Crise Ambiental: Breve Guia Prático

Por mais que muita gente ainda subestime ou até mesmo negue o precipício ambiental de que o mundo se aproxima cada vez mais — aceleração do aquecimento global, da extinção de espécies, da destruição de ecossistemas e biomas inteiros, do envenenamento do ar, das águas e dos solos –, os dados confiáveis sobre as “bases físicas” do problema estão aí, à nossa disposição.

O debate sobre o que e como fazer para evitar a catástrofe, porém, avançou bem menos que a discussão e a difusão das informações sobre a dinâmica climática e seus efeitos. Quanto a isso, ainda predominam as fórmulas vagas e as soluções ilusórias.

E sem saber contornar ou superar o abismo, de pouco ou nada adianta estimar com precisão o seu tamanho.

Nesta live que ocorrerá amanhã (04/9), o Professor Marcelo Lopes de Souza, do Departamento de Geografia da UFRJ, analisará de forma crítica os dilemas da crise ambiental.

Conferência climática da ONU (COP28) ocorre em modo de crise

Decisões fundamentais poderão ser tomadas em reunião ministerial na próxima semana

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Região costeira frequentemente inundada em Bangladesh: Na verdade, há solo fértil aqui, mas é engolido pelo mar. Foto: Imagem/ZUMA/Kazi Salahuddin
Por Christian Mihatsch e Chiang Mai para o Neues Deutschland

As negociações climáticas da ONU (Cop28), que tiveram lugar no Dubai em Dezembro, estão em crise antes mesmo de começarem. É por isso que a reunião final a nível ministerial antes da Cop28, na próxima semana, em Abu Dhabi, será particularmente importante. A razão da crise é o planeado fundo para perdas e danos, que se destina a ajudar os países pobres caso sejam atingidos por uma catástrofe natural amplificada pela crise climática. A criação deste fundo foi decidida no ano passado, o que foi aclamado como o maior sucesso da conferência de Sharm el-Sheikh. Este ano, um comitê deveria ter negociado como o fundo funcionaria. Foram organizadas três reuniões para este fim, mas não foi possível chegar a acordo, mesmo numa quarta reunião convocada de emergência.

Os países industrializados, como os EUA e os países da União Europeia (UE), querem que o fundo de emergência fique sob a égide do Banco Mundial. Isso significa que pode ser usado mais rapidamente. Os países em desenvolvimento, por outro lado, consideram o Banco Mundial inadequado por várias razões: A taxa de gestão de 17% ao ano que o Banco Mundial pretende cobrar pelo fundo é claramente demasiado elevada, como afirmou Diann Black-Layne, representante de Antígua e Barbuda, disse criticando em uma das reuniões preparatórias. Além disso, o Banco Mundial concede principalmente empréstimos, razão pela qual tem muito pouca experiência com ajuda não reembolsável. Além disso, o Banco Mundial não pode apoiar directamente quaisquer organizações locais nos países afectados. E, finalmente, o Banco Mundial é antidemocrático porque o peso dos votos dos países é medido pela sua participação no capital da instituição multilateral.

Nesta situação, Sultan al-Jaber, presidente eleito da Cop28, apelou aos membros da comissão no último dia da reunião: “Não deixem esta tarefa para outra pessoa. Por favor, vamos terminar isso.” Mas isso também não ajudou e a reunião terminou na semana passada sem nenhum resultado.

Agora, os ministros do ambiente e dos Negócios Estrangeiros terão de encontrar uma forma, na próxima semana, de pelo menos resolver a disputa sobre o Banco Mundial. Porque essa disputa deveria ser a mais fácil de resolver. Depois, há várias questões muito mais difíceis: quanto dinheiro o fundo deve receber? Quem paga o fundo, apenas os países industrializados ou os países em desenvolvimento ou talvez até o transporte marítimo internacional , que é considerado um dos maiores poluidores? E por último: quem tem direito ao apoio do fundo? Em todas estas questões, os países desenvolvidos e em desenvolvimento têm posições diametralmente diferentes. Os países industrializados, por exemplo, querem que apenas os “países mais vulneráveis” recebam apoio do fundo. Os países em desenvolvimento, por outro lado, afirmam que não existe uma definição de “países vulneráveis” e querem que todos os países em desenvolvimento possam candidatar-se ao fundo.

