Banidos na Europa, made in China e usados na soja: os agrotóxicos aprovados por Bolsonaro

Levantamento de pesquisadora mostra que quase metade dos agrotóxicos aprovados no governo são banidos na Europa

agro china

Por Júlia Rohden | Agência Pública/Repórter Brasil

A maior parte dos agrotóxicos liberados na gestão de Jair Bolsonaro são produzidos na China, quase metade tem ingredientes ativos proibidos na União Europeia e a maioria dos produtos são usados em plantações de soja, milho, cana-de-açúcar e algodão.

São essas as conclusões de dados sistematizados pela pesquisadora Sônia Hess e divulgados pela Agência Pública e Repórter Brasil. O levantamento traça o perfil dos 1801 produtos registrados entre janeiro de 2019 e junho de 2022, reunidos a partir de publicações do Diário Oficial.

“Estamos trazendo para o nosso país o que os outros países consideram lixo”, critica Hess que possui três pós-doutorados em Química (pela Universidade Estadual de Campinas, pela Universitá Cattolica del Sacro Cuore de Roma e pela Universidade Federal de Santa Catarina, onde foi professora até se aposentar recentemente). O levantamento realizado pela pesquisadora está sendo compilado para publicação em revistas acadêmicas e também irá compor um capítulo de livro.

Considerada uma das prioridades do Governo de Jair Bolsonaro, o Projeto de Lei 1459/2022, apelidado de PL do Veneno, está tramitando na Comissão de Agricultura do Senado e facilita ainda mais o registro de agrotóxicos no país. Uma das defesas de deputados governistas para aprovar o projeto na Câmara foi que a mudança na lei de agrotóxicos iria modernizar a agricultura.

Para Hess, a agilidade em novos registros não levaria à modernização dos produtos usados por agricultores, já que as recentes aprovações não são de ingredientes efetivamente novos. “Estão aprovando produtos velhos, banidos há muitos anos em outros países”, resume.

Produtos registrados recentemente são banidos na Europa há mais de uma década

Ametrina, usada para cultivos de abacaxi, algodão, banana, café, cana-de-açúcar e milho, está banida na União Europeia há vinte anos. Contudo, no Brasil, durante o governo Bolsonaro foram registrados ao menos 27 produtos comerciais contendo a substância que já foi associada por cientistas ao surgimento de câncer de próstata e de ovários.

O herbicida hexazinona também foi banido em 2002 nos países europeus. No Brasil, conforme aponta o levantamento de Hess, é o ingrediente ativo de 30 produtos aprovados no governo Bolsonaro e é usado em plantações de cana-de-açúcar.

glufosinato (sal de amônio) é o ingrediente ativo presente na maior quantidade de produtos registrados nos últimos anos. O herbicida é usado em diversas plantações como alface, dendê, maçã, soja, feijão e banana. Em 2009, foi proibido na União Europeia por estar associado à desregulação endócrina, alterações genéticas e danos ao fígado. Em 2019, o Brasil registrou 26 produtos com glufosinato (sal de amônio), em 2020 foram mais 21 aprovados e em 2021 foram 12, totalizando 59 produtos.

Outro produto banido da UE e presente nos novos registros brasileiros é a atrazina. O ingrediente ativo compõe 46 produtos registrados entre 2019 e 2021. Dados mais recentes do Ibama, apontam a atrazina como o quarto agrotóxico mais comercializado no país em 2020, com 27,2 mil toneladas vendidas. Banida da Europa desde 2004, no Brasil seu uso é permitido no cultivo de abacaxi, cana-de-açúcar, milho, milheto, pinus, seringueira, sisal, soja e sorgo.

Agrotóxicos aprovados vão para soja, milho, cana-de-açúcar e algodão

O Atlas Geografia do uso de agrotóxicos no Brasil e conexões com a União Europeia, publicado em 2017 pela pesquisadora da USP Larissa Bombardi, mostra que quatro plantações são o destino de 79% das vendas de agrotóxicos no país: 52% para a soja, 10% para o milho, 10% para a cana-de-açúcar e 7% para o algodão.

Os dados levantados por Sônia Hess também apontam concentração do uso de agrotóxicos nessas quatro culturas. ”Nós estamos enchendo o território brasileiro de veneno e 79% deste veneno vai para quatro culturas. Os produtos novos aprovados para uso no Brasil refletem isso”, avalia. Entre os principais impactos do uso de agrotóxicos nas lavouras, a pesquisadora menciona a contaminação da água, do solo e do ar. “Ninguém está a salvo. As pessoas pensam que é só no campo que a contaminação acontece, mas não é, a poluição se espalha”, argumenta Hess.

Dentre os 835 produtos químicos formulados aprovados entre janeiro de 2019 e junho de 2022, a maior parte (527 produtos) são para uso em plantações de soja, seguido pelo uso no algodão (386 produtos), no milho (382 produtos) e na cana-de-açúcar (302 produtos). O mesmo produto pode ser aplicado em diferentes culturas, como o AUG 106, uma marca comercial à base do inseticida imidacloprido, indicado para culturas de algodão, milho e soja que teve o registro aprovado em junho deste ano.

Aprovações beneficiam empresas com sede na China

As informações reunidas por Hess mostram que a maioria dos pesticidas químicos aprovados no Brasil possuem fábricas na China. “Do total de agrotóxicos aprovados, 89% são químicos e, destes, 80% vem da China. A China manda o veneno para nós e compra a soja que foi produzida com esse veneno”, sintetiza a pesquisadora, que lembra que o país é o principal importador do grão brasileiro. A balança comercial do agronegócio, divulgado pelo Governo, aponta que em junho deste ano a China adquiriu 64,5% da quantidade total exportada de soja, foram 6,49 milhões de toneladas.

Já em relação aos agentes biológicos de controle de pragas, o Brasil lidera a fabricação, produzindo 94,8% em território nacional. Do total de 191 produtos aprovados com essas características, o país fabricou 181 deles. “O impacto é muito menor [se comparado aos produtos químicos], porque inclusive são direcionados para cada praga”, explica Sônia Hess.


