Mujica faz duras críticas à FIFA

O presidente uruguaio chama os dirigentes da instituição de “velhos filhos de puta” e diz que a sanção a Suárez é “fascista”

O presidente uruguaio, José Mujica, em uma entrevista. / BERNARDO PEREZ

O presidente de Uruguai, José Mujica, insultou duramente os dirigentes da FIFA ao chamá-los de “velhos filhos de puta” por causa da multa imposta ao jogador Luis Suárez, castigo que qualificou de “fascista”.
As declarações foram dadas no aeroporto de Montevidéu, ao qual o presidente uruguaio se dirigiu para receber os jogadores da seleção uruguaia, de volta ao país depois da derrota contra a Colombia no último sábado. Ao ser questionado sobre a expulsão de Suárez, Mujica não teve papas na língua e respondeu que “os [integrantes] da FIFA são um bando de velhos filhos de puta”.

Depois de fazer o comentário, Mujica tapou a boca com a mão, dando-se conta de que sua afirmação estava sendo gravada para a televisão. Mas, depois desse gesto, disse ao jornalista que a publicasse, se quisesse.

http://www.youtube.com/watch?v=QqzhT1DUCqQ

Podiam aplicar uma sanção, mas não multas fascistas”, continuou dizendo ao jornalista de La hora dos Deportes, um conhecido programa da televisão pública uruguaia, sobre a punição imposta sobre o atacante uruguaio.

Suárez foi castigado com nove partidas internacionais, quatro meses de inabilitação para qualquer atividade relacionada com o futebol e 82.000 euros de multa pela mordida que deu no jogador italiano Giorgio Chiellini durante o Mundial.

FONTE: http://brasil.elpais.com/brasil/2014/06/30/deportes/1404131047_253558.html

‘Para mim, Copa não existe’, diz mãe de operário morto na Arena Corinthians

Gerardo Lissardy, BBC Mundo, Rio de Janeiro

Sueli Dias mostra camisa oficial que seu filho comprou, mas nunca chegou a usar

Enquanto os brasileiros festejam a Copa do Mundo nas ruas, o silêncio impera em uma casa em Diadema, na região do ABC paulista. Ali vivia o operário Fábio Hamilton Cruz, morto após sofrer uma queda no estádio Arena Corinthians, onde trabalhava.

Quem abre o portão é a mãe de Fábio, Sueli Rosa Dias, de 45 anos, uma mulher magra e de cabelo comprido, que gosta de manter preso.

“Desculpe pela casa de pobre”, diz ela enquanto autoriza a entrada da reportagem da BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC.

Sueli se senta em um sofá preto, o mesmo onde Cruz dormiu pela última vez no dia 29 de março. Ela se lembra de tê-lo coberto naquela noite com uma manta, antes de seu filho, de apenas 23 anos, acordar às 4h30 para ir trabalhar no estádio.

“O Fábio esperava a Copa há muito tempo, principalmente depois de trabalhar no Itaquerão. Porque seu sonho era ver o estádio pronto. Ele estava acostumado a dizer que estava dando seu sangue para construir aquilo do qual se sentia orgulho”, assinala Sueli, que trabalha como empregada doméstica.

O entusiasmo de Cruz vinha de sua paixão pelo Corinthians, que é dono do estádio, e também por ver o Brasil disputar o Mundial em casa. Ele já tinha até comprado a camisa da seleção brasileira.

Sueli tira a camisa amarela do guarda-roupa guardada pela última vez por seu filho, e a observa com o olhar triste.

“Ele não via a hora de ver a Copa começar para poder usar a camisa. Nem chegou a usá-la”, lamenta Sueli. “Não tive coragem de me desfazer dela”.

Naquele sábado fatídico, Cruz caiu de uma altura de oito metros quando trabalhava na montagem das estruturas temporárias da Arena Corinthians. Ele morreu horas depois em um hospital.

Ele foi o último dos oito operários que perderam a vida construindo os modernos e caros estádios que hoje atraem os olhos do mundo inteiro para o Brasil.

“Para mim, a Copa do Mundo não existe”, afirma Sueli. “A dor que estamos sentindo com a morte do Fábio nos impede de comemorar a Copa, não temos como aproveitá-la. Nem sei quais partidas que o Brasil vai jogar”, acrescenta ela.

Momento de reflexão

Ao todo, três operários morreram na construção da Arena Corinthians. Dois deles foram vítimas de um acidente fatal em novembro, quando uma grua caiu de uma das arquibancadas.

Outros quatro trabalhadores morreram na Arena Amazônia e um operário morreu no Mané Garrincha, em Brasília.

No caso de Cruz, sua mãe decidiu entrar na Justiça contra a Odebrecht, responsável pela obra, que custou mais de R$ 1 bilhão.

“Ninguém sabe ao certo o que aconteceu. Uns dizem que foi negligência do Fábio, que estaria sem as cordas de segurança.”

Em novembro, dois operários morreram no estádio de São Paulo após a queda de uma grua.

Sueli conta que as cordas eram muito curtas para mantê-las presas enquanto seu filho se movia pela arquibancada e, por essa razão, acredita que ele devia soltá-las com frequência.

“Foi durante um desses intervalos que ele pegou a corda para prendê-la que ele caiu”, afirma.

“Ao mesmo tempo, fico pensando que se houvesse uma rede de proteção e outros equipamentos de segurança, ele poderia ter sobrevivido. Ele poderia até cair, mas não seria uma queda fatal.”

Após o acidente, o Ministério do Trabalho interrompeu por alguns dias a montagem das arquibancadas temporárias na Arena Corinthians e exigiu maiores medidas de segurança da empresa Fast Engenharia, responsável pelas estruturas, incluindo redes de proteção para os operários.

O calendário de construção da Arena Corinthians teve diversos atrasos e o estádio ficou pronto faltando pouco para receber a primeira partida do Mundial no dia 12 de junho.