Para termos tempo suficiente para as questões mais difíceis durante as negociações climáticas da ONU, seria bom que pelo menos a questão do Banco Mundial pudesse ser esclarecida antes da conferência. Se isso terá sucesso, veremos na próxima semana. Só então os ministros poderão definir a direcção e então – numa quinta reunião de emergência do comité preparatório – esta direcção poderá então ser elaborada em detalhe pelos diplomatas.

Se isso não acontecer, a Cop28 será difícil, segundo diversas organizações ambientalistas. Jan Kowalzig, da organização de desenvolvimento Oxfam, disse: “Se os pontos controversos permanecerem sem solução mesmo após a próxima reunião do comité, o sucesso da Cop28 será mais difícil de alcançar.” Christoph Bals, da organização ambiental Germanwatch, diz porque é que isto acontece: “Isso poderia ter uma consequência muito infeliz para a dinâmica da Cop.” Porque os cerca de 100 países mais vulneráveis ​​juntar-se-iam então à aliança com o G77 e a China porque se prometeriam protecção contra os países industrializados, pensa Bals. “Isso reduz as chances de surgirem as alianças construtivas necessárias que levarão o policial ao sucesso além da área de perdas e danos.”

Estas alianças serão cruciais numa segunda questão financeira que envolve muito mais dinheiro do que o fundo de perdas e danos: a nova meta de 100 bilhões de dólares. Em 2009, os países industrializados comprometeram-se a apoiar os países em desenvolvimento com 100 bilhões de dólares anuais até 2025. O que acontecerá a seguir deverá ser decidido o mais tardar no próximo ano. E então surgem novamente as mesmas questões: quem paga e quem recebe o dinheiro da ajuda climática? m comparação, a disputa com o Banco Mundial é apenas um exercício de aquecimento.


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Este texto escrito originalmente em alemão foi publicado pelo “Neues Deutschland” [Aqui!].

Crise ambiental ou crise societária? A minha participação no “Café Filosófico” da UFRN

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Tive hoje a oportunidade de participar do “Café Filosófico” que me possibilitou uma troca de ideias com o meu colega Oscar Federico Bauchwitz que é docente do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e meu contemporâneo no Alojamento Estudantil da UFRJ.

Foram 45 minutos de intensa troca de ideias sobre a crise ambiental em que estamos imersos e suas raízes nas relações sociais criadas pelo Capitalismo.  Ao longo dessa conversa, tratamos de diferentes aspectos da crise e da distribuição desigual dos seus efeitos sobre a população humana, visto que é no segmento mais pobres que a mesma se mostra mais aguda.

Abaixo posto o vídeo que está agora disponível no canal do “Café Filosófico” no Youtube.

Em nova edição, revista Ambientes aborda o envenenamento de alimentos por agrotóxicos e outros aspectos da crise ambiental brasileira

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Ambiente: Revista de Geografia e Ecologia Política teve origem na constituição da Rede de Pesquisadores em Geografia (Socio)Ambiental — RP-G(S)A —, composta por docentes de diversas instituições brasileiras de ensino superior.  A partir de uma preocupação em valorizar os estudos de cunho ambiental, integrando conhecimentos sobre a natureza e a sociedade, a RP-G(S)A tem como foco a Geografia Ambiental, entendendo-se “ambiente” de maneira ampla: sem reduzir o conceito ao ambiente natural ou “meio ambiente”. Além disso, há um esforço para oferecer uma contribuição ao campo interdisciplinar da Ecologia Política.

Pois bem,  a Ambientes acaba de lançar sua mais nova edição, sendo composta com oito artigos, uma resenha e uma entrevista. O conteúdo da edição foi cuidadosamente apresentado no editorial intitulado “Guerra, violência e destruição” que é assinado pelo editor chefe da Ambientes, o professor do Centro de Ciências Humanas da UNIOESTE de Francisco Beltrão (PR), Luciano Zanetti Pessôa Candiotto. Logo no parágrafo de abertura, o editorial aponta que a nova edição da Ambientes aborda elementos fundamentais para que se possa entender a relação entre o processo de desregulamentação em curso no Brasil, os impactos que já estão sendo documentados sobre ecossistemas naturais e as populacionais que historicamente os usam para sua reprodução social.

