Rede de influenciadores de extrema direita usa o YouTube para tachar MST de terrorista

Levantamento exclusivo do projeto Mentira Tem Preço revela como influenciadores bolsonaristas e o presidente usaram plataformas digitais para atrelar terrorismo e violência ao Movimento dos Sem Terra (MST) se o Partido dos Trabalhadores voltasse à presidência.

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Por Eduardo Geraque/InfoAmazonia

Em seu primeiro discurso depois do resultado das eleições, o presidente Jair Bolsonaro (PL), que saiu derrotado com 49% dos votos, disse, a respeito dos manifestantes golpistas que bloquearam rodovias em todo o país: “os nossos métodos não podem ser os da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedade, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir.”

Durante toda a campanha eleitoral, a invasão de propriedade serviu de ferramenta para políticos e influenciadores bolsonaristas fazerem do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) um de seus principais alvos. O próprio Bolsonaro, em uma coletiva de 18 de julho, rotulou o movimento como “um grupo terrorista que há até pouco tempo era bastante ativo no Brasil”.

 

Pastor Sandro Rocha repercute fala de liderança do MST em vídeo. “Você acha que o MST deve voltar a agir no país? Invadindo fazendas?”, disse. Crédito: Reprodução do YouTube

Os influenciadores da extrema-direita usaram o YouTube como plataforma para reverberar esse discurso. O colunista Paulo Polzonoff, dcanal da Gazeta do Povo, com mais de 800 mil inscritos, chamou o MST de “patrimônio petista” em vídeo de 23 de setembro, que teve 267 mil visualizações.

 O tom subiu especialmente depois da declaração de João Pedro Stédile, dirigente do movimento, de que “a vitória do Lula, que se avizinha, vai ter como uma consequência natural, psicossocial nas massas, um reânimo para nós retomarmos as grandes mobilizações de massas”. O pastor Sandro Rocha, com mais de 264 mil inscritos no canal, disse, sem apresentar provas: “Você acha que o MST deve voltar a agir no país? Invadindo fazendas? Tomando terras de agricultores, matando gado, roubando tratores, que é o que o MST sempre faz?”. O vídeo teve mais de 102 mil visualizações.

Para justificar a suposta violência do movimento, os influenciadores usam exemplos como a invasão da fazenda da família do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (o que realmente aconteceu) e a destruição de um laboratório de vacinas (o que não ocorreu, e sim a de um laboratório de pesquisa de mudas de eucalipto geneticamente modificadas). Em entrevista ao El País em 2018, Stédile afirmou que tanto a invasão de laboratórios privados quanto a da fazenda do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, no passado, podem ser considerados erros cometidos pelo movimento.

A reportagem do projeto Mentira Tem Preço questionou o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) sobre a quantidade de imóveis rurais invadidos pelo MST. Esse número não existe. O que é possível afirmar é que o número de invasões de terra vem caindo no Brasil. Segundo o Incra, a quantidade de imóveis rurais invadidos por ano foi decrescendo continuamente: de 305 por ano nos governos Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) para 246 nos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), 162 sob Dilma Rousseff (2011-2016) e 27 na gestão Michel Temer (2016-2018) e 40 na gestão Bolsonaro.

Até Bolsonaro entrou direto na conversa. Em seu canal no YouTube, ele publicou um vídeo em 14 de outubro atacando diretamente o MST (e recuperando frases de Lula sobre o movimento) e outro ressaltando, entre outras coisas, o “recorde em titulações de terra” e o “recorde na produção do agronegócio”.

mst manifestaManifestação do MST no último Dia do Meio Ambiente, em 5 de junho de 2022, em Rondônia. Crédito: Divulgação MST

Essa desinformação já foi desmentida pelo Mentira Tem Preço em reportagem que mostra que muitos desses títulos eram temporários e que a reforma agrária, principal reivindicação do MST, não avançou no Brasil durante o governo Bolsonaro.

 Mesmo assim, a fala foi repetida por canais bolsonaristas no YouTube, como Foco do Brasil (onde o vídeo teve 100 mil visualizações); Folha Política (11 mil visualizações); Francisco Mello, que tem 164 mil seguidores e também postou na plataforma, mas depois tirou o vídeo do ar; e por Kim Paim, com mais de 208 mil views — ele é um dos influenciadores citados na representação que o PT (Partido dos Trabalhadores) fez ao Tribunal Superior Eleitoral por supostamente espalhar desinformação nas eleições de 2022

“O MST mudou, e mudou para melhor. Não tem mais muito espaço para invasões de terras e grandes assentamentos”, explica Antônio Márcio Buainain, professor do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e especialista em conflitos agrários do Núcleo de Economia Aplicada, Agrícola e do Meio Ambiente (NEA+) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento (INCT/PPED).

Ele acompanha há décadas a disputa por terras no país e diz que sempre foi muito crítico em relação ao MST, mas que hoje tem uma visão diferente da de anos atrás, quando considerava o movimento “antidemocrático, desrespeitador das leis vigentes, com práticas que não se justificavam em plena vigência do estado democrático de direito”.

Colheita de trigo em assentamento do MST em Pirituba, São Paulo. Crédito: Manuela Hernandez/MST

“Eles entenderam que, para fortalecer a luta pela reforma agrária, é preciso mostrar que os assentamentos são viáveis, produzem e contribuem para o desenvolvimento do país e para a segurança alimentar”, diz.

Os líderes do MST dizem que não invadem, e sim ocupam terras a partir do conceito de seu uso social. Uma área que não é usada para a finalidade para qual foi criada (como uma fazenda que encerrou suas atividades de plantio ou que possui irregularidades em relação ao trabalho) descumpre essa função da propriedade, e por isso é considerada pelo movimento um local ocioso.

“Não cumprir a função social significa dizer que a terra tem degradação do meio ambiente, tem trabalho escravo e/ou não produz. Essa terra, tendo um destes três elementos, ela deve, como a nossa lei manda, ser desapropriada para fins da reforma agrária”, afirma Alexandre Conceição, da coordenação nacional do MST, referindo-se à Constituição.

A reforma agrária, porém, ficou mais distante desde a crise financeira de 2008. “Bancos e fundos de investimento passaram a comprar terras como lastro financeiro, ampliando a especulação imobiliária e aumentando o custo das terras no campo. A alternativa foi propor um outro modelo de agricultura, baseado na agroecologia”, afirma Pablo Nabarrete Bastos, professor do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense e autor do livro “Marcha Dialética do MST”, finalista do Prêmio Jabuti 2022.

