1881. O número de dias em que a temperatura sobe acima de 30 graus Celsius quase triplicou no mesmo período, e as chuvas intensas aumentaram significativamente desde 2001.

No entanto, isso também se deve a um método de medição alterado usado pelo serviço de meteorologia. Até 2001, os meteorologistas usavam cilindros de medição em suas estações meteorológicas. “Chuvas fortes costumam ser um evento de pequena escala”, disse Andreas Becker, especialista em precipitação do DWD. Naquela época, uma inundação bíblica poderia cair sobre qualquer aldeia – mas os cilindros de medição da próxima estação meteorológica permaneceram secos porque estavam muito distantes. “Nós sabíamos sobre o aguaceiro”, diz Becker, “mas não podíamos medi-lo.”

Isso mudou abruptamente quando o Serviço Meteorológico Alemão mudou para “radar”: o DWD colocou em serviço, entre outras coisas, sistemas que monitoraram o espaço aéreo “inimigo” por décadas durante a Guerra Fria e agora estavam “desempregados”. O radar de chuva que alguns usam em seus smartphones é um produto disso.

Graças à localização do radar, o serviço meteorológico estadual agora também identifica as menores células de tempestade. A série de dados do radar ainda é muito curta para tirar conclusões com certeza científica. Nas pesquisas de clima, são considerados períodos de pelo menos 30 anos, mas os radares estão funcionando há apenas 20 anos. Mas as tendências já podem ser reconhecidas – mesmo se você excluir os anos de 2006, 2014 e 2018, em que choveu com frequência e que pode distorcer o quadro geral.

“Mesmo se levarmos em consideração anos extremos, vemos que o número de chuvas intensas aumentou desde o início das medições de radar”, disse o especialista em DWD Becker. Embora o serviço meteorológico registrasse 500 a 700 chuvas fortes por ano no início dos anos 2000, o número recentemente aumentou para mais de 1000 por ano – especialmente muitos nos meses de verão. Becker: “Isso significa que os resultados das medições tendem a confirmar o que nossos modelos climáticos prevêem.” Mais água armazenada no ar também significa mais energia e significa mais poder destrutivo. Em 2016, atingiu Braunsbach: a »pérola em Kochertal« perto de Schwäbisch Hall foi devastada por uma enchente em maio. Em Simbach am Inn, na Baixa Baviera, a chuva extrema no início de junho de 2016 causou o que é conhecido como uma enchente de mil anos, conhecida no jargão técnico como “HQ 1000”. Carros foram jogados contra paredes Estradas e pontes destruídas, famílias inteiras enterradas – tais eventos climáticos só eram estatisticamente possíveis uma vez a cada mil anos. Mas por causa das mudanças climáticas, essas estatísticas se confundiram: após a enchente do século de 2002 no Elba, a próxima enchente do século ocorreu em 2013 no vale do Elba com níveis de água de até dez metros – embora estatisticamente isso devesse não quebrou por um ano a partir de 2100.

Em 2017, a forte chuva atingiu Goslar nas montanhas Harz, em 2018 atingiu primeiro Vogtland e, em seguida, lugares no Eifel, por exemplo, Dudeldorf, Kyllburg e Hetzerode. Em 2019 era Kaufungen perto de Kassel ou Leißling ao norte de Naumburg an der Saale, em 2020 na Francônia Herzogenaurach ou Mühlhausen na Turíngia. A lista pode ser expandida à vontade e diz: Pode atingir qualquer lugar e com cada vez mais frequência. Por exemplo, Berlim, onde em junho de 2017 caiu tanta água do céu em um dia quanto costumava cair no trimestre. No ano realmente seco de 2018, os bombeiros de Berlim tiveram que declarar estado de emergência após fortes chuvas. Isso se repetiu em 2019, dentro de uma hora, 61 milímetros de chuva caíram no distrito de Wedding – seis baldes de água empilhados um em cima do outro, mais do que já caiu no Eifel ou Sauerland.

