Com uso permitido no Brasil, clorpirifós tem novas evidencias de que causa danos ao cérebro de crianças em meio à pressão regulatória nos EUA

Por Brian Bienkowski para o “The New Lede”

Crianças altamente expostas a inseticidas antes do nascimento apresentaram sinais de comprometimento do desenvolvimento cerebral e da função motora, de acordo com um novo estudo sobre clorpirifós — um agrotóxico ainda usado em plantações nos EUA (e no Brasil), apesar de décadas de alertas sobre seu impacto na saúde infantil.  

O estudo, que se concentrou em um grupo de crianças nascidas de mães na cidade de Nova York, é o primeiro a relacionar a exposição pré-natal ao pesticida a “efeitos moleculares, celulares e metabólicos persistentes e generalizados no cérebro”, escreveram os autores. O estudo, publicado no periódico JAMA Neurology , revisado por pares, foi publicado meses após a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) anunciar seus planos de proibir parcialmente o clorpirifós, mas permitir o uso contínuo em 11 culturas.

A EPA deveria proibir o uso do clorpirifós na agricultura em 2017, mas o recém-empossado primeiro governo Trump reverteu a decisão. A EPA proibiu o clorpirifós em 2021, após um tribunal federal ordenar que a agência tomasse medidas em meio a um litígio e à abundância de evidências dos riscos que ele representa para as crianças. Mas a agência voltou atrás novamente depois que outro tribunal federal se posicionou a favor de grupos agrícolas contrários. 

Os níveis mais altos de exposição no novo estudo foram comparáveis às exposições atuais de trabalhadores rurais e suas famílias, disse o Dr. Bradley Peterson, principal autor do estudo e chefe da Divisão de Psiquiatria Infantil e Adolescente do Hospital Infantil de Los Angeles. 

Mas os níveis de exposição para muitos trabalhadores não agrícolas nos EUA “ainda estariam dentro da faixa de muitas mulheres em nossa coorte”, disse ele, acrescentando que não há um nível seguro de exposição. O composto pode atravessar a placenta e chegar ao feto. 

“Com mais exposição, observamos mais efeitos no cérebro, mas não há nível abaixo do qual não haja impactos”, disse ele. 

Mudanças em todo o cérebro 

As descobertas baseiam-se em dados coletados entre 1998 e 2005, quando pesquisadores realizaram testes comportamentais e ressonâncias magnéticas em um grupo de 270 crianças de 6 a 14 anos, cujas mães foram expostas ao clorpirifós durante a gravidez. As mães, todas dominicanas ou afro-americanas, foram expostas quando seus apartamentos em Nova York foram fumigados com os inseticidas. Os pesquisadores coletaram amostras de sangue das mães e do cordão umbilical para determinar a exposição ao clorpirifós. A EPA proibiu o uso doméstico do inseticida há mais de 20 anos, devido a preocupações com a saúde das crianças.

“Com maior exposição, observamos mais efeitos no cérebro, mas não há nível abaixo do qual não se observem impactos.” – Dr. Bradley Peterson, Hospital Infantil de Los Angeles

Os exames de ressonância magnética mostraram que crianças com os níveis mais altos de exposição tinham maior probabilidade de apresentar redução do fluxo sanguíneo para o cérebro, espessamento do córtex cerebral, vias cerebrais anormais, isolamento nervoso prejudicado e outros problemas. 

Peterson afirmou que o espessamento do córtex é preocupante, pois é responsável pelo movimento, pela memória e pelo pensamento das pessoas. Ele afirmou que os resultados sugerem que o clorpirifós altera o tecido neuronal daqueles expostos no útero. Os neurônios começam a se desenvolver nos fetos no início da gravidez, e ele afirmou que parece que o clorpirifós altera esse desenvolvimento por meio de inflamação e estresse oxidativo.  

Os pesquisadores também descobriram que crianças altamente expostas tiveram dificuldades em testes que envolviam digitar em sequência ou mover os dedos em uma determinada sequência, indicando habilidades motoras reduzidas. 

Os autores publicaram anteriormente um estudo que constatou déficits cognitivos aumentados em crianças altamente expostas. Outros estudos relacionaram o clorpirifós a menores pesos ao nascer e menor tamanho da cabeça em crianças expostas.

“Este é um estudo excepcional e não há dúvida alguma de que a exposição ao clorpirifós prejudica o cérebro das crianças”, disse Nathan Donley, diretor de ciências da saúde ambiental do Centro para a Diversidade Biológica. “Cabe ao governo Trump decidir se priorizará a saúde de nossas crianças ou os lucros da indústria.” 

Proibição de curto prazo e repercussão regulatória 

Defensores do meio ambiente e da saúde há muito tempo pressionam a EPA para proibir o clorpirifós. A Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar proibiu as vendas em 2020.

Patti Goldman, advogada sênior da Earthjustice que liderou o trabalho da organização sobre o clorpirifós, chamou o novo estudo de “notável” e que esses tipos de efeitos são “o motivo pelo qual temos movido diferentes ações judiciais” à EPA.

Em 2021, a EPA anunciou uma proibição, uma medida que Michael Regan, administrador da EPA na época, chamou de “atrasada” e projetada para proteger “crianças, trabalhadores rurais e todas as pessoas das consequências potencialmente perigosas” do agrotóxico. 

“A proibição estava em vigor para a safra de 2022 mas, infelizmente, empresas químicas e produtores contestaram a proibição”, disse Goldman. O recurso considerou a medida da EPA “ilegal, arbitrária e caprichosa”. 

O Tribunal de Apelações dos EUA para o Oitavo Circuito anulou a proibição proposta pela EPA em 2023. No ano passado, a agência propôs uma regra que restringiria o uso do agrotóxico em 11 culturas: alfafa, maçã, aspargo, cereja, frutas cítricas, algodão, pêssego, soja, morango, beterraba e trigo.

“Cabe ao governo Trump decidir se priorizará a saúde de nossas crianças ou os lucros da indústria.” – Nathan Donley, Centro para a Diversidade Biológica

A agência disse que as 11 culturas que planeja isentar da proibição representam aproximadamente 55% do uso total de clorpirifós (média de kilos anuais aplicados). 

“Não acreditamos que eles devam manter nenhum uso porque não há um nível seguro que proteja as crianças do tipo de dano observado no estudo”, disse Goldman.   

O inseticida também causa estragos na vida selvagem. Em março, um juiz federal ordenou que o Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA reduzisse os danos causados a espécies ameaçadas de extinção por cinco agrotóxicos, incluindo o clorpirifós, que, segundo uma avaliação da EPA, estava prejudicando 97% das espécies protegidas .  