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Este texto foi originalmente publicado pelo site “Por trás do alimento” [Aqui!].

Inverno mais uma vez se prova um aliado inabalável da Rússia em mais um conflito militar

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A recente decisão da Gazprom, estatal que é maior empresa de gás da Rússia e também do mundo, de suspender indefinidamente os seus suprimentos para a Europa gerou um efeito dominó em termos de forte alta de preços e depreciação do Euro e da libra esterlina. Esse movimento, baseado na mais básica noção de uso de uma commodity com finalidades estratégicas, promete transformar o próximo inverno europeu em um pesadelo para os povos do continente, mas também para os governantes que optaram por transformar o conflito entre Rússia e Ucrânia em um proxy de uma futura 3a. guerra mundial.

Gazprom corta gás natural para Europa em 31 de agosto | Plásticos em Revista

As elites europeias, pressionadas pelo governo de Joe Biden, deveriam ter feito um mínimo de lição de casa, pois tanto Napoleão Bonaparte como Adolf Hitler viram suas aspirações imperiais atolarem no território gelado da Rússia. E tudo indica que dessa vez os russos vão passar um inverno em meio às baixas temperaturas nas ruas, mas com temperaturas mais elevadas dentro de casa, ao contrário dos europeus que estão neste momento quebrando a cabeça para ver como vão se virar sem o gás russo.

Mas antes que se culpe o governo de Vladimir Putin por agir dentro de uma lógica fria e calculista, há que se lembrar que a ideia de impor uma articulação entre os mercados consumidores europeus e a Rússia foi dos governos neoliberais que comandam com mão de ferro o Conselho Europeu.  A questão é que quando impuseram atrasos pensados na adoção de energias alternativas ao gás russo, as elites europeias provavelmente desprezaram a ideia de que essa dependência poderia se voltar contra seus interesses na forma de uma arma de guerra.

Por outro lado, está ficando claro, e as manifestações populares já estão começando em diferentes países europeus, que não se pode declarar guerra contra um país que detém tamanho controle de uma commodity estratégica em um continente que, apesar e por causa das mudanças climáticas, pode ter invernos bem rigorosos.

Thousands Protest in Prague Over Energy Crisis - Bloomberg

Manifestação realizada em Praga no sábado (03/09), capital da República Tcheca, demanda neutralidade no conflito bélico na Ucrânia em troca de garantia de fornecimento de gás. Foto: Petr David Josek/AP

Como o gás fornecido pelos EUA é muito mais caro que o russo, a batata quente está cada vez mais nas mãos dos governantes que decidirar, na prática, declarar guerra à Rússia, ainda que usando a Ucrânia como anteparo.

Finalmente, não deixa de ser curioso que em pleno Século XXI, uma estação do ano possa estar se provando uma arma de guerra tão eficiente e devastadora, antes mesmo de ter sido acionada. Por isso mesmo, a lentidão que muitos analistas veem na ação das forças militares russas seja apenas um cálculo bem feito de que o principal reforço está pronto para entrar em ação  de forma brutal em pouco mais de 3 meses e vai estar claramente presente no campo de batalha até março de 2023. E isso certamente irá testar a disposição dos europeus em permanecer em guerra com a Rússia. 

Seca histórica na Europa coloca em xeque modelo agrícola perdulário da Revolução Verde

Loire Basin Extremely Low Level - France

Como pesquisador que atua em uma região com forte sazonalidade no aporte de chuvas, venho há muitos anos falando que um dos aspectos mais perigosos do modelo agrícola gerado pela Revolução Verde é o uso perdulário de recursos hídricos que vem levando a um crescente esgotamento das fontes facilmente acessíveis. 

Aliás, como professor de uma disciplina introdutória de Geografia Geral sempre gosto de lembrar de mencionar o fato de que apenas 2,5% da água existente na Terra é utilizável para consumo humano e práticas agrícolas, fato esse que é agravado pelo fato de que desse montante, apenas 0,3% está facilmente acessível.

Mas impulsionados pelos conceitos da Revolução Verde, as grandes corporações que controlam a produção de alimentos no mundo têm usado esses parcos recursos hídricos como isso tudo não fosse chegar a um limite, esquecendo-se ainda que as modificações causadas pelo sistema econômico no clima global tornaria mais frequentes as oscilações entre “chuvas em excesso” com “nenhuma chuva”.

Entretanto, agora países como Inglaterra, França e Alemanha vivem uma seca histórica que coloca diretamente em xeque a lógica do desperdício hídrica para tocar um modelo agrícola que, ao final e ao cabo de, gera excedentes tão estupendos que em torno de 30% de todos os alimentos colhidos são simplesmente jogados no lixo todos os anos.

O ressurgimento das pedras da fome são um sinal sinistro do que está acontecendo

Em países como Alemanha e República Tcheca está ocorrendo o reaparecimento das chamadas “pedras da fome” que são uma espécie de testemunho histórico de outras secas históricas que resultaram em crises colossais na capacidade de se produzir alimentos, pois trazem inscrições que refletem os impactos da falta de água para consumo humano em dados períodos históricos.

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Inscrição em uma “pedra da fome” diz  que”se você me ver, chore”

O problema é que em nenhum tempo anterior o tamanho da população humana gerava tanta demanda seja pelo consumo de alimentos como pelo uso de recursos hídricos. Em outras palavras, algo que já está sendo visto como um péssimo sinal pode ser a sinalização de que tempos muitos difíceis estão começando para os europeus. É que além de haver pouca água, o continente europeu sofre outra consequência do modelo agrícola da Revolução Verde que é a contaminação de seus recursos hídricos por resíduos de fertilizantes e agrotóxicos.

Mas se engana que o ressecamento das fontes de água causado pela Revolução Verde é apenas um problema dos europeus. É que já existem evidências que o desmatamento explosivo na Amazônia (outro componente diretamente relacionado ao modelo perdulário em termos de usos de recursos naturais pela Revolução Verde) já está causando uma perda no montante de chuvas no Brasil, o que deverá também se refletir em diminuição da água disponível para os brasileiros.

