Cultivo de soja no Brasil avança em áreas de desmatamento recente

Estudo elaborado pela plataforma de transparência Trase em parceria com o Imaflora aponta expansão da cultura nos biomas Cerrado, Pampas e Amazônia
desmatamento soja

O cultivo de soja em áreas de desmatamento recente continua avançando em níveis alarmantes no Brasil, afetando de forma crítica três biomas e o combate às mudanças climáticas no país. Em 2020, 562 mil hectares de soja foram colhidos em áreas desmatadas ou convertidas nos cinco anos anteriores, sendo o Cerrado a região mais impactada. Os dados fazem parte de um estudo realizado pela Trase, plataforma que monitora a exposição de cadeias de commodities agropecuárias ao desmatamento, em parceria com o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).

Segundo o estudo, em 2020 os campos de soja ocuparam, no Cerrado, mais de 264 mil hectares de terras recentemente desmatadas e convertidas – uma área equivalente ao dobro da extensão da cidade de São Paulo. Já nos Pampas, o cultivo do grão em áreas de desmatamento foi de 196 mil hectares, no mesmo período. Três dos cinco municípios com maior conversão de vegetação nativa em cultura de soja se localizam na região Sul. “Os Pampas vinham sendo uma área pouco estudada até agora. No entanto, os dados mais recentes do Mapbiomas mostram que o bioma se tornou um dos mais ameaçados no Brasil, com conversão ativa e acelerada de campos naturais, e é preciso agir com rapidez para reverter esse quadro”, alerta Vivian Ribeiro, coordenadora de inteligência espacial da Trase.

Os dados também apontam que a Amazônia segue sob forte ameaça da expansão do cultivo da commodity, apesar da proteção fornecida pela Moratória da Soja – acordo firmado entre empresas, organizações da sociedade civil e do governo que prevê o compromisso de não adquirir grãos ou financiar safras cultivadas em áreas desmatadas da Amazônia após julho de 2008. Em 2020, 133 mil hectares de soja foram colhidas de áreas desmatadas após 2008 na Amazônia, em contradição com a Moratória da Soja .

Esta ação afeta diretamente o combate à crise climática: a produção de soja do Brasil em terras recentemente desmatadas e convertidas liberou 103 milhões de toneladas de CO₂ — 11% do total anual de emissões de mudanças no uso da terra do país. Ou seja, o desmatamento da vegetação natural rica em carbono contribui significativamente para as emissões de gases de efeito estufa.

Recomendações

Os dados levantados pela Trase com o Imaflora revelam que a expansão da commodity é concentrada: apenas 13% dos 2.388 municípios produtores de soja representavam, em 2020, 95% da produção do Brasil em terras recentemente desmatadas ou convertidas. “Nossas análises apontam com clareza quais regiões concentram a maior parte da soja com desmatamento e conversão. Essas informações são de grande importância para a implementação de medidas direcionadas para a produção de commodities livres de desmatamento. Produtores rurais, empresas, governos municipais, estaduais e federal precisam se unir para fornecer transparência ampla aos compradores e reguladores de mercados consumidores”, afirma Tiago Reis, coordenador da Trase na América do Sul.

Para Lisandro Inakake de Souza, coordenador de cadeias agropecuárias no Imaflora, a redução da conversão de terras para cultivo de soja é do interesse de toda a cadeia. “Temos a Moratória da Soja como um exemplo de compromisso que pode nortear políticas para todo o país e deveria ser ampliado além do bioma amazônico. Além disso, ainda é preciso avançar em tecnologias e processos, aumentar investimentos em monitoramento e fiscalização, em atuações conjuntas dos setores privado, público e organizações da sociedade civil.”

Como resposta a esse problema, o estudo defende que é preciso criar políticas públicas mais duras. Uma das recomendações é o desenvolvimento de um sistema de rastreabilidade público, universal e totalmente transparente, abrangendo todas as commodities agrícolas produzidas no país.

Ações como essa podem ser fundamentais para que o Brasil continue ocupando uma posição de destaque no mundo em exportações de grãos de forma sustentável. A União Europeia está finalizando um regulamento que exige que as empresas fiscalizem suas cadeias de suprimentos e comprovem que seus produtos não são provenientes de áreas desmatadas, mas a regra, como vem sendo elaborada até agora, não prevê cobertura de todos os biomas brasileiros. “Excluir o Cerrado e os Pampas dessa regulamentação deixaria algumas das áreas naturais mais biodiversas do Brasil vulneráveis. Pior ainda, pode aumentar a pressão sobre essas áreas, já que a regulamentação as declararia ‘liberadas’ para derrubada de vegetação natural”, alerta Helen Bellfield, diretora da Trase na Global Canopy.

Além da União Europeia, a China tem papel importante: o país é o maior destino da soja brasileira e importou em 2020 229 mil hectares de soja com desmatamento, seguido pelo próprio consumo do Brasil (102 mil ha). A exposição ao desmatamento da soja na União Europeia é menor, esteve em 29,8 mil ha, em 2020.

Sobre a Trase

A Trase é uma iniciativa de transparência, baseada em dados, que mapeia o comércio e financiamento internacional de commodities que promovem o desmatamento e a conversão nos trópicos. 