Evitando a exposição 

O clorpirifós foi o 11º pesticida mais frequentemente encontrado em amostras de alimentos no mais recente relatório de monitoramento de resíduos de agrotóxicos da Food and Drug Administration (FDA) , e um relatório de resíduos de pesticidas de 2023 do Departamento de Agricultura dos EUA encontrou traços do produto químico em papinhas de bebê feitas com peras, bem como em amostras de amoras, aipo e tomates. Peterson disse que pais ou futuros pais preocupados com a exposição devem comprar alimentos orgânicos, se possível, ou, se isso não for possível, lavar suas frutas e vegetais. 

Mas há uma “miríade” de outros compostos que também prejudicam o desenvolvimento infantil, disse ele, acrescentando que a melhor aposta para limitar a exposição é minimizar o uso de agrotóxicos nos EUA.


Fonte: The New Lede

Proteção infantil no mundo digital exige mais que tecnologia: o papel insubstituível das famílias na era das telas

Especialistas alertam que o uso de tecnologia para proteger crianças nas redes sociais não substitui o papel ativo das famílias e reforçam a necessidade de diálogo, presença e formação ética no ambiente digital

Diante do crescimento acelerado do uso de redes sociais por crianças e adolescentes, cresce também a urgência em discutir o papel da sociedade — e, em especial, das famílias — na formação digital das novas gerações. Enquanto propostas governamentais como a exigência de verificação de idade por inteligência artificial ganham espaço no debate público, especialistas alertam que soluções exclusivamente tecnológicas são insuficientes para enfrentar um problema que é, antes de tudo, humano.

Para o sociólogo Marcelo Senise, presidente do Instituto Brasileiro para a Regulamentação da Inteligência Artificial (IRIA), confiar a proteção infantil a algoritmos e sistemas automatizados pode gerar uma perigosa sensação de controle. “Estamos diante de um desafio que exige presença, diálogo e responsabilidade compartilhada. Proteger de verdade vai além de apertar um botão”, afirma.

Senise chama atenção para os riscos associados ao uso de tecnologias como o reconhecimento facial para determinar a idade de usuários, ressaltando questões éticas, falhas técnicas e ameaças à privacidade de crianças e adolescentes. Mas seu alerta vai além das ferramentas: ele aponta para a ausência de políticas públicas robustas de educação digital e para a tendência de governos e plataformas buscarem soluções simbólicas, de fácil comunicação, mas de eficácia duvidosa.

Nesse cenário, escolas e famílias precisam atuar de forma conjunta, conscientes de que a formação ética e emocional das crianças no ambiente digital não pode ser delegada apenas à tecnologia. A experiência cotidiana revela mudanças significativas no comportamento infantil, muitas vezes moldado por conteúdos violentos, sexualizados ou distorcidos, consumidos sem mediação ou reflexão.

Para responder a esse desafio, iniciativas têm surgido em diversas comunidades escolares e espaços de formação, com o objetivo de promover encontros entre pais, educadores e especialistas. A proposta é simples, mas essencial: convidar as famílias a refletirem sobre os impactos do uso desordenado da tecnologia no cotidiano dos filhos — e sobre como retomar, com firmeza e afeto, o protagonismo na orientação digital.

Mais do que oferecer respostas prontas, esses encontros visam fortalecer laços. Afinal, como aponta Senise, não existe ferramenta mais eficaz na proteção infantil do que adultos atentos, presentes e comprometidos com a formação ética de suas crianças. A tecnologia pode ajudar, mas não substitui a presença. E esse, talvez, seja o maior desafio da nossa era.

A herança maldita do Tsulama da Vale: estudo da Fiocruz detecta presença de metais pesados na urina de crianças em Brumadinho (MG)

Percentual de arsênio passou de 42% em 2021 para 57% em 2023

Exames feitos em crianças de até 6 anos moradoras de Brumadinho, na Grande BH, apontam aumento da taxa de detecção de metais na urina. Os menores foram avaliados pela Fiocruz Minas e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O estudo analisa as condições de vida e saúde da população após o desastre causado pelo rompimento de uma barragem da Vale, que completa 6 anos neste sábado (25). A tragédia matou 272 pessoas.

Foi detectada a presença de pelo menos um de cinco metais (cádmio, arsênio, mercúrio, chumbo e manganês) em todas as amostras analisadas. O percentual total de crianças com níveis de arsênio acima do valor de referência passou de 42%, em 2021, para 57%, em 2023, sendo que, nas regiões próximas a áreas do desastre e de mineração ativa, o percentual de aumento entre um ano e outro é ainda mais significativo.

O estudo visa detectar as mudanças ocorridas nessas condições em médio e longo prazo e, dessa forma, os participantes são acompanhados anualmente, desde 2021. Um compilado dos dados coletados durante o primeiro ano de acompanhamento já havia sido realizado. Agora, as análises incluem dados do terceiro ano, 2023, permitindo estabelecer uma comparação.

Dos metais, o arsênio é o que aparece mais frequentemente acima dos limites de referência, detectado, entre os adultos, em cerca de 20% das amostras e, entre os adolescentes, em aproximadamente 9% das amostras. No entanto, nesse público, dependendo da região de moradia, o percentual de amostras com arsênio acima do limite chega a 20,4%.

Conforme a pesquisa, chama atenção o fato de todos os metais apresentaram elevado percentual de detecção, nos dois anos, com reduções mais relevantes dos valores para manganês e menos expressivas para arsênio e chumbo, quando se compara 2021 e 2023. Esse quadro demonstra uma manutenção da exposição a esses metais no município, de forma disseminada em todas as regiões investigadas, ainda que com níveis mais baixos no último ano investigado.

“Os resultados encontrados demonstram uma exposição aos metais, e não uma intoxicação, que só pode ser assim considerada após avaliação clínica e realização de outros exames para definir o diagnóstico. Dessa forma, recomenda-se uma avaliação médica para todos os participantes da pesquisa que apresentaram níveis acima dos limites biológicos recomendados, de forma que os resultados sejam analisados no contexto geral da sua saúde”, informou a Fiocruz.

Além disso, é necessária uma rede de atenção que permita realização de exames de dosagem desses metais não apenas na população identificada pelo projeto, mas para atender outras demandas do município. Segundo a Fiocruz, a organização dessa rede de serviços é importante, considerando que a exposição aos metais investigados permanece entre 2021 e 2023, de forma disseminada em todo município.