Se um milímetro de chuva cai em um metro quadrado de solo, isso é exatamente um litro de água que tem que ir para algum lugar. No Saxon Zinnwald, no cume das Montanhas Eastern Ore, 312 milímetros de chuva caíram em 24 horas em 12 e 13 de agosto de 2002, ou quase um terço de um metro – até agora o maior valor já medido na Alemanha. Em um dia, um metro cúbico de água caiu para cerca de três metros quadrados – pesa uma tonelada. Zinnwald fica a uma altitude de 800 metros, a partir daqui toda a água teve que escoar para o vale. Com uma força difícil de imaginar: se 50 metros cúbicos de água caírem em cascata por uma encosta de dez metros sem controle, eles têm – em termos de energia – o mesmo efeito de um caminhão de 20 toneladas que bate em uma casa a 80 quilômetros por hora . O resultado é tamanha devastação

Além de mais água armazenada, o Pólo Norte também é “culpado” por nossas novas condições climáticas extremas. Ou melhor, jet stream, em inglês »jet stream« – esse vento de alta altitude assobia a até 540 quilômetros por hora, mais de doze quilômetros acima de nossas cabeças. Para efeito de comparação: o furacão “Patricia” o trouxe em 2015 em camadas próximas à Terra “apenas” 345 quilômetros por hora, a velocidade do vento mais forte já medida sobre o Atlântico. No entanto, não é a velocidade da corrente de jato que é decisiva para nós, mas seu movimento das ondas: ela serpenteia de oeste a leste através do hemisfério norte como uma curva sinusoidal sem fim. O movimento das ondas impulsiona ainda mais as áreas de alta e baixa pressão e, portanto, determina nosso clima. Como qualquer outra chuva, esse vento de alta altitude é impulsionado por uma diferença de temperatura – neste caso, aquela que fica entre os trópicos e o Ártico. No entanto, a região polar norte está esquentando muito mais do que a maioria das outras partes do mundo, e o gelo marinho do Ártico está diminuindo drasticamente. O desenvolvimento agora está se dirigindo: o gelo leve reflete muito da luz do sol de volta ao espaço. No entanto, depois que o gelo desaparece, o oceano escuro que aparece embaixo absorve ainda mais energia radiante, o Ártico fica ainda mais quente, ainda mais gelo derrete e a diferença de temperatura continua diminuindo. O gelo leve reflete muita luz do sol de volta ao espaço. No entanto, depois que o gelo desaparece, o oceano escuro que aparece embaixo absorve ainda mais energia radiante, o Ártico fica ainda mais quente, ainda mais gelo derrete e a diferença de temperatura continua diminuindo. O gelo leve reflete muita luz do sol de volta ao espaço. No entanto, depois que o gelo desaparece, o oceano escuro que aparece embaixo absorve ainda mais energia radiante, o Ártico fica ainda mais quente, ainda mais gelo derrete e a diferença de temperatura continua diminuindo.

Um círculo vicioso que nos traz condições climáticas cada vez mais extremas. “Esta faixa de vento forte é realmente considerada o motor para áreas de alta e baixa pressão”, diz a meteorologista Verena Leyendecker. Como a movimentação fica menor devido à diferença de temperatura decrescente, “os altos e baixos não fazem mais progresso”, diz o especialista do serviço privado de meteorologia Wetteronline. “É por isso que o baixo ‘Bernd’ permaneceu conosco por tanto tempo e nos trouxe essa precipitação por tanto tempo.

O clima temperado na Alemanha está caindo aos pedaços. E como o degelo do Ártico continua a acelerar, as imagens hoje em dia são apenas uma premonição do que está por vir. Porque o fluxo de jato confuso não só garante mais chuva, mas também mais calor e seca. Os ventos fortes foram tão responsáveis ​​pela falta de chuva na Alemanha em 2018 quanto pelas temperaturas extremas em 2019. De acordo com Leyendecker, a lenta corrente de jato recentemente garantiu que fosse extremamente quente nos EUA. Mais de 50 graus foram medidos no sudoeste, um novo recorde. E isso mostra uma coisa: não é mais o tempo, já é a mudança climática.

Registros de temperatura no Ártico

Em nenhuma outra região do mundo o aquecimento global pode ser medido tão facilmente com um termômetro como no Ártico. Embora as temperaturas em todo o mundo tenham subido em média um grau Celsius desde os tempos pré-industriais, o aumento na região polar norte é de 3,1 graus. É por isso que o Ártico tem temperaturas particularmente flagrantes: em Utsjoki-Kevo, no extremo norte da Finlândia, 33,6 graus Celsius foram medidos há poucos dias – um recorde de 100 anos.