Sueli relata que seu filho havia trabalhado na segunda-feira anterior ao acidente e só foi à obra no sábado para ganhar um dinheiro extra. Ela diz que conseguiu vê-lo com vida no hospital.

Agora, em meio à festa do Mundial, ela pede um momento de reflexão dos brasileiros.

“As pessoas têm o direito de aproveitar a Copa, de torcer por seu país. Mas as pessoas deveriam pensar também no que há por trás disso.”

“Não é porque eu estou triste que todo mundo deveria estar também. Mas acho que o povo deveria ser unir para exigir de nossos políticos maior segurança, não apenas para os operários da construção civil, mas para todo tipo de empresa e trabalhador.”

FONTE: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/06/140623_mae_operario_copa_wc2014_lgb.shtml?bw=bb&mp=wm&bbcws=1&news=1

O paradoxo da segurança no Maracanã

Cerca de 150 torcedores chilenos se infiltram no estádio apesar da enorme presença policial

Por PEDRO CIFUENTES

Torcedores do Chile no Maracanã. / MATTHIAS HANGST (GETTY IMAGES)

Isso não é uma festa do esporte? Mas está cheio de metralhadoras e não tem cerveja!”, dizia na quarta-feira à tarde diante do Maracanã Alberto R., um espanhol de Cádiz residente no Rio há um ano e que nunca tinha visitado o templo do futebol brasileiro. Centenas de policiais armados até os dentes, distribuídos em fileiras, vigiavam as redondezas do estádio minuciosamente. A sua presença por si só já havia dissuadido os habituais vendedores de latinhas de cerveja que acompanham qualquer aglomeração festiva no Rio de Janeiro. Os proprietários de bares limítrofes apontavam para os agentes e repetiam “Não posso, não posso, só refrigerantes…” diante dos milhares de pedidos recebidos. Vários helicópteros da polícia sulcavam o céu do Maracanã, e a fragata do Exército permanecia ancorada em Copacabana. 

As baterias de mísseis terra-ar continuavam em alguns terraços do bairro. O tráfico estava interrompido havia seis horas. Vários cordões policiais se espalhavam em um perímetro de dois quilômetros ao redor do estádio para evitar qualquer manifestação por perto. Tudo estava disposto para que o risco fosse “zero”, como havia anunciado recentemente à imprensa o diretor de segurança do Comitê Organizador Local, Hilario Medeiros.

Torcedores do Chile no centro de mídia do Maracanã. / YASUYOSHI CHIBA (AFP)

Mas, como no domingo passado, algo voltou a falhar nas portas do estádio. Se no dia da partida entre Argentina e Bósnia vários vídeos de causar vergonha mostravam 80 torcedores argentinos infiltrando-se no estádio diante do olhar espantado de dois agentes de segurança, ontem 150 chilenos derrubaram uma cerca de segurança perto do setor da imprensa e protagonizaram uma cena surrealista de corre-corre pela ampla sala de imprensa antes que 87 deles fossem controlados pelos serviços de segurança e postos à disposição da polícia. Foi um milagre que não tenha havido vítimas. Poucas horas depois de detidos, as autoridades brasileiras lhes deram 72 horas para abandonar o país. “Não tínhamos entradas, a revenda estava caríssima”, disse um dos invasores à BBC. Outro deles, professor de identidade não revelada, contou que tinha viajado com quatro amigos em um carro desde Santiago do Chile (a 3.800 quilômetros) e não tinham conseguido comprar de revendedores ingressos a preço acessível, apesar de estarem dispostos a pagar 800 dólares (1.780 reais) por cada um deles. As entradas de Espanha e Chile eram vendidas a 3.000 reais (1.350 dólares) nas portas do estádio uma hora antes do começo da partida.

A FIFA admitiu sentir-se “envergonhada” pelo incidente, o segundo do tipo em duas partidas, embora tenha rejeitado qualquer responsabilidade pelo assunto. “Temos de proteger os jornalistas e temos de proteger os torcedores”, afirmou no próprio Maracanã o diretor de segurança da FIFA, Ralf Mutschke. Sua entrevista coletiva à imprensa foi interrompida em várias ocasiões por perguntas iradas de jornalistas brasileiros que falavam de “fiasco da organização”. Outros incidentes em estádios incluíram a ausência de 200 agentes de segurança contratados, durante uma partida em Fortaleza, e a introdução de rojões na Arena Pantanal, de Cuiabá, por ocasião do jogo do Chile com a Austrália. Mutshcke revelou que na quarta-feira no Maracanã foi confiscada “uma mesa inteira de navalhas e rojões”.

Diante dos protestos em particular de vários governos estaduais e do Governo Federal, a FIFA e o Comitê Organizador Local (COL) emitiram uma nota de imprensa na qual garantiram que os torcedores “não conseguiram chegar até as arquibancadas do estádio”, apesar de outras versões afirmarem que alguns foram puxados por compatriotas até as bancadas e conseguiram fugir da perseguição do questionado serviço privado de segurança contratado pelo COL. Este jornal viu um torcedor argentino aproveitar a confusão causada pela invasão e entrar no estádio enquanto fazia fotos dos intrusos com uma câmera não profissional, misturando-se com os jornalistas credenciados.

A segurança do estádio é de competência exclusiva do Comitê Organizador Local, sendo a polícia responsável por cuidar da ordem pública nas ruas ao redor. A partir da próxima partida no Maracanã (Bélgica e Rússia, no domingo), a polícia vigiará também a manutenção da segurança no estádio. Pelo que se viu na quarta-feira, pode esperar-se um aparato de segurança próprio de um estado de exceção.

O Cônsul do Chile no Rio, Samuel Ossa, disse na noite de domingo que os detidos “não são delinquentes, mas fanáticos cuja paixão pelo futebol os levou a cometer um erro”. Mais contundente foi o presidente da Federação Chilena de Futebol, Sergio Jadue, que qualificou o incidente de “completamente condenável” e afirmou que iniciará os trâmites legais para impedir por toda a vida o acesso dos 87 torcedores deportados aos estádios de futebol (dentro e fora do Chile).