“Entre os congressos nacionais de 2007 e 2014, o MST passa por importantes mudanças estratégicas, que culminam na sua proposta de reforma agrária popular. Fazer a reforma agrária distributiva, tradicional e até liberal, nunca aconteceu no Brasil, e ficou caro realizar por razões fundamentalmente econômicas e políticas”, diz.

Segundo Bastos, essa reforma agrária popular envolve produzir alimentos saudáveis e a baixo custo para o trabalhador do campo e da cidade, a partir de matriz agroecológica, sem veneno, se contrapondo à lógica do agronegócio.

 

Loja Armazém do Campo na Lapa, bairro da região central do Rio de Janeiro, com produtos de assentamentos do MST. Crédito: Divulgação MST

“É popular porque interessa principalmente ao trabalhador. De certa maneira, se busca sensibilizar e conscientizar a cidade e o trabalhador urbano de que o modelo funciona. Por isso o foco na mobilização interna, na organização da produção por meio de cooperativas e em projetos como o Armazém do Campo, que vende produtos diversos oriundos da reforma agrária, de assentamentos do MST, em pontos estratégicos de grandes cidades”, explica o pesquisador.

 De certa forma, essa proximidade entre o campo e a cidade cria uma nova linha de ação para o MST, amenizado as necessidades de invasões e de grandes movimentações rurais. Pelas estimativas do MST, existem 160 cooperativas alinhadas ao movimento produzindo alimentos, o que corresponde a menos de 30% da produção feita por assentamentos e acampamentos de forma cooperativa.

Segundo estimativas do próprio MST, em 2021 as cooperativas de todo o Brasil venderam R$ 400 milhões em produtos para alimentação escolar. O exemplo do Armazém do Campo ilustra a expansão da produção entre os assentados. A primeira loja física foi aberta em 2016. Hoje, já são 20 lojas e 40 pontos de comercialização em todo o Brasil, e a expectativa é a de que, até 2025, sejam 140 pontos de venda de produtos pelo território nacional.

Essa reportagem faz parte do projeto Mentira Tem Preço — especial de eleições, realizado por InfoAmazonia em parceria com a produtora FalaA iniciativa é parte do Consórcio de Organizações da Sociedade Civil, Agências de Checagem e de Jornalismo Independente para o Combate à Desinformação Socioambiental. Também integram a iniciativa o Observatório do Clima (Fakebook), O Eco, A Pública, Repórter Brasil e Aos Fatos.

 
COMO FAZEMOS O MONITORAMENTO:
O projeto Mentira Tem Preço, realizado desde 2021 pelo InfoAmazonia e pela produtora FALA, monitora e investiga desinformação socioambiental. Nas eleições de 2022, checamos diariamente os discursos no horário eleitoral de todos os candidatos a governador na Amazônia Legal. Também monitoramos, a partir de palavras-chave relacionadas a justiça social e meio ambiente, desinformação sobre a Amazônia nas redes sociais, em grupos públicos de aplicativos de mensagem e em plataformas.

Cantor e “Pastor celebridade” faz auto retratação fake para atacar Lula e o TSE nas redes sociais

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O cantor gospel e “Pastor Celebridade André Valadão, da Igreja Batista da Lagoinha (MG), fez circular um vídeo de uma suposta  auto retratação que seria resultado de uma determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O único problema é que o TSE não determinou isso

Na tarde de ontem o cantor gospel e “Pastor Celebridade André Valadão, da Igreja Batista da Lagoinha (MG), fez circular um vídeo de uma suposta  auto retratação que seria resultado de uma determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em um tom que misturava ironia e sarcasmo, Valadão passou a enumerar todas as “fake news” envolvendo o ex-presidente Lula que ele está propalando, e que o TSE finalmente decidira interromper a circulação.

O vídeo chegou a ser circulado por outro membro da mesma igreja, o deputado federal André Janones (Avante/MG), como demonstração de que Valadão estaria reconhecendo o seu erro e que, por isso, haveria de se praticar o perdão em relação ao erro dele que é basicamente circular fake news eleitorais em benefício da candidatura de Jair Bolsonaro.

O que era estranho virou farsa quando a assessoria de comunicação do TSE negou que a corte tivesse emitido qualquer decisão obrigado Valadão a se retratar em relação às suas fake news sobre Lula.

Uma primeira consequência de se juntar os fatos acerca do vídeo de Valadão é que o “pastor celebridade” produziu outra fake news ao se utilizar de uma mentira (uma ordem judicial inexistente) para continuar propaganda suas mentiras contra o ex-presidente Lula.

A segunda consequência terá agora de partir do próprio TSE, segundo alvo do ataque de Valadão. É que está evidente que não é apenas este “pastor celebridade” que embarcou em uma campanha sem limites contra a candidatura de Lula, usando todos os métodos sujos disponíveis, mesmo sob pena de comprometer a própria capacidade de falar e ser ouvido com a devida seriedade pelos próprios membros  de sua congregação.

Essa situação toda envolvendo as lideranças evangélicas que foram fartamente beneficiadas pelo governo Bolsonaro consequências muito graves para a convivência política dentro do Brasil após as eleições de 31 de outubro, vide os ataques que estão sendo realizados dentro de templos católicos. 

Mas parece que para Valadão e outros “pastores celebridades” o que importa agora é vencer as eleições e garantir a continuidade das benesses concedidas. E pensar que antes o que os protestantes esperavam eram bençãos. 

Reitoria emite nota para desmentir “fake news” Bolsonarista sobre proibição de acesso ao campus da Uenf

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Em função da circulação de um vídeo “fake news” que circula nas redes sociais em Campos dos Goytacazes sobre a proibição seletiva de um apoiador do presidente Jair Bolsonaro ao interior do campus Leonel Brizola, a reitoria da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) emitiu um nota para informar a verdade dos fatos(ver imagem abaixo).

nota reitoria

Aliás, posso informar que conversei com os servidores terceirizados da segurança patrimonial da Uenf que informaram ao indivíduo que produziu um vídeo mentiroso sobre a razão da sua não entrada no campus universitário, qual seja, a proibição legal. Fiquei sabendo que o indivíduo, que se apresentou como sendo jornalista, afirmou que uma nova lei teria feito caducar a Lei 9.504, motivo pelo qual ele insistia em entrar no interior da Uenf com um veículo portando propaganda eleitoral.

Em outras palavras, a pessoa que produziu esse vídeo o fez de completa má fé, na medida em que foi devidamente informado da razão pela qual não poderia adentrar o espaço interno da Uenf, e mesmo assim optou por produzir um vídeo repleto de mentiras.