Um dos aspectos avaliados na pesquisa é o perfil de exposição. A dosagem de cádmio, arsênio, mercúrio, chumbo e manganês foi verificada por meio de exames de sangue e/ou urina. Na população acima de 12 anos, os resultados mostraram que há exposição a esses metais nos dois anos analisados, mas, em 2023, o percentual de amostras detectadas com metais acima dos valores de referência diminuiu.

Chumbo e mercúrio apresentaram taxa de detecção em 100% das amostras em 2023, mas apenas 6,8% delas apontaram dosagem de chumbo acima dos valores de referência.

Condições de saúde da população

O estudo também analisa as condições de saúde da população, baseando-se em diagnósticos médicos anteriores e na percepção dos próprios participantes. Quando perguntados como avaliavam sua saúde, a maioria dos adultos e adolescentes, tanto em 2021 quanto em 2023, avaliou como boa ou muito boa, com variações entre as regiões de moradia. No entanto, o percentual da população adulta que avaliou a saúde como ruim ou muito ruim se manteve elevado nas regiões atingidas pela lama ou com atividade de mineração.

Entre os adolescentes, quando perguntados se já tinham recebido diagnósticos de doenças crônicas, as respostas mais frequentes, em 2021, foram asma ou bronquite asmática, mencionadas por 12,7% dos entrevistados. Em 2023, o percentual subiu para 14%. Chama a atenção dos pesquisadores o aumento na prevalência de algumas condições, como colesterol alto, que passou de 4,7%, em 2021, para 10,1%, em 2023; e um grupo de doenças que inclui enfisema, bronquite crônica ou doença pulmonar obstrutiva crônica, que foi de 2,7%, em 2021, para 10,7%, em 2023.

Quanto às doenças crônicas, em 2021, ao serem questionados se algum médico já havia diagnosticado essas condições, os adultos mencionaram principalmente hipertensão (27,9%), colesterol alto (20,9%) e problemas crônicos de coluna (19,7%). Em 2023, essas doenças continuam sendo as mais prevalentes, mas com aumento na frequência em que ocorrem: hipertensão foi citada por 30% dos adultos, colesterol alto por 28,5% e problemas crônicos de coluna por 22,8%. Deve-se destacar também um aumento no diagnóstico médico do diabetes entre adultos, que passou de 8,7% para 10,7%, entre os dois anos avaliados.

A pesquisa investigou ainda a presença de sintomas e outros sinais nos 30 dias anteriores à entrevista. Em 2021, os adultos relataram principalmente irritação nasal (31,8%), dormências ou cãibras (25,2%) e tosse seca (23,5%). Em 2023, houve aumento na frequência dessas condições para 40,3%, 34,4% e 21,5%, respectivamente. Esses sintomas também foram os mais citados entre os adolescentes tanto em 2021 quanto em 2023, mas com poucas alterações entre um ano e outro.

“A pior percepção da saúde é um indicador de extrema importância para avaliação da condição geral da saúde em uma população, refletindo impacto negativo nessa condição entre os moradores das áreas atingidas pela lama e pela atividade de mineração. Sobre as condições crônicas, é importante ressaltar a elevada carga de doenças respiratórias e do relato de sinais e sintomas, o que demonstra a necessidade de maior atenção dos serviços de saúde sobre esse aspecto, que pode estar relacionado às condições do ambiente, como disseminação de poeira pela natureza da atividade produtiva”, disse o pesquisador da Fiocruz Minas Sérgio Peixoto, coordenador-geral da pesquisa.

Depressão, ansiedade e insônia

A avaliação da saúde mental incluiu perguntas sobre o diagnóstico médico de algumas condições. Os resultados mostraram poucas alterações de um ano para outro. Entre os adolescentes, quando perguntados sobre o diagnóstico para depressão, o percentual foi de 9,9%, em 2021, e 10,6%, em 2023. Entre os adultos, 21,3% relataram diagnóstico médico de depressão, em 2021, e 22,3%, em 2023, valores superiores aos 10,2% relatados por adultos brasileiros avaliados na Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019. Já o diagnóstico de ansiedade ou problemas do sono foi reportado por 32,8% dos entrevistados com mais de 18 anos de idade, em 2021, e por 32,7%, em 2023.

A dificuldade para dormir em três ou mais noites por semana nos últimos 30 dias foi relatada por 26,7% da população adulta de Brumadinho em 2021; no ano de 2023, houve aumento, que chegou a 35,1%. Entre os adolescentes, tal dificuldade foi reportada por 18,3% em 2021, e 17,4% em 2023.

“Os números mostram a necessidade de avaliar as ações voltadas à saúde mental no município, dada a manutenção de elevada carga de transtornos mentais na população nos dois anos avaliados. Faz-se necessário priorizar estratégias intersetoriais, considerando a complexidade do problema e as especificidades de cada território”, explica Sérgio Peixoto.

Procura por serviços de saúde aumenta em Brumdinho

O estudo também mostrou que aumentou a procura por serviços de saúde no município. Sobre a realização de consultas médicas, em 2023, 44,1% dos adolescentes relataram ter realizado três ou mais consultas; em 2021, eram apenas 21,7%. Entre os adultos, 53,7% tiveram três ou mais consultas, em 2023, e 38,6%, em 2021.

De acordo com os resultados, o Sistema Único de Saúde (SUS) é a principal referência dos entrevistados. Os profissionais da Atenção Primária à Saúde foram apontados, em 2021, como os mais procurados por 56,8% dos adultos e por 59,6% dos adolescentes. Em 2023, o percentual passou para 64% entre os adultos e para 66% entre os adolescentes.

Dos adultos, 34,9% declararam ter plano privado de saúde, em 2021, e 39,8%, em 2023. Entre os adolescentes que afirmaram ter plano, foram 27,8%, em 2021, e 33,9%, em 2023.

“A elevada utilização dos serviços de saúde e a menção ao serviço público como sendo a principal referência para atendimento demonstram a grande demanda para o SUS no município, mas também o grande potencial desse sistema para a realização de intervenções efetivas que visem minimizar os impactos na saúde da população”, destaca Peixoto.

Número de crianças com risco de atraso no desenvolvimento de habilidades apresenta queda

Além da analisar a exposição das crianças a metais, foram avaliados também os efeitos em relação ao desenvolvimento neuromotor, cognitivo e emocional, por meio da aplicação do Teste de Denver II. Os resultados mostraram que, de um ano a outro, caiu o número de crianças com risco de atraso no desenvolvimento de habilidades esperadas para sua faixa etária. Em 2021, eram 42,5% na faixa de risco, sendo, em 2023, 28,3% do total de avaliados.