FONTE: http://brasil.elpais.com/brasil/2014/06/20/deportes/1403223486_946356.html

“A copa 2014: de que estamos falando?”

Imagem Sandra artigo

Por  Sandra Quintela, do PACS e rede Jubileu Sul.

Pelas regras da Fifa, se esse artigo fosse uma mercadoria, eu deveria pagar royalties pela patente em usar a palavra Copa 2014. Isso mesmo. A Fifa patenteou as marcas  FIFA, COPA DO MUNDO, COPA 2014, BRASIL 2014 e o nome de todas as cidades-sede seguido de 2014, entre outras marcas. Segundo o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi), atualmente a Fifa possui 1.116 marcas registradas no Brasil.

Além disso, o artigo 11 da Lei Geral da Copa estabelece que os estádios que sediarão os jogos do mundial no Brasil deverão possuir uma “área de exclusividade” cujos limites serão “tempestivamente estabelecidos pela autoridade competente, considerados os requerimentos da FIFA ou de terceiros por ela indicados, (…) observado o perímetro máximo de 2 km ao redor dos referidos Locais Oficiais de Competição”.  Ou seja, na área de 2 km de raio em torno dos estádios, todos os comerciante  e moradores deverão ser cadastrados.  O comercio interrompido antes e depois dos jogos. Além da proibição do trabalho de vendedores ambulantes nos dias do jogo próximo as arenas.

Esses dois exemplos, talvez pequenos diante de tanta ingerência de uma empresa privada, que é a Fifa,  sobre a soberania de um país são coisas que vem inquietando amplos setores da sociedade brasileira nos protestos sobre várias questões, mas, que no símbolo da Copa, encontraram um ponto de convergência.

Também há muita confusão nisso tudo. Para alguns, principalmente os setores ligados ao governo, criticar a Copa é fazer o jogo da oposição em um ano eleitoral. Para outros, da velha elite conservadora e neoliberal, o momento é propicio para criticar, de preferência desde Miami, a desgraça que é o Brasil, um país ainda pouco aberto aos mercados, segundo dizem.

Há também aqueles que compreensivelmente vem se manifestando durante todo o período dos governos do PT por moradia, por educação e saúde publicas, por mobilidade urbana etc.

E há as organizações, movimentos e comunidades impactadas pelas obras do mundial que começaram a  se organizar em fins de 2010 em vistas a denunciar os impactos da Copa sobre os territórios mais frágeis, como o população de rua, ou que perderam sua moradia (250 mil pessoas nas 12 cidades sede), sobre os trabalhadores ambulantes, enfim, grupos que estão absolutamente à margem dos movimentos sociais mais tradicionais. Juntos, os doze Comitês Populares da Copa formam a Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa, ANCOP.

Então, excluindo o oportunismo da velha direita, temos: de um lado a Fifa com todo o aparato privatista avalizado pelo governo federal; e de outro as mobilizações de todo tipo que não param de crescer.

Vai ter Copa? Vai!  O Brasil hoje teria investido mais em saúde, educação, transporte publico etc se não fosse a Copa? Não. E por que não? Porque a Copa é mais um sintoma do que uma causa das desigualdades no Brasil. Porque o modelo de desenvolvimento em curso no Brasil e em vários países da América Latina estabelece como prioridade, de um lado, megaempreendimentos econômicos centrados na exportação de commodities agrícolas e minerais. E de outro politicas sociais que são dirigidas às populações mais empobrecidas, como Bolsa família e outros programas similares em toda a região que, mesmo sendo importantes, são insuficientes para a superação das desigualdades estruturais da região. Hoje, segundo dados do Banco Mundial,  1 em cada 4 famílias na América Latina é beneficiaria de programas desse tipo “compensatório.”

Territórios inteiros dos povos tradicionais de nossa América estão sendo varridos pelo avanço das transnacionais e seus negócios. Financiados, em geral, pelo Estado que garante a infraestrutura, isenta os impostos, flexibiliza as leis de proteção ambiental e trabalhista. Mega eventos como a Copa tem sido usados como aceleradores dessas intervenções no processo de privatização de nossas cidades. Facilita-se a elitização, a cidade como instrumento nas mãos das empreiteiras e a consequente especulação imobiliária. Esse modelo vai abrindo fronteiras casa vez mais distantes do centro das cidades e criando um modo de viver dependente de veículos para locomoção, criando um estilo de vida cada vez mais fechado em condomínios e cada vez menos na rua, na vida callejera.

Assim, as vésperas da Copa não podemos absolutamente cair no  discurso oportunista muito utilizado agora pela grande mídia. Muitos dos que hoje no Brasil falam de corrupção, uso excessivo de recursos públicos etc, decorrentes da Copa, são e sempre foram cúmplices e até mesmo protagonistas desse esquema. Nunca se importaram com a privatização fraudulenta de empresas públicas, nem com a subordinação econômica gerada pelos mecanismos que abocanham metade do orçamento público para os cofres dos banqueiros privados nacionais e estrangeiros. E hoje, cinicamente, se dizem guardiões da moral e dos bons costumes políticos.

O que nós criticamos na Copa é o modelo de desenvolvimento capitalista, materializado na realização deste evento. O agronegócios e a Copa, portanto, são verso e reverso de uma mesma moeda: a privatização da vida, das cidades, das florestas.

Não é por acaso que na última semana de maio, mais de 100 etnias indígenas protestaram em Brasília junto ao Comitê Popular da Copa de lá . As populações indígenas entenderam perfeitamente a ligação entre o retrocesso no processo de demarcação de suas terras, ameaçadas pelo agronegócio e a mega-mineração, com o que está acontecendo nas cidades sede da Copa.

Nossa crítica à Copa é a mesma crítica que fazemos a um Estado a serviço do capital. Um Estado que abdicou de realizar políticas universais e centra cada vez mais a sua ação em focos específicos deixando de lado a totalidade no entendimento dos problemas a serem enfrentados em países como os nossos.

