COP48

José Luís Vianna da Cruz

O Clima era agradável, temperatura amena, a reprodução/projeção holográfica de uma perfeita manhã tropical, ainda que o evento ocorresse num país do norte pós-derretimento das geleiras. A abóboda climatizada que envolvia os participantes, decorada com elementos hiper-realistas das antigas florestas tropicais, cuidava para que o astral fosse o melhor possível e as centelhas de esperança iluminassem as faces sorridentes dos presentes; o isolamento da paisagem real contribuiria para que os debates ocorressem sem contaminações externas – em seus vários sentidos.

De repente, hordas de imigrantes que vagam por essas plagas invadem o ambiente – em seus vários sentidos – quebrando o vidro que os separa do evento, cujo tema central neste ano é imigração e ambiente, e numa síntese perfeita, tomam de assalto a mesa do banquete matinal e, antes que o ar puro sufoque seus pulmões de humanos em processo Darwiniano de adaptação ao novo ambiente pós-florestas e pós-degelo, consomem todo o estoque disponível e retiram-se para o conforto do ambiente – em todos os diversos sentidos – ao qual vêm se adaptando há 3 gerações.

Tristemente, o mesmo não se pode dizer do destino da grande maioria dos participantes, que, em desespero com a invasão do ar contaminado, não tem tempo de se recolher aos seus veículo-bolha voadores, climatizados, em direção aos seus refúgios de vida/trabalho/lazer climatizados. Atropelam-se, mortalmente, nos corredores climatizados que os conduzem aos seus veículos climatizados ou simplesmente têm seus pulmões dilacerados pelo irrespirável ar da gente comum que vive fora das bolhas.

Rapidamente, os organizadores do evento, protegidos em uma bolha apartada da arena de debates, emitem um comunicado tranquilizador, no qual se pode ler, em alguns dos trechos mais importantes: “…a organização do evento comunica que, conforme previsto, já foram providenciados os avatares substitutos dos que faleceram ou estão impossibilitados de continuarem; a bolha substituta será montada em poucas horas; as forças policiais já localizaram e eliminaram os desordeiros…” finalmente, garante que todos as 861,7 metas da COP30 serão rediscutidas, renovando sua certeza de que o mundo saberá assumir suas reponsabilidades em relação à qualidade da vida e do ambiente…em todos os seus diversos e sempre atualizados sentidos…


José Luis Vianna da Cruz, 06/06/2025, 11:57, sob efeito de uma das novas, diversas e variadas viroses do período de extinção das geleiras e das florestas. Registre-se e arquive-se…

Distopia campista em meio à pandemia da COVID-19 cobrará vidas nas próximas semanas

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Grandes aglomerações no primeiro dia de desconfinamento no centro histórico de Campos dos Goytacazes

As cenas que emergem das ruas centrais de Campos dos Goytacazes no primeiro dia de abertura do comércio de rua (em suma de todo o comércio) seriam plausíveis, dadas as circunstâncias de estarmos mergulhados em uma pandemia letal que sequer chegou ao seu pico, apenas se estivéssemos vivendo dentro de filmes distópicos, tais como Matrix, Blade Runner e “V” de Vingança (ver vídeo abaixo).

O problema é que o que vemos acima não são cenas de um filme distópico, mas fragmentos de uma realidade que foi estabelecida a partir de uma série de decisões tomadas em diferentes níveis de governo, e que finalmente se materializou de forma escancarada na cidade de Campos dos Goytacazes.

O resultado dessa aglomeração toda vai aparecer em um tempo limite de duas semanas, no que poderá se tornar uma avalanche de doentes que, pasmem, não terão sequer a possibilidade de pleitear um leito no prometido e nunca concretizado hospital de campanha que seria, mas não será mais, instalado no terreno da antiga Vasa em frente do Shopping 28 (aliás, quanto será que foi gasto com o aluguel do terreno até o dia de hoje?).

Logo no início da pandemia escrevi que Rafael Diniz tinha uma chance rara de recuperar seu mandato, dependendo da forma que gerisse a crise sanitária que se avizinhava. Com o que aconteceu hoje nas ruas de Campos dos Goytacazes, onde o necessário controle por parte do poder público municipal esteve completamente ausente, Rafael Diniz pode esquecer qualquer possibilidade de reeleição.

Agora, lamentavelmente, é só aguardar que o pior aconteça. É que com as aglomerações observadas nas ruas estreitas do centro de Campos dos Goytacazes nesta 4a. feira, as chances matemáticas de um aumento exponencial da contaminação simplesmente se tornaram bem maiores. Lamentável, mas inevitável.