Bancos vs. Amazônia: Novos dados revelam US$ 2 bilhões em financiamento a novos projetos de petróleo e gás na Amazônia

Às vésperas da COP30, nova pesquisa apresenta uma oportunidade e um prazo para que os grandes bancos deixem de financiar petróleo e gás na Amazônia
How European banks are financing the trade of controversial Amazon oil to  the U.S. | by Stand.earth | Medium´———
Por Stand.earth

Explore a base de dados completa Amazon Banks Database e o scorecard Bancos vs. Amazônia.

GLOBAL – Às vésperas da COP30 em Belém, a primeira Conferência do Clima realizada na Amazônia, novos dados mostram que bancos adicionaram US$ 2 bilhões em financiamento direto ao setor de petróleo e gás na região, desde o início de 2024. Itaú Unibanco, JP Morgan Chase e Bank of America apresentam os piores desempenhos, enquanto BNP Paribas e HSBC implementaram políticas que resultaram em melhorias mensuráveis. Os dados financeiros detalhados são divulgados junto com o primeiro scorecard Bancos vs. Amazônia.

Com base na análise de 843 operações envolvendo 330 bancos, a pesquisa revela que bancos proporcionaram mais de US$ 15 bilhões em financiamento direto a atividades de petróleo e gás na Amazônia desde que o Acordo de Paris foi adotado, em 2016. Apenas 10 bancos, incluindo JP Morgan, Itaú, Citi, Bank of America e HSBC, são responsáveis por quase 75% desse financiamento.

Martyna Dominiak, coordenadora de campanhas sênior de finanças climáticas da Stand.earth, afirma: “O scorecard Bancos vs. Amazônia e a atualização da base de dados Amazon Banks Database oferecem, antes da COP30, não apenas uma oportunidade clara, mas também um prazo urgente para que os bancos parem de financiar combustíveis fósseis na Amazônia. Para os povos indígenas que resistem ao extrativismo — e seus aliados —, a primeira COP climática da região é um momento decisivo que exige uma Amazônia livre de combustíveis fósseis.”

A expansão de petróleo e gás na Amazônia ameaça um dos ecossistemas mais vitais do planeta e os povos indígenas que o protegem há milênios. Além de o uso de combustíveis fósseis ser a principal causa das emissões globais de gases de efeito estufa, na Amazônia sua extração também acelera o desmatamento e polui rios e comunidades.

Apesar disso e da proximidade da COP30, países como Brasil, Equador e Peru seguem na direção errada, leiloando dezenas de novos blocos de petróleo na floresta tropical. Ao financiar esses projetos, os bancos agravam a crise climática e a destruição da Amazônia, em vez de apoiar a transição energética justa e urgente de que o planeta precisa.

Os dados mais recentes (de janeiro de 2024 a junho de 2025, totalizando US$ 2 bilhões) mostram que vários bancos aumentaram significativamente seu financiamento direto, incluindo Itaú, Scotiabank, Credicorp, Banco Interamericano de Finanzas e Bank of America. Em contraste, HSBC, Santander e BNP Paribas apresentam níveis estáveis ou decrescentes de financiamento.

Financiamento recente (de janeiro de 2024 a junho de 2025) e variação no ranking em comparação ao financiamento direto total desde 2016
Posição em financiamento recente Banco Mudança no ranking Financiamento

(em milhões de dólares)

1 Itaú Unibanco ↑ 3 $378
2 JPMorgan Chase ↓ 1 $326
3 Bank of America 0 $317
4 Citi ↓ 2 $283
5 Credicorp ↑ 3 $154
6 Scotiabank ↑ 4 $108
7 Banco de Nordeste 0 $107
8 Trafigura Pte ↑ 27 $42
9 Banco Santander ↓ 3 $37
10 Banco Interamericano de Finanzas ↑ 30 $33
17 HSBC ↓ 12 $12
35 BNP Paribas ↓ 12 $4

Mais de 80% dos financiamentos recentes foram destinados a apenas seis empresas: a canadense Gran Tierraas brasileiras Petrobras Eneva, a comerciante de petróleo Gunvor, bem como as empresas por trás do polêmico projeto de gás Camisea: Hunt Oil Peru Pluspetrol Camisea. Essas empresas geralmente são associadas a casos de violações dos direitos humanos, acusações de corrupção, litígios e resistência por parte dos povos indígenas.

O banco brasileiro Itaú ocupa a primeira posição entre os maiores financiadores de petróleo e gás na Amazônia para o período compreendido entre 2024 e 2025, principalmente devido ao financiamento concedido à Eneva, apesar de suas declarações de apoio ao “desenvolvimento socioeconômico e à conservação ambiental da região”, junto com Santander e Bradesco. Ao mesmo tempo, o Itaú continua promovendo sua imagem de sustentabilidade no Brasil, um claro exemplo de greenwashing.

Devyani Singh, pesquisadora-chefe da base de dados e do scorecardafirma: “Nossa pesquisa revela que, embora bancos europeus como BNP Paribas e HSBC tenham aplicado políticas mais robustas para proteger a floresta amazônica em comparação com seus pares — resultando em uma queda significativa nos volumes de financiamento —, nenhum banco ainda reduziu esse financiamento a zero. Todos precisam fechar as brechas existentes e sair completamente do financiamento ao petróleo e gás na Amazônia sem demora.”

Scorecard Bancos vs. Amazônia 

  • O scorecard Bancos vs. a Amazônia é a primeira ferramenta a classificar 18 grandes bancos: os 10 maiores financiadores de petróleo e gás nos últimos 10 anos, bem como os bancos que adotaram políticas específicas relacionadas à Amazônia, oferecendo recomendações específicas para cada banco.
  • A análise conclui que somente políticas robustas e efetivamente implementadas em nível corporativo podem acabar com o financiamento destrutivo ao setor de combustíveis fósseis.
Referência BNP Paribas 
Atores com avanços moderados  ING, Societe Generale, HSBC e Barclays
Seguidores de tendências Citibank, Santander, BBVA, Intesa Sanpaolo e Standard Chartered
Retardatários Bank of America, JP MorganChase, Itaú, Scotiabank, Royal Bank of Canada, Goldman Sachs, Credicorp Banco do Nordeste

Líderes indígenas da Amazônia, cujos territórios estão sendo afetados pela exploração de petróleo e gás, ofereceram os seguintes comentários:

Olivia Bisa, presidente do Governo Territorial Autônomo da Nação Chapra (Peru), disse: “É revoltante que o Bank of America, o Scotiabank, o Credicorp e o Itaú estejam aumentando seu financiamento a petróleo e gás na Amazônia justamente em um momento em que a floresta está sob grave ameaça. Há décadas, os povos indígenas sofrem os impactos mais severos dessa destruição. Estamos pedindo que os bancos mudem de rumo agora: ao encerrar o apoio às indústrias extrativas na Amazônia, eles podem ajudar a proteger a floresta que sustenta nossas vidas e o futuro do planeta.”