Por isso, a pergunta do inicio desse artigo: quando falamos de Copa, estamos falando de quê mesmo?

FONTE: http://www.pacs.org.br/2014/06/03/a-copa-2014-de-que-estamos-falando-confira-o-artigo-de-sandra-quintela-do-pacs/

 

Neopetistas e direita coxinha fingem que se degladiam, enquanto a FIFA reina absoluta

Eu não sei o que me irrita mais: se a reação mal educada e desconexa da “direita coxinha” ou a gritaria quase histérica dos neopetistas em relação à realização da COPA FIFA no Brasil. Aliás, eu sei sim. O que me irrita mais é que os dois lados votaram juntos a famigerada “Lei Geral da COPA” que tornou o Brasil uma colônia da FIFA, e que os dois lados estão juntinhos reprimindo as manifestações anti-COPA com toda a força repressiva que conseguem.

Na verdade quem ainda se surpreende com essa diferença de discursos e toda a unidade na prática é que não entendeu a profunda transformação pela qual o PT passou desde meados da década de 1990, quando passou de uma aposta da classe operária para lutar por seus direitos num instrumento de sustentação da ordem burguesa oligárquica que domina o Brasil há mais de 500 anos.

Enquanto isso, o que me anima é que nas ruas de todo o Brasil uma fração da classe trabalhadora e da juventude estão enfrentando o aparato repressivo, apontando assim para a construção de uma unidade na luta que ainda vai dar muito trabalho ao status quo, esteja este em sua versão coxinha ou na neopetista.

“Eles estão roubando vocês!”

Em livro recém-lançado no Brasil, o jornalista britânico Andrew Jennings desnuda farsa de ingressos da Copa e avisa: os brasileiros estão pagando por uma Copa que só trará lucro para Fifa e patrocinadores. Confira aqui a entrevista e trecho do livro em primeira mão.

“Conseguir um ingresso para a Copa do Mundo é ganhar na loteria”, resume o jornalista britânico Andrew Jennings, parceiro da Pública, ao falar de seu novo livro “Um jogo cada vez mais sujo”, lançado no Brasil no dia 5 de maio pela Panda Books. A FIFA novamente é o alvo das investigações de Jennings, desta vez focada na distribuição de ingressos por sorteio anunciada para os torcedores que, segundo ele, esconde um mundo de negócios sujos, mercado negro e troca de favores. O repórter também revela outro negócios ilegais que enriqueceram dirigentes da FIFA, incluindo os brasileiros Ricardo Teixeira (ex-presidente da CBF e do Comitê Organizador Local) e João Havelange (ex-presidente da CBF e da FIFA).

 Andrew Jennings revela esquema ilegal de venda de ingressos para a Copa do Mundo (Foto: o.canada.com)

Com um estilo descontraído e irônico, Jennings conta quem são os irmãos mexicanos Jaime e Enrique Byrom, donos do grupo Byrom PLC, acionista majoritário da Match Services  e da Match Hospitality, prestadoras de serviço para FIFA. São eles que controlam todos os negócios relacionados a ingressos, acomodações e hospitalidade nas Copas do Mundo da FIFA. E fazem mais: no livro, o jornalista prova que nos mundiais da Alemanha, em 2006, e da África do Sul, em 2010, os Byrom forneceram ingressos para o vice-presidente da FIFA Jack Warner vender no mercado negro em troca de votos que os favoreciam no Comitê Executivo da FIFA.

Jennings recebeu e-mails do advogado dos Byrom, ameaçando processar jornalista e editora, mas não pretende se calar. “Eu disse que se eles continuassem, ia publicar os documentos”, contou o jornalista em entrevista à Pública em que detalha os negócios ilegais relacionados aos ingressos e os motivos que fazem da Copa do Mundo um pote de ouro para a FIFA e os patrocinadores sem trazer benefícios para o torcedor.

Capa do novo livro de Andrew Jennings "Um Jogo Cada Vez Mais Sujo" (Foto: Reprodução)

No livro você mostra os negócios entre os irmãos Byrom e o vice-presidente da FIFA Jack Warner nas Copas de 2006 e 2010. Em linhas gerais, como esses negócios funcionam?

Existe um mundo negro que os fãs do futebol não conhecem, que é o mundo dos negócios de ingressos. Há 209 associações nacionais de futebol na FIFA, como a CBF, no Brasil. Algumas são bem honestas, mas a maioria não é. As associações nacionais pedem ingressos aos Byrom, que os fornecem em nome do Blatter [presidente da FIFA] e da FIFA. Os negociadores de ingressos do mercado negro vão até essas pessoas em diferentes países da África, da Ásia, alguns da Europa – especialmente os do antigo bloco soviético – e conseguem os ingressos com eles.

Em 2006 na Alemanha, eu revelei que eles estavam vendendo milhares e milhares de ingressos para Jack Warner, que agora está sendo forçado a sair da FIFA. Foi uma grande história, uma grande confusão, e eles fizeram isso de novo em 2010! O Warner, [presidente] da União Caribenha de Futebol, solicitou ingressos [por e-mail] mas copiou um negociante na Noruega! Então os Byrom sabiam que Jack estava comprando deles em nome do cara na Noruega. E eles copiam a correspondência para a FIFA e para a Infront, empresa do Philippe Blatter [sobrinho do presidente da entidade]. Então todos eles sabem o que está acontecendo.

Na Alemanha eles tiveram muito lucro, mas na África do Sul esse mercado entrou em colapso porque ninguém queria ir para lá. É por isso que o escritório de ingressos dos Byrom estava entrando em contato com o Jack e com a Noruega, dizendo: “se vocês não mandarem o dinheiro logo, nós cancelamos seus ingressos”. O Jack Warner estava comprando os ingressos em nome do cara do mercado negro na Noruega e os Byrom precisavam dar ingressos para ele porque ele controla pelo menos três votos no Comitê Executivo da FIFA: se Jack,  quer ingressos, ele ganha ingressos. E o que ele dá em troca é que ele e os amigos votam em você para que você consiga todos os contratos dos ingressos.