O estudo avaliou ainda o crescimento pôndero-estatural das crianças, que considera a estatura, o peso e o índice de massa corporal. Entre 2021 e 2023, a maioria das crianças apresentou Índice de Massa Corporal (IMC) normal. Em relação aos quadros de obesidade (IMC > 30) e sobrepeso (IMC > 25), houve melhora nos índices. Em 2021, cerca de 11% das crianças eram consideradas obesas; em 2023, o percentual caiu para 4,6%. Com sobrepeso, eram 12,5%, em 2021, e 4,6%, em 2023.

Para os pesquisadores, essa melhora na avaliação das crianças pode ser justificada pelo retorno das atividades escolares e da vida social, após o isolamento social provocado pela pandemia de covid-19. A equipe recomenda o acompanhamento das que apresentaram alterações nos indicadores antropométricos e na aquisição de habilidades associadas com o desenvolvimento neuropsicomotor, social e cognitivo. Os pesquisadores sugerem ainda a articulação entre as equipes de saúde e educação municipais, já que a atividade escolar tem grande potencial de estímulo sobre o desenvolvimento infantil.

Como é feita a pesquisa

Intitulado Programa de Ações Integradas em Saúde de Brumadinho, o estudo é desenvolvido em duas frentes de trabalho: uma com foco na população com idade acima de 12 anos, chamada Saúde Brumadinho, e outra voltada para as crianças de até 6 anos de idade, que recebeu o nome de Projeto Bruminha. Em 2021, a amostra foi composta por 3.297 participantes, sendo 217 crianças, 275 adolescentes com idade entre 12 e 17 anos, e 2.805 adultos com mais de 18 anos. Em 2023, foram 2.825 participantes: 130 crianças, 175 adolescentes e 2.520 adultos.

Ao compor a amostra, os pesquisadores buscaram cobrir toda a extensão territorial do município. No projeto Saúde Brumadinho, a amostra foi segmentada em três regiões geográficas, incluindo as áreas diretamente expostas ao rompimento da barragem de rejeitos; a região de moradores em área com atividade de mineração, mas não atingida pela lama; e a parcela considerada como não exposta diretamente ao rompimento da barragem ou à atividade mineradora, constituída aleatoriamente pelo restante do município.

Para o Projeto Bruminha, a amostra do estudo incluiu todas as crianças com até 6 anos, residentes em quatro localidades selecionadas: Córrego do Feijão, Parque da Cachoeira, Tejuco e Aranha, sendo as duas primeiras localizadas na rota da lama de rejeitos, a terceira em região de mineração ativa e a última distante dessas três áreas.

A pesquisa se baseia em diversas fontes de dados, incluindo exames de sangue e ou de urina, feitos por todos os participantes para verificar a dosagem de metais no organismo, além de entrevistas que analisam diversos aspectos relacionados à saúde e avaliação física e antropométrica.

* Com informações da Agência Brasil


Fonte: Hoje em Dia

Crianças reimaginam o território: projeto de extensão do LEEA une pesquisa e arte no Residencial João Batista

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No último sábado, 14 de dezembro, o pátio do Residencial João Batista, antiga “Inferno Verde”, tornou-se um espaço de criatividade e troca, reunindo crianças do local e das áreas vizinhas para uma atividade inovadora de pesquisa e expressão artística. A ação, realizada pelo projeto de extensão “Políticas Públicas e Espera: Ações para a Garantia e Preservação de Direitos em Programas Habitacionais”, é coordenado pela professora Teresa Peixoto Faria/SEUR-Oficina CEU do Laboratório de Estudos do Espaço Antrópico (LEEA) da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf).

A atividade inspirou-se nos resultados da exposição “Meu Bairro é Bonito”, exposição de fotografias realizadas pelas crianças, ocorrida em janeiro de 2024, que revelou o talento narrativo e a capacidade de observação das crianças e apego ao lugar onde residem.

Com base nessas descobertas, o projeto propôs utilizar o desenho como ferramenta central de pesquisa de inspiração etnográfica, criando um espaço onde os pequenos participantes pudessem expressar suas percepções a respeito das mudanças estruturais que ocorreram no território e suas experiências de maneira criativa.

Inicialmente, foi feita a leitura do livro didático Meu Bairro é Assim, de César Obeid, que aborda de forma lúdica e reflexiva a diversidade e as características dos bairros. A partir dessa leitura, as crianças foram incentivadas a desenhar sobre o próprio bairro, explorando sua percepção e criatividade, assim a habitar a  imaginação. Atividade que está facilitando diálogos sobre pertencimento e sociabilidade através do estímulo à criatividade e ao protagonismo infantil.

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As mudanças territoriais vivenciadas pelas crianças do Residencial João Batista, foram expressas de maneira única através de seus desenhos. Essas produções revelaram percepções profundas sobre a transição para o novo arranjo residencial, destacando as adaptações necessárias à nova configuração de prédios e apartamentos, sobretudo, o habitar. As narrativas visuais das crianças capturam tanto a memória afetiva do espaço, quanto os desafios e possibilidades do cotidiano no residencial, oferecendo um olhar sensível sobre como a transformação do território impactou suas vidas e relações sociais.

A ação permitiu compreender a dinâmica urbana e social do bairro a partir das múltiplas perspectivas infantis, um olhar muitas vezes negligenciado em estudos tradicionais. Para o grupo de pesquisa, a atividade amplia a compreensão das relações sociais e do espaço urbano, oferecendo contribuições únicas para o debate sobre políticas públicas habitacionais e o direito à cidade. À medida que o livro tratava de questões como saneamento básico, espaços de lazer, características estéticas e mobilidade urbana dos bairros, surgiram relatos espontâneos de insatisfação. Muitas crianças reclamaram da falta de limpeza adequada ao pátio, das escadas dos prédios e da precariedade na conservação das calçadas. Esses apontamentos evidenciaram a relação direta entre o cotidiano delas e o direito à cidade, destacando como a ausência desses recursos básicos limita a qualidade de vida delas e reforça desigualdades.

Realizada durante as férias escolares, a atividade promoveu não apenas um momento de lazer e criatividade, mas também uma oportunidade de escuta e atenção  para as crianças do Residencial João Batista que ao compartilhar suas visões por meio da arte, ajudaram a construir um retrato coletivo e sensível da vida no território. Vale ressaltar a importância de espaços de socialização infantil, onde as crianças se tornam seres brincantes e criativos. Durante as trocas com as crianças, muitas relataram que seu espaço favorito no Residencial João Batista é o parquinho com o campo de areia, onde elas possam brincar e estar entre pares.