No norte da Noruega, falava-se em “noites tropicais”. Nas regiões russas na orla do Ártico, os registros caíram já em maio: 32,5 graus Celsius foram medidos na cidade de Pechora. O recorde anterior era seis graus mais baixo e, de 1981 a 2010, a temperatura média era de 4,2 graus em maio. Anomalias climáticas quase diretamente no Pólo Norte tiveram consequências ainda mais extremas nos últimos anos: mesmo no inverno, as temperaturas positivas foram medidas em dias individuais – cerca de 30 graus a mais do que o normal. KSte

Fogo na América do Norte

Temperaturas de quase 50 graus, incêndios florestais e ventos quentes – isso foi relatado nas últimas semanas no sudoeste dos EUA, mas também no noroeste do Canadá, de outra forma bastante frio. As autoridades registraram mais de 700 mortes repentinas e inesperadas somente na província de British Columbia em uma semana como resultado do calor. A vila de Lytton registrou um recorde de temperatura canadense de 49,6 graus – alguns dias depois, foi quase completamente destruída em um inferno de fogo.

Dezenas de incêndios florestais devastadores também estão sendo relatados na Califórnia. No estado mais populoso dos Estados Unidos, isso é quase normal há anos. O Parque Nacional de Yosemite, atualmente afetado, também teve que ser fechado há um ano devido a incêndios. Vários estados do sudoeste dos Estados Unidos experimentam o que os cientistas chamam de “megasseca” há cerca de 20 anos.  

Fome em Madagascar

Muitos países ao redor do mundo estão lutando contra a seca. Mas as consequências de uma seca persistente na Alemanha não podem ser comparadas às de Madagascar. A enorme ilha ao largo da costa sudeste da África remonta a vários desses anos. Este ano, o Programa Mundial de Alimentos (PMA) fala da “pior seca em 40 anos”. A seca e as tempestades de areia destruíram as colheitas e a produção de alimentos está até 70% abaixo da média dos últimos cinco anos.

Com consequências imediatas: cerca de 400.000 pessoas estão ameaçadas de fome, de acordo com um pedido de ajuda da organização da ONU a possíveis doadores em maio. Adultos e crianças estão debilitados pela fome, centenas de crianças só pele e ossos, informou a diretora regional do PMA, Lola Castro. Muitas pessoas em busca de comida mudaram-se do campo para as cidades. Os Médicos Sem Fronteiras agora clamam por um “aumento maciço na ajuda alimentar de emergência”. KSte

Inundações na Austrália

Grandes partes da Austrália tiveram que lutar contra a seca prolongada por muitos anos. Em 2020, também houve incêndios devastadores em matas, que passaram pela mídia em todo o mundo devido às fotos de coalas gravemente feridos. Em março deste ano choveu forte – finalmente, eles pensaram. Na verdade, choveu tanto durante dias que o solo ressecado nos estados de New South Wales, no sul, e Queensland, no nordeste, não conseguiu absorver as massas de água.

O resultado foram inundações massivas: as inundações varreram carros, casas e cavalos, vacas e cangurus com eles. Ruas, pontes e campos estavam a metros de altura debaixo d’água. Mesmo uma enorme represa que garante o abastecimento de água a Sydney não foi suficiente para conter as massas de água. Dezenas de milhares de pessoas tiveram que ser evacuadas e mortes ocorreram. O motivo da violência foi o choque de dois grandes sistemas climáticos. KSte

Tornado na República Tcheca

Um tornado na Europa Central? Raramente, mas acontece. No sudeste da República Tcheca, três pessoas morreram e mais de 200 ficaram feridas quando um tornado devastou várias aldeias em junho. Os telhados foram cobertos, as janelas quebradas. Dezenas de milhares de pessoas ficaram temporariamente sem energia. A tempestade tinha ainda mais na manga: granizo do tamanho de bolas de tênis causou graves danos ao Castelo Valtice, um Patrimônio Mundial da UNESCO. KSte

Nick Reimer e Toralf Staud acabam de publicar o livro: “Alemanha 2050. Como a mudança climática mudará nossas vidas”. Kiepenheuer & Witsch, 384 pp., Br., € 18.

fecho

Este texto foi escrito originalmente em alemão e publicado pelo Neues Deutschland [Aqui!].