Sobre o Imaflora

O Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola — Imaflora — é uma associação civil sem fins lucrativos, criada em 1995, que nasceu sob a premissa de que a melhor forma de conservar as florestas tropicais é dar a elas uma destinação econômica, associada a boas práticas de manejo e a uma gestão responsável dos recursos naturais. O Imaflora acredita que a certificação socioambiental é uma das ferramentas que respondem a parte desse desafio, com forte poder indutor do desenvolvimento local, sustentável, nos setores florestal e agrícola. Dessa maneira, o Instituto busca influenciar as cadeias produtivas dos produtos de origem florestal e agrícola; colaborar para a elaboração e implementação de políticas de interesse público e, finalmente, fazer, de fato, a diferença nas regiões em que atua, criando ali modelos de uso da terra e de desenvolvimento sustentável que possam ser reproduzidos em outros municípios, regiões ou biomas do País. Mais informações: Link 

União Europeia chega a acordo para proibir produtos ligados ao desmatamento

desmata1

Uma área queimada da floresta amazônica é vista em Prainha, estado do Pará, Brasil, em 23 de novembro de 2019

Por Alice Tidey para a EuroNews  

Muitos produtos que contribuem para o desmatamento não serão mais importados e vendidos na União Europeia, de acordo com um acordo provisório firmado pelos legisladores da UE na manhã de terça-feira.

O acordo alcançado pelos representantes do Conselho e do Parlamento abrange óleo de palma, gado, soja, café, cacau, madeira e borracha, bem como produtos derivados como carne bovina, móveis, chocolate, papel impresso e derivados selecionados à base de óleo de palma.

Isso significa que as empresas agora terão que apresentar e emitir uma declaração de “due diligence” de que esses produtos colocados no mercado da UE não levaram ao desmatamento e à degradação florestal em nenhum lugar do mundo após 31 de dezembro de 2020.

“As novas regras visam garantir que, quando os consumidores compram esses produtos, eles não contribuam para degradar ainda mais os ecossistemas florestais. Proteger o meio ambiente em todo o mundo, incluindo florestas e florestas tropicais, é uma meta comum para todos os países e a UE está pronta para assumir sua responsabilidade”, disse Marian Jurečka, ministro tcheco do meio ambiente que liderou as negociações para o Conselho em um comunicado.

O acordo está sendo apresentado como uma grande vitória para o Parlamento, que acrescentou borracha, carvão e vários derivados de óleo de palma ao texto.

Os deputados também trabalharam em uma definição mais ampla de degradação florestal que inclui a conversão de florestas primárias ou florestas em regeneração natural em florestas plantadas ou em outras terras arborizadas e a conversão de florestas primárias em florestas plantadas.

A Comissão Europeia, entretanto, foi encarregada de avaliar se deve estender o escopo da legislação a outras terras arborizadas, bem como a outros ecossistemas e commodities nos próximos dois anos.

Também avaliará se as instituições financeiras da UE devem ser incluídas e proibidas de fornecer serviços aos clientes se houver risco de que esses serviços possam levar ao desmatamento. 

“Não foi fácil, mas alcançamos um resultado forte e ambicioso antes da conferência da biodiversidade COP15 em Montreal”, disse o relator Christophe Hansen (EPP, Luxemburgo) em um comunicado. 

“Esta importante nova ferramenta protegerá as florestas globalmente e cobrirá mais commodities e produtos como borracha, papel impresso e carvão. Além disso, garantimos que os direitos dos povos indígenas, nossos primeiros aliados no combate ao desmatamento, sejam efetivamente protegidos. Também garantimos uma forte definição de degradação florestal que abrangerá uma extensa área de floresta”, acrescentou.

O Greenpeace descreveu a nova legislação como um “grande avanço para as florestas e para as pessoas que as enfrentaram”.

“Não se engane, esta lei fará com que algumas motosserras se calem e impeça as empresas de lucrar com o desmatamento”, disse o porta-voz do Greenpeace na UE, John Hyland.

Mas a ONG criticou o que diz serem as inclusões dos governos da UE de “brechas para suas indústrias madeireiras e proteção frágil para os direitos dos povos indígenas que pagam com seu sangue para defender a natureza”.

Também deplorou a capacidade das empresas que se beneficiam do desmatamento de obter empréstimos de bancos europeus.

O WWF também deu as boas-vindas ao acordo com Anke Schulmeister-Oldenhove, oficial sênior de política florestal de seu escritório de política europeu, dizendo que “fizemos história com esta primeira lei mundial contra o desmatamento”.

“Como um grande bloco comercial, a UE não apenas mudará as regras do jogo para o consumo dentro de suas fronteiras, mas também criará um grande incentivo para que outros países que fomentam o desmatamento mudem suas políticas. A lei não é perfeita, mas inclui elementos fortes “, disse ela também.

Mas a ONG gostaria que outros ecossistemas já fossem incluídos, como as savanas, que segundo ela já estão sob imensa pressão da conversão agrícola e são importantes depósitos de carbono e refúgios para animais. Também vê a definição de degradação florestal como não “suficientemente ambiciosa”.

A legislação agora precisa ser formalmente aprovada pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho Europeu.


compass black

Este texto escrito originalmente em inglês foi publicada pela EuroNews [Aqui!].

Rastro de destruição da soja no cerrado Brasileiro é denunciado ao parlamento Europeu

matopiba1

“As commodities que saem do oeste da Bahia são manchadas de sangue”. Foi o que afirmou Aliene Barbosa, da comunidade tradicional de fecho de pasto Tarto (Correntina/BA), durante reunião com uma comitiva do parlamento europeu na última sexta (29/8), na cidade de São Paulo. Na ocasião, representantes das comunidades de fundo e fecho de pasto do oeste baiano, a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, a Associação de Advogados/as de Trabalhadores Rurais no Estado da Bahia (AATR/BA) e a Global Witness relataram as violações de direitos humanos e ambientais vivenciadas na fronteira agrícola do Matopiba.

