
Fernando Haddad, o faria limmer, está preparando um pacote de arrocho contra os trabalhadores e os segmentos mais pobres da população brasileira
O ministro da Fazenda Fernando Haddad é um daqueles casos exemplares de como o Partido dos Trabalhadores (PT) se tornou o primeiro guardião dos interesses das oligarquias que controlam a economia do Brasil com mão de ferro. A sua simples ascensão a cargos de importância reflete o gradual, porém firme, afastamento do PT dos seus compromissos fundacionais com a classe trabalhadora. O PT, com Fernando Haddad como estandarte, se tornou o principal partido da ordem burguesa no Brasil.
Mas voltando a Fernando Haddad, não sei quantos lembram do caso, em 2017 ele mostrou a quais interesses servia e serviria ao se licenciar do cargo de docente da Universidade de São Paulo (USP) para assumir um cargo no Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), um misto de entidade privado de ensino com think thank neoliberal. Haddad se mandou para o Insper com a desculpa de ir ministrar uma disciplina na área de administração e gestão pública, mas eu desconfio mesmo que foi lá aprofundar seus conhecimentos no processo de privatização do Estado.
Esquecendo um pouco dessa escapada de Haddad, eu tive a certeza de que o terceiro mandato de Lula seria uma versão piorada dos dois mandatos anteriores ao ouvir a informação de que ele seria o ministro da Fazenda. É que a comparação com a nomeação do hoje maldito Antonio Palocci, em território estadunidense horas após um encontro com George W. Bush, em 2002 soou inevitável, com a diferença que Haddad jamais trafegou por qualquer ruela da esquerda do PT desde sua entrada no partido. Com isso, nada o impediria de ser uma espécie de versão “evil” de Palocci, o que acabou se confirmando com a aprovação do famigerado “Novo Teto de Gastos”, com o qual Haddad algemou qualquer possibilidade de que o Lula III tivesse sequer as tinturas desenvolvimentistas do Lula I e II. Com Haddad no comando da Fazenda, o que se teve desde o primeiro dia de governo foi uma versão educada e sem xingamentos de Paulo Guedes, apenas isso.
Agora, aproveitando a histeria criada para despistar as causas da vitória eleitoral da direita nas eleições municipais, Fernando Haddad aproveitou uma entrevista com a jornalista Mônica Bergamo da Folha de São Paulo para anunciar, sem qualquer constrangimento, que vai aprofundar o arrocho contra os trabalhadores e os segmentos mais pobres da população brasileira na forma de um profundo corte de gastos em 2025.
A intenção, Haddad não esconde, seria apaziguar as preocupações dos banqueiros sediados na Avenida Faria Lima, os conhecidos “faria limers”. Segundo declarou Haddad, “A Faria Lima está, com razão, preocupada com a dinâmica do gasto daqui para a frente. E é legítimo considerar isso com seriedade”. Um detalhe que tanto Fernando Haddad quanto os banqueiros “preocupados” esquecem é que mais de 50% da orçamento federal está comprometido com o pagamento de juros da dívida pública, sendo essa a causa básica do suposto desequilíbrio orçamentário da União.
A verdade é que ao assumir a lógica e a retórica dos banqueiros, Haddad se mostra mais “faria limer” do que o mais empedernido “faria limer”. Com isso, o que se vive no momento é a antevéspera de um grande estelionato eleitoral (mais um) do PT contra os brasileiros que rejeitam o Consenso de Washington e as políticas neoliberais que esmagam os pobres em todo o Sul global.
Entender isso será fundamental nos próximos anos, pois é muito provável que em 2026, sejamos instados a esquecer mais esse ataque aos trabalhadores e os brasileiros mais pobres em nome da preservação de uma elusiva democracia brasileira e da luta contra o fascismo. Rejeitar essa nuvem de fumaça e trabalhar para mostrar que precisamos superar o limiar neoliberal a que o PT se aferrou. Do contrário, não será impensável que tenhamos um versão tupiniquim do presidente argentino Javier Milei subindo a rampa do planalto em janeiro de 2027.