A verdade é que o que está ocorrendo em diferentes partes da Terra em termos de diminuição dos recursos hídricos e de forte poluição das reservas remanescentes gera a necessidade de que o modelo perdulário da Revolução Verde seja substituído por um modelo que leve em consideração a necessidade de levar em conta os limites ecológicos dos sistemas naturais. Sem isso, as próximas décadas serão dramáticas, pois veremos sucessivas crises na disponibilidade de água que, por sua vez, causaram graves crises de oferta de alimentos.

 

Morte Silenciosa – o problema da Europa com os agrotóxicos e a crise de biodiversidade que eles causam

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“Estamos em uma crise de biodiversidade. Espécies estão se extinguindo mais rápido do que há 65 milhões de anos, desde que o meteoro eliminou os dinossauros. E está acelerando”, alerta Dave Goulson, professor de biologia da Universidade de Sussex, na Inglaterra. Os insetos são sua principal especialidade. Eles não apenas representam dois terços de todas as espécies conhecidas, mas são os que possibilitam outros organismos vivos, inclusive pela polinização. 

A agricultura em escala industrial e as monoculturas estão alimentando o mundo, mas com enormes custos para o meio ambiente. Uma mistura tóxica de agrotóxicos e fertilizantes continua a ser pulverizada em vastas áreas, enquanto faixas de terra natural são arrasadas para plantações, causando uma erosão generalizada dos ecossistemas e da biodiversidade. A química e o agronegócio não são os únicos culpados. A mudança climática é outro fator importante, de acordo com os cientistas. Juntos, eles formam um desastre iminente.

A ciência analisada pelo IE durante nossa pesquisa de meses é clara ao mostrar como os agrotóxicos prejudicam a vida selvagem, as plantas e os seres humanos – eles podem causar câncer, mutações e dificuldades reprodutivas. Mas a Europa ainda não despertou para seu problema profundamente enraizado com os agrotóxicos . Hoje, mais de 400 diferentes substâncias agrotóxicas ativas são aprovadas na União Europeia (UE). As vendas globais de pesticidas duplicaram nos últimos 20 anos, para cerca de € 52 bilhões em 2019. O mercado europeu de agrotóxicos agrícolas é um dos maiores do mundo, com vendas de cerca de € 12 bilhões em 2019.

A UE é também o líder mundial nas exportações de agrotóxicos. Desde 2018, apenas a China exportou mais agrotóxicos do que a Alemanha. Em seguida, vêm a França, os EUA, a Bélgica, a Espanha e o Reino Unido como os maiores distribuidores de venenos agrícolas

Enquanto muitos permanecem em silêncio sobre a crise da biodiversidade em meio a esse comércio em expansão, os cidadãos comuns perceberam que as coisas devem mudar. Mais de um milhão de europeus assinaram o “Salve as abelhas e os agricultores!” iniciativa, que pedia a eliminação de agrotóxicos químicos até 2035. Muitas comunidades locais na Europa, várias visitadas pelo IE, estão tentando transformar a forma como a agricultura é feita em suas regiões. E agricultores entrevistados por repórteres do IE, da Grécia à Noruega e de Portugal à Polônia, dizem que gostariam de reduzir o uso de pesticidas – se alternativas fossem acessíveis.

A Comissão da UE está finalmente abordando a degradação da biodiversidade à sua porta. Há dois anos, a política Farm to Fork, a principal estratégia da UE para tornar a agricultura europeia verde e sustentável, estabeleceu uma meta para reduzir o uso de pesticidas em 50% até 2030. O Regulamento do uso sustentável de agrotóxicos (SUR), atualmente em discussão em Bruxelas, é fundamental para este objetivo e será a primeira lei vinculativa da UE a resolver o problema. Resta saber se o regulamento será bem-sucedido no terreno.

A estratégia, no entanto, é contra uma contra-aliança de empresas químicas e grupos de lobby do agronegócio, pesquisa Investigate Europe e divulgações de ONGs e outros programas de mídia. Juntamente com políticos conservadores e outros interesses estabelecidos, eles estão pressionando para defender o status quo. A guerra na Ucrânia deu aos oponentes à regulamentação outro argumento: não reduzir o uso de pesticidas e arriscar menores rendimentos agrícolas em um momento em que a segurança alimentar global está em jogo.

Outros insistem que a hora de agir sobre agrotóxicos e biodiversidade é agora. O entomologista Josef Settele prevê que, ao continuar com o atual sistema agrícola, estamos “colocando em risco a segurança alimentar de toda a raça humana”.

Quem desejar ler a série completa de reportagens da Investigate Europe, basta clicar [Aqui!].


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Este texto escrito originalmente em inglês foi publicado pela Investigate Europe [Aqui!].

Quantidade de frutas com vestígios de agrotóxicos altamente venenosos aumentou 53% em nove anos na Europa, mostra estudo

A análise de quase 100.000 amostras encontrou resíduos em um terço das maçãs e metade das amoras

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Perto de um terço de todas as frutas amostradas no estudo foram contaminadas por substâncias perigosas em 2019, o último ano para o qual havia dados disponíveis. Fotografia: Edward Berthelot/Getty Images

Por Arthur Neslen para o “The Guardian”

A contaminação de frutas frescas pelos agrotóxicos mais perigosos aumentou dramaticamente na Europa na última década, de acordo com um estudo de nove anos de dados oficiais.

Um terço das maçãs e metade de todas as amoras pesquisadas continham resíduos das categorias mais tóxicas de agrotóxicos, alguns dos quais foram associados a doenças como câncer, doenças cardíacas e deformidades de nascimento.

Os resíduos em kiwis aumentaram de 4% em 2011 para 32% em 2019, com a contaminação de cerejas também mais que dobrando de 22% para 50% no mesmo período.

Ao todo, a análise de quase 100.000 amostras de frutas cultivadas na Europa encontrou um aumento de 53% na contaminação pelos agrotóxicos mais perigosos, ao longo de nove anos. O estudo foi realizado pela Pesticide Action Network (PAN) Europe.