Mas, convenhamos, dá para esperar algo de diferente de um eleitor bolsonarista?

Patrões da mídia corporativa são antes de tudo ávidos rentistas que amam Jair Bolsonaro e sua política de fome

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Neste domingo dois grandes veículos de mídia (O Globo e Folha de São Paulo) fizeram editoriais cobrando clareza nos planos econômicos do ex-presidente Lula. O primeiro fincando a demanda nos planos de reindustrialização e o segundo veio com uma manchete tirada do estrategista de Bill Clinton,  James Carville Jr., que cunhou o engenhoso mote “É a economia, estúpido”, que a Folha sacanamente substituiu por Lula.

E as perguntas a serem feitas por Jair Bolsonaro? Para esse nem editorial, nem uma matéria que questiona suas políticas econômicas centradas na desindustrialização que Lula promete reverter.  Mas um analista minimamente informado dos investimentos feitos pelas famílias Marinho e Frias vai logo saber porque seus veículos de mídia não perguntam para Bolsonaro. É que eles estão muito felizes com as altas taxas de juros que propiciam uma renda muito maior do que sua atividade formal que é o da comunicação.

Aliás, se estendermos a teia analítica para outros veículos, a Band TV por exemplo, encontraremos representantes do agronegócio que vem se refastelando com as políticas de desmanche ambiental do governo Bolsonaro.

Assim sendo, muito se fala das redes invisíveis de “fake news” do Bolsonarismo, que são reais e que distribuem uma ampla gama de mentiras, mas se olharmos mais perto, veremos que os grandes veículos de mídia também distorcem a realidade a partir de suas notícias para continuarem propriciando a seus donos as rendas milionárias que o rentismo impulsionado por Jair Bolsonaro lhes oferece.

Artigo publicado na Biological Conservation desmonta teses de Evaristo de Miranda, o guru (anti) ambiental de Jair Bolsonaro

Pesquisadores  desmontam “falsas controvérsias” que dão sustentação para as políticas anti-ambientais do governo Bolsonaro

evaristo bolsonaro

Um artigo assinado por doze cientistas brasileiros, que  foi publicado na revista especializada Biological Conservation, desmonta “falsas controvérsias” produzidas por um grupo de pesquisadores liderado pelo engenheiro agrônomo Evaristo de Miranda, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Apontado como “guru ambiental” de Bolsonaro, Miranda liderou a equipe de transição do Ministério do Meio Ambiente entre os governos Temer e Bolsonaro, que maquinou o desmonte da pasta entregue a Ricardo Salles.

“Por três décadas, Miranda e seu grupo se opuseram sistematicamente ao consenso científico para contribuir com os movimentos políticos que visam adiar a ação ou desmantelar as principais políticas de conservação”, aponta o estudo.

Os autores destrincharam as táticas de desinformação usadas pelo “pequeno grupo de negacionistas”, que resultaram em “impactos graves para as políticas de conservação, principalmente relacionadas ao desmatamento e às mudanças climáticas”.

São elas: 1) produção deliberada de dúvidas sobre a ciência consensual com o objetivo de atrasar, impedir ou distorcer a implementação de políticas; 2) produção de versões alternativas de fatos e dados científicos em detrimento de evidência esmagadora em direção contrária; 3) uso da autoridade científica adquirida por meio da formação ou trabalho em instituições reconhecidas para promover falsas controvérsias; e 4) desconsideração da literatura científica: quando formuladores de falsas controvérsias ignoram os consensos científicos e passam a endereçar seus argumentos para políticos e o público com o objetivo de passar a impressão de que ainda há controvérsias científicas genuínas sobre o tema.

Miranda foi o responsável pela “contabilidade criativa” de várias “teses” usadas pelo governo para divulgar informações falsas sobre a questão ambiental. Entre elas, a de que o Brasil seria o país que mais preserva o meio ambiente no mundo, repetida pelo menos 29 vezes por Bolsonaro desde o início de seu mandato, segundo a agência Aos Fatos. Outra mentira é a de que o agronegócio nacional estaria impedido de crescer em razão do suposto excesso de áreas protegidas criadas no país desde o fim da ditadura militar.

A influência do engenheiro agrônomo no governo federal vem desde a gestão de José Sarney. Mas o estudo aponta que o auge de menções ao nome de Miranda nos sites do Congresso Nacional ocorreu em 2009, durante o governo Lula.

A denúncia contra Miranda e seus métodos, coordenada por Raoni Rajão (UFMG), é assinada por pesquisadores que estão entre os mais influentes do país na área ambiental, como os irmãos Carlos e Antonio Nobre (Inpe), Mercedes Bustamante (UnB), Gerd Sparovek (USP) e Britaldo Soares-Filho, também da UFMG.

Eles detalham impactos em pelo menos cinco temas:


Código Florestal

Falsa controvérsia: aplicação plena do Código Florestal de 1965 inviabilizaria produção na maior parte do país.

  • Apenas 29% da área do país estaria disponível para uso agrícola em um cenário flexível;
  • Agropecuária na Amazônia e Pantanal seria considerada ilegal em um cenário rígido.

Resultado:

  • Aprovação do novo Código Florestal, em 2012, anistiou 58% do desmatamento ilegal pré-2008 e promoveu a volta do crescimento do desmatamento.

Fatos científicos:

  • A área total de restrição do CF não impactaria significativamente a produção (Skorupa, 2003; Aquino and Oliveira, 2006; Soares-Filho et al., 2014; Sparovek et al., 2011; ABC, 2010).
  • Desmatamento na Amazônia altera regimes de chuvas e impacta negativamente a produção agropecuária (Spera et al. 2020; Leite-Filho et al. 2021).

Multas Ambientais

Falsa controvérsia: multas ambientais são arbitrariamente aplicadas

  • Autuações seriam feitas remotamente, sem verificação em campo ou checagem de autorização junto ao produtor.

Resultado:

  • Redução drástica do número de autuações por crimes ambientais ligados ao desmatamento durante o governo Bolsonaro (Vale et al. 2021).

Fatos científicos:

  • Multas e embargos contribuíram para redução drástica do desmatamento entre 2005 e 2007 (Nepstad et al. 2014);
  • A tecnologia de monitoramento remoto é usada, mas ações em campo têm papel central e são altamente eficazes para redução do desmatamento (Börner et al., 2014, 2015; Sousa 2016; Assunção and Rocha, 2019; Saraiva et al. 2020).