Ingry Mojanajinsoy, Presidente da Associação dos Cabildos Inga do Município de Villagarzón Putumayo (ACIMVIP) (Colombia):“Empresas petrolíferas como a Gran Tierra trouxeram conflito, deslocamento e perda cultural para o nosso território. Apesar de anos de resistência, a Gran Tierra continua se expandindo, ameaçando nosso modo de vida. Os bancos que financiam a Gran Tierra devem parar imediatamente. Nunca demos consentimento para que o petróleo fosse extraído de nossas terras.”

Jonas Mura, cacique do Território Indígena Gavião Real (Brasil): “A Eneva tem causado muitos prejuízos no nosso território. O barulho, o tráfego constante de caminhões e as explosões têm afugentado os animais e afetado nossas caças. Pior ainda: estão entrando sem o nosso consentimento. Nosso território se sente ameaçado, e nossas famílias estão sendo diretamente prejudicadas. Vivem aqui cerca de 1700 indígenas, e a nossa sobrevivência depende da floresta. Pedimos que bancos como Itaú, Santander e Banco do Nordeste parem de financiar empresas que exploram combustíveis fósseis em territórios Indígenas. Essas empresas não têm compromisso com o meio ambiente, nem com os povos originários e tradicionais, nem com o futuro do planeta. Esses investimentos são cúmplices de um genocídio: estão matando nossa cultura, nossa história e destruindo a biodiversidade da Amazônia.”

O caminho a seguir é claro: os bancos devem deixar de financiar petróleo e gás na Amazônia e implementar políticas de exclusão de financiamento ao setor, para ajudar a evitar o iminente ponto de não retorno na Amazônia.

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NOTAS PARA OS EDITORES: 

Especialistas e porta-vozes estão disponíveis para entrevistas.

Explore a base de dados completa Amazon Banks Database e o scorecard Bancos vs. Amazônia.

Metodologia: a base de dados e o scorecard utilizam o banco de dados do London Stock Exchange Group (LSEG), com referências cruzadas com o banco de dados IJGlobal. Alguns tomadores de decisão dos bancos apresentados no scorecard tiveram a oportunidade de analisar os resultados, bem como de se reunir diretamente com os pesquisadores para consultas.


Fonte: Stand.earth

Países da América Latina lamentam acordo de financiamento na COP29

COP29 terminou com acordo que não correspondeu às expectativas

cop 29 decepçãoApós duas semanas de intensas negociações, a COP29 no Azerbaijão terminou com uma meta de financiamento que está longe daquela solicitada pelos países latino-americanos. Crédito da imagem: ECCOthinktank/Flickr , licenciado sob Creative Commons CC BY-ND 2.0

Por Fernín Kopp para o SciDev 

A recente edição da Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP29), realizada no Azerbaijão, terminou com um acordo de financiamento para fazer face aos efeitos da crise climática que ficou muito aquém do solicitado pelos países em desenvolvimento da América Latina.

Um dos objectivos da COP29 era que os quase 200 países reunidos chegassem a acordo sobre um novo objectivo de financiamento que os países desenvolvidos devem fornecer aos países em desenvolvimento para responder aos impactos das alterações climáticas.

Após duas semanas de intensas negociações, o resultado da reunião foi um acordo que triplica a meta anterior de 100 mil milhões de dólares anuais incluída no Acordo de Paris de 2015, e atinge um montante de 300 mil milhões de dólares anuais até 2035, com o objetivo de “ envidando esforços” para atingir US$ 1,3 bilhão anualmente. Contudo, este último valor foi a meta efetivamente solicitada pelos países latino-americanos.

“O objetivo carece da ambição e da solidariedade que esperávamos. “Não representa uma mensagem de apoio aos países em desenvolvimento”.

Roberto Piselli, analista financeiro e membro da delegação peruana na COP29

O montante associado à nova meta pode provir de “uma grande variedade de fontes, públicas e privadas, bilaterais e multilaterais”, o que tem sido criticado por vários países. Além disso, não está claro como será alcançado o valor de 1,3 biliões de dólares sem um plano detalhado.

“O objetivo carece da ambição e da solidariedade que esperávamos. Não representa uma mensagem de apoio aos países em desenvolvimento”, disse Roberto Piselli, analista financeiro e membro da delegação peruana na COP29, na sessão plenária de encerramento. “Não pedimos favores; “Exigimos que os compromissos sejam cumpridos.”

Diego Pacheco, delegado da Bolívia na COP29, juntou-se à reivindicação na sessão plenária. “Menos financiamento é um insulto e uma violação da justiça e equidade climáticas. Passámos do tempo de não deixar ninguém para trás à era de cada um por si. O pagamento da dívida climática é um direito”, disse ele.

A conferência deveria terminar na tarde de sexta-feira, 22 de novembro, mas foi prorrogada até a manhã de domingo, 24 de novembro, por falta de acordo. Os países desenvolvidos ofereceram inicialmente 250 mil milhões de dólares, o que levou os países insulares a abandonar a mesa de negociações em protesto e à espera de um acordo melhor.

Sandra Guzmán, diretora do Grupo de Financiamento do Clima para a América Latina e o Caribe (GFLAC), disse ao SciDev.Net que a meta deixa “um gosto muito amargo” e que representa “pouco esforço” por parte dos países desenvolvidos. No entanto, ressaltou que pelo menos a meta de US$ 1,3 bilhão foi incluída de alguma forma.

Em conversa com SciDev.Net , Susana Muhamad, Ministra do Meio Ambiente da Colômbia, concordou com Guzmán ao destacar o roteiro para atingir US$ 1.300 bilhões. Contudo, questionou que na COP “os interesses geopolíticos prevaleceram sobre os climáticos, o que explica o resultado obtido”.

A transição energética

O país anfitrião da conferência, o Azerbaijão, foi duramente criticado pela gestão da COP29. O petróleo e o gás representam 90 por cento das suas exportações e os interesses do sector ficaram muito visíveis nas negociações. A Arábia Saudita também foi questionada por países e ONGs por obstruir os acordos.

Na COP28, em 2023, os países concordaram, pela primeira vez, numa conferência climática da ONU, em fazer a transição gradual dos combustíveis fósseis para as energias renováveis. Esperava-se avançar na implementação desse compromisso na COP29, mas os países adiaram a decisão para a COP30.