O que nós não sabemos é: que outros membros do Comitê Executivo ganha ingressos nessa escala?

Os Byrom conseguem os ingressos por meio do contrato que a FIFA tem com a Match?

Não, a Match é hospitalidade. Existem três diferentes contratos entre os Byrom e a FIFA. Um é para os 3 milhões de ingressos para todos os jogos que vocês vão ter no Brasil nos próximos meses. Esses ingressos são para pessoas como eu e você ficarmos nas arquibancadas de concreto gritando e torcendo pelos times. Outro é para acomodação, porque nós estrangeiros e vocês brasileiros de outras cidades que precisam de um lugar para ficar. Então os Byrom reservam uma grande quantidade de quartos, perto da Copa do Mundo percebem que não venderam todos e começam a se livrar deles.

A terceira coisa é a Match Hospitality, da qual os Byrom são acionistas majoritários, da qual o Philippe, sobrinho do sir Blatter, tem 5% e outros grupos também têm ações… A Match é responsável pela hospitalidade, que são aqueles grandes e caros camarotes de vidro nos estádios, todos novos, pagos, em sua maioria, pelos contribuintes. Tem muito dinheiro na hospitalidade. Eu acho que vai ser um desastre porque essas pessoas não vão vir, mas isso é outra questão.

 O que os pacotes de hospitalidade oferecem e para quem eles são vendidos?

Você pode ver no artigo eu fiz para a Pública: A hospitalidade é um bom translado para o estádio, muito espaço, comida, bebidas…Você é pode comprar até as mais luxuosas suítes hospitalidade com uma parede de vidro para que você possa assistir um pouco do jogo de vez em quando, quando você não está fazendo negócios. Onde você não precisa se misturar com as pessoas comuns. Imagine ficar no mesmo terraço que todos esses brasileiros? Urgh.

Está tudo no site deles, com preços astronômicos. Quem compra esses pacotes são pessoas muito ricas que levam seus amigos; executivos; e empresas que levam seus melhores clientes ou seus melhores vendedores, como uma espécie de prêmio. O alvo é o mercado corporativo, é uma hospitalidade corporativa.

Os contribuintes pagaram por esses camarotes de vidro luxuosos, mas vocês não podem comprar esses pacotes. Você pode ter sorte na loteria e conseguir um ingresso para ver um jogo, mas não vai ter dinheiro para esse camarote a não ser que seja um brasileiro muito rico do mundo dos negócios.

A FIFA argumenta que a Match ter o controle exclusivo das vendas de ingressos e de pacotes de hospitalidade impede vendas não autorizadas. Isso é verdade? Por que é interessante para a FIFA manter esse esquema?

Isso é uma besteira. Os Byrom controlam todos os ingressos. Você vai no site da FIFA e encontra todo tipo de lixo sobre impedir as vendas não autorizadas, o que é ridículo, porque todo ingresso vem da porta do fundo dos Byrom. Eu não consigo imprimi-los, você também não. Muitos ingressos são impressos na última hora, porque agora nós não sabemos que time vai jogar na segunda fase e em qual estádio.

Então você ouve um monte de lixo sobre como você deve comprar deles, se não você pode ter o ingresso rasgado na entrada do estádio. Se você compra exclusivamente dos Byrom ou de seus amigos, você vai entrar. Mas o Warner estava comprando ingressos para outras pessoas! Ele não queria 5 mil ingressos para ele assistir à Copa da Alemanha, era para colocá-los direto no mercado!

A FIFA diz que está policiando esse mercado paralelo de ingressos, mas não está. É como um padre que olha para o outro lado!

E os líderes da FIFA também lucram com esse esquema?

Nós não podemos provar. Eu valorizo muito os documentos. Eu ouço histórias, vejo como Jack Warner se safou com milhares e milhares de ingressos, será que outros líderes da FIFA fazem negócios semelhantes? É legítimo fazer essa pergunta, mas nós não temos prova.

Os Byrom controlam todos os ingressos para a Copa do Mundo no Brasil. Os parceiros comerciais deles aqui são o Grupo Traffic e o Grupo Águia, que, como você mostra, tem ligações comprovadas com a CBF e o Ricardo Teixeira. O que isso sugere?

No caso dos ingressos, o Teixeira forçou os Byrom a terem parceiros brasileiros para que seus amigos pudessem ganhar uma fatia. Por isso esses grupos têm alguma ação. Você encontra as referências à Traffic se olhar os relatórios do senador Álvaro Dias [relatórios finais da CPI da CBF, elaborados em 2001]  (volume 1 –  volume 2 – volume 3 – volume 4).

Isso significa que o povo brasileiro está excluído. Vocês estão pagando pela Copa do Mundo e para vocês é dito que os ingressos vão ser distribuídos de forma justa. Aí você descobre que todo tipo de atividade ilegal relacionada aos ingressos está acontecendo.

Baixe aqui um trecho exclusivo do novo livro de Andrew Jennings “Um jogo cada vez mais sujo” 

 No livro, você faz uma analogia entre a pilha de ingressos para a Copa do Mundo e um iceberg, mostrando que apenas a ponta está disponível para os torcedores, enquanto, embaixo d’água, o resto é vendido por meio de negócios ilegais. Então, o documento em que a FIFA explica a distribuição dos ingressos é falso?

Sim, porque existe um mercado negro. E se você está comprando um ingresso de mercado negro, ele pode vir de um país africano, ou de outro lugar. A FIFA fala sobre a ponta do iceberg, mas o fato é que existe um outro mundo sombrio embaixo da superfície, onde existe um imenso mercado de ingressos.

Qual é a chance de um brasileiro que ama futebol assistir o Brasil jogar no estádio na Copa do Mundo?

Gaste o seu dinheiro em uma televisão. Eles não colocam todos os ingressos na loteria! Você não pode acreditar nos gráficos, porque não há como checá-los! Os Byrom têm todas as estatísticas! Você pode checar o que o governo está fazendo, porque você consegue os números, mas os Byrom não precisam publicá-los. Se eles dizem que 100% dos ingressos estão na loteria, você nunca vai provar que isso não é verdade.

