Congonhas do Campo: barragem “Casa de Pedra” da CSN é outro desastre anunciado?

barragem

Em março de 2019 publiquei uma postagem apresentando uma avaliação técnica feita pelo arquiteto Frederico Lopes Freire acerca do que ele classificou como “padrão Brumadinho” envolvendo uma gigantesca barragem de rejeitos pertencente à CSN em Congonhas do Campo.  Naquela postagem, apresentei a análise realizada por Lopes Freire que indicavam uma série de problemas graves que colocavam em risco a estabilidade da barragem da mina Casa de Pedra, cujo rompimento poderia tomar parte da área urbana de uma cidade que reúne um rico patrimônio arquitetônico.

Eis que quase 3 anos depois da publicação daquela avaliação pelo “Blog do Pedlowski”, encontrei uma notícia publicada pelo jornal “Estado de Minas” informando que a justiça de Minas Gerais determinou o envio de uma equipe da Defesa Civil à mesma barragem Casa de Pedra. Com um detalhe: se a CSN impedisse a entrada dos fiscais, a empresa seria multada em R$ 1 milhão por dia.

A razão dessa decisão da justiça mineira se deu pelo fato de que os habitantes do entorno da barragem estão preocupados com constantes deslizamentos de terras das suas paredes. Esses deslizamentos teriam aumentado em função das fortes chuvas que estão ocorrendo em Congonhas do Campo.

A CSN, por sua vez, emitiu nota em que atesta a estabilidade da sua barragem, informando ainda que está realizando um processo de monitoramento contínuo para verificar a estabilidade das estruturas da Casa de Pedra.

Entretanto, a leitura do relatório técnico feito por Frederico Lopes Freire há quase 3 anos já apontava para um quadro altamente preocupante e que não será resolvido por ações tardias de monitoramento. A verdade é que o “padrão Brumadinho” paira neste momento sobre Congonhas do Campo.

População de Congonhas do Campo (MG) se mobiliza contra a barragem de rejeitos da CSN

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Aconteceu no dia 29/01, uma grande assembleia comunitária em Congonhas do Campo para discutir as  possíveis ações no sentido de resguardar a população e garantir a segurança de todos diante do risco que a Barragem Casa de Pedra representa.

Mais de 1.500 pessoas compareceram à assembleia, mas  não só moradores dos bairros que fazem parte da área considerada de maior risco (i.e., Residencial Gualter Monteiro e Cristo Rei), mas habitantes de diversas regiões da cidade que se solidarizam com a causa, e se preocupam com a situação a que Congonhas do Campo está exposta por causa da barragem da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).

Na oportunidade foram apresentadas três propostas de ações a serem reivindicadas pela população junto à CSN:

1. Desocupação imediata dos bairros Residencial Gualter Monteiro e Cristo Rei com remoção dos moradores para residências em áreas seguras da cidade, sob responsabilidade da CSN.

2. Suspensão imediata das operações na barragem e monitoramento constante de sua estrutura com pessoal qualificado, além de iluminação de toda sua área. Em seguida, início do processo de esvaziamento e secagem da barragem.

3. Indenização às famílias por danos morais em decorrência da situação de ameaça constante vivida por todos desde a instalação da barragem no local e seus processos de alteamento.

Os presentes foram favoráveis às três propostas e decidiram também entregar um documento com a descrição de tais ações à CSN, todos juntos, em um ato de luta. Aprovaram ainda, o prazo de três dias para que a empresa apresente uma resposta à população.


Fonte: Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) [Aqui!]

Populações de cidades mineiras cercadas por grandes barragens vão à luta para não serem as próximas vítimas

O presidente Jair Bolsonaro antes e depois de sua posse assegurou que o Brasil se veria livre “de todos os ativismos” que, segundo ele, dificultam a vida da empresas e emperram a economia nacional. 

Pois bem, se algo de positivo está nascendo em Minas Gerais depois do segundo Tsulama provocando pela Vale em território mineiro é justamente o fortalecimento ou mesmo o aparecimento de um forte ativismo social que visa restringir a ampla liberdade que as mineradores possuem em criar gigantescas barragens de rejeitos próximas de áreas povoadas.

Um exemplo disso foi a mobilização que ocorreu hoje (30/01) nos municípios de  Conceição do Mato Dentro e Alvorada de Minas, que são impactados diretamente pelo chamado sistema Minas Rio da mineradora Anglo American.  Nestes municípios, a população realizou manifestação nesta quarta feira. A luta na região é para que as comunidades do Passa Sete, Água Quente e São José do Jassém, que vivem abaixo da barragem de rejeitos da Anglo, sejam reassentadas (ver imagens abaixo).

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Segundo informou o Movimento Pela Soberania Popular na Mineração (MAM) em sua página oficial da rede social Facebook,  há cerca de 400 pessoas que residem na área de autosalvamento (em uma distância de até 10km das barragens da Anglo American) e que lutam há vários anos para ter seu diretos reconhecidos.

Já em Congonhas do Campo, segundo reportagem do jornal “O TEMPO”, os habitantes de bairros próximos à barragem da mina Casa de Pedra iniciaram um movimento para pressionar a Companhia Siderúrgica a secar o reservatório que contém 76 milhões de metros cúbicos de rejeitos.  O alarme dos habitantes é causado pelo fato de que em 2017 foi detectada uma fratura no dique de sela da represa.

casa de pedra

Barragem Casa de Pedra que a CSN opera à montante da cidade de Congonhas do Campo.

Há que se lembrar que é na cidade de Congonhas do Campo que se encontra parte considerável do acervo arquitetônico deixado pelo escultor Antonio Francisco de Lisboa (o Aleijadinho), sendo que as peças mais famosas (os 12  profetas) estão localizadas no Santuário de Bom Jesus de Matosinhos. Em uma eventual ruptura poderia atingir não apenas os bairros vizinhos, mas também o santuário onde estão alojadas as estátuas de Aleijadinho (ver logo abaixo imagem de satélite de 2018).

barragem casa da pedra

Mas como o número de barragens de rejeitos em Minas Gerais em condição insegura foi estimado como sendo de 300,  é bem provável que outras cidades se juntem ao processo iniciado em Conceição do Mato Dentro, Alvorada de Minas e Congonhas do Campo.

E é melhor que seja assim, pois está mais do que evidente que as mineradoras possuem um lobby fortíssimo dentro das diferentes de governo, bem como uma bancada parlamentar ávida por impedir que as medidas necessárias para aumentar o grau de segurança das operações minerarias sejam adotadas.