Na verdade, nenhum texto acordado na conferência do Azerbaijão inclui uma menção aos combustíveis fósseis. Os projetos anteriores mencionavam-nos, bem como novos objetivos adicionais, como o aumento da capacidade de armazenamento de energia e a expansão das redes de transmissão elétrica.

“É inaceitável que a COP29 não tenha enviado uma mensagem forte sobre a necessidade de reduzir as emissões e de se afastar dos combustíveis fósseis”, disse Fernanda Carvalho, diretora de política energética e climática da WWF, ao SciDev.Net . “Os países não devem permitir que isto os impeça de perseguir maiores ambições”, acrescentou.

Carvalho e outros especialistas temem que a falta de financiamento e a maior ambição com os combustíveis fósseis levem a planos climáticos menos ambiciosos, que os países terão de apresentar no próximo ano. O Brasil já avançou e apresentou o seu próprio na COP29, o que gerou reações mistas.

A próxima COP acontecerá no Brasil em novembro de 2025. Para o país anfitrião será uma oportunidade de tornar visível a liderança ambiental de Lula da Silva, mas também levantará questões sobre a expansão dos fósseis no país.

Natalie Unterstell, diretora do Instituto Talanoa no Brasil, disse ao SciDev.Net que a agenda brasileira na COP30 deve incluir adaptação, considerando os impactos visíveis na América Latina e a transição dos combustíveis fósseis. “Se o Brasil conseguir liderar os países produtores, isso enviará sinais aos mercados”, disse ele.


Fonte:  Edição América Latina e Caribe do SciDev.Net

Acordo da COP28 ignora o financiamento para uma adaptação justa

fossil freeMembros de um movimento de ação climática protestam contra os combustíveis fósseis em Pittsburgh, EUA, em 2022. Durante as negociações da COP28, os países comprometeram menos de 200 milhões de dólares para o Fundo de Adaptação da ONU. Direitos autorais: Mark Dixon, (CC BY-ND 2.0 DEED).

[DUBAI] O pacto final nas negociações climáticas da COP28 da ONU, que apela a uma mudança global dos combustíveis fósseis, não consegue fornecer o financiamento necessário para permitir que os países mais pobres façam a transição para uma energia mais verde e se adaptem às alterações climáticas, dizem os observadores.

O texto acabou acordado nas negociações, conhecidas como COP28, na quarta-feira (13 de dezembro), fechando a cortina de duas semanas de negociações em Dubai, instando os países a “fazerem a transição para longe dos combustíveis fósseis” – uma novidade nas negociações climáticas da ONU.

No entanto, não chegou a um apelo há muito exigido pela “eliminação progressiva” do petróleo, do carvão e do gás, apoiado por mais de 100 nações.

“Não é suficiente fazermos referência à ciência e depois fazermos acordos que ignoram o que a ciência nos diz que precisamos de fazer.”

Anne Rasmussen, negociadora principal, Samoa

“É uma direção para o nosso objetivo, mas não é suficiente”, disse Fatima Yamin, conselheira sobre adaptação climática e desastres climáticos no Paquistão.

“Infelizmente, as decisões críticas sobre o financiamento da adaptação e a elevação do nível do fundo para perdas e danos não foram alcançadas.

“Sim, a ‘transição dos combustíveis fósseis’ é crítica, mas os países em desenvolvimento precisam de tecnologia e de fundos para se adaptarem, o que não será tão eficaz se as decisões sobre os fundos de adaptação não forem aceleradas.”

O acordo diz que os países precisam de apresentar um plano nacional de adaptação até 2030, mas não diz de onde deverá vir o dinheiro.

Um relatório da ONU divulgado em novembro descobriu que os países em desenvolvimento precisarão de até 18 vezes mais financiamento do que recebem atualmente para suportar os impactos da mudanças climáticas.

Durante as conversações, os países comprometeram menos de 200 milhões de dólares para o Fundo de Adaptação das Nações Unidas, que ajudará as comunidades vulneráveis ​​a modificar práticas face às alterações climáticas.

Rascunho do texto deslocado

Um projecto de texto divulgado na segunda-feira foi amplamente criticado pela sua linguagem fraca sobre a redução dos combustíveis fósseis. A Aliança dos Pequenos Estados Insulares descreveu-o como uma “certidão de óbito” para os seus habitantes.

O presidente da COP28, Sultan Al Jaber, que também é chefe da Companhia Nacional de Petróleo de Abu Dhabi, foi aplaudido de pé quando bateu o martelo sobre um acordo final na manhã de quarta-feira, apesar de evitar as palavras controversas “eliminação gradual”, contestadas por a Organização dos Países Exportadores de Petróleo.

“Pela primeira vez temos linguagem sobre combustíveis fósseis”, anunciou Al Jaber, sob aplausos.

Jauad El Kharraz, diretor executivo do Centro Regional de Energia Renovável e Eficiência Energética, disse que o acordo final foi uma “formulação de compromisso” entre aqueles que apoiam o fim total dos combustíveis fósseis e “as partes que se recusam a cortar os combustíveis fósseis em dos quais as suas economias dependem”.

“Isto pode ser considerado um passo que pode ser construído sobre uma assinatura do fim da era dos combustíveis fósseis”, disse ele.

Falta financiamento

Referindo-se à meta acordada nas conversações COP21 de 2015 em Paris para limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais, Kenzie Azmi, ativista do Greenpeace no Médio Oriente e Norte de África, disse: “É um passo mais próximo, mas não irá cumprir a ambição exigida pelo objetivo  de limitar o aquecimento a 1,5 Celsisus.

“As comunidades que estão na linha da frente da catástrofe climática precisam de mais do que isto.

“Eles precisam de ver um compromisso inabalável e resoluto com uma eliminação rápida, equitativa e bem financiada de todos os combustíveis fósseis, juntamente com um pacote financeiro abrangente para os países em desenvolvimento fazerem a transição para as energias renováveis ​​e lidarem com os crescentes impactos climáticos.”

Ela disse que o acordo carecia de meios suficientes para alcançar uma transição para a energia verde “de forma justa e rápida”.

“O novo texto não proporciona qualquer financiamento adicional sustentado para adaptação ou mitigação, o que é muito necessário para que possam fazer uma transição justa para longe dos combustíveis fósseis para lhes permitir lidar com os impactos climáticos, adaptar-se a eles e fazer a transição para longe dos combustíveis fósseis. combustíveis”, acrescentou ela.

