
Por Douglas Barreto da Mata
Gostemos ou não da política de segurança pública de Cláudio Castro, o fato é que o governador do estado do Rio de Janeiro assumiu a narrativa sobre o combate ao crime. Repito, não faço (agora) um juízo de valor sobre os eventos dessa semana, mas é impossível ficar impassível aos efeitos deles sobre nossas vidas e, claro, sobre o jogo político.
Muita gente argumenta que as preparações e engenharias da operação nos complexos da Penha e do Alemão tiveram suas origens nos gabinetes da administração Trump. Outros defendem que o timing teve como alvo diluir os bons momentos da diplomacia lulista nos EUA, e interromper a recente escalada da popularidade do presidente Lula, que até pouco tempo patinava no fundo do poço.
Há os que indicam o caminho mais simples, isto é, o governador que estava nas cordas, ora afundando em meio a disputas com correligionários próximos, como o presidente da Assembleia Legislativa do estado do Rio de Janeiro ora acossado pela intensificação de apurações sobre empresários amigos, e enfim, ameaçado pelo calendário judiciário, que traz o desfecho sobre sua permanência (ou não) no cargo.
Uma operação dessa magnitude e carga dramática tem os ingredientes para criar campos políticos, que passam a ser definidos por limites mais emocionais e simbólicos, reduzindo conceitos complicados a percepções como “vagabundos”, “bandidos”, “mocinhos”, “bem”, “mal”, guerra, terrorismo, heróis, mártires, etc.
Esses são os campos preferidos da direita, e tais esferas estavam sendo soterradas pelo conjunto de notícias e imagens ruins da direita, desde as chantagens tarifárias pedidas a Trump como resgate pela família Bolsonaro, para forçar uma anistia ao patriarca, passando pela associação do deputado TH às facções criminosas, e, como dissemos, os ecos da investida da PF na Faria Lima, que surpreendeu gente graúda ligada a vários governos e figuras da direita.
Para recuperar terreno, era preciso fazer barulho. Claúdio Castro entendeu e foi à guerra. Desenterrou vários pontos de uma vez, que estavam dormindo. Aumento de autonomia dos estados, a definição de tráfico como terrorismo, discussão dos limites impostos pelo Supremo Tribunal Federal, dentre outros.
Mas por que Rodrigo Bacellar tem sido econômico em gestos e palavras, uma vez que ele é partidário das teses que o governador colocou em prática? Não seria exagero dizer que se a carreira política de Rodrigo Bacellar estava moribunda, os disparos no Alemão e na Penha a atingiram em cheio, e pelas costas.
Se Rodrigo Bacellar ainda tinha esperança de se movimentar dentro da inércia do governador, inclusive disparando munição pesada contra a Polícia Militar, após um arrastão em Copacabana, a ação das polícias estaduais nestes últimos dias encurralou o deputado.
Cláudio Castro viu sua conta em rede social aumentar em mais de 1 milhão, a operação recebeu apoio de 70% de pesquisados, governadores de direita dos maiores estados da federação vieram ao encontro de Cláudio Castro e pior, o governo federal reagiu com a incapacidade de sempre, e ficou no meio do caminho: primeiro, criticou, e depois, quando viu a tsunami de apoio, resolveu embarcar na repercussão, mas não deu, e ficaram com cara de cachorro que caiu da mudança. O mesmo aconteceu com Rodrigo Bacellar, por motivos distintos.
Ele se colocou contra um governo que ele não sabia que ia agir desse jeito. Agora, ficou sem a agenda da segurança pública, não porque seja contrário a ela, porém, ele é contrário ao seu principal executor.
Por tudo isso, Cláudio Castro é o dono da bola, e Rodrigo Bacellar não sabe o que fazer, e por isso, se esconde, como Wally.