Além dos fundos e fechos de pasto – que secularmente vivem no cerrado de forma sustentável, usando terras em comum para criação livre de rebanhos e plantio – indígenas , quilombolas, vazanteiros, quebradeiras de coco, ribeirinhos, pescadores artesanais e outros povos e comunidades tradicionais vivenciam a mesma realidade imposta pela expansão da soja.

O encontro acontece no momento em que a União Europeia discute a Due Diligence, um projeto legislativo para responsabilizar multinacionais por danos ambientais e violações de direitos humanos em sua cadeia de fornecedores, a nível global. “Conhecer o que está acontecendo no Matopiba é fundamental. Estão permitindo ataques aos direitos ambientais e das comunidades locais. Que determinadas multinacionais expulsem as famílias das terras que nasceram”, afirmou, Iratxe Garcia, presidente do Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu (S&D), após a escuta dos relatos.

O Matopiba, abarca as áreas de cerrado dos estados do Maranhão, Piauí, Bahia e Tocantins. O bioma é considerado o segundo maior do Brasil e figura como a savana com maior biodiversidade do mundo. Emilia Joana, membro da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, apresentou a progressão do desmatamento nos dois maiores biomas brasileiros. “São 70 milhões de hectares na Amazônia e 100 milhões de hectares no cerrado”, sinalizou, apontando a invisibilização do ecocídio e genocidio cultural em curso no bioma, como apontado pelo Tribunal Permanente dos Povos (TPP).“Criam a ideia de vazio demográfico dessas populações tradicionais junto com a não efetivação de regulação fundiária, ações de violações de direitos humanos, especulação e financeirização das terras neste território”, explicou.

É deste chão que vêm cerca de 41% da soja importada pela União Europeia (UE) e empresas globais de comércio de commodities, como a ADM, Bunge e Cargill, tem contribuído para o agravamento da violência imposta às famílias tradicionais, o que viola suas próprias responsabilidades com as normas da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Segundo Maurício Correia, coordenador da AATR, a região se destacou pelo registro de mais de 2.338 conflitos por terra nas últimas duas décadas, dado registrado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). “ Nos últimos 20 anos se desmatou mais do que nos 500 anos anteriores”, também alertou, se referindo aos dados da pesquisa Na Fronteira da Ilegalidade, que relaciona o desmatamento e a grilagem de terras na região.

Jamilton Magalhães, representante da Associação dos Fundos e Fecho de Pasto do Oeste da Bahia, explicou como o desmatamento tem sido responsável pela morte de nascentes, envenenamento das águas por agrotóxicos e que as áreas de cerrado em pé coincidem com os territórios dos fecheiros, que têm sido ameaçados e expulsos. “É preciso lutar para existir. Existir para resistir”, afirmou.

Também participaram da reunião o vice-presidente do Grupo S&D, Pedro Marques, o copresidente da Eurolat , Javi López, e a coordenadora S&D da Eurolat, Maria Manuel Leitão.

Elio Gaspari e o preço dos agrotrogloditas

agrotrogloditas

Por Elio Gaspari

Em novembro, reúne-se no Egito a conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, a COP-27. Com um governo influenciado pelos agrotrogloditas que desmatam o país e hostilizam as causas ambientais, o Brasil tornou-se saco de pancadas do mundo. Um pária orgulhoso, nas palavras do ex-chanceler Ernesto Araújo. Talvez convenha alertar a inerte burocracia federal que arma-se um bote ambiental contra o agronegócio brasileiro na COP-27.

Na COP-26, realizada em Glasgow no início do ano, o governo americano pediu sugestões para a redução do aquecimento global. Chegou ao Fórum de Commodities Agrícolas, que congrega os grandes compradores e vendedores mundiais de grãos, uma sugestão da Tropical Forest Alliance. A ideia é levar à COP-27 uma proposta antecipando de 2030 para 2025 a meta de desmatamento zero no cerrado. A partir de janeiro de 2026, as grandes empresas e companhias de comércio exterior não comprariam mais grãos (leia-se soja) vindos de áreas ambientalmente críticas. Isso tudo sem que o governo e os empresários brasileiros tenham sido ouvidos nem cheirados.

Pelo regime de hoje, um empresário é obrigado a preservar 35% de sua área. Com a antecipação, ferra-se quem comprou terra ou começou seu negócio no cerrado programando-se para cumprir as regras em 2030. Com um governo que tolera o desmatamento ilegal, vai-se avançar sobre o desmatamento legal.

Se Bolsonaro e os agrotrogloditas continuarem tratando o meio ambiente como um problema exclusivamente doméstico, a proposta de antecipação irá em frente.

Isso nada tem a ver com a Amazônia, onde a plantação de grãos é irrelevante. Quem vai para o tabuleiro é o cerrado. Sem floresta luxuriante, é um bioma que precisa ser protegido, até porque, entre 1985 e 2020, ele perdeu cerca de 13% de sua vegetação nativa.

Metade da exportação brasileira de soja vem do cerrado. Como não há diálogo entre o governo e as entidades ambientais que defendem o bioma, arrisca-se chegar a uma situação em que, seguindo uma possível recomendação da COP-27, essa antecipação da meta resulte num boicote às exportações de parte da soja do cerrado a partir de janeiro de 2026.

O ministro Paulo Guedes poderá continuar achando que a mulher do presidente francês é feia ou ligar o que bem entender, mas compradores como o Carrefour não negociarão com derivados da soja do cerrado.

