Demissão de professor no Rio de Janeiro abre discussão sobre perseguição política no governo Cláudio Castro

Últimos casos envolvem a exoneração do cartunista João Paulo Cabrera e a suspensão de três professoras

Demissão de professor no Rio de Janeiro abre discussão sobre perseguição política no governo Cláudio Castro

Sociólogo e chargista, Cabrera foi surpreendido com sua demissão da rede estadual – Reprodução/Instagram 

Por Clivia Mesquita para o “Brasil de Fato”

A partir da demissão do professor de sociologia João Paulo Cabrera da rede estadual do Rio de Janeiro, na última segunda-feira (11), entidades denunciam em manifesto “uma escalada da repressão do governo Cláudio Castro (PL) contra servidores que atuam na defesa dos seus direitos”. O Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (Sepe-RJ) considera que há “perseguição política” na aplicação das penalidades.

Voz ativa na luta dos professores, contra o novo Ensino Médio e a precarização da educação pública, Cabrera também é cartunista, apoia o movimento estudantil e faz parte da coordenação colegiada do Fórum Estadual de Educação do Rio de Janeiro. Ao repudiar a medida, a entidade afirma que o processo ocorreu de forma controversa e sem direito a ampla defesa. E ainda que “não tolerará perseguição, assédio, censura ou ataque à liberdade de ensino e opinião, práticas autoritárias que ofendem a educação democrática”.

Ao Brasil de Fato, Diogo de Andrade, coordenador geral do Sepe-RJ, afirma que a proximidade das eleições sob a gestão de Castro representa o endurecimento das ações de extrema direita contra os professores que trabalham pautas sociais em sala de aula. “Foi assim em 2022, em 2024 e está se repetindo agora no ano pré-eleitoral”, enfatiza.

“O projeto ‘Escola sem Partido’ nunca morreu. Apesar de o nome aparentar uma neutralidade, o objetivo é impor uma visão política de direita bolsonarista que nega fatos da história brasileira, como o golpe e a ditadura militar”, completa o dirigente sindical.

A Associação dos Estudantes Secundaristas do Rio de Janeiro (Aerj) convocou uma mobilização em defesa do professor para a próxima quinta-feira (14). “A falta de vergonha desta Secretaria [de Educação], ao demitir um professor como Cabrera justo no Dia do Estudante, é mais um símbolo do desprezo que o Governo do Rio de Janeiro tem pela nossa educação e pela nossa juventude”, afirma em nota.

Além da demissão de Cabrera, os últimos casos de penalidades envolvem a suspensão das professoras Stefanini Mendonça por 120 dias, e Andrea Cassa e Mônica Lemos, por 20 dias. Todos os profissionais têm em comum a militância e a participação em atividades de defesa da categoria, fato que para o Sepe-RJ reforça que há perseguição. 

Segundo o sindicato, as penalidades aplicadas sob a justificativa de “questões administrativas” são referentes ao tempo em que os quatro profissionais ocuparam cargos de gestão no Colégio Estadual André Maurois, situado no bairro do Lebon, zona sul do Rio.

Questionada pelo Brasil de Fato, a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc) informou que o professor João Paulo Cabrera “foi exonerado depois da conclusão do Processo Administrativo (PAD), iniciado em 2022, em razão de atos praticados na gestão dos recursos financeiros e equipamentos do Colégio Estadual André Maurois, onde ele atuou como diretor-geral”.

“Destacamos que o servidor em questão teve assegurado seu direito de ampla defesa e que a dosimetria (medição da penalidade) foi estabelecida pela Controladoria Geral do Estado, a fim de garantir decisões mais justas, coerentes e embasadas na legislação vigente e alinhada aos princípios de eficiência e legalidade que regem a administração pública brasileira”, diz a nota.

Manifesto denuncia perseguições

O Sepe-RJ sustenta que houve avanço de processos contra a atuação dos profissionais da educação nos últimos anos. Isso se traduz, segundo a entidade, no aumento das denúncias de Processos Administrativos (PAD) e sindicâncias abertas pela Secretaria de Educação.

“O amplo direito à defesa não é garantido diante de acusações criadas dentro de gabinetes e julgadas, no fim, por um corregedor que pertence aos quadros da Polícia Militar e carrega toda uma bagagem ideológica contra os direitos humanos. Cada dia a lista de profissionais de educação respondendo a inquéritos e processos administrativos cresce”, afirma Diogo Andrade, do Sepe-RJ.

