Com recorde histórico de queimadas, região já perdeu 10% de seu território no ano
Imagem registrada por grupo de pescadores em Cáceres (MT)
Um grupo que praticava pesca profissional na margem direita do rio Paraguai foi surpreendido por um incêndio de grandes proporções na mata em região próxima à cidade de Cáceres (MT). A queimada registrada em vídeo ainda não está na conta dos 4,2 mil focos de incêndio contabilizados de janeiro a julho deste ano pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Este é o maior número desde 1998, quando a série histórica foi criada. Segundo o instituto, os incêndios na zona pantaneira saltaram 240% este ano, e o bioma já perdeu cerca de 10% de sua área.
“Foi muito triste e desesperador ver tudo isso. Estou sem chão ainda. Só quem está vendo de perto para ter noção”, conta a pescadora Enilza Silva, que estava presente quando o fogo se alastrou no sábado (15/8). “Me trouxeram agora a pouco para cidade porque meu psicológico não está legal. Os bichos desesperados sem saber pra onde ir, outros já mortos. É desesperador.”
O grupo que desenvolvia a atividade na região é experiente e usa uma base de apoio localizada em um rancho nas proximidades. Acampados, eles chegam a pescar durante 5 a 7 dias ou até atingir a cota máxima permitida, que é de 125 kg de peixes por pessoa, por semana. Os pescadores relatam que ultimamente não estão conseguindo atingir essa cota.
“O rio já está quase atingindo a maior baixa dos últimos 50 anos. E no mês de fevereiro ocorreu um fenômeno chamado decoada exatamente porque o rio não encheu o suficiente, o que causa a decomposição de matéria orgânica, como folhas e galhos. Isso tira o oxigênio da água, matando muitos peixes no rio. E ainda tem o assoreamento”, explica Joari Costa de Arruda, professor da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Ele é especialista em biodiversidade e biotecnologia e atua no projeto “Corredor ecológico, econômico e cultural do Rio Paraguai” junto a pescadores e comunidades ribeirinhas da região. “Este ano não está favorável para o rio e para quem depende dele para tirar o sustento da família”, lamenta o pesquisador.
Mensageiro sem verbas
Segundo notícia do jornal Folha de S. Paulo, o INPE, que monitora por satélites os desmatamentos e as queimadas no território brasileiro, ficará sem verba em 2021. Com a decisão, os pesquisadores da instituição serão mantidos, mas não terão condição de desenvolver seus trabalhos.
A medida é mais um desdobramento da crise institucional entre o órgão e o governo federal, desencadeada em 2019, após a divulgação dos números recordes de desmatamento. Na ocasião, a fumaça das queimadas nas regiões amazônica e pantaneira escureceram o céu de cidades localizadas no Sudeste do país, gerando comoção dentro e fora do Brasil. O cientista Ricardo Galvão foi exonerado da diretoria do INPE na sequência das divulgações, e em seu lugar foi efetivado o coronel da Aeronáutica Darcton Damião.