O grosso do moderno agronegócio brasileiro afastou-se dos agrotrogloditas, mas são eles quem dão cartas em Brasília. Mandam muito em seus favorecidos e mandam nada em reuniões como a COP ou em entidades como o Fórum de Commodities Agrícolas.

Nessas instâncias, o governo brasileiro pode ser ouvido e seria um negociador legítimo. Perdeu legitimidade porque quis, quando preferiu jactar-se de ser pária. Na questão da Amazônia, foi um pária orgulhoso e acabou confundido com o crime organizado.

O bioma do cerrado pode e deve ser defendido com uma negociação que preserve o meio ambiente e a produção nacional de soja de agroempresários dispostos a cumprir as leis nacionais e a prestar atenção nas combinações internacionais.


compass black

Este texto foi originalmente publicado no jornal “O GLOBO”  [Aqui!].

Mineradoras australianas perderão US$ 11 bilhões em valor de mercado à medida que a derrocada das commodities se acelera

bhpUma pequena figura de brinquedo e imitação mineral são vistas na frente do logotipo da BHP nesta ilustração tirada em 19 de novembro de 2021. REUTERS/Dado Ruvic/Illustration

Por Shashwat Awasthi para a Reuters

20 Jun (Reuters) – As três grandes mineradoras da Austrália estavam em vias de perder mais de 16 bilhões de dólares australianos (US$11,12 bilhões) em valor de mercado combinado nesta segunda-feira nos níveis atuais, à medida que se aprofunda a queda na venda de commodities  causada pela diminuição da demanda da China e pelos temores de uma recessão global se aprofundaram.

As ações da Rio Tinto listadas na Austrália (RIO.AX) devem perder quase A$ 2 bilhões em valor, BHP (BHP.AX) mais de A$ 10 bilhões, e Fortescue Metals (FMG.AX) mais de A$ 4 bilhões.

A menor produção das siderúrgicas chinesas afetou a demanda por minério de ferro, enquanto os preços de commodities como cobre e alumínio caíram devido a preocupações de que aumentos agressivos das taxas de juros pelo Federal Reserve dos EUA e outros bancos centrais possam levar a economia global a uma recessão.

Os três gigantes da mineração australiana, até agora este mês, já perderam cerca de 30 bilhões de dólares australianos de seu valor de mercado combinado e estão enfrentando uma terceira semana consecutiva de perdas depois de atingir mínimos de várias semanas na segunda-feira.

As ações da Rio Tinto e da BHP estão sendo negociadas na mínima de um mês, enquanto a Fortescue está na mínima de três meses.

“Estamos condenados? Ou é mais escuro antes do amanhecer?”, escreveram os analistas da Jefferies no sábado com referência a dados econômicos recentes, os bloqueios da COVID-19 na China e a narrativa política do Fed.

Eles pareciam se inclinar para o último, confiantes de que a desaceleração da demanda por commodities seria seguida por uma recuperação liderada pelas mineradoras, acrescentando que os temores de recessão e inflação dariam lugar à recuperação.

Analistas do JP Morgan também ecoaram os riscos para o setor, mas disseram que um novo apoio político, juntamente com a flexibilização dos bloqueios da COVID-19 na China, estimularia uma recuperação no segundo semestre de 2022 e manteria sua visão “neutra” sobre a Rio Tinto e a BHP.

Mineradoras australianas caem em junho em meio a queda de commodities
Mineradoras australianas caem em junho em meio a queda de commodities


compass black

Este texto foi escrito originalmente em inglês e publicado pela agência Reuters [Aqui!]

Mundo esta à beira de um choque de commodities – mostra estudo do Banco Mundial

Preços de alimentos e energia devem subir, segundo o Banco Mundial

carrinho de supermercado

Getty Images / Giuseppe Graziano

Prevê-se que os preços globais da energia aumentem drasticamente, culminando no maior salto nos preços das commodities em quase meio século, alertou o Banco Mundial.

De acordo com o relatório de abril de perspectivas de mercado de commodities do banco, os preços globais de energia, que já tiveram um aumento dramático devido aos bloqueios contínuos do COVID-19 na China e ao conflito Rússia-Ucrânia, devem aumentar 50,5% em 2022.

“Isso equivale ao maior choque de commodities que experimentamos desde a década de 1970. Como foi o caso então, o choque está sendo agravado por um aumento nas restrições ao comércio de alimentos, combustíveis e fertilizantes”, disse o vice-presidente de crescimento equitativo, finanças e instituições do Banco Mundial, Indermit Gill, em comunicado que acompanha o relatório divulgado na terça-feira.

O relatório aponta que as sanções impostas à Rússia prejudicaram o comércio global de commodities, provocando enormes aumentos nos preços da energia. Os preços dos alimentos também devem aumentar 22,9% este ano, o maior desde 2008, já que os preços do trigo saltam 40% para níveis recordes.

“Isso pressionará as economias em desenvolvimento que dependem das importações de trigo, especialmente da Rússia e da Ucrânia”, disse o Banco Mundial.

Esperava-se que a Ucrânia produzisse 10% do trigo do mundo em 2022, mas a instituição diz que de 25% a 50% dessa produção foi afetada pelo conflito.

Enquanto isso, os preços dos metais devem crescer 16% antes de diminuir no próximo ano, mas supostamente permanecerão em níveis elevados.

De acordo com o relatório, o aumento dos preços das commodities contribuiu para níveis de inflação não vistos em mais de 40 anos nos EUA, e um salto recorde de 7,5% nos preços ao consumidor na Europa.