Mohamed Adow, diretor da organização climática Power Shift Africa, sediada no Quênia, afirmou: “A transição pode ser rápida – o texto apela a uma transição para longe dos combustíveis fósseis nesta década crítica. Mas [isso] não é financiado nem justo.

“Ainda falta financiamento suficiente para ajudar os países em desenvolvimento a descarbonizarem-se.

“É preciso haver maior expectativa por parte dos produtores ricos de combustíveis fósseis de eliminarem gradualmente primeiro.”

“Também precisamos de muito mais apoio financeiro para ajudar as pessoas vulneráveis ​​a adaptarem-se aos impactos do colapso climático”, acrescentou.

A Aliança dos Pequenos Estados Insulares queixou-se de que a sua delegação não estava presente quando a decisão foi tomada. Afirmou que o texto não respondeu adequadamente à ciência climática.

“Não é suficiente fazermos referência à ciência e depois fazermos acordos que ignoram o que a ciência nos diz que precisamos de fazer”, disse a negociadora principal Anne Rasmussen, de Samoa.

“Esta não é uma abordagem que devamos ser solicitados a defender.”

Perdas e danos

A conferência começou com uma votação histórica para dar início ao Fundo para Perdas e Danos, acordado na COP27 do ano passado no Egipto. O fundo foi criado para pagar a destruição provocada pelas alterações climáticas em países vulneráveis.

No entanto, os países ricos comprometeram apenas 700 milhões de dólares – uma fracção dos 100 mil milhões de dólares ou mais pretendidos pelos países em desenvolvimento para responder às catástrofes climáticas.

“Embora tenhamos prometido 700 milhões de dólares para o Fundo de Perdas e Danos operacionalizado, não é suficiente para satisfazer o financiamento necessário para ajudar as comunidades vulneráveis ​​em todo o Sul global a financiar as catástrofes incorridas pelo impacto climático”, disse Azmi do Greepeace.

El Kharraz disse que outros resultados positivos para os países em desenvolvimento incluem compromissos para triplicar as energias renováveis, melhorar a resiliência dos sistemas alimentares e reduzir as emissões de metano.


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Este artigo foi produzido e escrito originalmente em inglês e publicado pela edição Global do SciDev.Net [Aqui!].

Para ABC e SBPC, Câmara vai “na contramão do desenvolvimento” ao não deixar despesas com CT&I de fora dos limites do novo marco fiscal

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A Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) lamentam, profundamente, a falta de compreensão da importância da Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) para o desenvolvimento econômico, social e sustentável da nação brasileira por parte da Câmara dos Deputados. Lembramos que as nações que estão entre as maiores economias do mundo só chegaram a esse patamar com investimentos robustos em educação e CT&I.

Assim, ao rejeitar emendas que estabeleciam que as despesas com ciência, tecnologia e inovação não seriam incluídas na base de cálculo e nos limites estabelecidos pelo novo marco fiscal, a Câmara dos Deputados fez uma escolha na contramão do desenvolvimento em um mundo globalizado da sociedade do conhecimento.

Atenciosamente,

Helena Bonciani Nader
Presidente da ABC

Renato Janine Ribeiro
Presidente da SBPC

Hegemonia chinesa chega na produção científica e evidencia corrosão da hegemonia dos EUA e o aumento do atraso do Brasil

china eua produçãoChina superou pela primeira vez os EUA na publicação de artigos científicos

Graças ao jornal “Folha de São Paulo”, temos agora mais uma prova de que a hegemonia chinesa se consolida cada vez mais em plano global. É que a partir de um levantamento feito sobre a publicação de artigos científicos, a matéria mostra que a China ficou em primeiro lugar, deixando os EUA em segundo. Além disso, a matéria mostrou que a liderança chinesa se dá a partir de publicações nas áreas de de biologia molecular e a farmacologia, principalmente com pesquisas relacionadas diretamente à COVID-19.  Além disso, a China também está em primeiro lugar em assuntos como astronomia, agricultura, ciências da computação e engenharias.  Essa situação representa um verdadeiro rearranjo na “tectónica de placas” que controlam a dinâmica da ciência mundial.

Segundo os jornalistas Sabine Righetti e Estêvão Gamboa, os dados obtidos da  Plataforma Scimago incluem métricas de mais 20.000 periódicos científicos listados pela base Scopus, sendo artigos do tipo “revisados por pares”, o que reforça a noção de que estes artigos todos não refletem apenas uma dominância quantitativa, mas também qualitativa.

Como alguém que acompanha o debate em torno da dualidade “quantidade versus qualidade”, acrescento ainda que o governo chinês vem adotando medidas para conter a publicação de artigos de baixa qualidade científica e até mesmo o envolvimento de seus pesquisadores com revistas “predatórias”. Em função disso,  o governo chinês vem adotando uma série de sanções contra pesquisadores pegos adotando práticas impróprias, a quais incluem proibições temporárias de solicitação de financiamento ou perda de bolsas e promoções – seguem uma política introduzida em setembro do ano passado com o objetivo de eliminar as fábricas de artigos científicos e lidar com outras condutas impróprias. 

O Brasil no caminho inverso ao da China

Um caminho oposto está sendo adotado no Brasil onde não apenas temos os piores níveis de financiamento em ciência e tecnologia em mais de uma década, mas também a ação livre, leve e solta de revistas predatórias que ajudam um número indeterminado de pesquisadores a terem vantagens indevidas na obtenção de recursos estatais para o custeio de suas pesquisas.

O resultado da adoção desse caminho inverso ao chinês é que estamos perdendo tração na produção científica, seja em termos de quantidade, mas principalmente de qualidade. O resultado dessa perda de tração não deverá se dar no plano imediato, mas principalmente em médio e longo prazo, causando danos consideráveis à capacidade do Brasil de estabelecer novos padrões de competição nas próximas etapas da produção capitalista, as quais vão depender justamente da capacidade de investir e produzir ciência em áreas de ponta, tal qual os chineses estão fazendo neste momento.

O domínio chinês veio para ficar?

Uma pergunta que sempre pode aparecer é se esse sucesso chinês é do tipo “gigante de pés de barro”. A minha impressão é que não, pois o nível de investimento que está em curso dentro de um planejamento de fortalecimento em linha da ciência chinesa é uma garantia de que mesmo removido o peso das publicações de baixa qualidade, a China vai continuar se consolidando como principal potência científica do planeta.

Como ciência será a principal commodity das próximas décadas, a grande possibilidade é que a migração do centro da ciência mundial dos EUA para a China não apenas vá se manter, mas também irá se aprofundar, causando profundos impactos no desenho econômico da economia mundial. 