Terras Indígenas e Unidades de Conservação

Falsa controvérsia: demandas por demarcações e conservação excederiam o tamanho do território nacional

  • O problema da falta de terra para agropecuária seria fruto das demandas ambientais, indígenas, quilombolas e de reforma agrária.

Resultados:

  • Redução das demarcações e da criação de UCs a partir de 2010 e paralisação desde 2018;
  • Propostas de mega infraestruturas e de liberação de mineração em áreas protegidas;
  • Crescimento do desmatamento e de ataques violentos às terras indígenas e suas populações.

Fatos científicos:

  • TIs estão entre as principais barreiras contra o desmatamento da Amazônia (Nepstad et al., 2006);
  • A garantia do direito coletivo de propriedade aos povos indígenas diminui índices de desmatamento em seus territórios (Baragwanath e Bayi, 2020);
  • Demarcação de TI reduz tanto emissões de carbono quanto desmatamento (Blackman e Veit, 2018).
  • TIs suficientemente grandes são essenciais ao seu uso sustentável (Begotti e Peres, 2020);
  • Densidade populacional de indígenas dentro das TIs demonstra uso efetivo do território (Begotti e Peres, 2020).

Queima da Cana em São Paulo

Falsa controvérsia: queima da cana seria benéfica ao meio ambiente e não haveria indícios de danos à saúde causados pela fumaça.

Resultado:

  • Ação do MPSP para parar a queima da cana foi negada em juízo no início dos anos 1990;
  • Apenas em 2016 o Estado de São Paulo proibiu a queima da cana.

Fatos científicos:

  • Fumaça da queima da cana aumenta hospitalização de crianças e idosos;
  • Queima reduz a fertilidade do solo e causa erosão (Kirchhoff et al., 1991; Boeniger et al., 1991; Newman, 1986; Rothschild and Mulvey, 1982; Alessi and Navarro, 1997; Delgado, 1985; Urquiaga et al., 1991).

Incêndios

Falsa controvérsia: A maioria dos focos registrados em julho de 2021 na América do Sul foi de queimadas em sistemas de produção pouco tecnificados.

  • Não foram incêndios criminosos, mas queimadas usadas como tecnologia agrícola.
  • A fiscalização e a sanção não são a solução.

Resultados:

  • Desmantelamento das políticas de controle do desmatamento e do fogo;
  • “Guerra narrativa”: ciências ambientais retratadas como entrave ao desenvolvimento.

Fatos científicos:

  • Em julho de 2021, apenas 39% dos focos de incêndio estavam em áreas de uso agrícola consolidadas; 48% foram registrados em áreas desmatadas após 2017 (INPE, 2021).

Os cientistas terminam o artigo com recomendações sobre como criar antídotos para o negacionismo. Eles reconhecem que a comunidade científica “não está bem-preparada” para lidar com estratégias como a de Miranda e que precisa fazer um esforço maior para se comunicar com a sociedade.

“O entendimento público da ciência poderia potencialmente evitar que se tomasse como fato controvérsias científicas falsas colocadas por grupos de interesse às expensas do bem da sociedade, do desenvolvimento sustentável e da conservação ambiental”, escrevem Rajão e colegas.

Evaristo de Miranda é um freguês antigo do Fakebook.eco. Em mais de uma ocasião este site examinou algumas de suas teses, como a de que a proteção ambiental tira espaço do agronegócio, a de que o boi é o “bombeiro do Pantanal” e a de que em 2021 não houve incêndios florestais, apenas queimas agrícolas.

Mirada e a Embrapa Territorial – unidade que ele criou em 1989 e que chefiou nos últimos seis anos, até o início deste mês – foram procurados para comentar o novo estudo, mas responderam em nota conjunta que “não se pronunciarão a respeito do assunto”.

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Este texto foi originalmente publicado pelo site  “Fakebook.eco” [Aqui!].

Spotify perde bilhões de dólares em valor de mercado após Neil Young retirar suas músicas da plataforma

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Neil Young se apresenta no Farm Aid 2017 no KeyBank Pavilion em Burgettstown, Pensilvânia, em 2017. O Spotify perdeu bilhões em valor de mercado depois que Young retirou seu catálogo de músicas da gigante do streaming por causa de suas preocupações de que o podcaster Joe Rogan estava espalhando informações erradas sobre o COVID-19. Foto de arquivo por Archie Carpenter/UPI | Foto da licença

Por Adam Schrader para a UPI

30 de janeiro (UPI) – O Spotify perdeu bilhões em valor de mercado depois que Neil Young retirou seu catálogo de músicas da gigante do streaming por causa de suas preocupações de que o podcaster Joe Rogan estava espalhando informações erradas sobre o COVID-19.

As ações do Spotify estavam em US$ 172,98 no fechamento do mercado na sexta-feira, uma queda de 12% em relação aos US$ 195,53 no fechamento do pregão da semana passada antes da controvérsia começar, depois de atingir uma baixa de 19 meses na quinta-feira em meio a campanhas de mídia social para cancelar assinaturas da plataforma de streaming.

As estimativas do valor de mercado perdido pelo Spotify variaram de US$ 2 bilhões relatados pela Variety e US$ 4 bilhões relatados pelo San Francisco Chronicle’s Datebook .

As ações do Spotify podem continuar sendo afetadas quando o mercado abrir na segunda-feira, depois que a cantora e compositora Joni Mitchell anunciou na sexta -feira que removeria sua música da plataforma, seguida por Nils Lofgren no sábado .

No domingo, a empresa Archewell Productions, do príncipe Harry e Meghan Markle, divulgou um comunicado atribuído a um porta-voz abordando a recente controvérsia de desinformação do COVID-19 com o Spotify, informou o Deadline .

Atualmente, o casal real tem um acordo de US$ 25 milhões para fazer podcasts para a plataforma.

“Desde o início da Archewell, trabalhamos para lidar com a crise global de desinformação em tempo real”, diz o comunicado. “Centenas de milhões de pessoas são afetadas pelos graves danos da desinformação desenfreada e da desinformação todos os dias.” 

O porta-voz observou na declaração um tanto enigmática que Harry e Meghan levantaram preocupações sobre as “consequências da desinformação do COVID-19” no Spotify desde abril de 2021.

“Continuamos a expressar nossas preocupações ao Spotify para garantir que mudanças em sua plataforma sejam feitas para ajudar a lidar com essa crise de saúde pública”, diz o comunicado. “Aguardamos o Spotify para atender a este momento e estamos comprometidos em continuar nosso trabalho juntos como está.”

Não ficou imediatamente claro se o casal real tentaria sair do acordo se acreditasse que o Spotify não estava abordando a desinformação do COVID-19. 