A pesquisa não incluiu produtos britânicos, mas o Reino Unido importa mais de 3,2 milhões de toneladas de frutas e vegetais frescos da UE a cada ano, atendendo cerca de 40% da demanda interna, de acordo com o CBI .

A professora Nicole Van Dam, do Centro Alemão de Pesquisa Integrativa em Biodiversidade (iDiv), descreveu o relatório como “chocante”.

“Qual é o sentido de comer saudável se as frutas e vegetais saudáveis ​​​​são pulverizados com toxinas?” ela perguntou.

A porta-voz da PAN Europa, Salomé Roynel, disse: “Os consumidores estão agora em uma posição terrível, instruídos a comer frutas frescas, muitas das quais estão contaminadas com os resíduos de agrotóxicos mais tóxicos ligados a sérios impactos à saúde. Está claro para nós que os governos não têm intenção de banir esses agrotóxicos, independentemente do que a lei diga. Eles têm muito medo do lobby agrícola, que depende de produtos químicos poderosos e um modelo agrícola quebrado.”

Roynel disse que os produtos químicos usados ​​nos agrotóxicos mais tóxicos não têm limites seguros e pediu aos consumidores que comprem frutas orgânicas neste verão “especialmente se estiverem grávidas ou alimentando crianças pequenas”.

A pesquisa descobriu que 87% das peras na Bélgica e 85% das de Portugal foram contaminadas por pelo menos um pesticida tóxico.

Perto de um terço de todas as frutas amostradas estavam contaminadas por substâncias perigosas em 2019, o último ano para o qual os dados estavam disponíveis para os pesquisadores.

As frutas mais contaminadas amostradas foram amoras (51%), pêssegos (45%), morangos (38%), cerejas (35%) e damascos (35%). Já para vegetais, aipo (50%), aipo (45%) e couve (31%) foram os produtos mais contaminados.

Anika Gatt Seretny, porta-voz da associação comercial CropLife Europe, disse: “A presença de vestígios de substâncias não significa que o alimento não seja seguro. A Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (Efsa) realizou uma extensa pesquisa sobre este tópico, demonstrando que o risco do consumidor de exposição cumulativa na dieta está abaixo do limite e, portanto, não é um fator de risco”.

Stefan Van De Keersmaecker, porta-voz da Comissão Europeia, acrescentou que: “A Efsa [a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos] publica todos os anos um relatório sobre resíduos de agrotóxicos em produtos alimentares, que é geralmente reconhecido como o relatório mais abrangente sobre esta questão. Por muitos anos, o relatório mostrou que 98% das amostras coletadas estão em conformidade com a legislação da UE.”

A comissão afirma que o uso de agrotóxicos perigosos caiu 12% em 2019 em comparação com o período de 2015-17 e está propondo um corte adicional de 50% até 2030.

Em contraste, o novo estudo descobriu que os números de contaminação aumentaram “dramaticamente” para frutas como maçãs (117%) e cerejas (152%) desde 2011, ano em que os governos da UE deveriam começar a proibir os agrotóxicos relevantes. No geral, eles descobriram que a proporção de frutas e vegetais contaminados em 2019 aumentou 8,8% na linha de base de 2015-17.

Guy Pe’er, ecologista da iDiv, disse que as quantidades de agrotóxicos usados ​​eram menos importantes do que seus impactos, porque “hoje em dia você pode matar muito mais com muito menos material”.

Ele disse que o novo estudo é extremamente preocupante porque “provavelmente expõe apenas a ponta de um iceberg de agroquímicos” como resultado de seu foco em produtos químicos já provados ser perigosos.

“Nossas preocupações com o uso excessivo de produtos químicos devem ir muito além de apenas se preocupar com as frutas e vegetais específicos que são monitorados – estamos falando de um sistema que literalmente se mata”, disse ele.

Uma reforma da lei de agrotóxicos da UE, que pode conter novas metas de redução, está prevista para 22 de junho , depois de ter sido adiada em março em meio a temores de segurança alimentar relacionados à crise na Ucrânia.

Ambientalistas alertaram sobre o que dizem ser “ataques sistemáticos” à próxima proposta de lobistas do agronegócio.

Em março, a Comissão Europeia anunciou uma suspensão “excepcional” das regras de agricultura verde para permitir que as culturas sejam semeadas em 4 milhões de hectares (10 milhões de acres) de áreas de foco ecológico.

Olivier de Schutter, co-presidente do IPES-Food e relator especial da ONU sobre pobreza extrema e direitos humanos, disse que os tomadores de decisão europeus devem se manter firmes nas regras verdes.

“Infelizmente agora com a crise alimentar que se desenvolveu, temos uma pressão muito forte, particularmente dos sindicatos de agricultores que dizem que precisamos aumentar a produção para compensar a interrupção no fornecimento de trigo, óleo vegetal e milho da Ucrânia e da Rússia”, disse ele.

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“Esse discurso é muito perigoso… mas é um discurso muito tentador para os governos seguirem.”

O sindicato dos agricultores Copa-Cogeca e a fabricante alemã de agrotóxicos Bayer foram contatados para comentar.


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Este texto foi originalmente escrito em inglês e publicado pelo jornal “The Guardian” [Aqui!].

WWF: Produção de soja causa destruição ambiental em massa

sojaFoto: Charles Echer / Presenza CC0
Por Moritz Ettlinger para o Unsere Zeitung

Em um  novo relatório  , a organização ambientalista WWF chama a atenção para as consequências devastadoras da produção de soja para o meio ambiente, pede uma mudança em nossa dieta e regulamentações legais em nível da UE para proteger as florestas, especialmente na América do Sul.

Seja carne, peixe ou queijo: há mais soja em muitos produtos de origem animal do que você pensa – pelo menos indiretamente. Porque cerca de 55 Kg de soja per capita acabam no prato europeu todos os anos através da alimentação de vacas, porcos ou galinhas. Isso é relatado pela organização de proteção ambiental WWF em seu novo relatório, no qual chama a atenção para a destruição ambiental causada pela produção e cultivo de soja, especialmente na América do Sul.