“Esses desenvolvimentos começaram a levantar o espectro da estagflação. Os formuladores de políticas devem aproveitar todas as oportunidades para aumentar o crescimento econômico em casa e evitar ações que prejudiquem a economia global”, disse Gill.


compass black

Este texto foi escrito originalmente em inglês e publicado pelo Russia Times [Aqui!].

O mistério em torno dos preços das commodities

Na era do capital financeiro, os mercados de derivativos evoluíram para estabelecimentos de apostas gigantes

commoditiesOs preços nos mercados de derivativos determinam os preços à vista e não vice-versa. Foto: dpa | Arne Dedert

Por Stephen Schulmeister para o Neues Deutschland

De todos os preços de produtos, os das commodities flutuam mais. No geral, eles quadruplicaram entre 2002 e 2008, caíram pela metade após a crise financeira, dobraram em 2011 e depois caíram novamente pela metade em 2016. Com a superação da queda da pandemia da COVID-19 em 2020, os preços das matérias-primas dobraram novamente até o final de 2021 e continuaram a subir após o início da guerra contra a Ucrânia. A instabilidade dos preços das matérias-primas tem enormes consequências para o desenvolvimento global: aumenta a incerteza e, assim, amortece os investimentos reais em particular. O aumento de preços desloca a distribuição global de renda entre países produtores e consumidores de commodities e reduz a demanda no comércio mundial, porque os vencedores não aumentam suas importações tanto quanto os perdedores as limitam.

A instabilidade do dólar também desempenha um papel importante nessa luta de distribuição, pois todos os preços das commodities são cotados na moeda-chave. O abandono das taxas de câmbio fixas em 1971 foi seguido por duas desvalorizações maciças do dólar (1971/73 e 1976/79). As receitas de exportação dos produtores de petróleo foram desvalorizadas. Eles reagiram com dois “choques do preço do petróleo” (1973 e 1979), que causaram as primeiras recessões globais do pós-guerra. Nas décadas de 1950 e 1960, por outro lado, taxas de câmbio fixas, contratos de fornecimento de longo prazo e a ausência de especulação “rápida” com derivativos permitiram que os preços das commodities fossem muito mais estáveis ​​do que na era subsequente do capital financeiro.

É claro que a enorme acumulação de bens não pode prescindir de matérias-primas. Mesmo os bens de dados ocultos em códigos binários exigem uma base sólida na forma de dispositivos digitais finais, que por sua vez são operados com eletricidade, o que na melhor das hipóteses requer uma turbina eólica ou painel solar. A lógica da questão é que a fome por matérias-primas em um sistema econômico que se concentra exclusivamente no crescimento também deve crescer de forma constante. Onde isso está nos levando? E por que não podemos continuar assim para sempre?

Os preços da energia fóssil são os que mais flutuam, e isso também dificulta o combate ao aquecimento global: para que os investimentos necessários para evitar o CO2 sejam feitos, os investidores teriam que esperar que a energia fóssil se tornasse cada vez mais cara e acima da média no futuro, garantindo assim a rentabilidade de tais investimentos. Mas as flutuações dos preços do petróleo, gás e carvão impedem isso. Na Alemanha, por exemplo, os preços dos combustíveis caíram cerca de 30% três vezes nos últimos 15 anos como resultado da queda dos preços do petróleo, embora o imposto sobre o óleo mineral corresponda a um imposto de CO2 de 180 euros por tonelada de CO2.

Mas por que, de todas as coisas, os preços dos bens mais importantes para a economia real flutuam ao longo de um período de vários anos? A teoria do equilíbrio econômico ainda dominante não pode explicar esse fenômeno. Porque assume que os preços do petróleo bruto físico, trigo, cobre, etc. são determinados apenas pelos chamados fatores fundamentais, ou seja, os determinantes da oferta e da procura no correspondente “mercado à vista”. Os players dos mercados de derivativos formariam suas expectativas de preço exclusivamente com base nos »fundamentos«. Sob essas premissas, não deve haver aumentos de preços quase permanentes (“tendência”), que duram mais em uma direção do que contramovimentos e, portanto, se acumulam em mercados de alta ou baixa.

Esse padrão, que também é típico para todos os preços de ações, títulos ou taxas de câmbio, decorre da importância dos mercados de derivativos de commodities. Começa com o fato de que não existem mercados mundiais funcionais para petróleo físico, trigo, cobre, cobalto e similares. As verdadeiras matérias-primas são comercializadas em diferentes qualidades de produtos em mercados regionais descentralizados. No entanto, existem bolsas de derivativos centrais para cada tipo de mercadoria, nas quais são negociados futuros e opções relativos a determinados tipos de mercadoria. Este tipo de precificação se aplica a todas as principais commodities: Nos mercados de derivativos, um certo tipo de cobre, trigo, milho, arroz, etc. serve como um »subjacente« padronizado. Conclusão: Os preços nos mercados de derivativos determinam os preços à vista e não vice-versa.

Os mercados futuros de commodities agrícolas surgiram para que produtores e consumidores pudessem se proteger das oscilações de preços. Os agricultores prometem aos especuladores que venderão seu trigo a um determinado preço assim que o colherem no futuro. Se o preço do trigo subir até lá, o especulador terá lucro porque agora está comprando trigo abaixo do preço de mercado. Se o preço do trigo cair, o agricultor tem um comprador seguro para seu produto e não tem perdas. É uma operação de hedge.