Lofgren, o renomado guitarrista de rock e membro de longa data da E Street Band de Bruce Springsteen, anunciou no sábado que retiraria seu catálogo de músicas, que inclui 28 discos solo, em uma mensagem postada no site Neil Young Archives .

Além de ser membro da E Street Band, pela qual foi introduzido no Hall da Fama do Rock and Roll em 2014, Lofgren também é membro do Crazy Horse – que há muito se associa e se apresenta com Young. Algumas das músicas de Longren já haviam sido removidas da plataforma durante o êxodo de Young.

“Neil e eu nos conhecemos há 53 anos. Amy e eu estamos honrados e abençoados por chamar Neil e Daryl de amigos, e sabíamos que ficar com eles era a escolha certa”, escreveu Lofgren antes de encorajar “todos os músicos, artistas e amantes da música” a cortar os laços. com Spotify.

Ele se tornou o terceiro grande artista a retirar sua música depois que Mitchell disse na sexta-feira que removeria sua música do Spotify em protesto após a recente controvérsia entre Neil Young e a gigante do streaming de música sobre a “desinformação” COVID-19 do podcaster Joe Rogan.

Mitchell, cuja música atrai 3,7 milhões de ouvintes mensais na plataforma, divulgou uma mensagem em seu site na sexta-feira intitulada “I Stand With Neil Young!” Ela foi a primeira grande artista a seguir Young ao deixar o Spotify.

A cantora e compositora, que ganhou nove prêmios Grammy, incluindo um Lifetime Achievement Award por suas contribuições à música, vendeu milhões de seus 19 álbuns de estúdio desde que sua carreira começou em 1968. Ela também foi introduzida no Rock and Roll Hall of Fame e ficou em nono lugar na lista da Rolling Stone dos 100 Maiores Compositores de Todos os Tempos.

O Spotify concordou em pagar a Rogan US$ 100 milhões em 2020 pelos direitos exclusivos de transmissão de The Joe Rogan Experience , que é um dos programas mais populares do mundo.

compass

Este texto foi escrito orginalmente em inglês e publicado pela UPI [Aqui!].

The Toxic Ten: como dez editoras “superpoluidoras”alimentam 69% da negação climática nas mídias digitais

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Um novo relatório do Center for Countering Digital Hate (CCDH) descobriu que as postagens de mídia social com links para artigos de apenas 10 editores “superpoluidores” representam até 69% das interações do Facebook com conteúdo de negação do clima.

Os Toxic Ten (Dez Tóxicos) são:

1. Breitbart, o site de desinformação que já foi dirigido por Steve Bannon
2. Western Journal, cujo fundador tentou desacreditar Barack Obama com teorias de conspiração islamofóbicas
3. Newsmax, um importante promotor de conspirações de fraude eleitoral
4. Townhall Media, fundada pela Fundação Heritage financiada pela Exxon
5. Media Research Center, um “think tank” que recebeu financiamento da Exxon
6. Washington Times, fundado pelo autoproclamado messias Sun Myung Moon
7. The Federalist Papers, um site que promoveu a desinformação da Covid
8. Daily Wire, um dos editores mais engajados no Facebook
9. Mídia estatal russa, divulgando desinformação via Sputnik News
10 Patriot Post, um site conservador secreto cujos escritores usam pseudônimos

Esses Dez Tóxicos têm 186 milhões de seguidores nas principais plataformas de mídia social.

Este relatório vem na sequência do Disinformation Dozen  do CCDH, que identificou as 12 fontes responsáveis ​​por quase dois terços do conteúdo antivacinas em plataformas de mídia social.

O relatório Toxic Ten também descobriu que:

* Os Dez Tóxicos obtiveram US $ 3,6 milhões em receita com o Google Ads nos últimos seis meses;

* Os sites do Toxic Ten receberam quase 1,1 bilhão de visitas apenas nos últimos seis meses, ganhando aqueles que fazem parte da plataforma do Google AdSense em cerca de US $ 3,6 milhões.

* Anúncios de marcas como Chevrolet, Capital One e da empresa de entrega DHL International foram veiculados nos sites do Toxic Ten.

Apesar de o Facebook prometer anexar rótulos de informação à desinformação climática, eles não o fizeram na grande maioria dos casos:

* 92% das postagens com conteúdo do Toxic Ten não traziam nenhum rótulo.

* Menos de 1% das interações do usuário com postagens com conteúdo do Toxic Ten foram sinalizadas com avisos ou rótulos de verificação de fatos.

Imran Ahmed, executivo-chefe do Center for Counter Digital Hate, disse:

“O desastre climático representa uma ameaça existencial, mas o Facebook e o Google – assim como fizeram com a desinformação e o ódio das vacinas – estão exacerbando a negação e a desinformação climática que buscam atrasar ações vitais para proteger nosso planeta. A negação do clima digital não é insolúvel. Nossa pesquisa mostra que a altamente organizada negação do clima pode ser rastreada até um número muito pequeno de superpoluidores – os Dez Tóxicos – que está poluindo a mídia social para todos. Essa desinformação de má-fé visa minar nossa confiança na ciência, que mostra claramente, repetidas vezes, que é necessário agir para lidar com as mudanças climáticas causadas pelo homem. A proliferação de narrativas falsas, turbinadas por algoritmos de mídia social que amplificam a contenda sobre o consenso, gera confusão quando o que precisamos é ação. As Big Tech estão mais uma vez do lado errado da ciência, da verdade e do progresso humano.”

Michael Khoo, do Amigos da Terra, disse:

“O Facebook e outras empresas de mídia social sabiam que esses eram os super-propagadores de desinformação e agora devem tomar medidas para impedir a ampliação da negação climática de suas plataformas. Esses meios de comunicação extremistas não seriam capazes de tentar persuadir os americanos tradicionais a negar as mudanças climáticas, se não fosse pela vantagem que o Facebook deu a eles”.

Julia Masters, gerente de campanha da Climate Disinformation Coalition, disse:

“A desinformação climática no Facebook e no Twitter está aumentando desenfreadamente, especialmente à medida que entramos nas negociações internacionais em Glasgow. Como a pesquisa mostrou, a grande maioria da desinformação pode ser rastreada até um pequeno grupo de atores, e a grande maioria dela vai não sinalizado. É completamente inaceitável que as Big Tech permitam a disseminação da negação do clima, ameaçando ações contra a mudança climática e nosso próprio futuro”.