De acordo com isso, a produção de soja na América do Sul quase dobrou nas últimas décadas – com consequências devastadoras, afinal, o cultivo da soja em sua forma atual, muitas vezes monocultural, libera grandes quantidades de gases de efeito estufa e causa considerável destruição do meio ambiente e dos ecossistemas.

A Europa não é isenta de culpa, pelo contrário, como afirma Hannah-Heidi-Schindler, especialista do WWF em nutrição sustentável: “Com o nosso consumo na Europa, estamos a contribuir para a destruição de florestas, pastagens e zonas húmidas noutros continentes” . exige “cadeias de suprimentos livres de desmatamento” para proteger florestas e ecossistemas.

Demanda por uma mudança na dieta e alterações legais

Uma mudança na dieta seria, portanto, um passo na direção certa, explica Schindler: “Uma redução no consumo de carne austríaca em um quinto liberaria tanta terra que toda a necessidade restante de ração animal de soja neste país poderia ser produzida”. Segundo a ONG, as importações de soja podem ser economizadas em 500 mil toneladas.

O atual projeto de lei da Comissão da UE, que visa combater o desmatamento para produtos que são comercializados na UE ou importados para a União, não é suficiente para o WWF.

Entre outras coisas, porque muitos ecossistemas estariam isentos disso, a ONG está, portanto, pedindo melhorias e apelando à Ministra da Agricultura Elisabeth Köstinger para fazer campanha por uma “lei efetiva de proteção florestal”. Porque: “Produtos para os quais as florestas são destruídas não têm lugar nas prateleiras dos nossos supermercados”, diz Hannah-Heidi Schindler em palavras claras.

De acordo com estimativas  de Johann Vollmann da Universidade de Recursos Naturais e Ciências da Vida (BOKU) , 90 a 95% de toda a soja em todo o mundo é processada em ração animal,  o Greenpeace  fala de 87 % das importações sendo usadas para alimentação animal na UE.

 Em 2016, a participação da soja na engorda de suínos e aves foi de 20% a 30%, como explicou  ao orf.at Werner Zollitsch, do BOKU Institute for Livestock Research . Esse procedimento nem é particularmente eficiente, pois para um 1 Kg carne seriam necessários 10 Kg de soja, diz Vollmann. O consumo direto de soja poderia alimentar dez vezes mais pessoas.

 O procedimento nem é particularmente eficiente, pois para um quilo de carne seriam necessários dez quilos de soja, diz Vollmann. O consumo direto de soja poderia alimentar dez vezes mais pessoas.

O artigo original pode ser visitado aqui

A publicação faz parte da nossa parceria de mídia com a Pressenza


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Este texto foi escrito originalmente em alemão e publicado pelo “Global Magazine” [Aqui!].

Espalhamento exponencial da Ômicron causa reação de governos em toda a Europa

Contra avanço rápido de ômicron, Holanda fecha escolas e Inglaterra instaura passaporte sanitário

ômicron europaCiclista usa máscara durante passeio em Amsterdã © MARTIN BERTRAND / HANS LUCAS / AFP

A transmissão da variante ômicron da COVID-19 avança em um ritmo “nunca antes visto”, alertou nesta terça-feira (14) a OMS (Organização Mundial de Saúde). Diante da rápida transmissão, países europeus aumentam as medidas de restrição sanitária às vésperas das festas de fim de ano.

Descoberta no final de novembro, a variante já foi detectada em 77 países. “A realidade é a ômicron está provavelmente na maioria dos países, ainda que não tenha sido detectada. Ela está se espalhando a uma velocidade que não vimos com nenhuma outra variante”, afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom.

O diretor da OMS lembrou que apesar de a nova variante estar na origem de doenças menos graves, “o número de casos pode sobrecarregar novamente os sistemas de saúde despreparados”.

Diante do rápido aumento de casos na Europa, diversos países europeus decidiram aumentar as restrições de circulação durante o final do ano.

Na Holanda, o primeiro-ministro Mark Rutte anunciou o fechamento das escolas de ensino fundamental na próxima semana. As aulas terão fim uma semana antes do previsto. A decisão foi tomada devido às altas taxas de infecção entre os pequenos, que podem levar o vírus para casa.

Além disso, cada holandês só poderá receber até quatro convidados em casa para o período de festas.

“Obviamente não é a mensagem feliz que esperávamos na véspera do Natal. Mas não é uma surpresa”, afirmou Rutte, durante o anúncio feito em Haia.

O governo também decidiu estender até 14 de janeiro a limitação de horário para comércios não essenciais. Lojas, bares e restaurantes devem fechar suas portas a partir das 17h e não podem começar a funcionar antes das 5h.

Reino Unido exigirá passe sanitário a partir de quarta

No Reino Unido, que já perdeu quase 150 mil vidas desde o início da pandemia de COVID-19, são registrados diariamente 200 mil novos casos.

Apesar de sofrer rejeição de alguns membros do partido conservador, o governo de Boris Johnson conseguiu aprovar nesta terça a adoção do passaporte sanitário para casas noturnas e grandes salas no Reino Unido e obrigação vacinal para trabalhadores do sistema de saúde.

O premiê britânico havia alertado domingo que o país passava por um momento de aumento rápido de casos. No entanto, parte dos deputados de seu partido (Tory) votaram contra as novas medidas de restrição sanitária. A aprovação das medidas sanitárias só foi possível graças ao apoio do partido trabalhista, opositor.

Itália vai exigir teste negativo de europeus

O ministério italiano de Saúde anunciou hoje que será exigido um teste negativo para coronavírus de todos os viajantes que chegarem de um país europeu. A medida já era adotada para viajantes de países de fora da União Europeia.

O governo da Itália prorrogou ainda até março de 2022 o período de emergência sanitária, quando o governo tem mais poderes para adotar restrições sanitárias.

(Com informações da AFP e da Reuters)

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Este texto foi inicialmente publicado pela Rádio França Internacional [Aqui!].