Já para o Brasil, mantidas a atual situação criada pelo chamado “teto de gastos”, o que nos espera é um aprofundamento do processo de dependência tecnológica e, consequentemente, de atraso em relação às potências científicas globais. Por isso, na campanha presidencial de 2022, a comunidade científica brasileira terá que se organizar para oferecer um conjunto de propostas que nos permitam superar a atual dinâmica que mistura pobreza de financiamento com ação livre de pesquisadores que abraçaram as revistas predatórias para inflar seus números.

Manifestantes pedem ao BNDES o fim do financiamento a petróleo, gás e carvão

Ação da 350.org e da Ahomar, no Rio de Janeiro, convoca o banco a destinar recursos para setores que apoiem comunidades vulneráveis e ajudem o país a lidar com a crise climática

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Rio de Janeiro, 12 de novembro – Na manhã desta quinta-feira, ativistas da 350.org e pescadores da Associação dos Homens e Mulheres do Mar da Baía de Guanabara (Ahomar) realizaram uma manifestação em frente à sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Centro do Rio de Janeiro, para convocar a instituição a deixar de financiar projetos dos setores de petróleo, gás e carvão, responsáveis pela crise climática que já prejudica milhões de pessoas em todo o mundo.

Cálculo elaborado pela 350.org, a partir de dados do próprio BNDES, indica que o banco financiou mais de R$ 90 bilhões, entre 2009 e 2019, em projetos do setor de combustíveis fósseis. Os manifestantes pedem que o banco público direcione os recursos dos contribuintes para iniciativas que melhorem a qualidade de vida das comunidades mais vulneráveis e contribuam para que o Brasil adapte-se às mudanças no clima, em áreas como energias renováveis, transporte público eficiente nas grandes cidades e habitação popular para moradores de zonas de risco.

“O país enfrenta uma grave crise econômica, provocada pela pandemia, e uma severa crise ambiental, agravada pelas mudanças climáticas, como mostram os incêndios recentes no Pantanal. É urgente que o BNDES e outros bancos de desenvolvimento parem de queimar o dinheiro do cidadão em setores que só pioram a emergência climática e concentram lucros nas mãos de poucas grandes empresas”, afirma Ilan Zugman, diretor da 350.org na América Latina.

Ativistas ambientais também realizaram protestos pelo fim do financiamento às energias sujas em Paris, Manila (Filipinas) e Abuja (Nigéria), como parte de uma semana de mobilizações para exigir que os bancos de desenvolvimento contribuam com a recuperação justa da economia global frente à pandemia de Covid-19.

As ações ocorreram simultaneamente à cúpula Finance in Common, primeiro encontro internacional de representantes de cerca de 450 bancos de desenvolvimento, com a finalidade de discutir medidas coordenadas de estímulo à economia e enfrentamento às mudanças climáticas.

Contato para a imprensa

Peri Dias

Comunicação da 350.org na América Latina  peri.dias@350.org / +591 7899-2202

FGV CEIPE promove seminário para discutir financiamento em Educação

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O Centro de Excelência e Inovação em Política da Fundação Getulio Vargas (FGV CEIPE), em parceria com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime-RJ), realiza no dia 30 de julho, das 9h às 16h, o seminário “Financiamento e Investimento na Educação: como garantir os direitos constitucionais da criança e do adolescente”. O evento tem o objetivo de fomentar ações para uma gestão pública eficaz, eficiente e efetiva no investimento do recurso público por uma educação equitativa e de alta aprendizagem no Estado do Rio de Janeiro.

O seminário será estruturado em quatro painéis com foco nas temáticas: “políticas educacionais”, “financiamento na educação”, “o papel do Legislativo na melhoria da qualidade do investimento público em educação” e “articulação entre os poderes para uma gestão eficaz na educação”. O evento, que acontece de 9h às 16h, contará com a participação de painelistas da Fundação Getulio Vargas, Instituto Ayrton Senna, Instituto Unibanco, Ministério Público e Tribunal de Contas.

Serviço:

Seminário “Financiamento e Investimento na Educação: como garantir os direitos constitucionais da criança e do adolescente”
Data: 30/07/2019 Horário: 9 às 12h30
Local: Centro Cultural da FGV – Praia de Botafogo, 186 (Acesso pelo Edifício Sede da FGV, nº 190 – Botafogo, Rio de Janeiro – RJ)
Inscrições: bit.ly/fie2019inscricoes

Programação:

Abertura/Boas-vindas
Claudia Costin, diretora do CEIPE

PAINEL I – Políticas educacionais voltadas para resultados

– Claudia Costin, diretora do CEIPE
 Mozart Neves Ramos, diretor de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna
– Ricardo Henriques, superintendente executivo do Instituto Unibanco.
Perguntas
Mediação: Leila Sterenberg – jornalista

PAINEL II – Financiamento da Educação
– 
Mariza Abreu, consultora de Educação
– 
Tassia de Souza Cruz – professora da Escola de Políticas Públicas e Governo da FGV
Perguntas
Mediação: João Marcelo Borges – diretor de Estratégia Política no Todos Pela Educação

Intervalo para Almoço

PAINEL III – O papel do Legislativo na melhoria da qualidade do investimento público em Educação
– Mateus Aldin Martins – coordenador da 3ª CAC do TCE-RJ
– Renan Ferreirinha – deputado estadual-RJ
Perguntas
Mediação: João Marcelo Borges – diretor de Estratégia Política no Todos Pela Educação

Painel IV – Articulação entre os poderes para uma gestão eficaz na educação
– Promotora de Justiça, Dra. Débora da Silva Vicente, coordenadora do CAO Educação/MPRJ
– Stella Magaly Salomão Correa, vice-presidente da Undime-RJ e dirigente Municipal de Educação de Angra dos Reis
Perguntas
Mediação: Leila Sterenberg – jornalista

Encerramento
Lenine Lemos, presidente da Undime-RJ e dirigente Municipal de Educação de Queimados

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Material produzido pela Insight Comunicação. No Rio – (21) 2509-5399. assessoria.fgv@insightnet.com.br

Universidades também sob ataque em Portugal, mas com dirigentes com disposição para defendê-las

Estando para um período sabático na Universidade de Lisboa, não pude perder a oportunidade de assistir à aula inaugural para o ano acadêmico de 2018/2019. Apesar do grande momento do dia ter sido reservado para a última aula dada na universidade pelo presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, que está se aposentando compulsoriamente por estar completando 70 anos, o principal político do dia coube ao reitor da Universidade de Lisboa, o professor António Cruz Serra.

cruz serra

Para trocar em miúdos o pronunciamento que o reitor deu para uma plateia que reuniu altas autoridades do governo federal português e membros do corpo diplomático que atua na capital portuguesa expressou uma dura crítica à forma com que o ensino superior está sendo tratado em Portugal.