Faye Holder, Influence Map, disse:

“Esta pesquisa demonstra mais uma vez que as Big Techs não estão cumprindo seus compromissos públicos com a ação climática e, em vez disso, está permitindo que a desinformação climática polua a discussão sobre as mudanças climáticas. Assim como o Big Oil mostrou que não pode ser deixado para se autorregular, o mesmo aconteceu com a Big Tech. Portanto, é vital para os formuladores de políticas intervirem para ajudar a prevenir esse dilúvio de desinformação. “

O CCDH analisou 6.983 artigos de negação do clima do ano passado apresentados em postagens do Facebook com 709.057 interações no total usando a ferramenta de análise social NewsWhip.

Esta análise mostra que as postagens contendo artigos de apenas dez editoras respondem por 69,69% das interações dos usuários do Facebook com o conteúdo de negação do clima em nosso estudo.

Os sites do The Toxic Ten receberam quase 1,1 bilhão de visitas apenas nos últimos seis meses, ganhando aquelas que fazem parte do Google Plataforma do Google AdSense estimada em US $ 3,6 milhões.

Recomendações do CCDH

· Pare de monetizar a negação do clima. Oito dos Toxic Ten estão lucrando com o Google Ads. O Google deve remover esses sites de sua plataforma AdSense, de acordo com sua nova política de não lucrar com anúncios sobre conteúdo de negação do clima.

· Pare de lucrar com a negação do clima. Oito dos Toxic Ten pagaram ao Facebook para anunciar seu conteúdo aos usuários. O Facebook deve se recusar a lucrar com os editores que são os principais disseminadores da negação do clima e de outras informações incorretas.

· Rotule de forma abrangente a negação do clima. 92% das postagens mais populares do Facebook promovendo artigos em nossa amostra não traziam rótulos de informação. Já se passaram seis meses desde que o Facebook disse que marcaria postagens sobre mudanças climáticas – ele deve agir.

Publicidade política: a disputa entre o Facebook e os cientistas aumenta

Quem anuncia onde e para quem no Facebook ainda não é totalmente transparente. Alguns cientistas tentaram mudar isso. Agora o Facebook os jogou para fora de sua plataforma

facebookO Facebook está sendo criticado porque ainda não torna seu negócio de publicidade transparente o suficiente. Daniel Reinhardt / DPA

Por Marie-Astrid Langer, San Francisco, para o Neue Zürcher Zeitung

A maior rede social do mundo, o Facebook, tem sofrido fortes críticas depois de expulsar um grupo de cientistas de sua plataforma. Eles haviam examinado o negócio de publicidade da plataforma.

As contas dos cientistas da New York University (NYU) foram suspensas na terça-feira. Eles tornaram público no mesmo dia em que investigavam como informações falsas eram disseminadas por meio de anúncios no Facebook. Eles estavam de olho na invasão do Capitólio em 6 de janeiro.

Acesso a dados graças à extensão do navegador

“O trabalho de nossas equipes é essencial para uma Internet saudável e uma democracia saudável”, disse Laura Edelson, uma das cientistas envolvidas. Ela está trabalhando no chamado Projeto Observatório de Anúncios na universidade em questão. Isso pede às pessoas com uma conta do Facebook para instalar uma extensão do navegador e, assim, dar aos cientistas uma visão sobre os anúncios individuais que são apresentados a eles na plataforma. De acordo com relatos da mídia, mais de 6.500 usuários disponibilizaram seus dados aos cientistas dessa forma.

Graças à interface do Ad Observatory Project, os pesquisadores poderiam ter “descoberto fraquezas sistêmicas no arquivo de anúncios do Facebook, rastreado informações falsas em publicidade política, e investigado a disseminação óbvia de informações falsas de partidos políticos no Facebook”, disse Edelson .

Os anúncios do Facebook são altamente personalizados

Como é bem sabido, os anúncios do Facebook são altamente personalizados para o usuário individual. Por causa disso, dificilmente é possível para os observadores determinar quais anúncios são exibidos para determinados grupos demográficos. Na campanha para as eleições presidenciais de 2016, por exemplo, isso fez com que certos atores – inclusive estrangeiros – colocassem anúncios com o objetivo de tornar a candidata Hillary Clinton impopular entre os eleitores afro-americanos.

Na tentativa de tornar seu negócio de publicidade mais transparente, o Facebook criou sua própria biblioteca de anúncios políticos, entre outras coisas. Lá você pode encontrar informações sobre quem pagou por um anúncio, bem como quando e em qual região ele foi exibido. No entanto, não há informações sobre por que o anúncio foi apresentado a usuários individuais usando a chamada microssegmentação. Os cientistas, portanto, criticaram que o arquivo é incompleto e difícil de usar.

O Facebook defendeu sua última decisão em um blog. A rede acusa os cientistas de terem retirado dados durante meses, através do acesso concedido para o qual não foram autorizados, incluindo dados pessoais de usuários. A “extração de dados” deve ser levada a sério e as ações devem ser tomadas para proteger a privacidade, anunciou o Facebook.

Após um aviso inicial no verão passado, o Facebook escreveu para Edelson e outros cientistas em outubro para mudar suas práticas. Eles não fizeram isso, e é por isso que o Facebook já tomou medidas. “A pesquisa não pode ser motivo para desconsiderar a privacidade das pessoas.”

Os pesquisadores da NYU, por sua vez, reclamaram que, sem acesso ao arquivo de publicidade do Facebook, não apenas eles não seriam mais capazes de continuar seu próprio trabalho, mas que projetos de outros pesquisadores e jornalistas que usaram o Ad Observatory Project também terminaram abruptamente – incluindo um projeto que investiga desinformação sobre vacinas.

Críticas de congressistas

A disputa agora também faz os parlamentares aguçarem os ouvidos. “Essas ações recentes do Facebook para acabar com os esforços de transparência de um grupo externo são muito preocupantes”, disse o senador democrata Mark Warner.

As críticas também vieram da colega da Warner no Senado, Amy Klobuchar, uma das autoras de projetos de lei no Congresso que querem que o Facebook seja responsável por futuras práticas de negócios. A decisão do Facebook os preocupa: “É crucial que as redes sociais protejam os dados do usuário e aumentem a transparência.”

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Este texto foi escrito inicialmente em alemão e publicado pelo jornal “Neue Zürcher Zeitung” [Aqui!].

Defendendo a ciência em tempos difíceis

Retirado da edição de março de 2021 da Physics World, onde o artigo apareceu sob o título “Apoiando a ciência em tempos difíceis”. Membros do Instituto de Física podem ler a edição completa por meio do aplicativo Physics World .