Estudo publicado na Nature Communications mostra que avanço do desmatamento diminui chuvas no sul da Amazônia

chuvas desmata

Há algum tempo é ponto de acordo na comunidade científica que as chuvas na Amazônia tendem a diminuir se a perda florestal exceder algum limite, mas até aqui inexistia um valor específico deste limite. Agora, um grupo de pesquisadores distribuídos entre 2 universidades brasileiras (a Universidade Federal de Minas Gerais e a Universidade Federal de Vilosa) e uma alemã (a Universidade de Bonn) acaba de publicar um artigo na revista “Nature Communications” onde são apresentados resultados sobre a relação as taxas de desmatamento e os níveis de precipitação em diferentes escalas geográficas em todo o sul da Amazônia brasileira. Eles também avaliaram os impactos da política de desmatamento cenários da agricultura da região foco do estudo (ver figura abaixo).

SAB

Os resultados do artigo mostram que a perda da cobertura em   até 55-60% dentro de células de 28 km
aumenta as chuvas, mas taxas de desmatamento acima de desses valores reduzem as chuvas drasticamente Além disso, os resultados deste trabalho mostram que este limite é menor em escalas maiores (45-50% em 56 km e 25-30% em células de grade de 112 km), enquanto a chuva diminui linearmente dentro de células de grade de 224 km (ver figura abaixo).

sab 1

Anomalias médias anuais de precipitação por porcentagem de perda de floresta dentro de células de grade de 28, 56, 112 e 224 km. Dois segmentos lineares por partes de MARS algoritmo: a D <57,5% (linha azul) e D> = 57,5% (linha vermelha) para células de grade de 28 km. b D <47,5% (linha azul) e D> = 47,5% (linha vermelha) para células de grade de 56 km. c D <27,5% (linha azul) e D> = 27,5% (linha vermelha) para células de grade de 112 km. d Modelo linear de melhor ajuste (linha vermelha tracejada) para células de grade de 224 km. A barra de erro representa o erro padrão da anomalia média da precipitação para cada intervalo de perda de floresta. P’i, j, t são as anomalias residuais da precipitação anual (em mm / ano), onde o os subscritos i e j representam as dimensões do espaço e o subscrito t representa a dimensão do tempo. D representa a fração de perda florestal progressiva (em percentagem).

Uma das conclusões importantes deste trabalho é que o generalização do processo de desmatamento  resulta em um jogo de soma negativa hidrológica e econômica, porque chuvas e produtividade agrícola menores
em escalas maiores superam os ganhos locais (ver figura abaixo).

sab 2

Porcentagem de perda de floresta, células de grade de 28 × 28 km atingindo o limite crítico, uso / cobertura da terra e redução de chuvas. Porcentagem de perda florestal: a até 2019. b Simulado para 2050 para SEG e c WEG. Ao todo, células de grade de 28 × 28 km atingindo o limite de perda crítica de floresta: d até 2019. e Simulado até 2050 para SEG. f Cenário WEG. Uso / cobertura do solo: g até 2019, h simulado até 2050 para SEG i e WEG. Redução da precipitação: j até 2019. Simulado até 2050 para k SEG e  I WEG

Além disso, o trabalho que em um cenário de governança fraca, a região sul da Amazônia pode perder 56% de suas florestas até 2050. Curiosamente, segundo estimativas apresentadas neste trabalho, a redução do processo de desmatamento evitaria perdas econômicas na agricultura do sul da Amazônia em uma ordem de até 1 bilhão de dólares anualmente.

Um aspecto que deverá ser analisado com atenção é a confirmação científica de que ao aumentar as taxas de desmatamento além dos limites toleráveis pelos sistemas naturais, os desmatadores estão matando a galinha de ovos de ouro que, no caso, são as florestas que fornecem as chuvas que acabam irrigando as áreas agrícolas que tenderão a ficar cada vez mais insustentáveis caso não haja uma reversão dos cenários apresentados por mais este trabalho científico de alta relevância.

Com chuvas irregulares, recuperação dos níveis dos rios no Pantanal pode ser mais lenta

Boletim semanal do Serviço Geológico do Brasil atualizado nesta quinta-feira mantém tendência de recuperação dos níveis dos rios no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul mesmo com o atraso do período chuvoso na região

 Serviço Geológico do Brasil publicou nesta quinta-feira, dia 05/11, novo boletim semanal de monitoramento da vazante no Pantanal. Nesta última semana, a tendência geral foi de recuperação de níveis na calha principal do rio Paraguai. Acesse o último boletim aqui.