Além disso, em celebração às festas de fim de ano, houve a distribuição de sacolinhas de doces, marcando o momento com carinho e alegria. Também foi promovida uma gincana, atividade sugerida pelas próprias crianças, fortalecendo o espírito de cooperação e diversão entre todos.

Assim, o projeto reafirma o compromisso do LEEA e da Uenf com a pesquisa aplicada e a extensão universitária, contribuindo para a valorização das vivências locais e para a elaboração de políticas públicas mais inclusivas e sensíveis às realidades do território.

Projeto da Uenf usa desenhos feitos por crianças para refletir sobre dinâmicas territoriais em Campos dos Goytacazes

atividade gráfica

A proposta de utilizar o desenho como ferramenta central para a pesquisa etnográfica surgiu a partir dos resultados da exposição “Meu Bairro é Bonito”, que evidenciaram o potencial observador e narrativo das crianças do território em que se localiza o residencial João Batista. O projeto irá propor através de reflexões sobre as dinâmicas territoriais a confecção de desenhos pelas crianças, permitindo o surgimento de novas formas narrativas capazes de evocar graficamente ideias, encontros, diálogos, observações e percepções sobre a vida social das crianças e do contexto em que vivem.

projeto desenho

A experiência terá início no pátio do residencial, com exercícios que visam a troca entre pesquisadores e o universo pesquisado, buscando compreender a dinâmica urbana a partir dos múltiplos pontos de vista que emergem do olhar infantil.

Durante a atividade, as crianças serão incentivadas a desenhar não apenas com base no que veem no território, mas de forma a expressar suas experiências, emoções e reflexões sobre o bairro e a cidade. Este processo permite que o desenho se torne uma ponte para o diálogo e a troca, permitindo que as crianças partilhem suas percepções de forma criativa e significativa.

A análise do material produzido buscará enfrentar questões centrais para a prática da pesquisa antropológica, tais como, os desafios do trabalho de campo e as múltiplas interpretações que podem surgir das narrativas visuais. Este processo permitirá ampliar a compreensão sobre como as crianças vivenciam e narram seu mundo, oferecendo contribuições únicas para o entendimento das relações sociais e do espaço urbano que habitam.

Brumadinho: crianças expostas a poeira de mineração têm três vezes mais chance de desenvolver alergias respiratórias

brumadinhoComunidades ainda sentem efeitos na saúde do rompimento da barragem em Brumadinho (MG) em 2019. Foto:  Ricardo Stuckert/CÂMARA DOS DEPUTADOS

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Mesmo cinco anos após a tragédia, completados em janeiro, o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, em Minas Gerais, ainda impacta a saúde da população local. Crianças expostas à poeira de resíduos de mineração da região tiveram três vezes mais chance de desenvolver alergias respiratórias em comparação a crianças não expostas a esse ambiente. Os dados, coletados em 2021, são de estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) publicado na segunda (26) na revista científica “Cadernos de Saúde Pública”.

Os pesquisadores do Projeto Bruminha compararam 217 crianças expostas e não expostas a poeira de mineração, com dados coletados em 2021, ou seja, dois anos após o rompimento da barragem em Brumadinho. As 119 crianças expostas pertenciam às comunidades do Córrego do Feijão, do Parque da Cachoeira e de Tejuco, e as 98 crianças não expostas eram da comunidade de Aranha. Por meio de um questionário, foram coletadas informações socioambientais e clínicas, abordando dificuldade para respirar, congestão nasal, pneumonia, bronquite e alergias respiratórias.

A equipe notou um aumento de aproximadamente 60% nas queixas relacionadas a problemas nas vias aéreas e sintomas respiratórios em crianças do grupo exposto. Além disso, houve quase duas vezes mais relatos de alergia respiratória neste grupo em comparação com o grupo não exposto.

“Crianças menores de 5 anos de idade são mais sensíveis aos efeitos tóxicos das substâncias químicas quando comparadas aos adultos”, destaca o pesquisador e autor do estudo Renan Duarte, da UFRJ. Até mesmo as atividades de remediação do desastre de Brumadinho aumentaram a poeira suspensa, algo comum em ambientes afetados por rejeitos minerais. O tráfego de veículos e as faxinas nos domicílios também permitiram a dispersão dessa poeira.

O rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, em 25 de janeiro de 2019, foi um dos maiores desastres ambientais do país, vitimando 270 pessoas e causando danos ambientais e sociais para a região. A evolução das condições de saúde das crianças afetadas pela tragédia é acompanhada pela equipe do Projeto Bruminha e pode gerar dados para orientar as tomadas de decisão direcionadas a essa população. “A produção de conhecimento sobre a exposição infantil a poeiras oriundas de áreas de mineração é fundamental para ações efetivas no âmbito da saúde pública, principalmente considerando esse grupo mais vulnerável”, comenta Duarte.

O pesquisador lembra que existem diversas comunidades que vivem em áreas próximas a atividades de mineração em todo o Brasil e que podem ser expostas a poeiras de resíduos. Neste sentido, ele espera que os resultados obtidos pelo estudo sobre as condições de saúde de crianças em contato com essas toxinas possam contribuir para estruturar serviços de assistência e vigilância em saúde nestas diferentes regiões.


Fonte: Agência Bori 

Estudo aponta agrotóxicos como possível causa do aumento casos de leucemia em crianças no Brasil

Segundo o estudo, o glifosato pode ser um gatilho. As áreas de cultivo de soja são particularmente afetadas. Aprovações de agrotóxicos não diminuíram no governo Lula

glifo ame21O governo Lula mantém o ritmo do governo anterior de Jair Bolsonaro no que diz respeito a aprovações de agrotóxicos. Fonte:© ULRIKE BICKEL

Por Ulrike Bickel para o Amerika21

Brasília/WashingtonUm novo estudo dos EUA relaciona o aumento dos casos de leucemia infantil, a expansão do cultivo de soja e o uso generalizado de agrotóxicos nas plantações de soja no Brasil. A publicação surge em meio a discussões no congresso brasileiro sobre um projeto de lei para desregulamentar ainda mais e acelerar a aprovação de agrotóxicos, que os críticos descrevem como um “pacote do veneno” .

O estudo, publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), documenta que pelo menos 123 mortes adicionais entre crianças menores de dez anos entre 2008 e 2019 estavam ligadas ao uso de agrotóxicos no cultivo de soja na região seca do Cerrado, região de savana, e na floresta amazônica.

