Justiça seja feita: comparar o caso de Dilma ao de Zelaya e Lugo é uma ofensa aos golpistas de lá

Nas últimas semanas tenho comparado de forma reiterada a situação em curso no Brasil com o impeachment/golpe contra Dilma Rousseff ao que foi feita contra o presidente de Honduras, Manuel Zelaya, em 2009, e contra o do Paraguai, Fernando Lugo, em 2012.

É que depois de ver as cenas tragicômicas que ocorreram ao longo desta segunda-feira (09/05) depois que o presidente em exercício da Câmara de Deputados, deputado Waldir Maranhão (PP/MA), resolveu anular as sessões que resultaram na aprovação do impeachment de Dilma Rousseff, eu só posso concluir que no caso brasileiro, a coisa adentrou um terreno pantanoso que os golpistas hondurenhos e paraguaios conseguiram evitar até com certa facilidade.

Tanto isto é verdade que tanto Manuel Zelaya como Fernando Lugo rapidamente reocuparam posições de destaque na política partidária de seus respectivos países, sendo que Lugo é atualmente um forte candidato nas próximas eleições paraguaias.

O fato que parece saltar aos olhos é que a saúde democrática do Brasil consegue ser mais frágil e cambaleante do que países para os quais costumamos olhar com algum desdém. O que parece estar ficando claro é que ao fim e ao cabo de, o Brasil é que está merecendo o título pouco glorioso de “Banana Republic” ou simplesmente “república bananeira”.

E durma-se como um barulho desses!

Após as manifestações de 18/03 uma certeza: aqui o golpe paraguaio não vai ser tão fácil

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Dias atrás, o senador paraguaio Fernando Lugo, derrubado do cargo de presidente em 2012 por um impeachment tão fajuto quanto o que está se armando contra Dilma Rousseff, alertou que a direita brasileira estava querendo repetir o mesmo esquema golpista que o vitimou.

A primeira observação é que poucos sabem, eu não sabia, que  Fernando Lugo não sumiu de cena após ser derrubado e ocupa um papel relevante no congresso paraguaio. De lá é que ele avisa aos brasileiros da natureza do processo que está sendo engendrado no congresso nacional, sob a batuta de Eduardo Cunha (aquele mesmo político com incontáveis contas secretas na Suiça que continua livre, leve e solto para levar a galope o processo de impeachment de Dilma Rousseff).

Mas mesmo o mais renhido dos defensores do impeachment dentro do congresso sabem que a partida está longe do seu capítulo final. É que foi fácil cassar Fernando Collor porque não havia oposição popular ao seu impeachment. Esse não é o caso de Dilma Rousseff, e as manifestações da última sexta-feira mostram isso. 

E é preciso que se note que a oposição ao impeachment tem a força que tem porque setores que não apoiam o governo de Dilma Rousseff decidiram ir às ruas para denunciar o que consideram ser um golpe contra a frágil democracia brasileira.  Essa presença de críticos de governo, mas que se opõe ao impeachment de Dilma, é um elemento que torna a situação bem mais complexa do que aquela que ocorreu no Paraguai quando Fernando Lugo foi removido do poder.

A ironia final no caso de Fernando Lugo é que ele agora é um forte candidato à presidência do Paraguai nas eleições de 2018.