Com o COVID-19 fomentando conspirações anticientíficas, Caitlin Duffy diz que os cientistas têm o dever de falar abertamente e desafiar a desinformação 

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Questão de identidade Podemos combater a ideologia anticientífica diretamente ou quebrando publicamente os estereótipos que significam que os cientistas são “alheios” e desconfiados. (Cortesia: Shutterstock / Yeti studio)

Por Caitlin Duffy para a Physics World

A cada minuto, todos os dias, cerca de 300 horas de vídeo são carregadas no YouTube e milhões de discussões estimulantes, mas não regulamentadas, ocorrem diariamente em sites de fóruns. Enquanto a Internet permite o acesso instantâneo às informações e entre si, o viés dos algoritmos favorece sugestões que atraem o usuário. Junto com o sensacionalismo da mídia e a corrupção política, a Internet cultivou uma insurgência de ideologia anticientífica, alimentada pela desinformação, sub-representação e paixão enraivecida. Em um mundo onde quase 60% da população tem acesso à Internet, os cientistas são necessários mais do que nunca para salvaguardar os fatos, a confiabilidade, a paz global e a saúde. 

A retórica anticientífica tem nucleado na última década, especialmente quando se trata do clima. Apesar do pior cenário, mostrando um aumento da temperatura global de 8°C e um aumento do nível do mar de 1 m até 2100 – bem durante a vida de nossa geração mais jovem – muitos optam por ignorá-lo ou desafiar as evidências subjacentes. Na esteira do COVID-19, a ignorância e a incapacidade de ouvir os cientistas agravaram o problema. Os espectadores assistem enquanto os países guiados pela ciência lentamente voltam a uma normalidade cautelosa, enquanto outros países sofrem taxas de mortalidade dolorosas, bloqueios de longo prazo e frustração com reviravoltas nas políticas. 

No Reino Unido, o primeiro-ministro Boris Johnson inicialmente apertou a mão de pacientes COVID-19 hospitalizados, em seguida, priorizou a economia sobre a saúde, ignorou os membros de seu governo que violavam as leis do COVID e mudou de ideia a esmo em relação à educação, merenda escolar gratuita e celebrações de Natal. Quando os cientistas modelaram extensivamente os resultados do COVID e detalharam as etapas necessárias para prevenir o pior, um governo complacente deveria ter ouvido. Bater potes e panelas para o NHS subfinanciado e sobrecarregado e outros trabalhadores-chave estressados ​​não é a resposta. E nos Estados Unidos vimos uma rebelião semelhante no COVID, com seu ex-presidente Donald Trump pedindo protestos contra o uso de máscaras e lockdowns, bem como promovendo a ingestão de alvejante e hidroxicloroquina, fornecendo estatísticas falsas e destacando o cinismo da vacina. Agradecidamente, 

Quando pessoas influentes mostram tanto desprezo, desrespeito e desconfiança em relação à ciência, é fácil entender como as conspirações são formadas e cultivadas nas comunidades, dando origem à perigosa cruzada anticientífica. O papel de um cientista é ser a voz eletiva da razão contra o absurdo e as proclamações da visão de túnel. É vital, então, que as figuras de autoridade confiem no julgamento científico e ajam de acordo. A confiança dos políticos e da mídia pode ajudar a combater a retórica anticientífica e algumas das questões mais urgentes enfrentadas pela humanidade. Com a necessidade óbvia de cientistas visíveis, deveria ser nosso dever falar sobre nossas preocupações sobre certas políticas. 

Colocando-se lá fora

Os cientistas são treinados ao longo de muitos anos para vasculhar jargões e dados para estabelecer fatos, detectar falhas e – principalmente – deixar de lado suas convicções pessoais caso as evidências as considerem improváveis. Afinal, nem mesmo Einstein poderia culpar a mecânica quântica, apesar de seu profundo problema filosófico com a teoria. Os cientistas são abordados com situações complexas e detalhadas, às vezes que estão além do escopo de seu campo. À medida que as pessoas procuram encontrar uma visão equilibrada das notícias hiperbolizadas, os cientistas parecem um bom primeiro ponto de contato para seu pensamento crítico treinado. 

Embora gratificante, sendo a pedra da razão que apura fatos e faz malabarismo com o jargão, muitas vezes é desgastante, pois requer não apenas tempo e esforço, mas também ginástica mental para produzir uma resposta satisfatória. Ser a referência para questões factuais pode adicionar uma complexidade diferente, às vezes indesejada. Como alternativa, a estimulação mental constante e a resolução de problemas são um ponto de prosperidade para alguns cientistas que usam essas conversas interessantes como uma pausa – ou mesmo para procrastinação – de seu trabalho diário.

A demanda por e de cientistas é alta. Mas sabemos que para cada cientista que escolhe ser vocal, há outro que detesta preencher um papel tão aberto, até porque não tem tempo. Na verdade, falar e se expor nem sempre é fácil. A resposta de quem está fora da comunidade às vezes é ostracizante e ofensiva: repleta de misoginia para as mulheres, crítica em relação às pessoas de cor e cheia do conceito equivocado de que os cientistas acreditam que são melhores do que o público em geral. 

Isso, em combinação com um trabalho diário muitas vezes não relatável, pode levar os cientistas a reduzir seus laços sociais com os não-cientistas, acabando por remover uma conexão indispensável com a maioria da população. Parte de ser vocal é quebrar estereótipos e desafiar o estigma. Isso demonstra a “normalidade” que está por trás dos gráficos, nitrogênio líquido e estatísticas sérias; por trás de cada cientista está uma pessoa única com interesses, famílias e histórias distintas. Isso é crucial para retratar se os jovens de hoje querem crescer com confiança e paixão na ciência e se as minorias vão se sentir bem-vindas na comunidade científica. 

As pessoas costumam ficar surpresas quando um cientista tem hobbies inesperados – seja fisiculturista, chef profissional, sommelier, artista ou músico. Quando o mundo exterior vê apenas “cientista” como a identidade de alguém, inadvertidamente menospreza talentos e hobbies que levaram décadas para dominar. Um cientista pode, a seus olhos, se transformar de uma pessoa chata que fica atrás de um computador o dia todo em alguém que faz ciência, mas também corre ultramaratonas ou produz sua própria música. 

Demonstrar que a ciência está ao alcance de qualquer pessoa não se trata apenas de melhorar a imagem dos cientistas. É também um passo fundamental para apagar o fogo anticientífico e abafar as conspirações – ambas vitais se quisermos continuar o avanço global em direção a um futuro mais pacífico, seguro e saudável.

fecho

Este artigo foi originalmente escrito em inglês e publicado pela “Physics World” [Aqui!].