Os pesquisadores conseguiram constatar que, entre 2000 e 2019, a área cultivada com soja no Cerrado triplicou, de cinco para 15 milhões de hectares, enquanto na floresta amazônica cresceu 20 vezes: de 0,25 para cinco milhões de hectares. A utilização de agrotóxicos nas duas regiões examinadas aumentou de três a dez vezes durante o mesmo período.

Este aumento anda de mãos dadas com o número de casos de câncer. De acordo com os cálculos do estudo, por cada aumento de 10% na produção de soja, ocorreram quatro mortes adicionais em crianças menores de cinco anos e 2,1 mortes adicionais em crianças menores de dez anos por 100.000 habitantes.

Cerca de metade das mortes infantis por leucemia entre 2000 e 2019 estão ligadas à intensificação agrícola da produção de soja e à exposição das crianças a agrotóxicos, de acordo com a autora principal, Marin Elisabeth Skidmore . O contato com os produtos químicos ocorreu através das águas superficiais quando a produção de soja e o uso de agrotóxicos ocorrem a montante na área de captação.

O número de agrotóxicos aprovados no terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva já subiu para 431 no início de Novembro e espera-se que continue a aumentar até ao final do ano. O atual governo está mantendo o ritmo do governo anterior do presidente de ultradireita Jair Bolsonaro no que diz respeito à aprovação de agrotóxicos.

Nos últimos anos, vários estudos mostraram a ligação entre o uso intensivo de agrotóxicos no Brasil, o aumento das taxas de câncer e outros problemas de saúde . Segundo levantamento da Agência Pública e Repórter Brasil, mais de 14 mil pessoas foram intoxicadas por agrotóxicos no Brasil de 2019 a março de 2022 .

Os 21 agrotóxicos recentemente aprovados são produtos concentrados que têm de ser misturados para serem vendidos comercialmente. Segundo uma análise inicial, 17 dos produtos aprovados são de empresas chinesas e os outros quatro de empresas indianas. A maioria dos agrotóxicos vendidos no Brasil e em outros países do sul global vem agora da China e da Índia.

Estes são genéricos mais baratos ou produtos “pós-patente”. Muitas vezes já não são permitidas no país de origem da patente ou estão atualmenteproibidas porque são muito perigosas para o ambiente e para a saúde humana.

Segundo a análise, o Brasil usa 2,3 vezes mais agrotóxicos por hectare que os Estados Unidos e três vezes mais que a China, que ocupa o primeiro e o terceiro lugar em uso absoluto de agrotóxicos. O uso de agrotóxicos no cultivo de soja brasileiro aumentou, principalmente após a primeira aprovação de variedades de soja geneticamente modificada em 2004.

Um novo estudo realizado por cientistas da Europa, dos EUA e da América do Sul sugere uma possível ligação entre a explosão de casos de leucemia infantil e o uso do glifosato, o herbicida mais utilizado no mundo. Mesmo doses de 0,5 mg por quilograma de peso corporal por dia, atualmente consideradas seguras na União Europeia, têm efeitos negativos, concluiu o estudo.

A Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA), que anteriormente classificou o glifosato como não cancerígeno, tem de reexaminar a aprovação do ingrediente ativo na sequência de uma ordem judicial porque não investigou adequadamente se o ingrediente ativo provoca cancro. Nos últimos anos, o mais alto tribunal dos EUA no país ordenou à empresa química e farmacêutica alemã Bayer, que comprou a Monsanto, que indemnizasse as vítimas do glifosato, muitas das quais desenvolveram leucemia.

A Organização Mundial da Saúde classificou o glifosato como perigoso para a saúde humana e “provavelmente cancerígeno para os seres humanos” em 2015. Na União Europeia, a aprovação do glifosato expira em 15 de dezembro deste ano, mas até agora não há maioria entre os estados membros da UE a favor de uma extensão nem de uma proibição.


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Este texto escrito originalmente em alemão foi publicado pelo Amerika21 [Aqui!] .

Testes de fast food ingerido nos EUA revelam presença de agrotóxicos e outros produtos químicos em todas as amostras

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Por Sustainable Pulse

A Moms Across America (MAA),  que é uma organização sem fins lucrativos dos EUA, iniciou um extenso programa de testes nas vinte principais marcas de fast food da América, além de um restaurante, o In-N-Out Burger da Califórnia. Quarenta e duas amostras de 21 marcas foram testadas para o herbicida mais utilizado no mundo, glifosato, 236 agroquímicos, 4 metais pesados, PFAS, ftalatos e conteúdo mineral. As dez principais marcas foram testadas adicionalmente para 104 medicamentos e hormônios veterinários comumente usados, vitaminas B e calorias.

O fast food é consumido por  oitenta e cinco milhões de americanos  todos os dias, e muitas redes costumam ser fornecedoras de merenda escolar. Trinta milhões de refeições escolares são servidas diariamente às crianças nos EUA e, para milhões de crianças desfavorecidas, estas refeições tóxicas são o seu único acesso à nutrição. Testes anteriores da MAA  mostraram que a merenda escolar da América é realmente tóxica.

Para investigar mais a fundo a situação de uma importante fonte de alimentação e nutrição na América, os  apoiadores do Moms Across America, incluindo a Children’s Health Defense, a Centner Academy e muitos apoiadores individuais, iniciaram recentemente testes extensivos focados especificamente nas cadeias de fast food mais populares da América para explorar. a potencial contaminação do nosso abastecimento alimentar, o que provavelmente está a afectar a nossa saúde física e mental.

O programa Fast Food Testing consistiu em testar 42 amostras de fast food de 21 restaurantes, os vinte melhores restaurantes listados por setor *QSR 50 (maiores vendas). A N-Out, na verdade a 33ª em vendas na lista da rede de fast food, também foi incluída devido às frequentes alegações de que a rede é uma versão “mais saudável” do fast food.

Dois tipos de amostras, três a quatro refeições de cada tipo, foram enviadas pela FedEx de 21 localidades nos Estados Unidos em suas embalagens originais, intactas e congeladas, ao laboratório para teste. O laboratório principal, Health Research Institute, coordenou os testes, que foram conduzidos utilizando espectroscopia de massa triplo-quadrupolo (glifosato, pesticidas, medicamentos veterinários, PFAS, ftalatos) e vários outros métodos.

