A manobra das inserções de rádio como nova bomba semiótica falhada da campanha de Jair Bolsonaro

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A mais nova tentativa da campanha de Jair Bolsonaro de tumultuar a reta final do segundo turno das eleições presidenciais foi levantar dúvidas sobre a quantidade de inserções de rádio da parte que lhe competia da propaganda eleitoral. Passadas pouco menos de 48 horas da fantástica denúncia (no sentido de que não passa de uma fantasia) do ministro das Comunicações do governo Bolsonaro, Fábio Farias, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre Moraes, tascou um arquivamento sumário no pedido e ainda levantou a possibilidade de que a manobra possa ser configurado como crime eleitoral.

O que Alexandre Moraes fez foi desarmar mais uma bomba semiótica lançada pela campanha de Jair Bolsonaro para lançar dúvidas sobre a lisura de um pleito no qual a possibilidade de derrota está crescendo no horizonte.  É a famosa jogada de pôquer em que a pessoa com a mão fraca aumenta o tamanho da aposta na esperança de que os oponentes peçam mesa.

O problema é que a estas alturas do campeonato, a campanha do ex-presidente Lula não está precisando nem se mexer, tamanha é a enrascada em que Jair Bolsonaro foi colocado primeiro por sua própria boca (o caso das meninas venezuelanas), depois pelas revelações em torno dos planos de Paulo Guedes de desindexar salário-mínimo, aposentadorias e pensões da inflação passada, e depois o desastre causado pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson que deu mais de 50 tiros e lançou três granadas em uma equipe da Polícia Federal que estava indo prendê-lo.

O problema aqui é verificar até onde Jair Bolsonaro irá querer aumentar o tamanho da sua aposta, já que as suas expectativas de vencer as eleições de forma limpa estão se esvaindo, inclusive em São Paulo que era visto como um estado que poderia ajudá-lo a virar a maré dos votos. De toda forma, desconfio que até domingo o que se verá é uma encenação em que o cachorro fará cara de Pitbull, mas poderá dar uma Yorkshire se a coisa apertar.  De toda forma, todo cuidado será pouco, pois nunca se sabe o que um presidente, mesmo sendo ele Jair Bolsonaro, desesperado poderá tentar fazer.

 

Governo Bolsonaro alimenta a “grande mentira verde” sobre a Amazônia, mas não tem como parar a ciência

bbc great green lieDesmatamento é apenas um dos vetores na destruição dos ecossistemas amazônicos

No 13 de fevereiro, a rede BBC publicou uma interessante matéria assinada pela jornalista Camilla Costa e que foi intitulada “A grande mentira verde’: como a destruição da Amazônia vai além do desmatamento“. Nesta matéria, muito bem escrita por sinal, Camilla Costa apresentou dados importantes para desmistificar a alegação fantasiosa de que a Amazônia brasileira ainda possui algo em torno de 80% de suas florestas intactas. Nessa matéria foram ouvidos pesquisadores com larga experiência nos processos de alteração da paisagem amazônica, os quais explicaram que o desmatamento é apenas um dos vetores. Aliás, se alguém tiver interesse em entender, por exemplo, a extensão das alterações causadas por atividades de extração de madeira, sugiro a leitura do artigo científico em que sou um dos co-autores, publicado em 2010 pela Remote Sensing.

Mas ainda que outros governos tenham se valido da “grande mentira verde”, o governo Bolsonaro está se esmerando no uso da fantasia de que 80% das florestas amazônicas ainda estão intactas para ver se é possível tampar, digamos, a fumaça com a peneira. Assim, apenas nas últimas 24 horas tivemos declarações estapafúrdias do vice-presidente Hamilton Mourão e do ministro das Comunicações, Fábio Faria (PSD/RN) centradas na repetição ad infinitum da grande mentira verde.

A primeira menção tem que ser feita ao vice-presidente Hamilton Mourão que tenta responder à crescentes pressões para a adoção de medidas de contenção do avanço desenfreado do desmatamento na Amazônia. Em matéria publicada pelo site UOL, é informado que Hamilton Mourão participou ontem de uma reunião com representantes de fundos estrangeiros, quando teria comparado as cobranças feitas para proteção dos ecossistemas amazônicos a uma conversa de bêbados, pois os dados do desmatamento de 2020 só ficarão disponíveis em 2021, e até lá cada um vai dizer o que quiser.  E usando um subterfúgio decorrente da “grande mentira verde”,  Hamilton Mourão teria apelado para a alegação de que a Amazônia é grande demais para ser corretamente entendida por estrangeiros.

Já o ministro das Comunicações, Fábio Faria, em entrevista à rede CNN Brasil, também usou a metáfora do tamanho da Amazônia para diminuir os impactos do desmatamento, e se serviu do argumento da “grande mentira verde” para sugerir que a ênfase na dimensão dos desmatamentos serve apenas para encobrir que se pode voar a Amazônia por 3 horas e enxergar grandes extensões de Mata Atlântica (se não acreditar, veja o vídeo abaixo).

Apesar de haver uma distância entre as falas, já que o ministro da Comunicação mostra completa ignorância sobre o tipo de vegetação que cobre a Amazônia, a verde é que tanto Fábio Faria quanto Hamilton Mourão estão insistindo no uso de uma versão fantasiosa sobre o grau de perturbação ambiental que já causa alterações ambientais significativas na Amazônia brasileira, as quais terão impactos não apenas sobre os padrões climáticos regionais, mas também globais.

Como já mencionei recentemente, existem estudos em processos de avaliação para publicação em revistas científicas altamente valorizadas pela comunidade científica que irão acabar de uma vez por todas com a “grande mentira verde”. E ao contrário do que esperam Hamilton Mourão e Fábio Faria ao veicular seu negacionismo amazônico, governos estrangeiros e grandes fundos de investimento irão se pautar suas relações comerciais e financeiras com o Brasil com base no que estes estudos vão mostrar. Em outras palavras,  o prazo de validade da “grande mentira verde” para permitir o avanço da destruição dos ecossistemas amazônicos está com os dias contados.