Um dos artigos que deverá interessar aos leitores deste blog é de autoria da professora Shaiane Carla Gaboardi do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia Catarinense, Campus Ibirama/SC, pois o mesmo aborda um tema que considero altamente relevante que é a contaminação de alimentos por resíduos de agrotóxicos usados em profusão no Brasil. O artigo traz uma série de reflexões sobre os desafios e os avanços no que se refere ao monitoramento de resíduos de agrotóxicos em alimentos no Brasil, por meio dos relatórios do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), disponibilizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). O artigo traz os resultados das análises feitas em todo os relatórios disponíveis  do PARA produzidos entre 2001 a 2018), mostrando que  que, em média, 63% dos alimentos consumidos pelos brasileiros possuem algum tipo de resíduo de agrotóxicos. Além disso,  os agrotóxicos mais detectados ao longo dos anos no PARA, como o carbendazim, o clorpirifós e o acefato, são de uso proibido na União Europeia, sendo que os Limites Máximos de Resíduos estabelecidos no Brasil possuem diferenças abissais se comparados aos países da Europa.  

mapa agrotóxicos

Mas quem desejar acessar a íntegra desta edição da Ambientes, podem acessar os links a seguir:

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UFRJ: pesquisa aponta como a crise ambiental é percebida nas classes B e C da população

crise ambiental

O Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, por meio do Laboratório Conexões do Clima, realizou em março de 2022 a pesquisa “Mudanças Climáticas e Desenvolvimento Econômico: percepções da população da Região Metropolitana do Rio de Janeiro”. O levando, realizado em maio, fez um diagnóstico sobre como as classes B e C percebem os efeitos do aquecimento global em seu dia a dia. Um dos temas que mais geram preocupação é o de chuvas intensas, inundações, deslizamentos e segurança hídrica. Queimadas na Amazônia e no Pantanal também foram lembradas, mas como problemas mais distantes.

As cenas dos recentes desabamentos de encostas em Petrópolis, na Região Serrana, ou a vivência de dramas pessoais, com o enfrentamento de alagamentos de ruas e casas em períodos de chuvas, tanto na baixada fluminense como em diferentes regiões do estado, ajudam a acentuar a ideia de que existe um risco cada vez maior para todos.

– Há uma visão de que algo grave está acontecendo, com mais desastres, chuvas mais fortes e mais frequentes, e estações do ano mais indefinidas. Apesar de não haver dentro desse grupo pesquisado uma formulação mais precisa sobre o tema, há uma percepção instintiva de que vivemos uma crise ambiental grave e que as consequências podem ser devastadoras — explica a coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura, Tatiana Roque.

A pesquisa, realizada de forma qualitativa, reuniu oito grupos focais, cada um com 8 a 10 pessoas. A partir daí, foram estabelecidas dinâmicas com debates de até duas horas de duração com cada grupo.

– Ouvimos pessoas com idades entre 18 e 50 anos das classes B e C. A pesquisa joga luz sobre um tema que muitas vezes parece não estar associado à realidade e às preocupações desse grupo. Mas concluímos que as pessoas se preocupam sim, só não sabem como resolver– salienta Tatiana Roque.

Um ponto de destaque do levantamento é a de que há hoje uma grande preocupação com a infraestrutura habitacional e com a melhoria da rede de saneamento. Lixo e esgoto são problemas levantados com frequência e espontaneamente. Os seguidos casos de geosmina na água também foram lembrados. Muitos lembram da Baía de Guanabara como um caso que evidencia a má educação do povo que joga lixo e polui, por um lado; e a ineficiência das políticas públicas, por outro — “Despoluição da baía de Guanabara há mais de 20 anos…é um case de fracasso”; “Baía de Guanabara é um lixo, quando eu era criança eu entrava. Hoje, sai com um braço a mais”.

Falta transparência e eficiência em programas de despoluição da Baía de  Guanabara - Rede Brasil Atual

– Há um entendimento de que esses problemas são reflexos da falta de cuidado com a limpeza urbana e de uma política voltada a cuidar dos resíduos em geral, que são vistos como os principais motivos para a ocorrência de deslizamentos e alagamentos. Mas há pouca esperança de que o poder público resolva o problema e as soluções elencadas são individuais na maioria das vezes- destaca Tatiana.

A baixa fiscalização do Estado foi apontada, bem como a ausência de política habitacional. O consumo individual é superdimensionado como capaz de ajudar a resolver questões ambientais. A dimensão da desigualdade socioeconômica é forte: ainda que haja percepção de que a chuva atinge a todos, as condições para cada família proteger a si e a seus bens é desigual. Além disso, há entendimento de que famílias ricas podem restituir-se de seus bens, enquanto os pobres ficarão desprovidos de tudo.