 

Agrotóxicos na Europa: maioria de estudos de herbicidas dados aos reguladores da UE não são cientificamente ‘confiáveis’

herbicidesGarrafas de Roundup são vistas em uma loja de jardinagem em Lille, França. Fotografia: Philippe Huguen / AFP / Getty Images

Por Carey Gillam para o “The Guardian”

Apenas dois de um grupo de 11 estudos da indústria dados aos reguladores europeus em apoio à reaprovação do ingrediente principal do herbicida Roundup são cientificamente “confiáveis”, de acordo com uma nova análise de estudos apoiados por corporações sobre o glifosato químico.

O glifosato é o herbicida mais amplamente usado no mundo e não é apenas o ingrediente principal do herbicida Roundup, mas também em centenas de outros produtos. É amplamente utilizado por agricultores no cultivo de culturas alimentares comuns.

Em um relatório divulgado na sexta-feira, pesquisadores do Instituto de Pesquisa do Câncer da Universidade Médica de Viena, na Áustria, disseram que a revisão de um conjunto de estudos de segurança submetidos aos reguladores da União Europeia (UE) pela Bayer AG e uma coalizão de outras empresas químicas mostrou que a grande maioria não atendem aos padrões internacionais atuais de validade científica.

Enquanto dois dos estudos corporativos foram considerados confiáveis, seis foram considerados parcialmente confiáveis ​​e três não eram confiáveis, de acordo com o relatório.

Os estudos “confiáveis” foram de 2016 e 2020 e ambos foram patrocinados pela Monsanto , o detentor da patente original do glifosato e fabricante do Roundup. Aqueles considerados não confiáveis ​​foram feitos há mais de uma década: dois foram patrocinados pela antiga DuPont Co e um pela empresa de biotecnologia vegetal Verdia Inc.

Os estudos corporativos analisados ​​no relatório dizem respeito às propriedades genotóxicas do glifosato. As empresas afirmam que o glifosato não é genotóxico, o que significa que não causa danos ao DNA, um fator bem conhecido no desenvolvimento do câncer.

Mas Siegfried Knasmueller, o principal autor do relatório, disse ao The Guardian que não apenas a maioria dos estudos carece de qualidade, mas que a pesquisa da indústria não inclui novos e “provavelmente melhores testes para a detecção de carcinógenos genotóxicos”. Ele disse que há evidências em pesquisas publicadas de que o glifosato pode causar danos ao DNA em células hepáticas de origem humana.

Afirmou que embora vários estudos do setor estivessem “corretos do ponto de vista metodológico no momento em que foram realizados”, “não estão de acordo com a estratégia atual”.

Em julho, Knasmueller escreveu um relatório semelhante analisando 53 estudos com glifosato submetidos aos reguladores.

O novo relatório alegando falhas nos estudos corporativos do glifosato chega em um momento crítico, pois a Agência Europeia de Produtos Químicos (ECHA) e a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) estão avaliando se renovam ou não a licença do glifosato na UE quando a aprovação atual expirar 15 de dezembro de 2022.

Em agosto, autoridades da França, Hungria, Holanda e Suécia avaliaram a questão da renovação com um relatório preliminar concluindo que o glifosato não é cancerígeno.

A ECHA e a EFSA permitiram que outras “partes interessadas” consultassem sobre a questão da renovação até 22 de novembro. A análise de Knasmueller, solicitada pelo grupo de defesa sem fins lucrativos SumOfUs, foi apresentada como parte dessa consulta.

Um porta-voz da ECHA recusou-se a comentar o relatório Knasmueller. A agência disse que iria “desenvolver sua opinião” sobre a classificação do glifosato até junho. Um porta-voz da EFSA disse que o relatório Knasmueller seria considerado juntamente com todos os outros comentários enviados como parte da consulta.

A Bayer, o registrante principal para o pedido de renovação europeu, também não fez comentários sobre o relatório.

Dois cientistas independentes questionados sobre o relatório de Knasmuller disseram que não é surpreendente que estudos feitos anos atrás possam não atender às diretrizes atuais, mas isso seria verdade tanto para estudos independentes quanto para estudos corporativos. Eles também disseram que tais estudos não deveriam ser necessariamente ignorados.

Nos últimos anos, tem havido um acalorado debate global sobre se os herbicidas de glifosato, como o Roundup, devem ou não ser restritos ou proibidos, porque algumas pesquisas científicas mostram que a exposição ao herbicida causa problemas de saúde.

Em 2015, a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer da Organização Mundial da Saúde apontou vários estudos de pesquisa independentes ao concluir que havia fortes evidências de genotoxicidade com o herbicida e que o glifosato deveria ser considerado um provável carcinógeno humano .

A Bayer, que comprou o fabricante do Roundup Monsanto em 2018, nega que haja qualquer evidência válida de que os herbicidas causem câncer. Mas a empresa concordou em pagar cerca de US $ 14 bilhões para resolver litígios nos EUA movidos por mais de 100.000 usuários do Roundup, alegando que a exposição ao herbicida os levou a desenvolver linfoma não-Hodgkin. A Bayer também concordou em interromper a venda de glifosato aos consumidores norte-americanos até 2023.

O relatório de Knasmueller e seu colega Armen Nersesyan ressalta as crescentes preocupações sobre uma história de dependência regulatória das corporações para fornecer estudos de segurança sobre os produtos químicos que estão fabricando e vendendo. Um novo sistema deve ser desenvolvido para eliminar o preconceito corporativo que poderia influenciar os resultados, dizem muitos cientistas.

“O governo não deve depender de estudos do setor”, disse Peter Infante, ex-epidemiologista sênior e diretor do escritório de identificação e classificação de carcinógenos da Administração de Segurança e Saúde Ocupacional dos Estados Unidos. “Se a indústria quiser fazer estudos, ela deve colocar o dinheiro em um pool e distribuí-lo a cientistas independentes que não tenham conflito de interesses. É assim que deve ser. ”

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Este texto foi escrito originalmente em inglês e publicado pelo jornal “The Guardian” [Aqui!].