O reitor começou criticando a política de interiorização adotada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES), manifestamente pouco avisada”, que implicou na diminuição de vagas nas universidades públicas de Lisboa e do Porto, sem que tenha alcançado um crescimento mínimo nas universidades do interior e das ilhas, o que teria resultado numa aritmética desequilibrada, com 1.066 vagas retiradas às universidades e politécnicos das duas maiores cidades portuguesas, e um ganho de apenas 98 novos alunos distribuídos pelas 31 instituições das áreas (Algarve, ilhas, interior, Coimbra, Aveiro e Minho) que deveriam ser beneficiadas pela política do MCTES. O resultado, segundo António Cruz Serra, será o aumento da procura de jovens talentosos por vagas em universidades privadas.

Outra área sensível que foi abordada pelo reitor foi o que ele considera um ataque planejado contra a autonomia universitária das universidades públicas, e que se traduz na asfixia financeira e a intervenção no processo de recrutamento de pessoal, o qual impede que o recrutamento de profissionais seja feito com base no mérito. Nesse sentido, o reitor criticou “muitas medidas legislativas recentemente tomadas em total desconsideração pela autonomia universitária”, começando por aquela de que resulta “a contratação sem concurso do seu pessoal docente e investigador”. Tudo isso resultaria numa inaceitável precarização das condições de funcionamento da Universidade de Lisboa, e a criação de barreiras para que a instituição possa cumprir suas obrigações estratégicas para com o desenvolvimento nacional português.

O reitor António Cruz Serra também apontou para a necessidade de se repensar o sistema de avaliação das universidades públicas, considerado por ele como sendo muito rígido. O problema seria que o atual sistema de avaliação possui elementos que não tem a ver necessariamente com a mensuração da qualidade do ensino, e que podem contribuir para o enfraquecimento da capacidade das universidades formarem profissionais com as devidas competências que suas carreiras demandam. Sobre esse aspecto, veja o que diz o reitor da Universidade de Lisboa no vídeo abaixo.

Em uma crítica ao processo de “Hollywoodização” de Lisboa enquanto centro turístico internacional, o reitor analisou os impactos que estão ocorrendo na vida dos estudantes em função do forte encarecimento de aluguéis. Para contrapor a isso, a Universidade de Lisboa estaria tomando providências para um aumento na oferta de alojamentos estudantis, com a construção de novas unidades e a renovação de outras já existentes.  No quesito de ampliação de instrumentos acadêmicos já existentes, o reitor foi particularmente aplaudido quando anunciou a ampliação de bibliotecas, segundo ele com recursos próprios da instituição.

Trocando em miúdos tudo o que foi dito, o que transparece é que a precarização das universidades públicas não é um mérito único do Brasil, e que este processo possui um alcance internacional, especialmente naqueles países que estão mais na periferia do Capitalismo. Entretanto, diferente do Brasil e da maioria dos reitores brasileiros, o que assisti ontem foi ao pronunciamento de um reitor que se posiciona como o líder que a conjuntura demanda, e não como um passivo agente do estado que, quando muito, se resigna a tocar as coisas do jeito que é possível.

Voltando à aula magna do presidente de Portugal, ela transcorreu de forma a dar-lhe o final de carreira merecido a quem passou a vida labutando dentro de uma universidade pública. Isto, entretanto, não o poupou de ser cobrado pela imposição de taxas escolares (aqui chamadas de “propinas”) que os estudantes consideram caras e inadequadas para uma universidade pública (ver imagem abaixo).

unilisboa

Como professor de uma universidade pública brasileira que agoniza pelas mãos de um (des) governo que afundou o Rio de Janeiro numa crise agônica, não posso deixar de notar similaridades entre os problemas que acontecem na Universidade de Lisboa e na Uenf. Entretanto, a diferença crucial parece ser que os dirigentes aqui, ou pelo menos o reitor, se coloca como um agente da universidade nas tratativas com o Estado, e não o contrário. E mais ainda, sem medo de emitir suas opiniões publicamente e na frente de quem formula as políticas criticadas. Isso convenhamos, já é uma grande diferença em relação ao que temos no Brasil e, em especial, nas universidades estaduais do Rio de Janeiro. Aliás, uma monumental diferença. 

Levantamento mostra quem financia a pesquisa no Brasil e na USP

Estudos patrocinados por subsídios alcançaram impacto, em termos de classificação de periódicos e contagem de citações

Por  – Editorias: CiênciasUniversidade

O texto a seguir integra uma série de quatro artigos produzidos pelo Sistema Integrado de Bibliotecas (Sibi) da USP  sobre a produção científica da USP. Para ler o texto completo, com as citações, acesse este link.

Levantamento realizado na Plataforma InCites revela 1.032 entidades de financiamento ativas no mundo – Foto: Pixabay – CC

Estudo realizado a partir de dados obtidos na Plataforma InCites (Thomson Reuters/Clarivate Analytics) revela quais são as entidades de financiamento que mais investem na pesquisa brasileira e na USP. O levantamento foi feito entre os dias 3 e 19 de julho, a partir de conteúdos da Web of Science indexados até 29 de abril e dados atualizados no InCites em 16 de junho.

Utilizando o módulo Funding Agencies, do InCites, foi possível levantar por localização geográfica e por nome da organização os dados de financiamento coletados da seção de agradecimentos ou rodapé dos artigos publicados e indexados na base Web of Science (veja aqui um exemplo).

Ainda que as atribuições de concessão com base em texto apresentem falsos positivos e falsos negativos – a taxa de atribuições imprecisas é de pelo menos 25% – e que as atribuições imprecisas possam ter, elas próprias, vieses de redação e interpretação, insights significativos podem ser obtidos a partir da análise desses dados. Os resultados aqui apresentados não têm a pretensão de serem exaustivos. Buscam apenas evidenciar o potencial de uso da Plataforma InCites.

A maior produtividade está associada às áreas de Ciências Naturais, Engenharias e Tecnologias, e Ciências Médicas. Há indícios também da presença de múltiplos fundos correlacionando-os positivamente com o desempenho geral de citações. Publicações de projetos financiados por órgãos internacionais alcançaram desempenho superior em termos de coautorias internacionais e percentual de documentos citados.