De acordo com o pesquisador em Geociências, Marcus Suassuna, as chuvas observadas neste mês foram muito irregulares e ainda não caracterizam o início do da estação chuvosa. Nos últimos 7 dias, estimativas de chuvas por satélite, sugerem acumulados de 10 mm. “Ainda que a estação chuvosa se inicie, porém, os rios na calha do rio Paraguai levarão tempo para se recuperarem, haja vista serem rios de resposta lenta, principalmente sobre o MS. Além disso, a previsão das chuvas nos próximos 15 dias é de chuva pouco abaixo do normal para este período do ano, o que deve fazer com que essa recuperação dos rios seja lenta”, alertou. “Em Ladário, o rio Paraguai tem mostrado uma tendência de recuperação de níveis e, de acordo com os dados históricos, é improvável que o rio retorne ao regime de recessão neste local, após retomada a recuperação de níveis”, acrescentou.

No entanto, os níveis das estações ainda se encontram abaixo do normal para este período e dentro da zona de atenção para mínimas. No Mato Grosso, nos municípios de Cáceres, Cuiabá e Santo Antônio do Leverger, os rios estão na mínima histórica do registro de dados para este período do ano. À exceção das estações do rio Piquiri, no município Barão do Melgaço (MT). No total, o monitoramento abrange 21 estações distribuídas ao longo da bacia em oito municípios.

Prognóstico de níveis

Nas estações na calha do rio Paraguai, à exceção de Cáceres, as previsões com horizonte de 28 dias são mantidas pelo Serviço Geológico do Brasil. Para Ladário (MS), a previsão é que o rio Paraguai no próximo mês suba até 18 centímetros. Em Porto Murtinho (MS), em quatro semanas o rio deve alcançar a cota de 1,85 metros.

Panorama da bacia

Em Cuiabá (MT), o rio Cuiabá registra hoje, 05/11, o nível de 30cm continuando entre as mínimas históricas do registro de dados. Em anos normais, a cota registrada seria 77cm (mediana).

Em Cáceres (MT), o rio Paraguai que atingiu a mínima histórica entre todas as cotas já registradas nos dias 10 e 11 de outubro (50 cm). Hoje registra 88cm. Esse valor ainda representa uma mínima, pois nunca o rio esteve tão baixo nessa época. O normal para a estação nesse período do ano seria o registro no dia de hoje de uma cota de 1,59 m (mediana).

Em Ladário (MS), município vizinho a Corumbá (MS), a cota do rio Paraguai registra hoje -12cm, ainda bem abaixo da mediana para o período, que é 2,27metros. A régua de Ladário é a referência para a definição pela Marinha do Brasil de restrições à navegação no rio Paraguai, que exige cotas acima de 1,5 metros.

Porto Murtinho (MS), mais ao Sul, o nível do rio Paraguai também subiu. Na semana passada, estava com 1,04 m e subiu mais 34 cm, chegando a cota atual de 1,38m no entanto, a mediana é 4,10m, ou seja, ainda precisa subir mais de dois metros para atingir os níveis considerados normais.

Sala de crise

Os dados atualizados do monitoramento e as previsões do Sistema de Alerta Hidrológico da Bacia do rio Paraguai foram apresentados pelo pesquisador em Geociências, Marcus Suassuna, nesta quinta-feira, na Sala de Crise do Pantanal da Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA), criada para identificar medidas de resposta aos impactos da seca na Região Hidrográfica do Paraguai.

Rio Paraguai registra cotas mínimas históricas. Embarcação na Serra do Amolar, MS

Previsão de chuvas

Estimativas de chuvas por satélite, sugerem acumulados de 10 mm nos últimos 7 dias na bacia do Paraguai como um todo, considerando a estação Porto Murtinho e utilizando o modelo MERGE/INPE. Maiores volumes de precipitação foram observados no trecho delimitado pela estação São José do Boriréu, onde são estimadas chuvas de aproximadamente 24 mm. No bioma Pantanal, foram estimados acumulados de chuvas de 14 mm em 7 dias. As chuvas observadas neste mês são prenúncio do início da estação chuvosa.

A estiagem deste ano é semelhante a seca registrada entre 1968 a 1973. A vazante extrema foi prevista pelo Serviço Geológico do Brasil a partir do mês de julho, com a divulgação do primeiro prognóstico. Saiba mais aqui.