Mediado pela bolsa de valores, no entanto, um hedger não precisa necessariamente negociar com um especulador, mas cada vez mais especuladores também podem negociar entre si: quem espera que os preços subam compra futuros (detém uma »posição comprada«). Aqueles que esperam o oposto vendem futuros (“posição vendida”). E foi isso que aconteceu com a disseminação do capitalismo financeiro desde a década de 1970 em todos os mercados de derivativos, eles se transformaram em casas de apostas gigantes. A bolsa garante que as apostas na alta e na queda dos preços sejam as mesmas. Se mais jogadores quiserem ir “long” do que “short” – como foi o caso recentemente após o início da invasão russa da Ucrânia – então o preço subirá até que ambas as posições sejam equilibradas novamente. A própria bolsa de valores não joga junto, apenas organiza o jogo.

Considere a commodity mais importante, o petróleo: a produção global diária é de cerca de 90 milhões de barris.Se todos os produtores e consumidores protegessem suas posições, seriam necessários 180 milhões de barris de papel de transações de derivativos. De fato, o volume diário de transações nas principais bolsas de derivativos de commodities digitais é de 10 a 20 vezes maior. Além disso, o hedge nunca é simétrico: se um produtor tiver maior probabilidade de esperar um aumento de preço, ele não fará um hedge ou fará um hedge menor do que se esperasse uma queda.

Como exatamente funciona a especulação de commodities? Tomemos um futuro petrolífero como exemplo. O seu valor contratual (»valor nocional«) corresponde ao preço de 1.000 barris de petróleo bruto, ou seja, 100.000 dólares americanos a um preço do petróleo de 100 dólares americanos. Se você comprar um futuro, terá que depositar um título (“margem”), atualmente em torno de 10%. Se eu esperar um aumento de preço, compro um contrato. Se o preço do petróleo realmente aumentar 5%, então eu ganhei 5.000 dólares, o valor do contrato aumenta para 105.000 dólares, que é 50% com base na minha participação de 10.000 dólares. Se, por outro lado, o preço caiu 5%, metade da garantia se foi e você terá que ganhar mais dinheiro.

Essas relações se aplicam a todos os futuros, independentemente de estarem relacionados a índices de ações, títulos do governo, taxas de câmbio ou commodities. Com a invenção de mais e mais derivativos financeiros desde o início dos anos 1980, a especulação inicialmente se concentrou mais neles. Somente no curso do gigantesco boom dos preços das commodities entre 2005 e 2008 os bancos e fundos de hedge especularam cada vez mais com derivativos de commodities de todos os tipos, evidente a partir de um aumento maciço nas transações.

A instabilidade dos preços das matérias-primas é, assim, o resultado do (ainda) “arranjo” dominante controlado pelo capitalista financeiro e só pode ser superado com este regime. Para petróleo, carvão e gás natural, no entanto, medidas regulatórias serão tomadas antecipadamente, por exemplo, através da expansão maciça das capacidades de armazenamento, contratos de fornecimento de longo prazo a preços fixos ou mesmo a determinação de trajetórias de preços confiáveis ​​como base para a redução sustentável das três principais causas das emissões de CO2. Os países industrializados serão dependentes de fontes de energia fóssil por pelo menos mais três décadas e se esforçarão para reduzir sua vulnerabilidade à chantagem, principalmente por meio da expansão acelerada das energias renováveis.

Stephan Schulmeister é pesquisador econômico e professor universitário em Viena.

color compass

Este texto foi escrito originalmente em alemão e publicado pelo jornal “Neues Deutschland” [Aqui!].

Proposta da UE sobre produtos vinculados ao desmatamento cria riscos para empresas e investidores

EU-deforestation-law

Apenas duas semanas após o anúncio de um divisor de águas por mais de 100 países na COP-26 sobre a eliminação do desmatamento, a União Europeia (UE)lançou um projeto de lei no dia 17 de novembro, isso exigiria que as empresas mostrassem que seus produtos não estão vinculados ao desmatamento. Essencialmente, a legislação proibiria commodities ligadas ao desmatamento, sejam legais ou ilegais, e são importadas de países que possuem grandes quantidades de florestas tropicais. Essas commodities incluem itens como carne bovina, óleo de palma, soja, cacau, madeira e café. Alguns produtos derivados, como couro, chocolate e bolo de soja, foram incluídos no escopo inicial da nova legislação. Esta lei marcaria a primeira vez que a UE procura proibir produtos que são produzidos em áreas legalmente desmatadas, e ocorre em um momento em que países produtores como Brasil e Indonésia revogaram as regulamentações e fiscalizações ambientais. “O desmatamento e a degradação florestal estão ocorrendo em um ritmo alarmante, agravando as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade, diz a UE. “O principal motor do desmatamento e da degradação florestal é a expansão das terras agrícolas para a produção de commodities como gado, madeira, óleo de palma, soja, cacau ou café.”

A UE anunciou a proposta pela primeira vez em 2019 , e o compromisso foi incluído no Acordo Verde Europeu, na Estratégia de Biodiversidade da UE para 2030 e na Estratégia de cultivo para alimentação. As empresas que compram soja, óleo de palma, carne bovina, café, cacau e madeira precisam mostrar que suas fontes não contribuem para o desmatamento. Como resultado, eles teriam que investir em melhor execução e 100% de monitoramento e verificação das políticas de desmatamento zero. O Comissário da Comissão Europeia diz que os custos pagos pelas empresas são muito mais baixos do que os benefícios gerais, o que está de acordo com uma análise da Chain Reaction Research que mostra que os benefícios são 9-45 vezes maiores do que os custos.