Relatório da Rainforest Foundation da Noruega revela papel da indústria automobilística na destruição da Amazônia

Um novo relatório da Rainforest Foundation Norway revela como é altamente provável que os cinco maiores fabricantes de automóveis europeus contribuam para o desmatamento em grande escala da floresta amazônica

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Transparência e sistemas de rastreabilidade eficazes são quase inexistentes nas cadeias de abastecimento do couro. As fotos são de um curtume de propriedade da Durlicouros em Xinguara, no estado do Pará, onde está localizada grande parte da pecuária brasileira. Foto: RFN / Victor Moriyama

Pela primeira vez, o risco de desmatamento da indústria automobilística europeia foi mapeado. 

O relatório constatou que o Grupo Volkswagen, BMW Group, Daimler, PSA Groupe * e Groupe Renault correm um alto risco de contribuir para o desmatamento da floresta amazônica, comprando couro de grandes clientes de empresas brasileiras ligadas ao desmatamento em grande escala. 

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“As marcas de automóveis europeias que usam couro brasileiro são responsáveis ​​por estimular o desmatamento da floresta amazônica”, diz Anne Leifsdatter Grønlund, consultora de desmatamento zero da Rainforest Foundation Norway. 

Embora o couro brasileiro venha com um alto risco de desmatamento, nenhum dos grandes fabricantes de automóveis tem políticas ou medidas adequadas para evitar que o couro desmatado entre na cadeia de abastecimento. 

“Transparência e rastreabilidade são quase inexistentes nas cadeias de suprimentos do couro, e é muito provável que as empresas que compram couro dos principais fornecedores brasileiros de couro comprem couro de vacas que pastam em terras desmatadas. Atualmente, ninguém pode provar que o couro que compram é livre de desmatamento ”, diz Grønlund. 

Grandes quantidades de couro para a indústria automobilística

O desmatamento no Brasil aumentou nos últimos dois anos e atingiu o máximo de 12 anos em 2020, com mais de 1 milhão de hectares de floresta destruída. A pecuária é a atividade que mais desmata na Amazônia brasileira. O Brasil possui o maior rebanho bovino do mundo, e 80% do couro é exportado, quase metade do qual é usado na indústria automobilística. 

O relatório analisa os dados de desmatamento de 2019 e 2020 nas zonas de compra de frigoríficos e curtumes no Brasil ligados aos fluxos comerciais específicos entre o Brasil e fabricantes de componentes de couro para automóveis na Europa.  

O relatório apurou mais de 1,1 milhão de hectares de desmatamento recente (2019 e 2020) nas zonas de compra dos frigoríficos que abastecem os curtumes da JBS Couros, maior processadora de couro do Brasil.  

Os curtumes Vancouros foram expostos a 0,80 milhões ha de desmatamento, Durlicouros a 0,56 milhões ha, Fuga Couros a 0,47 milhões ha, Minerva Couros a 0,48 milhões ha, Viposa a 0,12 milhões ha e para a Mastrotto Brasil não foi possível calcular o risco de desmatamento exposição. (Observe que as zonas de compra dos matadouros vinculados aos curtumes se sobrepõem parcialmente e, portanto, os números não são possíveis de resumir.)  

Todos os cinco maiores fabricantes de automóveis estão expostos a um mínimo de 1,1 milhão de hectares de desmatamento recente por meio da JBS Couros. 

É altamente provável que todas as cinco grandes montadoras de automóveis da Europa utilizem couro proveniente de um ou de todos os três maiores frigoríficos do Brasil, JBS, Marfrig e Minerva, que, segundo o relatório, estão expostos a desmatamentos em larga escala por meio de seus e fornecedores indiretos de gado. 

O relatório também documenta evidências de lavagem de gado , em que o gado é criado em terras ilegais desmatadas e movido e vendido de fazendas com pastagem legal para contornar a legislação ambiental. 

As empresas são responsáveis ​​por sua cadeia de suprimentos

Além do desmatamento, o relatório constatou a grilagem ilegal de terras e violações dos direitos humanos em cadeias de abastecimento amostradas. Os camponeses da vizinhança de grandes fazendas de gado afirmam ter sido alvejados e suas casas totalmente queimadas. 

“Alegar ignorância não é desculpa. Os fabricantes de automóveis são responsáveis ​​pelos produtos que vendem em um mercado de um milhão de euros. Todas as empresas que usam couro brasileiro devem implementar sistemas de rastreabilidade do produto acabado e de volta à fazenda de nascimento do gado, Grønlund diz e acrescenta: 

“Fornecedores com desmatamento direto ou indireto ou violações de direitos humanos em suas cadeias de abastecimento devem ser excluídos,”

A Rainforest Foundation Norway também insta os legisladores europeus a banir os produtos do desmatamento do mercado europeu. 

“A UE prometeu tomar medidas para salvar as últimas florestas tropicais remanescentes. Nosso relatório documenta a necessidade de uma nova legislação para impedir a entrada de produtos do desmatamento no mercado europeu. Não há tempo a perder ”, diz Anne Leifsdatter Grønlund, consultora de desmatamento zero da Rainforest Foundation Norway.

Background

O Brasil possui o maior rebanho bovino do mundo, com 214,7 milhões de animais . Quase metade do rebanho bovino brasileiro é criado na Amazônia Legal, região que também concentra a maior capacidade de abate do país.

Nos últimos anos, está bem documentado que os grandes frigoríficos do Brasil, como a JBS , fornecedora de couro para a indústria automobilística europeia, estão ligados ao desmatamento.

O Brasil é o maior exportador de couro bovino do mundo; até 80% da produção de couro bovino é exportada. Entre 2018 e 2020, o Brasil exportou um total de 1,26 milhão de toneladas de couro.

A maior parte do couro brasileiro é exportada para China e Itália, os principais centros da indústria de processamento de couro em todo o mundo, antes de ser exportada como couro acabado ou produtos refinados.