Fake news: inalação com solução de água sanitária pode expor pessoas a riscos sérios

Sistema CFQ/CRQs e Abipla se unem no combate à desinformação

FAKE NEWS

Circula nas redes sociais um vídeo sugerindo que a inalação de uma substância formada por água, bicarbonato de sódio e hipoclorito de sódio (água sanitária) ajuda a prevenir e curar a COVID-19. Preocupados com a desinformação, o Sistema CFQ/CRQs (Conselho Federal de Química e 21 Conselhos Regionais) e a Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes (Abipla) divulgaram, nesta quinta-feira (25), Nota Oficial sobre o perigo dessa inalação. O objetivo é orientar a população neste momento grave da pandemia.

A nota destaca que os produtos saneantes, tais como a água sanitária, foram desenvolvidos para utilização sobre superfícies inanimadas, jamais para aspersão sobre a pele e menos ainda para inserção nas vias respiratórias. A inalação proposta é possível através da aquisição de produtos simples e acessíveis a maior parte da população, o que aumenta a possibilidade de sua utilização em massa e potencializa seus riscos.

“Compreendemos que, neste momento de pandemia, grupos acabam tentados a experimentações sem qualquer tipo de controle ou registro técnico de resultados. Em consequência, é previsível que se promova a divulgação de tais experimentos. A nós, como profissionais da Química e representantes da indústria do setor de higiene e limpeza, cabe o alerta de que as consequências dessas iniciativas são invariavelmente danosas à saúde. Quaisquer substâncias são completamente seguras apenas quando obedecidas as instruções dos fabricantes que foram previamente analisadas e aprovadas pela Anvisa”, diz a nota.

O Sistema CFQ/CRQs e a Abipla reforçam ainda no documento que as “medidas de distanciamento social, higiene pessoal e vacinação em massa são as principais iniciativas respaldadas na Ciência e, por enquanto, as que devem ser consideradas para o controle da pandemia”.

Veja a íntegra da nota:

NOTA CFQ/ABIPLA SOBRE VÍDEO QUE DESINFORMA AO PROPOR INALAÇÃO COM SOLUÇÃO DE ÁGUA SANITÁRIA PARA COVID-19

É com profunda preocupação que o Sistema CFQ/CRQs, composto pelo Conselho Federal de Química (CFQ) e pelos 21 Conselhos Regionais de Química (CRQs), observa uma crescente no volume de desinformação que circula nas redes sociais e especialmente via aplicativos de mensagens instantâneas. Por tal razão, nos somamos à Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes de Uso Doméstico e de Uso Profissional (ABIPLA) na difusão do presente alerta à sociedade.

Nos últimos dias, um vídeo em especial traz apreensão pelos potenciais riscos a que expõe a população. Trata-se de um relato em primeira pessoa em que um homem sugere a inalação de uma solução envolvendo, entre outros produtos, água sanitária e bicarbonato de sódio para nebulização de infectados com o vírus Sars-Cov-2, responsável pela Covid-19.

Como é de conhecimento geral, o tratamento precoce para essa doença é um assunto polêmico, que carece de comprovações científicas e que divide opiniões até entre os próprios médicos. Medidas de distanciamento social, higiene pessoal e vacinação em massa são as principais iniciativas respaldadas na Ciência e, por enquanto, as que devem ser consideradas para o controle da pandemia.

A solução proposta no vídeo em questão expõe a riscos sérios aqueles que a aplicam: esses produtos foram desenvolvidos para utilização sobre superfícies inanimadas, jamais para aspersão sobre a pele e menos ainda para inserção nas vias respiratórias. A inalação proposta é possível através da aquisição de produtos simples e acessíveis a maior parte da população, o que aumenta a possibilidade de sua utilização em massa e potencializa seus riscos.

Substâncias químicas possuem aplicabilidades diversas no cotidiano das pessoas, e muitas delas são indispensáveis direta ou indiretamente para a nossa própria saúde: basta lembrar dos medicamentos ou dos produtos de limpeza que, entre outras funcionalidades, eliminam bactérias e vírus de ambientes comuns.

É preciso ter em mente, entretanto, que para que essas substâncias promovam os benefícios que delas se espera são necessários diversos testes e ensaios. Esse período de testagem se dá em condições controladas de uso, tudo para que sejam garantidas à população a eficácia e a segurança na utilização – desde que, claro, sejam mantidas as condições para as quais foram testadas e indicadas pelos fabricantes.

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), agência reguladora responsável pela regularização e monitoramento de uma série de produtos químicos destinados ao suporte a saúde, emite frequentes alertas relativos aos riscos assumidos pela população sempre que condições e destinações de uso são alteradas deliberadamente por cidadãos comuns – ou até mesmo por profissionais que atuam sem qualquer suporte técnico ou sanitário oficial, condição que somente a Anvisa poderia assumir.

Destacamos que a essa alteração de destinação de uso de produtos químicos a Anvisa chama “Desvio de Finalidade”, sendo previstas pela lei advertências e penalidades aos autores desta infração.

Compreendemos que, neste momento de pandemia, grupos acabam tentados a experimentações sem qualquer tipo de controle ou registro técnico de resultados. Em consequência, é previsível que se promova a divulgação de tais experimentos. A nós, como profissionais da Química e representantes da indústria do setor de higiene e limpeza, cabe o alerta de que as consequências dessas iniciativas são invariavelmente danosas à saúde. Quaisquer substâncias são completamente seguras apenas quando obedecidas as instruções dos fabricantes que foram previamente analisadas e aprovadas pela Anvisa.

Como supracitado, no caso específico da água sanitária, trata-se de saneante regulado pela Anvisa de aplicação exclusiva para higienização de superfícies inanimadas e hortifrutícolas, em solução diluída. A ABIPLA reforça ainda os termos da NOTA TÉCNICA Nº 47/2020/SEI/COSAN/GHCOS/DIRE3/ANVISA que diz que é aconselhável o uso de luvas, máscara e óculos para manuseio seguro destes produtos, pois possui grau de corrosividade à pele, olhos e mucosas, portanto, em nenhuma hipótese recomenda-se a inalação, ingestão ou exposição à pele deste tipo de substância em animais ou humanos.

Brasília, 24 de março de 2021

 

José de Ribamar Oliveira Filho

Presidente do Conselho Federal de Química

 

Paulo Engler Carvalho Pinto Jr.

Diretor-executivo da ABIPLA