Ataque ao Irã: a crise capitalista e a grande guerra que se aproxima rapidamente no horizonte

Fordow e o B-2: conheça a usina do Irã e o bombardeiro dos EUA

O ataque das forças armadas dos EUA às instalações nucleares do Irã será noticiado de diversas formas, mas certamente a melhor cobertura não virá da mídia corporativa, seja a nacional ou a global. O problema aqui é que mais do que nunca, informação é algo estratégico demais para ser compartilhado com leigas. Quem nos ensinou isso foi o geógrafo francês Yves Lacoste em seu livro “A Geografia: isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra” quando ele enuncia que existe a geografia dos bancos escolares e a leigos (a maioria de nós) e a dos Estados maiores que usam as informações geográficas para planejar as guerras que assolam o mundo para garantir o controle de matérias primas e rotas comerciais. Acima de tudo, é preciso lembrar que La Coste disse nesse livro que o “mundo é ininteligível para quem não tem um mínimo de conhecimentos geográficos“.

É preciso notar que o não menos célebre jornalista Seymour Hersh anunciou com precisão horas antes em seu blog no Substack o início dos ataques realizados contra as instalações nucleares iranianas.  Se Hersh sabia do que ia acontecer, acho difícil que não houvesse o devido nível de alerta em Teerã cujos serviços secretos são conhecidos por serem bastante alertas e possuírem agentes infiltrados em diversos serviços de inteligência do mundo. Tanto isto é verdade é que poucas horas depois, agências de notícias iranianas informaram que todo o urânio enriquecido de posse do país tinham sido movidos para outras instalações.

Como consequência da destruição das instalações, o que temos agora é provavelmente uma pulverização locacional do material enriquecido e da dispersão de parte das máquinas de enriquecimento.  Com isso, é provável que o risco dos iraniano possuírem uma bomba atômica tenha aumentado em vez de diminuir.  Com isso, aumentam as chances de uma guerra prolongada, dado que invadir o Irã não é algo factível dada as características geográficas (como geógrafo não posso deixar de notar essa ironia) que tornam o país de difícil invasão terrestre. 

Restará aos EUA e a Israel continuar jogando bombas poderosas para dobrar o Irã militarmente ou esperar que o regime iraniano seja derrubado por alguma revolta interna.  Ambas as possibilidades são cercadas de dificuldades estratégicas, mesmo porque, apesar da torcida de muitos analistas de plantão, as armas iranianas mais modernas ainda não foram usadas e provavelmente estão reservadas para outras fases da guerra que se iniciou com os ataques israelenses e ganha agora maior envergadura com a entrada aberta dos EUA no conflito.

O risco real é que outras forças comecem a se envolver no conflito, pois os interesses geopolíticas envolvidos vão muito além do trio atual. Há que se lembrar que o Irã tem a Rússia e a China como aliados estratégicos, e esses dois países não vão ficar assistindo esta situação de mãos cruzadas, ainda que suas ações não se tornem tão explícitas como as dos EUA.  Assim, ainda que não entrem diretamente no conflito, é provável que russos e chineses irão dar uma mãozinha para o Irã. E essa maõzinha virá reacheada de mísseis e drones de guerra. Com isso, está garantida a instalação de um conflito que começa regional, mas poderá se tornar rapidamente global.

Finalmente, há que se analisar toda essa situação tendo como pano de fundo a grave crise que o sistema capitalista atravessa, tanto do ponto de vista econômico, como do geopolítico. Que os EUA e a União Europeia perderam a corrida contra a China é algo evidente, o que grava os problemas vividos com a hegemonia financeira que marca o funcionamento do capitalismo no Ocidente.  Com isso, uma grande guerra se torna algo quase que inevitável, dado que em momentos de crises sistêmicas, a opção é sempre a guerra. Isto aconteceu nas duas grandes guerras mundiais, e tem toda chance de acontecer agora, ainda que não imediatamente.

Crise ambiental ou crise societária? A minha participação no “Café Filosófico” da UFRN

café

Tive hoje a oportunidade de participar do “Café Filosófico” que me possibilitou uma troca de ideias com o meu colega Oscar Federico Bauchwitz que é docente do Departamento de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e meu contemporâneo no Alojamento Estudantil da UFRJ.

Foram 45 minutos de intensa troca de ideias sobre a crise ambiental em que estamos imersos e suas raízes nas relações sociais criadas pelo Capitalismo.  Ao longo dessa conversa, tratamos de diferentes aspectos da crise e da distribuição desigual dos seus efeitos sobre a população humana, visto que é no segmento mais pobres que a mesma se mostra mais aguda.

Abaixo posto o vídeo que está agora disponível no canal do “Café Filosófico” no Youtube.

Lançamento da revista eletrônica “Correlação de Forças” tem número especial sobre a COVID-19

A revista eletrônica “Correlação de Forças“, da qual tenho a honra de participar do seu Conselho Editorial acaba de lançar seu primeiro número com uma série de artigos apresentando diferentes perspectivas e aspectos relacionados à pandemia da COVID-19. É importante notar que a “Correlação de Forças”  se apresenta como um veículo de reflexão voltado para “promover o debate entre os diversos setores da esquerda brasileira e portuguesa.

correlação de forças

A edição de estréia está dividida em 3 seções: 1) Para uma reflexão crítica do novo coronavírus: implicações presentes e futuras, 2) Entre o capitalismo e o mundo a haver, e 3) Perspectivas globais.

Entre os autores dos artigos se encontram intelectuais, pesquisadores, parlamentares e lideranças políticas de partidos de esquerda de Portugal e do Brasil, representando um amplo arco de reflexões sobre o destino do Capitalismo e da classe trabalhadora a partir da eclosão da pandemia da COVID-19. 

Além das óbvias implicações para a ação política em um mundo que já estava passando por uma imensa crise sistêmica advinda dos limites alcançados pela produção capitalista, os artigos desta primeira edição marcam que é possível fazer uma aproximação entre diferentes formas de entender a crise, bem como de propor saídas para a mesma a partir de formas rigorosas de análise para que se possa entender a magnitude dos impactos que virão após a passagem da primeira onda da pandemia da COVID-19.

Finalmente, também me parece crucial que a “Correlação de Forças” se posiciona como um veículo que permita um diálogo entre brasileiros e portugueses, na medida que esse um vácuo histórico na necessária troca de experiências entre dois países que continuam cada vez mais ligados, a despeito da distância geográfica.