A floresta tropical é o ecossistema com a maior biodiversidade da Terra e está repleta de vida. No entanto, um estudo recente mostra que apenas um terço da floresta tropical original permanece intacta.

Quando a floresta tropical é destruída, não apenas sua valiosa diversidade cultural e biológica é perdida. Também estamos perdendo uma de nossas ferramentas mais eficazes na luta contra as mudanças climáticas catastróficas. Uma floresta intacta é uma tecnologia própria da natureza para capturar e armazenar dióxido de carbono e evitar que seja lançado na atmosfera.

* O Grupo PSA recentemente se fundiu com o Grupo FCA. A nova empresa chama-se Stellantis. É o Grupo PSA que é estudado neste relatório.

O relatório foi encomendado à Aidenvironment pela Rainforest Foundation Norway (RFN)

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Este texto foi escrito originalmente em inglês e publicado pela Rainforest Foundation Norway [Aqui!].

As secas na Europa são mais extremas do que nunca

Falhas na colheita, florestas e rios secos: a Europa experimentou várias ondas de calor violentas nos últimos anos. Um estudo agora mostra como as secas foram ruins em comparação histórica.

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Campo na Saxônia (em abril de 2020)Foto: Florian Gaertner / Photothek / Getty Images

Desde 2015, a Europa passou por uma série de verões de seca, alguns dos quais com graves consequências para a natureza. A agricultura sofreu e as florestas também, em alguns lugares até a água tornou-se escassa. Um novo estudo agora sugere que é uma seca de proporções históricas que vivemos nos últimos anos. As secas foram muito mais severas do que nos 2100 anos anteriores, escrevem pesquisadores na revista Nature Geoscience . E esse período extraordinário de seca se deve às mudanças climáticas causadas pelo homem.

Tendência seca. Índice de seca na Europa Central (junho a agosto) de 75 aC Para 2018 DCgrafico seca

* Valores acima de 0 = úmido, valores abaixo de 0 = seco. Fonte: Nature

Para a investigação, os cientistas não olharam apenas os dados meteorológicos nos arquivos. Eles usaram um método específico para analisar os anéis das árvores e, assim, criaram um enorme conjunto de dados que retrata as condições hidroclimáticas na Europa Central desde a época romana até o presente.

A Europa experimentou ondas de calor extremas no verão e secas por volta de 2003, 2015 e 2018. As consequências também fizeram com que o número de mortes por calor disparasse, escreveram os cientistas. Na verdade, um estudo, cujos resultados foram publicados na revista »The Lancet« , descobriu que só na Alemanha em 2018 cerca de 20.200 mortes entre pessoas com mais de 65 anos estavam relacionadas ao calor.

Para esta classificação, Büntgen e seus colegas fizeram mais de 27.000 medições em anéis de árvores de 147 carvalhos, que cobriram um período de 2100 anos (75 aC a 2018). As amostras vieram, entre outras coisas, de vestígios arqueológicos e materiais de construção históricos, mas também de árvores vivas da atual República Tcheca e de partes do sudeste da Baviera.

Arquivo exato do hidroclima

Os pesquisadores então extraíram e analisaram os isótopos estáveis ​​de carbono e oxigênio de cada um dos anéis das árvores. Embora as medições normais dos anéis das árvores sejam limitadas à largura dos anéis e à densidade da madeira, os isótopos estáveis ​​examinados aqui refletem as condições físicas e as reações das árvores a eles. »Os valores de carbono dependem da atividade fotossintética, os valores de oxigênio são influenciados pela água da nascente.

Os dois valores juntos estão intimamente relacionados com as condições da estação de cultivo «, explica o co-autor Paolo Cherubini. Desta forma, os isótopos estáveis ​​dos anéis anuais resultariam em um arquivo muito mais preciso para reconstruir as condições hidroclimas em áreas temperadas, onde os estudos convencionais com anéis anuais muitas vezes falham, acrescenta Jan Esper da Universidade de Mainz.

Na reconstrução, os dados do isótopo do anel de árvore mostraram que, por um lado, havia verões muito úmidos na Europa, por volta de 200, 720 e 1100 DC. Mas também havia verões muito secos, como em 40, 590, 950 e 1510 DC. , o continente tornou-se gradualmente mais seco nos últimos dois milênios.

No entanto, as amostras de 2015 a 2018 revelaram que as condições de seca do verão passado foram muito mais severas do que nos 2100 anos anteriores. “Após séculos de declínio lento e significativo, vimos uma queda drástica, que é particularmente alarmante para a agricultura e a silvicultura”, comenta o co-autor Mirek Trnka. “A morte sem precedentes de florestas em grandes partes da Europa Central confirma nossos resultados.”

Os pesquisadores atribuem o aumento observado em verões excepcionalmente secos ao aquecimento global causado pelo homem e às mudanças associadas na posição da corrente de jato polar. Esta é uma das duas principais faixas de vento que equilibram o gradiente de temperatura entre os pólos e o equador e exercem uma grande influência em nosso clima.

Condições extremas estão se tornando mais comuns

Na verdade, outro estudo internacional mostrou que as ondas da corrente de jato polar (leia mais sobre a corrente de jato aqui ) estagnaram durante o quente verão de 2018 . “As mudanças climáticas não significam que em todos os lugares ficará mais seco: em alguns lugares pode ser mais úmido ou mais frio, mas as condições extremas estão se tornando mais frequentes, o que pode ser devastador para a agricultura, os ecossistemas e a sociedade como um todo”, prevê Ulf Büntgen.

A última apresentação dos dados climáticos do Serviço Meteorológico Alemão (DWD) se encaixa nisto: embora os dados no estudo atual durem apenas até 2018, o DWD anunciou há poucos dias que 2020 foi o segundo mais quente desde o início dos registros meteorológicos Na Alemanha. Os picos de verão acima de 40 graus Celsius, como em 2019, não se materializaram, mas principalmente no período de abril a setembro, que é particularmente importante para o crescimento das plantas, a seca dominou o clima.

joe / dpa

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Este artigo foi escrito originalmente em alemão e publicado pela revista Die Spiegel [Aqui!].