Em geral, solicitar financiamento a órgãos externos ao País aumenta as chances de ser citado e de publicar em revistas científicas de prestígio e alto impacto. Isso significa também que é necessário associar-se a equipes científicas destacadas e grandes grupos de pesquisa, além de manter-se conectado a pesquisadores produtivos, para produzir mais e melhor.

A proporção de publicações em acesso aberto ainda é pequena em relação ao total de publicações associadas a projetos financiados com recursos públicos, mas vem aumentando nos últimos anos.

Quem financia a pesquisa no mundo?

Um dos trabalhos mais abrangentes em termos de identificação digital de financiadores de pesquisa tem sido realizado pela Crossref, agência internacional conhecida pela atribuição do Digital Object Identifier (DOI) a documentos. O banco de dados de registro de financiadores mantido pela Crossref – FundRefcongrega, atualmente, 18.067 entidades ativas de financiamento da pesquisa conectadas a 2.188.220 trabalhos publicados.

É possível buscar informações sobre financiadores e publicações na plataforma por meio do link. O objetivo é fornecer informações claras, transparentes e mensuráveis ​​sobre quem financiou a pesquisa e onde ela foi publicada, ligando os financiamentos aos documentos e conteúdos produzidos.

Muito dinheiro tem sido aplicado na chamada Big Science (grande ciência), fenômeno da ciência da segunda metade do século 20 relacionado a projetos de grande porte, geralmente, financiados por governos ou grupos governamentais, algumas vezes, em detrimento da Small Science.

O projeto de 100.000 Genomas vai ter custado 300 milhões de libras quando os pesquisadores, que sequenciam o projeto genético de muitos seres humanos, tiverem concluído seus estudos. Estima-se que o Bóson de Higgs (física de partículas), ligado ao Cern (em inglês, European Organization for Nuclear Research), já tenha custado oito bilhões de libras.

O International Fusion Experiment (Iter) é outro projeto mundial orçado em 12,8 bilhões de dólares. A iniciativa European Spallation Source (ESS) está avaliada em 1.843 milhões de euros. À medida que a Big Science se torna ainda maior, sua escala reflete-se nas imensas listas de autores em artigos científicos e aportes financeiros gigantescos.

Em termos mundiais, o levantamento realizado na Plataforma InCites revela 1.032 entidades de financiamento ativas no mundo (2011-2018), mencionadas nos textos dos documentos indexados na base Web of Science.

A maior agência de financiamento de pesquisa é a National Natural Science Foundation of China (NSFC), entidade destacada pela produtividade. No momento analisado é a entidade com maior número de trabalhos publicados e indexados na base Web of Science: foram 1.201.687 documentos produzidos a partir de projetos financiados entre 2011 e 2018.

Em seguida, vem o National Institutes of Health (NIH) com 588.762 documentos eNational Science Foundation (NSF), com 387.801 documentos produzidos no período. A figura abaixo apresenta os dez maiores financiadores de pesquisa no mundo por número de documentos publicados (2011-2018).

Top 10 financiadores da pesquisa mundial por número de documentos (2011-2018)

A seguir,  os principais financiadores por número de citações e documentos (2011-2018). Os resultados indicam uma correlação positiva entre financiamento e impacto. Todavia, é preciso ter cautela com análises superficiais, porque podem levar a equívocos.

Principais financiadores mundiais por número de citações e documentos (2011-2018)  

Quem financia a pesquisa brasileira?

O financiamento da pesquisa no Brasil se dá por meio de diferentes sistemas e instituições de fomento, que estão ligadas direta ou indiretamente aos ministérios brasileiros e são: CNPq, Finep, Capes, FNDCT, BNDES, além das agências estaduais que constituem as FAPs – Fundações Estaduais de Amparo a Pesquisa agrupadas no Confap. Há também leis de incentivo fiscal e fomento à inovação, financiamentos empresariais e institucionais. Saiba mais consultando a página de Agências e Oportunidades de Financiamento no website Apoio ao Pesquisador.

Em meio à crise econômica, muitos entendem que o pesquisador brasileiro deve preparar-se melhor para pleitear insumos financeiros internacionais e deve ser mais competitivo, para atenuar o impacto dos cortes do orçamento governamental. Nesse sentido, conhecer a situação atual de financiamento no Brasil do ponto de vista dos financiadores é importante. O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) apresenta dados de recursos investidos na pesquisa no Brasil e algumas informações chegam aos pesquisadores e instituições por meio de divulgação à imprensa ou websites.

As principais agências de financiamento da pesquisa – CNPq e Capes – enfrentam problemas com a redução de orçamento. A escassez de recursos afetou o CNPq, órgão vinculado ao MCTIC, em todas as metas na concessão de bolsas e apoios, como demonstra o gráfico a seguir:

Painel de investimentos do CNPq (2001-2018) 

A Capes também foi afetada pelos recentes cortes. Vinculada ao Ministério da Educação e Cultura (MEC), de 2015 a 2017 teve uma perda anual de R$ 1 bilhão. A última atualização do painel de investimentos da Capes sobre concessão de bolsas mostra uma diminuição desde 2014, quando existiam 105.791 beneficiários nas pós-graduações pelo País.

Em 2016, o número baixou para 100.433, um corte de 5,3 mil. Em julho de 2018, o MEC anunciou a liberação de R$ 160 milhões para a Capes. Os recursos destinam-se ao pagamento de bolsas, auxílios e fomento às ações de graduação, pós-graduação, ensino, pesquisa e extensão.

O levantamento realizado na Plataforma InCites revela como está o financiamento da pesquisa nos Estados brasileiros, contabilizada a partir do número de documentos publicados. O Estado brasileiro com maior produtividade e financiamento é São Paulo, seguido do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná.

Veja a seguir a distribuição percentual de documentos financiados por Estado. Note-se que é possível haver sobreposições de dados em decorrência das coautorias entre pesquisadores de diferentes Estados:

Distribuição percentual de documentos publicados por estado de projetos financiados (2011-2018)

Os três órgãos que mais financiaram pesquisa no Brasil de 2011 a 2018, de acordo com o número de documentos publicados, foram o CNPq (122.967), Capes (70.048) e Fapesp (56.667).

A figura a seguir apresenta o ranking de financiadores da pesquisa brasileira por número de documentos (2011-2018):

Ranking de financiadores da pesquisa brasileira por nº de documentos (2011-2018)

Percentual de documentos citados também variou de acordo com o órgão financiador, como demonstra o gráfico a seguir. Embora os números sejam positivos, observa-se que artigos de projetos subsidiados por entidades estrangeiras apresentaram maior percentual de citação.

