
As comunidades do entorno do projeto Minas-Rio (mineradora Anglo American), em Conceição do Mato e Alvorada de Minas, reuniram-se no último dia 22 de fevereiro de 2014, para discutir o agravamento dos problemas a que estão submetidas. No encontro, deliberou-se publicar a carta-denúncia, em anexo e a seguir apresentada.
Desde o início do processo de licenciamento ambiental do empreendimento Minas-Rio (mina e mineroduto), os conflitos gerados pelas pressões e abusos para sua implantação permanecem sem adequado tratamento e vigilância das autoridades públicas. A situação das comunidades atingidas configura-se pelo alto grau de precarização das condições de vida, devido à degradação das condições ambientais, sociais e econômicas nos respectivos territórios.
Ao longo dos últimos anos a mobilização dos atingidos se fortaleceu com a participação em diferentes processos de discussão, negociação, acompanhamento socioambiental e culminou com seu reconhecimento como“comunidades socialmente atingidas”.
Apesar de todas as denúncias, audiências públicas e da exposição da violação dos direitos humanos e ambientais, tais comunidades permanecem, entretanto, invisíveis perante as autoridades do Estado – políticos, governantes, Justiça. A impunidade dos agentes responsáveis por tal situação incentiva a perpetuação de práticas desrespeitosas e criminosas por parte da empresa Anglo American e de procedimentos viciados e imorais por parte de servidores públicos.
Entidades sociais, ambientalistas e grupos de pesquisa se unem às comunidades social e ambientalmente atingidas para contribuir com a compreensão do conluio e promiscuidade nas relações entre representantes do segmento minerador, da Anglo American e, particularmente, do governo de Minas Gerais, associados na consolidação dos cenários de degradação desta digna região de Minas.
É nesse sentido que divulgamos à sociedade a Carta Aberta das COMUNIDADES ATINGIDAS pelo Projeto Minas-Rio (Anglo American – Governo de Minas).
Solicitamos a todos que nos ajudem a denunciar as arbitrariedades cometidas e a dar visibilidade a aqueles que não têm merecido a atenção e respeito necessários dos poderes constituídos e de boa parte dos veículos de comunicação.
Compartilhe nossa carta, manifeste sua posição aos amigos e grupos sociais a que estiver ligado.
Abaixo, a íntegra do texto:
As comunidades do Distrito de São Sebastião do Bom Sucesso, Sapo – Água Quente, Beco, Cabeceira do Turco, Ferrugem, Quatis, Turco, e de Córregos – Gondó e do Jassém se reconhecem como COMUNIDADES SOCIALMENTE ATINGIDAS pelo empreendimento Minas-Rio, na região de Conceição do Mato Dentro.
Nós, comunidades socialmente atingidas, vimos a público manifestar o nosso repúdio às práticas violadoras de direitos humanos e ambientais impostas pela empresa Anglo American com a conivência e omissão do poder público municipal, estadual, federal e todas as instâncias responsáveis pela fiscalização e promoção do bem comum.
Exigimos que as comunidades sejam esclarecidas sobre as condições reais a que estão e estarão submetidas e que sejam paralisadas as práticas desrespeitosas, excludentes e geradoras de conflitos sociais tais como:
• Não reconhecimento dos atingidos;
• Fragmentação das famílias e das relações entre os membros da comunidade e marginalização dos atingidos;
• Desigualdade nos critérios de negociação com ausência de tratamento isonômico, conforme critérios transparentes e coletivamente acordados;
• Não cumprimento das condicionantes, sobretudo às de reestruturação fundiária e produtiva;
• Embaraços e impedimentos à liberdade de expressão, reunião e associação, além de ameaças veladas por meio de perseguição de pesquisadores, movimentos sociais e atingidos com carros de segurança da Anglo American;
• Inviabilização do uso dos cursos d’água por degradação provocada pelo empreendimento;
• Interrupção de caminhos e, consequentemente, do direito de ir e vir;
• Desrespeito ao modo de vida tradicional, à preservação dos bens culturais e sua reprodução;
• Utilização de mão de obra em condição análoga à de escravo e tráfico de pessoas;
• Degradação das condições de saúde, violação aos direitos dos idosos, de grupos vulneráveis e que necessitam de proteção especial.
A par desses problemas, conclamamos a todos os cidadãos, movimentos sociais e entidades de defesa dos direitos humanos, sociais e ambientais a se unirem aos atingidos para denunciar as irregularidades do Projeto Minas-Rio da Anglo American e para exigir:
• A fiscalização dos órgãos responsáveis pelo licenciamento ambiental – IBAMA, SEMAD, SUPRAM-Jequitinhonha, IGAM, CBH-Santo Antônio, com a participação dos atingidos e das instituições responsáveis pela fiscalização e promoção do bem comum – Ministério Público Federal e Estadual, Defensoria Pública, Polícia Ambiental.
• A presença do Prefeito de Conceição do Mato Dentro em uma reunião com as comunidades socialmente atingidas para esclarecimentos sobre a postura da prefeitura em relação aos problemas, conflitos ambientais e o futuro das comunidades e distritos do entorno do empreendimento.
• Audiência Pública da Câmara Municipal de Conceição do Mato Dentro como meio de dar visibilidade aos problemas e conflitos vivenciados pelas comunidades socialmente atingidas.
• Audiência com o representante do Ministério Público Estadual para solicitar explicações e conhecer os encaminhamentos que foram realizados sobre as demandas apresentadas pelas comunidades durante as reuniões da REASA.
• Que sejam cumpridas as definições do processo de trabalho da DIVERSUS, conforme metodologia aprovada na URC-Jequitinhonha, especificamente, no que se refere à realização da reunião geral com as comunidades para apresentação dos objetivos e critérios de ação.
• Que seja respeitado o direito à melhoria contínua da vida.
São Sebastião do Bom Sucesso, 22 de fevereiro de 2014.
Comunidades Socialmente Atingidas.