Segundo o jornalista, dirigente da FIFA vendia ingressos no mercado negro (Foto: Marcello Casal Jr/Abr/ Reprodução Portal da Copa)

O ingressos do mercado negro são vendidos apenas para pessoas ricas ou para pessoas comuns também?

Pessoas como Jack Warner comprariam ingressos, mas ele os venderia para empresas que os colocariam em pacotes com vôos e acomodação. Se você fosse um turista na Copa do Mundo da Alemanha ou da África do Sul, você viajaria no vôo que eles reservaram, ficaria no quarto que eles reservaram. Mas você olharia no seu ingresso e veria que em vez do seu nome, nele está escrito “Fred Smith”. Todo ano você ouve que eles vão checar os passaportes, mas eles nunca fazem isso. Isso faz parte da farsa de dizer que se você não tem seu nome no ingresso, você está em apuros. É uma grande mentira.

O Ricardo Teixeira e o João Havelange (ex-presidente da CBF e da FIFA) têm relação com esse esquema?

O que nós sabemos é que antes de forçarmos o Teixeira a sair, eles estava no Comitê Organizador Local, que fazia de tudo: ingressos, estádios… Eu não sei qual fatia o Havelange ainda consegue. Ele tem 96 anos. Mas Ricardo estava lá desde o começo. Ele preparou tudo, os negócios, tudo que tinha a ver com a Copa. Nós o forçamos a sair apenas por escândalos externos, ele não esperava por isso. Então você pode atribuir a ele tudo que está errado com a Copa, porque antes dele sair, todos esses contratos já estavam sendo arranjados, não são contratos novos. Ele diz que não tinha controle sobre o que estava acontecendo. Ah, por favor…

O que você descobriu sobre o Ricardo Teixeira?

Eu investiguei as propinas dele na Suíça e os relatórios  do Álvaro Dias [da CPI da CBF]. As investigações nos relatórios provam que Teixeira é um grande ladrão. Eu li todas as 500 mil palavras com a ajuda do Google Tradutor [risos]. Você tem que fazer um ato muito criminoso antes de entrar em uma máfia. Eu estaria errado se dissesse que a FIFA deu a Copa do Mundo para o Brasil. Isso é besteira. Blatter deu a Copa do Mundo para o Teixeira. Não a FIFA, o Blatter. São coisas diferentes.

A FIFA é uma máfia, uma família de crime organizado. No livro, eu mostro que ela não é uma organização legítima. Os líderes são ladrões, eles dividem tudo entre eles e estava na hora de dar ao Ricardo a sua Copa do Mundo. A CBF estava falida  e isso provou ao Blatter que Teixeira era justamente o tipo que ele queria para organizar a Copa do Mundo.

Que pessoas e organizações lucram com a Copa do Mundo?

Vocês contribuintes pagam por ela. A FIFA consegue lucrar com a bilheteria. Todos o dinheiro da FIFA vem da Copa do Mundo, é sua grande fonte de renda. Nos outros torneios: futebol feminino, sub-17, sub-21, eles perdem dinheiro. Mas eles precisam fazê-los para mostrar que são inclusivos. O Valcke prevê que a FIFA vai ganhar US$ 2,7 bilhões com a Copa, os brasileiros ficam bravos e ele responde: “Mas nós estamos colocando tanto dinheiro de volta”. Isso não é verdade. Quando um quarto de hotel é alugado, isso não é colocar dinheiro, é alugar um quarto de hotel!

Os patrocinadores, como McDonald’s, Visa, Samsung e outros conseguem uma maravilhosa isenção fiscal de 12 meses pela “lei da FIFA”. O Romário lutou contra ela, mas a Dilma forçou sua aprovação. A isenção fiscal para eles é um fardo para vocês. Se eles não pagam os impostos, vocês pagam. Eles estão roubando vocês! Essas empresas, como a Coca-Cola e a Samsung, estão vendendo produtos e não há impostos! Não tem motivo! Se eu for começar uma empresa em São Paulo, eu tenho isenção fiscal? Não, não tenho.

Então a Copa do Mundo é um pretexto para eles lucrarem?

Eu acho que nós poderíamos ter um campeonato mundial de futebol sem eles. Nós não precisamos desse nível de pessoas não transparentes só se preocupando com eles e com seus associados comerciais. Só o dinheiro da venda dos direitos televisivos, que você conseguiria legitimamente, é suficiente para pagar pela Copa do Mundo. As emissoras pagam uma fortuna para transmitir. Você não precisa de negócios por baixo dos panos com patrocinadores ou isenções fiscais especiais.

FONTE: http://apublica.org/2014/05/eles-estao-roubando-voces/

Estádio de Atletismo Célio de Barros virou estacionamento da FIFA

VIROU ESTACIONAMENTO DA FIFA. Este é o Estádio de Atletismo Celio de Barros.

O Celio de Barros é o único local de treinamento adequado no Rio de Janeiro para todas as modalidades de atletismo das Olimpíadas. O espaço foi fechado foi asfaltada em janeiro de 2013 sem aviso prévio aos atletas, professores, treinadores e alunos dos projetos sociais. Desde então, todos estão treinando agora na rua, de forma improvisada, a 2 anos dos Jogos Olímpicos.

No dia 29 de abril de 2014, a Comissão de Direitos Humanos da Alerj realizou audiência pública para debater o futuro do estádio. Queremos que a secretaria da Casa Civil receba os atletas e professores para apresentar à sociedade civil interessada um projeto de reforma do espaço para que volte a ter seu uso público.

Para todos que conhecem o espaço e sua importância, é muito triste ver essa imagem.