Resultados do glifosato

  • 100% das vinte principais marcas de fast food continham resíduos alarmantes de glifosato.
  • Os níveis mais elevados detectados, 213,58 ppb e 225,53 ppb, totalizando 439,11 em duas amostras, ocorreram na Panera Bread, autoproclamada proprietária de “boa comida” e “alimentos limpos e saudáveis”.
  • Os segundos maiores teores de glifosato foram encontrados nos sanduíches Arby’s, 124,2 e 99 ppb, totalizando 223,33 ppb de glifosato. Dairy Queen e Little Caesar’s ficaram quase empatados em terceiro lugar, com 126 ppb e 128 ppb de glifosato total detectado, respectivamente.
  • Os níveis mais baixos foram encontrados nas refeições Chipotle, totalizando 4,65 ppb para ambas as amostras, 94,4 vezes menor que o nível mais alto, 439,11 ppb detectado no Pão Panera.

“Infelizmente, as notícias não são boas e as quantidades de glifosato/AMPA nos fast food mais comuns são chocantes. Esta é uma catástrofe nacional de saúde, com o glifosato liderando a acusação de envenenamento diário de cidadãos americanos”, afirmou a Dra. Michelle Perro, uma importante pediatra da Califórnia.

As informações completas sobre testes para todos os produtos químicos testados podem ser encontradas no site da MAA aqui .


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Este texto escrito originalmente em inglês foi publicado pela Sustainable Pulse [Aqui!] .

Contaminação por chumbo continua adoecendo crianças na América do Sul

canos chumboNa América Latina há uma grande porcentagem de crianças com altos níveis de chumbo no sangue devido às diversas fontes de exposição. Na foto, meninas brincam sobre canos de chumbo ao ar livre em La Oroya, Peru. Crédito da imagem: Chiqaq News , sob licença da Creative Commons (CC BY 4.0

Por Pablo Corso para a SciDev

As concentrações de chumbo no sangue diminuíram consideravelmente nas últimas décadas em todo o mundo, mas na América Latina –particularmente no Peru e no México– a intoxicação por este metal pesado segue sendo um fenômeno preocupante que afeta principalmente as crianças .

Embora o tetraetilo de chumbo (TEL) não seja usado como aditivo de combustíveis para automóveis, outras fontes de exposição causam um dano persistente ao ambiente e à saúde humana, como o consumo de água contaminada de encanamentos antigos, as baterias ácidas, certas pinturas , os incêndios, a queima de resíduos e até mesmo a gasolina (gasolina com querosone usada na indústria aérea), detalha um artigo que será publicado na edição impressa de maio da revista Chemosphere .

Por sua toxicidade extrema, a OMS classifica o chumbo como uma das dez substâncias de maior preocupação para a saúde . Concentrações elevadas podem gerar alterações cognitivas e neuromotoras, com cerca de 600 milhões de casos anuais de incapacidade intelectual em crianças .

“Eles absorvem o chumbo rapidamente e eles podem nascer com déficits de desenvolvimento se suas mães foram expostas durante a gravidez”, explica via WhatsApp Abel Gilvonio, assessor da Plataforma Nacional de Pessoas Afetadas por Metais Tóxicos do Peru, onde o tema é especialmente sensível, já que mais de 10 milhões de pessoas (31% da população) estão expondo metais pesados ​​e outras substâncias químicas, segundo o próprio Ministério de Saúde. Eles podem nascer com déficits de desenvolvimento se suas mães tiverem sido expostas durante a gravidez. Destes, 80% são crianças de até onze anos de idade.

“O chumbo danifica todos os órgãos, mas tem uma afinidade particular com o cérebro”, acrescenta a pesquisadora mexicana Mara Téllez Rojo, uma das autoras de um estúdio que revelou que em 2020 em torno de 17% das crianças( 1,4 milhões) de entre um e quatro anos de seu país estavam intoxicadas por esse metal. “É um neurotóxico que gera problemas de comportamento, atenção e agressividade”, afirmou.

Também foram relatados condições cardiovasculares, respiratórias, hepáticas, renais e reprodutivas, e até mesmo efeitos cancerígenos.

“O chumbo danifica todos os órgãos, mas tem uma afinidade particular com o cérebro.”

Mara Téllez Rojo, Instituto Nacional de Saúde Pública, México

Após a eliminação do TEL,  houve um rápido declínio nos níveis atmosféricos globais, afirma em um correio eletrônico Diego Lacerda, um dos autores do trabalho publicado pela Chemosphere .

“Sem dúvida, as milhões de toneladas de toneladas emitidas se depositam no solo e seguem uma fonte de exposição” por meio de seu ingresso na cadeia alimentar.

“Em geral, os países que mais tardaram em eliminar o TEL são os que têm populações com maiores níveis de chumbo no sangue”, explica.

Na América Latina, esse processo começou no Brasil e na Colômbia (1991), para continuar na Argentina, Bolívia (1996), Equador, México (1997), Paraguai (2000), Chile (2001), Uruguai (2003), Peru e Venezuela ( 2005).

Fonte: Chemosphere .

Depois da África, a América do Sul é a região com as concentrações mais altas, especialmente em Porto Rico (10,6 microgramas por decilitro – μg/dl), México (10,5), Peru (8,7) e Uruguai (6, 2).

Enquanto os Estados Unidos consideram que os valores de 3,5 μg/dl são uma intervenção americana, a Organização Mundial de Saúde sustenta que não existem níveis de seguro.

É importante que os países monitorem a contaminação ambiental e humana”,  afirma Lacerda, para quem “a prevenção primária é a forma de reduzir a exposição”.

Em 2017, uma revisão de estudos sobre crianças latino-americanas sugeriu que a porcentagem de menores de idade estava subestimada. Este ano, um relatório atualizado descobriu que as concentrações de chumbo no sangue de crianças pequenas excedem os limites recomendados na metade dos estudos avaliados.

Fonte: Chemosphere .

Crianças com chumbo no Peru e no México

Durante mais de meio século, a minera estadounidense Cerro de Pasco operou no centro do Peru vertendo chumbo, mercúrio e outros minerais tóxicos no solo e na água , especialmente na cidade de La Oroya. Isso resultou em múltiplos casos de leucemia crônica, aplasia medular severa e diminuição do nível intelectual .

A intervenção de organismos internacionais de direitos humanos não tem sido suficiente para que o estado ou a atual concessionária (Volcan, de participação majoritária suíça) ofereça respostas satisfatórias.

A Comissão Multissetorial criada em 2020 para abordar a problemática “não está em funcionamento, porque está pendente a aprovação de seu regulamento”, explica Gilvonio, que critica a substituição dos técnicos ambientais “por pessoal com pouca experiência no assunto”.

Enquanto isso, a Defensoria do Pueblo segue reivindicando a implementação de um sistema de informação sobre a qualidade das fontes hídricas e a regulamentação de uma lei para fortalecer a atenção dos afetados.