De modo geral, o debate climático encontra ambiente bastante receptivo entre o público pesquisado: não foram mobilizados argumentos negacionistas na amostra pesquisada. Isso está em sintonia com pesquisas quantitativas já realizadas sobre o tema. O objetivo desta pesquisa qualitativa foi relacionar esse tema com questões econômicas. Notamos um descompasso entre a percepção da complexidade e da abrangência dos problemas e a aposta em soluções micro-individualizadas. Notamos uma responsabilização mediana do Estado e das empresas, mas baixa expectativa de que esses atores solucionem o problema. As principais “saídas” apontadas são individuais, sem pensar em mudanças estruturais do modelo de desenvolvimento econômico: manejo de resíduos, consumo consciente e empresas sustentáveis; mas também infraestrutura habitacional e infraestrutura de saneamento.

– Concluímos que é preciso territorializar o debate climático e ambiental, aterrissar as questões, torná-las mais palpáveis e relacionadas com os problemas quotidianos e com o modelo econômico, que não é visto como relacionado às questões ambientais e climática. Essas ainda têm algo de etéreo e abstrato diante de urgências cotidianas, diz Tatiana.

Fogo surpreende pescadores no Pantanal

Com recorde histórico de queimadas, região já perdeu 10% de seu território no ano

fogo 1Imagem registrada por grupo de pescadores em Cáceres (MT)

Um grupo que praticava pesca profissional na margem direita do rio Paraguai foi surpreendido por um incêndio de grandes proporções na mata em região próxima à cidade de Cáceres (MT). A queimada registrada em vídeo ainda não está na conta dos 4,2 mil focos de incêndio contabilizados de janeiro a julho deste ano pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Este é o maior número desde 1998, quando a série histórica foi criada. Segundo o instituto, os incêndios na zona pantaneira saltaram 240% este ano, e o bioma já perdeu cerca de 10% de sua área.

“Foi muito triste e desesperador ver tudo isso. Estou sem chão ainda. Só quem está vendo de perto para ter noção”, conta a pescadora Enilza Silva, que estava presente quando o fogo se alastrou no sábado (15/8). “Me trouxeram agora a pouco para cidade porque meu psicológico não está legal. Os bichos desesperados sem saber pra onde ir, outros já mortos. É desesperador.”

O grupo que desenvolvia a atividade na região é experiente e usa uma base de apoio localizada em um rancho nas proximidades. Acampados, eles chegam a pescar durante 5 a 7 dias ou até atingir a cota máxima permitida, que é de 125 kg de peixes por pessoa, por semana. Os pescadores relatam que ultimamente não estão conseguindo atingir essa cota.

“O rio já está quase atingindo a maior baixa dos últimos 50 anos. E no mês de fevereiro ocorreu um fenômeno chamado decoada exatamente porque o rio não encheu o suficiente, o que causa a decomposição de matéria orgânica, como folhas e galhos. Isso tira o oxigênio da água, matando muitos peixes no rio. E ainda tem o assoreamento”, explica Joari Costa de Arruda, professor da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Ele é especialista em biodiversidade e biotecnologia e atua no projeto “Corredor ecológico, econômico e cultural do Rio Paraguai” junto a pescadores e comunidades ribeirinhas da região. “Este ano não está favorável para o rio e para quem depende dele para tirar o sustento da família”, lamenta o pesquisador.

Mensageiro sem verbas

Segundo notícia do jornal Folha de S. Paulo, o INPE, que monitora por satélites os desmatamentos e as queimadas no território brasileiro, ficará sem verba em 2021. Com a decisão, os pesquisadores da instituição serão mantidos, mas não terão condição de desenvolver seus trabalhos.

A medida é mais um desdobramento da crise institucional entre o órgão e o governo federal, desencadeada em 2019, após a divulgação dos números recordes de desmatamento. Na ocasião, a fumaça das queimadas nas regiões amazônica e pantaneira escureceram o céu de cidades localizadas no Sudeste do país, gerando comoção dentro e fora do Brasil. O cientista Ricardo Galvão foi exonerado da diretoria do INPE na sequência das divulgações, e em seu lugar foi efetivado o coronel da Aeronáutica Darcton Damião.