Vários países europeus também introduziram ou aprovaram regulamentações nos últimos anos para conter o desmatamento em suas cadeias de abastecimento. Enquanto isso, nos Estados Unidos, um projeto de lei apresentado pelo senador democrata Brian Schatz visa eliminar a entrada de produtos vinculados ao desmatamento ilegal nos Estados Unidos.

Importações de commodities agrícolas na UE dispararam nas últimas duas décadas. De 2002 a 2020, o comércio agrícola da UE dobrou e agora representa 9% do comércio internacional total da UE. Os movimentos em direção ao desmatamento zero estão alterando o comércio de commodities agrícolas e refletem ainda mais como o desmatamento é um risco material para os atores dessas cadeias de abastecimento. Produtores, comerciantes e varejistas enfrentam riscos, como risco de acesso ao mercado, risco de reputação, risco legal e risco de reputação. Esses riscos também se estendem aos seus financiadores. No mercado brasileiro de soja,  empresas como Cargill, Bunge e LDC provavelmente verão uma pressão crescente porque seus compromissos de desmatamento zero não eliminaram suas ligações com o desmatamento. No entanto, o foco da proposta atual nas florestas significa que um ecossistema como o Cerrado ou o Pantanal não se enquadraria na definição de “livre de desmatamento”, uma lacuna importante. Os frigoríficos brasileiros, como o JBS, poderiam ficar sob mais escrutínio por meio de suas exportações para a UE, assim como seus compradores. No mercado de óleo de palma, exportadores do Sudeste Asiático, África e América Latina enfrentarão pressão para conter as ligações com o desmatamento a fim de continuar a vender para a Europa. Empresas de bens de consumo de alta velocidade (FMCGs) na Europa e seus financiadores, enquanto isso, podem enfrentar riscos de reputaçãopor estarem vinculados a cadeias de abastecimento que não eliminaram o desmatamento.

Com esta proposta, a UE continua a ser líder global na tomada de medidas para enfrentar o desmatamento como parte de sua ampla agenda de combate ao aquecimento global. Em 2008, a Comunicação da CE sobre Desmatamento endossou políticas da UE para impedir a perda de florestas, e a UE tem aumentado a consciência ao longo dos anos sobre o assunto com os consumidores, incentivando-os a alterar seus hábitos de consumo para reduzir a demanda por produtos sem desmatamento. Apesar desses esforços, o desmatamento tem permanecido em níveis elevados nos principais países, o que motivou o grande anúncio na COP-26 e a nova proposta da UE.

compass

Este texto foi escrito inicialmente em inglês e publicado pela Chain Reaction Research [Aqui!].

Soja e gado brasileiros são decisivos para o desafio de reduzir o desmatamento no mundo, apontam BCG e WWF

Relatório aponta que compromissos ambientais precisam alcançar novo patamar para combater o desmatamento que afeta alguns dos principais ecossistemas no mundo

615_ag5598
• O relatório Deforestation & Conversion Free Supply Chains, do Boston Consulting Group (BCG) e da WWF, indica que entre 2001 e 2015, sete commodities agrícolas foram as que mais contribuíram para o desmatamento global impulsionado pela agricultura (cerca de 123 milhões de hectares de florestas ao todo): carne (37%), óleo de palma (9%) soja (7%), cacau (2%), café (2%), borracha (2%) e madeira (1%).

• A criação de gado desponta como a principal causa histórica do desmatamento no Brasil. O país foi responsável, entre 2001 e 2015, por 48% do desmatamento global motivado por produção de carne. Em comparação com as demais commodities, é o setor que encontra-se mais atrasado em comprometimentos ambientais e o mais incipiente na certificação da origem de seu produto, a carne.

• Já o plantio de soja no Brasil foi responsável, entre 2001 e 2015, por 61% de todo o desmatamento global causado pela commodity, tendo em vista o forte crescimento da produção da leguminosa no país nesse período. Ela é a terceira commodity que mais motiva o desflorestamento no mundo, atrás apenas da carne e do óleo de palma.

• O relatório afirma que, para reverter o impacto de suas atividades sobre os ecossistemas, as empresas líderes de cada commodity no país precisam fomentar uma mudança sustentável em seus setores, promovendo transparência, rastreabilidade e verificação de empresas em toda a cadeia de suprimentos. É crítico também reportar o avanço dos compromissos de sustentabilidade assumidos, prática de apenas entre 41% a 46% das grandes empresas em todo o mundo.

• Além disso, é essencial que as organizações apoiem esforços para o fortalecimento da legislação ambiental e de sua execução, no sentido de evitar o desmatamento e apoiar a conservação sustentável das propriedades.

• As empresas líderes devem avançar da mentalidade de “compradoras de commodities sustentáveis” para “promotores de sustentabilidade além de suas operações”, o que inclui uma ampla abordagem sustentável no setor, ambiente ou jurisdição, executada de forma colaborativa, para que haja impacto significativo.

• O relatório aponta boas práticas nessa direção, sendo que dois exemplos concretos no Brasil se destacam:

1. Em 2021, três produtores brasileiros de ração para piscicultura adotaram compromisso de comercialização de produtos livre de desmatamento, o que garantiu fornecedores que adotassem as melhores práticas contra o desmatamento em todos os níveis da cadeia.

2. Em 2006, o pacto ambiental assinado entre produtores de soja, ONGs e governo (Moratória da soja) registrou um compromisso para impedir a conversão das florestas amazônicas em plantios de soja.