Foto: Daniel Vasconcellos
#AscomMarceloFreixo

Por Marcelo Freixo

O Célio de Barros é o único local de treinamento adequado no Rio de Janeiro para todas as modalidades de atletismo das Olimpíadas. O espaço foi fechado foi asfaltada em janeiro de 2013 sem aviso prévio aos atletas, professores, treinadores e alunos dos projetos sociais. Desde então, todos estão treinando agora na rua, de forma improvisada, a 2 anos dos Jogos Olímpicos.

No dia 29 de abril de 2014, a Comissão de Direitos Humanos da Alerj realizou audiência pública para debater o futuro do estádio. Queremos que a secretaria da Casa Civil receba os atletas e professores para apresentar à sociedade civil interessada um projeto de reforma do espaço para que volte a ter seu uso público.

Para todos que conhecem o espaço e sua importância, é muito triste ver essa imagem.

Foto: Daniel Vasconcellos

FONTE: Ascom/MarceloFreixo‬

EL País: Os protestos ofuscam a estreia da Copa do Mundo no Brasil

As manifestações anti-Copa se juntam à concentração de metroviários e atraem os Black Blocs, que fizeram trincheiras de fogo num bairro próximo ao Itaquerão

No resto da cidade, os torcedores seguiam eufóricos para o estádio

PEDRO MARCONDES DE MOURA

A polícia dispara contra os manifestantes na zona leste. / MARIO TAMA (GETTY)

A Copa do Mundo está a ponto de começar. Mas os protestos que, há um ano acompanham sua organização, persistem. Focos de manifestação e greves de vários setores e em várias cidades brasileiras ofuscaram o dia de estreia do Mundial. Em São Paulo, que está tomada por policiais e por soldados do Exército, agentes anti-motins dissolveram hoje pela manhã com gases lacrimogênios um protesto de uma centena de pessoas que reclamava pelas despesas do Mundial, às portas da partida inaugural de hoje. A agência Reuters contabilizou pelo menos oito feridos, a maioria jornalistas, e algumas pessoas foram detidas.

Os manifestantes reuniram-se próximos à Radial Leste, um dos acessos do estádio Itaquerão, onde às 17h horas começa o jogo entre a Croácia e o Brasil. A polícia cercou os manifestantes, que retrocederam várias centenas de metros e acabaram se unindo a um grupo de trabalhadores do metrô de São Paulo – que rapidamente tratou de se desvencilhar do conflito. Os metroviários estavam concentrados também na região, onde fica o sindicato dos metroviários, para protestar contra o Governo do Estado pela readmissão dos 42 demitidos de uma greve recente, desconvocada na segunda-feira, que paralisou durante cinco dias a cidade. Teve início o corre-corre, os distúrbios, jovens encapuzados começaram a derrubar sinais de trânsito e a fazer barricadas de lixo que foram incendiadas na sequência, levantando uma fumaça preta que assustou os moradores da região.

Os trabalhadores do metrô se preocuparam em não se misturar com os jovens mais violentos, que lançavam pedras aos agentes. A polícia, enquanto isso, continha os protestos e tratava de cercar os manifestantes de maneira que não se aproximassem das vias de acesso ao estádio. Conseguiu. Tudo isso acontecia na zona leste da cidade. No resto, os pedestres de camiseta amarela, torcedores emocionados e sorridentes e turistas se dirigindo ao estádio.

Enquanto isso, no Rio produziu-se uma greve de trabalhadores dos aeroportos que afetou uma das vias de acesso ao terminal internacional. Professores que exigiam melhores salários fizeram passeatas no centro da cidade. Em Natal, no nordeste do país, também sede do Mundial, se anunciava uma greve de motoristas de ônibus que afetava meio milhão de pessoas. Já em Porto Alegre, uma manifestação antiCopa tomou conta do centro. Aproximadamente 150 pessoas se juntaram em frente à prefeitura municipal para protestar contra os gastos da competição. Houve atos de vandalismo, e a tropa de choque chegou para conter os ataques à Secretaria de Turismo.

As imagens nas redes de televisão brasileiras mostravam bombeiros tentando apagar os focos de fogo em São Paulo, policiais vestidos como Robocops e nuvens de jornalistas com capacetes ziguezagueando entre uns e outros. Uma moradora do bairro do Tatuapé admitiu: “Que pena: meu bairro está em guerra”.

No final da manhã, os metroviários fecharam a sede do sindicato para proteger os manifestantes da polícia. Ficaram de fora apenas um grupo de simpatizantes da tática Black Bloc e policiais. A PM bloqueou as vias de acesso ao local para evitar que a aglomeração aumentasse.

FONTE: http://brasil.elpais.com/brasil/2014/06/12/politica/1402588208_408345.html

Faltou humildade à presidente

Antônio Carlos Costa

cioa

Percebe-se no país inteiro a ambivalência de sentimento com relação à Copa. Parte da população consegue abstrair sua paixão pela seleção brasileira dos problemas políticos que envolveram a realização da competição esportiva. Na minha casa, por exemplo, tem quem vai torcer fervorosamente. Impera a liberdade e o respeito. Milhões de brasileiros, contudo, sentem-se indignados com a forma como a organização da Copa foi conduzida, especialmente, pelo uso de verba pública. Entre estes, há aqueles que até mesmo recusam-se a assistir aos jogos.

Em junho do ano passado, vimos o país sair às ruas, clamando por solução política para número infindável de problemas sociais concretos que milhões enfrentam no Brasil.

Somando esses dois fatos, os milhares que protestaram ano passado mais os que sentem-se feridos pelo uso de dinheiro público na Copa, nos deparamos com parcela significativa da população esperando respostas efetivas do poder público brasileiro para demandas justas do povo.

Tudo isso impõe aos que representam o povo a necessidade imperiosa da falar à alma, coração e mente da população. Como? Mediante a apresentação de metas claras, políticas públicas objetivas, trabalho duro e humildade para reconhecer equívocos. Pensemos na possibilidade de que tudo o que vivemos ano passado tenha sido apenas uma onda que será seguida por um tsunami de revolta social. Como declara André Bieler: “Quem deixa agravar-se uma indisposição social é responsável pela agitação revolucionária que venha daí resultar”.