No México, a situação não é melhor. Segundo o estudo de Téllez Rojo e seus colegas, a maioria das mães de crianças intoxicadas por chumbo havia usado utensílios de cerâmica vidrada durante a gravidez, uma tradição antiga que, há pouco tempo, é a principal fonte de contaminação no país.

A cerâmica de barro vidrado, uma tradição artesanal no México, é uma das principais vias de exposição ao chumbo no México. Crédito: Secretaría de Salud de México . Imagem de domínio público.

“O esmalte com o qual se vendem as peças é a base de chumbo”, precisa a investigadora. Como não está completamente fixado, as altas temperaturas dos alimentos fazem com que o pó se liberte e os contamine.

Diante desse panorama, o estado impulsa alianças com diversas organizações para capacitar os ceramistas na transição para esmaltes com metais inócuos, como o boro.

A investigadora também planeja a necessidade de indagar sobre outras fontes de exposição, como a exploração de minas e o trabalho em fundidoras, ladrilhadoras, com soldas ou pinturas.

Às vezes se combinou mais de um fator, como no caso de Puebla, onde a atividade do vulcão Popocatépetl e a contaminação da Barragem de Valsequillo chegaram a um alarmante 46 por cento de casos.

A nível governamental “se poderia fazer mais”, reconhece Téllez Rojo. “Em novembro de 2019 foi lançado um programa para atender o problema, mas se deveu à pandemia. Queremos que se retome, já que atualmente não há um sistema que monitore o chumbo no sangue e cuide das vítimas.”


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Este artigo foi produzido pela edição de América Latina e Caribe de  SciDev.Net e publicado [Aqui!] .

México encontra agrotóxicos em sangue de crianças após décadas de desastre ambiental

pesticidas-Salamanca-996x567Desde o fechamento da unidade industrial, o governo federal investiu mais de 21 milhões de pesos mexicanos (pouco mais de US$ 1 milhão hoje) no Plano Salamanca para remediar os danos. No entanto, seus objetivos permaneceram inacabados. Crédito da imagem: Ministério do Meio Ambiente e Recursos Naturais do México.

Embora na maioria das amostras (solo e sangue) analisadas no estudo , os níveis de agrotóxicos foram observados abaixo do limite de detecção e a dose estimada de exposição diária (calculada de acordo com a concentração de diclorodifeniltricloroetano no solo) não ultrapassou o nocivo, alertam pesquisadores que décadas depois os contaminantes persistem no meio ambiente e nas pessoas, mesmo aquelas que não foram diretamente expostas.

A fonte, segundo o estudo publicado na revista Environmental Geochemistry and Health, seria a unidade industrial da empresa Tekchem SAB de CV que fechou em 2007 por pressão de ativistas ambientais que exigiam a reparação dos danos causados ​​por um vazamento químico que ocorreu em 11 de setembro de 2000.

Os efeitos dessas toxinas no neurodesenvolvimento infantil é um problema que afeta vários países da América Latina e Caribe. Diana Olivia Rocha, pesquisadora da Universidade de Guanajuato e uma das autoras do estudo, disse ao SciDev.Net que em outras regiões do México onde foi registrada a presença de agrotóxicos organoclorados, “o DDT foi usado mais para o controle de vetores como a malária”, mas na realidade na zona de Salamanca esta doença “não está presente”.

Por esse motivo, os autores estimam que a fonte mais provável dos contaminantes são os restos que permaneceram após o fechamento da planta industrial da Tekchem. O toxicologista José Dórea, que não participou da investigação, explicou ao SciDev.Net que a exposição de menores a esse tipo de substância pode afetar seu neurodesenvolvimento e causar atrasos no aprendizado. “Meninos e meninas são a população mais afetada”, destaca.

“O DDT foi usado mais para o controle de vetores como a malária, [mas na realidade na área de Salamanca esta doença] não está presente”

Diana Olivia Rocha, pesquisadora da Universidade de Guanajuato

Agrotóxicos como o DDT são de especial relevância por terem a característica de aderir ao tecido adiposo dos seres vivos. Além disso, esses tipos de substâncias são considerados Poluentes Orgânicos Persistentes, ou seja, possuem uma vida útil muito longa.

Devido a isso, mesmo em países como México e Brasil onde seu uso já foi proibido, esse contaminante pode continuar sua distribuição pela cadeia alimentar.

Além disso, se uma mulher que foi exposta a esses tipos de contaminantes engravidar, seu bebê também poderá receber esses agrotóxicos através do leite materno.

De acordo com uma compilação publicada por Dórea, essa vulnerabilidade para bebês foi documentada no México, Brasil, Nicarágua, Equador e Guatemala. “Por isso falamos de um legado de agrotóxicos organoclorados”, destaca o especialista.

Sobre o desastre ambiental ocorrido em Salamanca, a professora e ativista ambiental Maura Alicia Vázquez Figueroa disse ao SciDev.Net que “a vida mudou para muitas pessoas como resultado dessa contingência ambiental”. Ela estava em Salamanca quando ocorreu o vazamento e lembra que a primeira coisa que notou foi um aroma penetrante.

“O cheiro é semelhante ao alho, mas podre e bastante concentrado.” A professora foi uma das primeiras a documentar o ocorrido a pedido da Frente Zapatista de Libertação Nacional, da qual ela era integrante. Junto com o marido, ela foi aos bairros adjacentes à unidade industrial para coletar seus depoimentos em vídeo.

À frente da associação civil “Humanos por Amor à Mãe Terra”, Vázquez e seus colegas começaram a organizar os Toxitours e o Toxifest, onde fizeram um tour pela área afetada como forma de protesto.

Suas ações chamaram a atenção da imprensa e ela acredita que foi uma das principais razões pelas quais a Tekchem foi fechada. A professora destaca a reportagem publicada pela jornalista Marcela Turati no jornal Excelsior, onde caracteriza Salamanca como a “cidade do veneno”.

Após o fechamento da unidade industrial, o governo do ex-presidente Enrique Peña Nieto investiu mais de 21 milhões de pesos mexicanos (pouco mais de US$ 1 milhão hoje) no Plano Salamanca para remediar os danos. No entanto, seus objetivos permaneceram inacabados.

Em 22 de novembro de 2021, por decreto presidencial do presidente Andrés Manuel López Obrador, a remediação continuou. De acordo com os pedidos de informação consultados, como resultado do decreto, mais de 31 milhões de pesos mexicanos (cerca de US$ 1,5 milhão) foram alocados para esse fim.

Este artigo originalmente escrito em espanhol foi produzido pela edição da América Latina do  SciDev.Net e publicado [Aqui!].