• Instituições financeiras também podem exercer papel mais ativo nos esforços de sustentabilidade da cadeia produtiva das commodities. Como credores, elas têm função direta no financiamento de empresas e atividades que podem estar ligadas ao desmatamento direta ou indiretamente. Além disso, também podem desenvolver e apoiar a transição para modelos econômicos viáveis, sustentáveis e justos​​para produtores e pequenos proprietários. No entanto, apenas metade das instituições do Forest 500 assumiu compromissos para conter o desmatamento e a conversão de terras – e apenas 7% delas se comprometeram com zero desmatamento em seus negócios

• “As grandes empresas de cada setor devem trabalhar juntas, com apoio dos governos, mercado financeiro e ONGs, para assumir compromissos maiores ​​e implementar ações cada vez mais efetivas contra o desmatamento. No Brasil, uma das medidas mais importantes seria a melhoria da rastreabilidade dos produtos desde a sua origem, garantindo a sustentabilidade em todas as etapas produtivas. A tecnologia de blockchain já é adotada com esse objetivo, mas ainda há grande margem para melhora”, avalia Jorge Hargrave, diretor do BCG e colíder da prática de Mudanças Climáticas no Brasil.

• Em 2019, WWF e BCG lançaram a plataforma OpenSC, que usa o blockchain e outras tecnologias para rastrear alimentos e produtos, ajudando pessoas e empresas a evitarem mercadorias ilegais, prejudiciais ao meio ambiente ou antiéticas.

EUA divulgam nova lei para barrar importação de produtos oriundos do desmatamento ilegal

Deforestation and Fire Monitoring in the Amazon in July, 2020Monitoramento de Desmatamento e Queimadas na Amazônia em Julho de 2020

 

O senador Brian Schatz e os congressistas Earl Blumenauer e Brian Fitzpatrick revelaram hoje o Forest Act (Fostering Overseas Rule of Law and Environmentally Sound Trade), uma nova legislação bipartidária dos Estados Unidos que permitirá ao governo federal deter o desmatamento ilegal de commodities no exterior.

A lei restringe o acesso aos mercados dos EUA para commodities originárias de terras ilegalmente desmatadas, numa tentativa de usar alavancagem de mercado para reduzir o incentivo atual para sacrificar florestas em benefício do uso agrícola, madeireiro e de mineração.  “Os produtos de desmatamento ilegal estão em toda parte.

Metade dos produtos nas mercearias americanas contém óleo de palma e a maior parte vem de terras desmatadas ilegalmente ao redor do mundo”, disse o senador Schatz, do Partido Democrata. “O desmatamento ilegal está ameaçando as comunidades locais e a vida selvagem e é um dos principais motores da mudança climática. Os consumidores americanos estão conduzindo esta destruição de forma inconsciente e não intencional, e nossa lei ajudará a pôr um fim a isso”.

“Os americanos não deveriam ter que se preocupar se estão contribuindo para o desmatamento ilegal toda vez que navegam pelas prateleiras de suas mercearias locais”, disse Blumenauer, também do Partido Democrata. “É hora de reprimir esta prática perigosa – que está poluindo nosso planeta, ameaçando as florestas e a vida selvagem, e ferindo comunidades grandes e pequenas”.

“O desmatamento ilegal impulsionado por commodities está causando estragos em nosso planeta ao contribuir para a emissão de gases de efeito estufa e ameaçando a biodiversidade e os habitats da vida selvagem em todo o mundo”, disse Fitzpatrick, do Partido Republicano. “Para piorar a situação, muitos americanos estão financiando inconscientemente o desmatamento ilegal quando estão comprando produtos do dia-a-dia em lojas.

“Tenho orgulho de me juntar ao senador Schatz e ao congressista Blumenauer na introdução da Lei Florestal Bipartidária. É hora de exigirmos transparência das empresas que lucram com commodities que são provenientes de desmatamento ilegal”, completou o republicano.

“O desmatamento é responsável por 10 a 15% das emissões anuais de gases de efeito estufa do mundo, sendo quase 40% de todo o desmatamento tropical é considerado desmatamento ilegal. Impulsionado principalmente pelo cultivo de gado, soja, óleo de palma e produtos de madeira, o desmatamento ilegal está frequentemente associado à corrupção, ao crime organizado e a abusos dos direitos humanos.” afirma o release oficial emitido pelo senado americano.

O que muda?

O Forest Act baseia-se na Lei Lacey, que proíbe o comércio de vida selvagem e madeira de fontes ilegais, para proteger a biodiversidade e a resiliência do ecossistema diante de um clima em mudança. Ao reduzir o desmatamento, a nova lei também reduzirá as chances de novas pandemias globais.

Especificamente o projeto de lei:

– Cria uma estrutura baseada no risco para aumentar a transparência e a apresentação de relatórios nas cadeias de fornecimento internacionais das empresas;

– Fornece assistência financeira e técnica que permite aos países, empresas e ao governo federal dos Estados Unidos coordenar soluções para reduzir o desmatamento ilegal;

– Incorpora o desmatamento nos estatutos de crimes financeiros para que os Estados Unidos possam processar aqueles que utilizam os lucros do desmatamento para financiar outras empresas criminosas ou terroristas; e

– Estabelece uma preferência de compra para o governo federal por produtos livres de desmatamento.

O projeto de lei também cria um comitê consultivo permanente para trazer a expertise das empresas e da sociedade civil para o processo. O comitê busca garantir que a implementação do programa será informada por experiências e conhecimentos desses atores.

A lei Forest é endossada por quase 40 grupos de defesa do meio ambiente e dos direitos humanos, e sua carta de apoio está disponível aqui .

O texto completo do projeto de lei está disponível aqui . Um resumo de uma página está disponível aqui , e um resumo seção por seção pode ser encontrado aqui .