Recebi na manhã desta sábado (27/02) o material enviado por um leitor do blog e que aborda a situação agonizante em que se encontra a Minério de Ferro Brasil da Anglo American em suas operações em Conceição do Mato Dentro (MG).
A descrição que é feita dos problemas que afetam as atividades da “Minério de Ferro Brasil” ajuda a que possamos entender porque o mineroduto Minas-Rio acaba de ser colocado em “hibernação” pela Anglo American. Mas mais importante ainda é que a partir do que nos é revelado neste texto, a hibernação pode ser apenas o prenúncio de problemas ainda mais agudos.
E como a Anglo American é uma parceira preferencial da Prumo Logística no Porto do Açu, as repercussões negativas em São João da Barra poderão ser igualmente negativas. É como se o Porto do Açu já não estivesse suficientemente recheado de más notícias! Sempre há lugar para mais uma!
A Agonia da Minério de Ferro Brasil
Perdida, como no mar de lama da Mineradora Samarco em Mariana, a Minério de Ferro Brasil, da Anglo American agoniza há menos de 1,5 anos após seu primeiro embarque. Uma série de erros estratégicos expõe a fragilidade das grandes organizações a definirem sua estratégia. A Minério de Ferro Brasil (a antiga Anglo Ferrous Brazil) iniciou sua operação com apenas 18 meses de licença operacional de sua mina, o que matematicamente termina em maio de 2016. Uma nova LO (licença de operação) é esperada somente para setembro, o que dará a empresa apenas mais um ano de extensão de sua mina. Em teoria esta LO não deveria ser problema pela simplicidade do processo, mas o relacionamento da empresa com a comunidade e a Prefeitura de Conceição do Mato Dentro (MG) se encaminha para uma solução que será o fim do empreendimento e o sucateamento político financeiro da região.
A estratégia de licenciamento segmentado definido pela MMX de Eike Batista foi um desastre assinado pela Anglo American. A empresa corre hoje com dois processos de licenciamento, o que eles chamam de Fase II, que dará a mina uma sobrevida de menos de 01 ano de operação, e um segundo processo, complexo, com necessidade de reassentamentos, convivência com as comunidades e alteamento de sua barragem de rejeitos, e ainda a construção de cinco diques, que são pequenas barragens.
Tudo isto pôs fim a sua ousada meta de produção de 26M toneladas de material Premium em 2016. Contatos com a companhia indicam que esta não produzirá a metade disto em 2016, devido principalmente ao atraso nas licenças e à consequente necessidade de minerar material mais duro e pobre na pequena cava licenciada.
No atual cenário de preços, isto pode indicar o fim da empresa por si só, mas somado ao seus contínuos erros estratégicos o risco é ainda maior.
(1) A empresa não consegue manter um diálogo com a Prefeitura e com seus vizinhos. Mesas de negociação já foram definidas, mas nada disto aconteceu, informa um representante da comunidade que está preocupado com o fim da atividade na região. “O caos político e os erros da empresa vão transformar a região de Conceição do Mato Dentro em uma área abandonada”. Quem reclamava da mineração vai sentir sua falta, quem dependia dela vai perder seus empregos e investimentos.
(2) Por outro lado a empresa não consegue acertar em sua capacidade de gestão. O antigo presidente e CEO da empresa que conseguiu fazer o projeto entrar em operação deixou a empresa no final de 2015 sem nenhuma explicação clara.
Em seu lugar foi colocado um presidente “interino” que foi o mesmo executivo que esteve à frente da empresa por 08 anos cuidando das questões sociais, ambientais e de recursos humanos. Ou seja, o mesmo executivo que praticamente destruiu a empresa com erros básicos de estratégia, magicamente voltou… Este será o novo fim?
(3) A estrutura de diretoria do Minas Rio é maior que o da Vale. A Minério de Ferro Brasil possui 9 diretores executivos, a Vale tem 07, como exemplo e a estrutura administrativa da empresa da inveja a qualquer órgão público. A maioria deles não possui experiência em mineração. Dos 09 diretores 07 são ex-consultores de uma empresa internacional a Accenture Consulting (Aqui!) e somente 01 possui o titulo de engenheiro de mineração afirmam fontes internas da empresa. O diretor responsável pela área de relacionamento com a comunidade é um francês, ou seja, entra ano e passa ano e a empresa não aprende a operar em outros territórios. Segundo fontes internas que não quiseram se identificar, os 09 executivos lutam para sobreviver, e depois da saída de Paulo Castelari em 2015 somente brigam entre si, e um impede o outro de exercer suas funções. “Eles desconhecem a realidade interna da própria organização, imagina o que passa ao seu redor”. Segundo essas mesmas fontes, alguns diretores e gerentes jamais foram nas instalações industriais.
Com o anuncio da venda dos ativos de Níquel, Fosfato e Nióbio o que será da Minério de Ferro Brasil? Um comprador seria a melhor solução e uma saída honrosa dos ingleses deste projeto. Mas quem comprará uma operação sem mina e sem licenças? Esta é a agonia da Minério de Ferro Brasil que demonstra uma falta de liderança imensa que em conjunto com as questões locais vão gerar um prejuízo enorme para a sociedade. A “Vale” fez suas reestruturações e cortou custos no inicio da crise. Já a Anglo procura a crise. Não faz seu dever de casa, colocou um CEO interino no meio da maior crise da economia e da mineração no Brasil; além de possuir um grupo de executivos excelentes, não para trabalhar em Conceição do Mato Dentro, mas sim na sede da Microsoft.
Como na Samarco, a Minério de Ferro Brasil é uma tragédia anunciada e mais uma vez a sociedade pagará os seus custos.