Para atender os casos classificados como perseguição política, o sindicato criou um grupo de trabalho em parceria com o Observatório Nacional de Violência Contra os Educadores da Universidade Federal Fluminense (ONVE/UFF), sendo o professor Cabrera um dos principais envolvidos. O relatório produzido pelo grupo, divulgado em julho, aponta que foram abertas 1.320 sindicâncias contra profissionais de educação da rede estadual do Rio de Janeiro, entre janeiro de 2020 e maio de 2024.

“Os profissionais alegam que vários erros que comprometem o devido processo foram cometidos, tais como: o impedimento de que a defesa se manifestasse após a finalização do relatório e da apresentação de provas, além da falta de diligências e da negação do amplo direito à dos mesmos à defesa”, diz um trecho do manifesto assinado por instituições e mandatos parlamentares. Leia completo neste link.

A reportagem também procurou a assessoria de imprensa do Governo do Estado para um posicionamento sobre as acusações de perseguição política. O texto será atualizado caso haja um retorno.

Servidor público: a vítima que não passa de um bode na sala

O jornal O DIA, funcionando na prática como um porta-voz do (des) governo do Rio de Janeiro, publicou uma matéria ontem (10/07) dando conta que os servidores fluminenses poderão ser as primeiras vítimas do uso de uma regra da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) que permite demissões para equilibrar as contas públicas (Aqui!).

Como já abordei neste blog, esse anúncio vai de encontro ao que estabelece a própria LRF que indica que entes federativos que possuam regime de previdência próprio não podem incluir os gastos com pensões e aposentadorias como gastos de pessoal (Aqui!).

E é sempre bom lembrar que o (des) governo do Rio de Janeiro está tendo que arcar com os custos de pensões e aposentadorias por causa da malfadada operação de captação de recursos no paraíso fiscal de Delaware via o hoje encrencado “Rio Oil Finance Trust”que tornou o estado do Rio de Janeiro mais um prisioneiro dos fundos abutres  (Aqui!).

Deste forma, até os mais ingênuos membros do (des) governo do Rio de Janeiro sabem que qualquer tentativa de usar ilegalmente a LRF para demitir servidores concursados vai ser enfrentada com milhares de ações judiciais com grande chance de derrota para o estado.

Se é assim, por que então fazem essa propaganda toda em torno da demissão de servidores concursados? Minha impressão é que os servidores são o famoso “bode na sala”. Em outras palavras, não bastasse terem seus salários atrasados e parcelados, os servidores ainda servem como massa de manobra para todo tipo de coação junto ao governo federal, e de quebra para ocultar o objetivo real dos formuladores dessa tática de “bode na sala”.

É que em minha opinião,  o que está realmente em jogo é a privatização total do estado, e o aprofundamento dos ganhos auferidos pelas corporações privadas, seja pela apropriação de empresas públicas ou pela farra dos incentivos fiscais.

Resta saber como essa verdade oculta vai ser revelada aos que têm mais a perder com a continuidade das políticas vigentes no Palácio Guanabara há várias décadas, e que foram levadas ao limite do escândalo após a chegada de Sérgio Cabral ao poder.

É grave a crise no (des) governo Pezão: Sérgio Ruy pediu exoneração!

A imagem abaixo reproduz uma matéria publicada pelo Jornal  O DIA que deverá ganhar maior repercussão nos próximos dias, já que atinge o alto escalão e o centro nervoso da base de sustentação da administração do (des) governador Luiz Fernando, o Pezão, menos de dois meses de sua posse. È que ela dá conta que o atual secretário de Fazenda, que foi o secretário de planejamento e gestão durante oito anos sob a batuta Sérgio Cabral/Pezão, pediu exoneração do seu atual posto.

Sergio Ruy

A saída de Sérgio Ruy representa um forte abalo na estrutura de governo, pois ele comandou com mão de ferro a Secretaria de Planejamento e Gestão (SEPLAG) e a Secretaria de Fazenda (SEFAZ). E o pior é que ele será supostamente substituído por Júlio Bueno cuja liderança na Secretaria de Desenvolvimento Econômico não é exatamente algo memorável. Aliás, ao acumular a SEFAZ e SDE, é provável que Júlio Bueno acabe causando o caos nas duas secretarias.

Agora é preciso ver que rumo tomará Sérgio Ruy, pois o seu destino poderá ser revelador das reais causas dessa repentina exoneração. 

Mas uma coisa é certa: os servidores estaduais não sentiram muita falta de Sérgio Ruy que trabalhou bastante para tornar o Rio de Janeiro o ente federativo que paga os piores salários aos seus servidores.