A presidente Dilma, no seu discurso de anteontem em rede nacional, poderia ter levado os fatos supramencionados em consideração e falado aos milhões que não decoraram suas ruas nem penduraram a bandeira do Brasil em suas janelas, bem como aos que irão torcer e, pelo simples fato de serem cidadãos desse país, merecem respostas honestas para perguntas honestas.

Ela devia um pedido de perdão ao povo. Foi dito que a Copa seria realizada com recursos da iniciativa privada, o que não houve. As obras da Copa saíram muito mais caras do que o que havia sido anteriormente declarado, sem mencionar os escândalos de superfaturamento. Há um custo, contudo, bem mais grave do que o dinheiro investido em estádios. A consciência social do povo brasileiro foi ferida. O país se dividiu. Milhões de trabalhadores não conseguem compreender como houve vontade política para a realização da Copa e não se percebe esse mesmo investimento de vida em áreas essenciais de serviço público.

Não houve menção, na fala da presidente, aos oito trabalhadores que morreram na construção dos estádios, para cujas famílias a Copa já acabou há muito tempo. Haverá um minuto de silêncio em memória desses brasileiros que deram sua vida por uma competição esportiva que não poderá ser assistida pelos que vivem com o salário que esses operários ganhavam?

Os números do investimento em educação e saúde apresentados pela presidente não impressionam. Além de ser dever de um Estado para o qual damos o sangue, trabalhando duro para sustentá-lo com nossos impostos, esses bilhões de reais mencionados ontem estão sendo muito mal empregados, porque pacientes continuam morrendo em fila de espera de hospital público, milhões de crianças estudam em escolas públicas desprovidas de quadras esportivas e bibliotecas. Já as arenas esportivas da Copa do Mundo, estão aí. Esplendorosas, perante um povo perplexo, passando imagem falsa de um dos países mais desiguais do planeta.

Quando afirmamos que o dinheiro da Copa foi tirado da educação, saúde e segurança -o que de fato queremos dizer é que com os 30 bilhões investidos na Copa, trataríamos, ainda que parcialmente, de alguns do problemas mais urgentes do Brasil, que parecem não caber no orçamento espetacular apresentando no discurso da presidente, caso contrário, teríamos escolas e hospitais à altura do poder econômico da sétima economia do planeta.

Não era momento de atacar inimigos, escarnecer de quem se mostrou pessimista quanto à capacidade do país da “ponte que liga o nada a lugar nenhum” cumprir as promessas que fez, pessimismo que se confirmou nas mais diferentes áreas de planejamento.

Quanto aos que saíram da miséria, não nos esqueçamos que o brasileiro trabalha em média oito a dez horas por dia, seis vezes por semana, gastando nas grandes cidades quatro horas de sua vida no trânsito, para receber no final do mês R$ 740, 00 e voltar do trabalho para seus barracos em bairros nos quais não há saneamento básico. Essa gente tem tempo para a literatura, a prática de um hobby, o investimento no seu desenvolvimento pessoal, a poesia, o amor? Muitos dos quais endividados e, por problema de consciência, procurando honrar seus compromissos financeiros, porque julgam indigno dever e não pagar, ainda que o credor seja um agiota cuja atividade é legitimada pelo Estado.

Presidente Dilma, a quem devemos todo respeito. Representante legítima do povo brasileiro. O brasileiro ama a humildade. Não há caminho mais eficaz para ganhar a alma da população do que o gesto humilde acompanhado da sincera correção de rumo. No governo do seu partido, políticas públicas livraram milhões da fome e da falta de teto para viver. Contudo, há muito ainda a ser feito. Pobres agonizam nas favelas, nas comunidades ribeirinhas da amazônia e no sertão nordestino. 

Na abertura desta Copa, o povo brasileiro esperava ouvir um pedido de perdão, seguido da apresentação de um sonho. Isso pacificaria os corações daqueles que não desistem nunca, como a senhora muito bem mencionou, e que por isso mesmo não deixarão de voltar às ruas para lutar por si mesmos, pelas suas famílias e pelo seu país.

Antônio Carlos Costa, Rio de Paz -Dando voz aos sem voz e visibilidade aos invisíveis

Argentina desobedece à FIFA e reclama as Malvinas  

Os jogadores da seleção de futebol da Argentina aproveitaram o último jogo antes do Mundial do Brasil para lembrar ao mundo que o conflito pela posse das ilhas Malvinas continua bem vivo.

Apesar da FIFA proibir mensagens políticas, os jogadores argentinos mostraram ao mundo que as Malvinas são argentinas.

“As Malvinas são argentinas”, dizia a faixa que os jogadores mostraram antes do início do jogo com a Eslovénia este sábado. Apesar da proibição que a Federação Internacional de Futebol (FIFA) determinou sobre quaisquer mensagens políticas em jogos de futebol, a Argentina não quis deixar de aproveitar a oportunidade para recordar que as ilhas, ocupadas pelos britânicos há quase 180 anos, lhes pertencem.

Esta não é a primeira vez que atletas argentinos fazem passar a mesma mensagem em eventos desportivos internacionais. O portal Los Andes recorda que em 2012, a delegação olímpica preparou uma ação semelhante para os Jogos Olímpicos de Londres, mas foi dissuadida pelo Comité Olímpico Internacional, que também proíbe as mensagens políticas. Quem esteve ausente da cerimónia de abertura das Olimpíadas de Londres foi a presidente Cristina Kirchner, que fez regressar o tema das Malvinas à agenda política, ameaçando as empresas petrolíferas com sanções penais caso operem nas Malvinas sem autorização governamental.

Meses antes dos Jogos Olímpicos de Londres, o  governo de Buenos Aires relançou a polémica com um anúncio de televisão com um atleta olímpico argentino a treinar nas Malvinas e a mensagem final: “Para competir em solo inglês, treinamos em solo argentino”.

FONTE: http://www.esquerda.net/artigo/argentina-desobedece-fifa-e-reclama-malvinas/32977