De acordo com o Cemaden, a seca deste ano é a mais severa dos 22 anos de monitoramento do Índice Padronizado de Precipitação (SPI) na sub-bacia do alto Paraguai e do bioma Pantanal.

Os dados hidrológicos utilizados nos boletins são provenientes da Rede Hidrometeorológica Nacional (RHN) de responsabilidade da Agência Nacional de Águas e Saneamento (ANA), operada pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e demais parceiros. Os dados de monitoramento de chuvas foram obtidos por meio de imagens de satélite do produto MERGE/GPM, disponibilizados pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Os dados de previsão de chuva apresentados são do modelo CFS, gerados pelo NOAA. As previsões apresentadas neste boletim são baseadas em modelos hidrológicos e estão sujeitas às incertezas inerentes aos mesmos.

Cidades capixabas são devastadas novamente por chuvas intensas. O que fará o governador Casagrande?

chuvas intensasDiversas cidades capixabas estão novamente debaixo da água trazida por chuvas extremamente intensas que caíram nas últimas 48 horas, repetindo um cenário de destruição que já havia ocorrido em janeiro de 2020 (ver vídeo produzido ontem na cidade de Alfredo Chaves).

Como moro em um município limítrofe com o estado Espírito Santo e também orientei diversos trabalhos acadêmicos realizados por estudantes capixabas no âmbito de dois programas de pós-graduação da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), não posso dizer que estou surpreso com o ritmo da devastação que seguidos eventos climáticos extremos estão ali causando.

O fato é que o Espírito Santo reúne vários elementos que contribuem para que haja uma potencialização da destruição. Desde a configuração do seu relevo, passando pelo intenso desmatamento da Mata Atlantica, até a configuração segregada da maioria das suas cidades, a verdade é que o Espírito Santo é uma espécie de vítima preferencial dos novos padrões meteorológicos que acompanham as mudanças climáticas. É como se o estado governado pelo castelense (i.e.; nascido no município de Castelo) Renato Casagrande tivesse sido alçado a ser um exemplo primário do que as mudanças climáticas podem trazer em termos de devastação humana e ambiental.

es caos

Trânsito caótico na cidade de Cachoeiro do Itapemirim em função das chuvas ocorridas nas últimas 48 horas.

Falando em Renato Casagrande, é interessante notar que sua cidade natal tem sido palco de eventos impressionantes de inundação a partir da elevação das águas do rio Castelo. Mas aparentemente nem a repetida destruição do lugar onde nasceu está fazendo com que o governador capixaba tome as medidas urgentes que a ocorrência repetida de eventos climáticos extremos requer. 

Como sei disso? Para mim bastou olhar o sítio oficial da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Seama) do Espírito Santo para notar a inexistência de projetos ou programas direcionados a planejar e organizar medidas de curto, médio e longo prazo no sentido de promover a adequação da ação do estado em face das mudanças climáticas e das agudas transformações que as mesmas trarão sobre o território capixaba. É como se as chuvas devastadoras não tivessem um padrão que foi previsto pela comunidade científica, e que os habitantes das cidades devastadas tivessem apenas que esperar que o pior não se repita tantas vezes em tão curto espaço de tempo.

O trágico é que o despreparo do Espírito Santo não é exceção, mas sim a regra entre a maioria dos governadores brasileiros. Não há ainda qualquer resposta organizada para aprender o que a ciência já descobrir e transformar as informações científicas em políticas de governo para enfrentar as mudanças climáticas. O pior é que sequer as medidas paliativas estão sendo tomadas, e não é raro que prefeitos como Marcelo Crivella (Rio de Janeiro) ou governadores como João Dória  (São Paulo) retirem verbas destinadas a combater enchentes e deslizamentos para usá-las em propagandas dos (mal)feitos de suas administrações.

Mas ser regra e não exceção não livrará Renato Casagrande de suas responsabilidades em termos de enfrentamento dos múltiplos gatilhos que estão para ser detonados pelos repetidos eventos climáticos que estão infringindo muita dor e devastação no Espírito Santo. A verdade é que, para o bem ou para mal, o território capixaba está se tornando um laboratório a céu aberto para testar a resiliência governamental em face das mudanças climáticas. A palavra está agora com Renato Casagrande.