Percentual de documentos citados de acordo com o financiador (2011-2018)

O financiamento também varia de área para área de pesquisa. Utilizando os campos de conhecimento das revistas científicas como um intermediário das áreas de pesquisa, é possível observar que certas áreas se destacam mais que outras.

Considerando as vinte principais entidades financiadoras da pesquisa no Brasil, no período de 2011 a 2018, as áreas de mais destaque são Biologia Molecular e Bioquímica (8.873 documentos), Ciências das Plantas/Biologia Vegetal (6.444 documentos), Ciência dos Materiais (6.259), Farmácia e Farmacologia (6.201 documentos).

A figura abaixo exibe o mapa com as vinte principais áreas de pesquisa (classificação Web of Science) financiadas e respectivo número de documentos produzidos no período.

Top 20 principais áreas de pesquisa financiadas no Brasil por nº de documentos (2011-2018)

Os gráficos a seguir apresentam o número de documentos de projetos financiados pelo CNPq e Capes no período de 2011 a 2018 por área de pesquisa (classificação FOS).

dataset referente a esses dados pode ser consultado no Repositório Zenodo.

Número de documentos de projetos financiados pela Capes e CNPq (2011-2018) por área

Financiamento da pesquisa na USP

A USP é uma instituição pública de ensino superior e de pesquisa que, desde sua fundação, mantém um papel de liderança na produção científica e acadêmica brasileira. Seus 270 programas de pós-graduação atraem estudantes de diferentes partes do Brasil, da América Latina e de mais de 50 países ao redor do mundo.

São quase seis mil docentes e cerca de 82 mil alunos.  Há muitos anos, ocupa posição de destaque nos principais rankings internacionais de universidadesAcademic Ranking of World Universities (ARWU) [151-200],Times Higher Education World University Rankings [251-300],QS World University Rankings [118]eWebometrics Ranking of World Universities [72].

Além dos órgãos de financiamento citados, na USP, dois órgãos institucionais estão relacionados ao financiamento: a Aucania (Agência de Cooperação Nacional e Internacional), que divulga oportunidades de intercâmbio e bolsas, e a Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP), que apoia pesquisas, noticia editais e chamadas. As unidades e institutos também mantêm serviços que apoiam e divulgam oportunidades de financiamento.

A partir do levantamento realizado na plataforma InCites, foi possível ranquear os 20 principais financiadores de pesquisa da USP (2011-2018) a partir do número de documentos publicados no período de 2011 a 2018, conforme apresentado abaixo.

Observa-se uma correlação positiva entre financiamento estrangeiro e percentual de colaboração internacional, com respectiva elevação do impacto de citação normalizado pela categoria (Category Normalized Citation Impact) e percentual de documentos citados. No total, 518 entidades de financiamento concederam subsídios a pesquisadores da USP no período.

Top 20 financiadores da pesquisa USP por nº de documentos (2011-2018)

As três principais entidades financiadoras da pesquisa da USP nos períodos de 1980 a 1999, 2000 a 2010, e 2011 a 2018 foram Fapesp, CNPq e Capes, como demonstra o gráfico a seguir.

Observa-se que, ao longo das décadas, houve um significativo aumento do financiamento de pesquisas (ou das menções de financiamento) nos documentos indexados.

Top 3 financiadores da produção USP pelo número de documentos (1980-2018)

Relacionando os top 10 maiores financiadores de acordo com percentual de coautorias internacionais, observa-se que a pesquisa financiada por entidades externas ao País apresenta um nível mais elevado de percentual de colaborações internacionais, conforme apresentado na a seguir:

Top 10 financiadores da pesquisa USP e percentual de colaborações internacionais

Por meio do levantamento, foi possível determinar também o percentual de artigos publicados por autores USP e respectivos quartis das revistas: Q1, Q2, Q3 e Q4, com números positivos e consistentes.

A tabela a seguir mostra também como os artigos de projetos patrocinados apresentam significativos percentuais de alta citação (% Highly Cited Papers) e percentual de artigos “quentes” (% Hot Papers), índices que aumentam sempre quando há financiamento de entidades externas ao Brasil. Clique na figura para melhor visualização:

Top 20 principais financiadores pelo nº de documentos publicados de projetos financiados e respectivos indicadores de posicionamento nos quartis das revistas (2011-2018)

Com relação ao acesso aberto, o levantamento revelou que a proporção de documentos gerados a partir de projetos realizados com financiamento público, embora tenha evoluído ao longo das décadas, ainda é baixa. A figura abaixo apresenta esses dados a partir dos três maiores financiadores da pesquisa da USP: Capes, CNPq e Fapesp, de 1980 a 2018. Em azul estão representados os documentos publicados em acesso aberto. Clique na Figura para melhor visualização.

Considerações finais

Poucos estudos se concentram nos órgãos de financiamento como unidades de avaliação, mas isso pode mudar, à medida que os sistemas de informação se tornem mais integrados e as informações estejam mais acessíveis. Iniciativas como o FunRef da Crossref sinalizam avanços nesse sentido.

Não se ignoram as limitações associadas ao uso de dados de financiamento recuperados dos textos de agradecimentos ou de rodapés de artigos: podem produzir falsos positivos e falsos negativos, a taxa de atribuições imprecisas é pelo menos 25%, as atribuições imprecisas podem ter, elas próprias, vieses no nível de campo.

Maior transparência nas definições estratégicas de apoio à pesquisa e relatórios de recursos financeiros investidos, assim como estudos sobre o impacto social da pesquisa financiada podem reduzir gastos e aumentar a equidade e o acesso a financiamentos.

Elizabeth Dudziak / Sistema Integrado de Bibliotecas da USP

FONTE: https://jornal.usp.br/ciencias/levantamento-mostra-quem-financia-a-pesquisa-no-brasil-e-na-usp/

Notícias da Aduenf: roda de conversa discutirá questão do financiamento das universidades públicas

ADUENF convida para roda de conversa sobre financiamento das universidades públicas

A ADUENF realizará nesta 3a. feira (07/10) mais uma “roda de conversa” com o tema ” O financiamento das universidades públicas e a falácia do modelo americano”.

A atividade terá início com uma apresentação inicial sobre o tema do professor Marcos Pedlowski do Centro de Ciências de Homem, o que deverá ocorrer a partir das 10 horas.

A atividade é aberta a todos os interessados e faz parte do conjunto de atividades que estão sendo realizadas durante a greve dos professores da Universidade Estadual do Norte Fluminense que ainda não tiveram os seus salários de Agosto quitados pelo governo Pezão.

FONTE: https://aduenf.blogspot.com.br/2017/11/aduenf-convida-para-roda-de-conversa.html