Nefastos à saúde reprodutiva, agrotóxicos põem em risco as futuras gerações

Revisão de estudos feitos no Brasil de 1980 a 2023 sobre os impactos desses venenos mostra aumento de casos de câncer de mama, próstata, malformações congênitas e leucemia, que afeta mais as crianças e jovens. Situação é pior em áreas dominadas pelo agronegócio

Fonte: Acervo Agência Brasil

Por Cida de Oliveira

Os agrotóxicos estão no cordão umbilical, no leite materno e na origem de boa parte dos nascimentos prematuros, malformações congênitas e abortos espontâneos. E entre as causas do crescimento da incidência de câncer de mama, próstata, testículos e os diversos tipos de leucemias, que afetam mais crianças e adolescentes. Fora outros males igualmente graves. A maioria dos casos está concentrada em áreas dominadas pelo agronegócio, onde as pessoas estão expostas às grandes quantidades de venenos durante o preparo e aplicação no trabalho no campo. Ou mesmo às chuvas de venenos com as pulverizações aéreas de coquetéis desses produtos.

Mas o perigo é real também nas cidades. Os cada vez mais onipresentes agrotóxicos estão em altas concentrações na água de consumo e, principalmente, nos alimentos. Ultrapassam os limites previstos na já frágil legislação permissiva em seu favor. O resumo da ópera é que esta e as futuras gerações estão em sério risco caso o sinal verde para a “passagem da boiada” não for revertido.

O alerta voltou a ser feito nesta semana por pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fiocruz) e de diversas universidades e instituições de pesquisa sobre o tema, que integram a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). O grupo expôs a gravidade da situação brasileira nesta quinta-feira (22), durante audiência pública realizada pelas comissões de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e de Defesa do Consumidor, na Câmara dos Deputados. Participaram também representantes de entidades, movimentos sociais e do Ministério Público do Trabalho.

Para dar uma ideia da situação no Brasil, os pesquisadores mostraram resultados alarmantes a partir de mais de 60 estudos feitos no país sobre o impacto dos agrotóxicos à saúde reprodutiva, publicados em revistas científicas de 1980 a 2023. Esses dados, aliás, estão compilados no Dossiê Danos dos Agrotóxicos na Saúde Reprodutiva, publicado pela Abrasco e a ENSP, com participação de pesquisadores de diversas universidades públicas e instituições de pesquisa em saúde.

Esses trabalhos mostram que a exposição às substâncias químicas usadas na formulação de inseticidas, herbicidas e outros venenos agrícolas prejudica sobretudo a saúde das mulheres. Isso porque a maioria desses ingredientes está associada principalmente ao desenvolvimento do câncer de mama, o segundo mais incidente no país (10,5% do total) e o mais letal nesse grupo. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), vinculado ao Ministério da Saúde, para este ano são estimados 73,6 mil novos casos da doença em todo o país, com 18 mil mortes.

Além disso, outras evidências levantadas pelos estudos incluem a relação entre os agrotóxicos e o desenvolvimento de lesões no DNA, que levam a uma mutação genética capaz de aumentar o risco para esta e outras doenças igualmente graves.

O elo entre o câncer de mama e os agrotóxicos foi identificado também de maneira indireta, em pesquisas voltadas à saúde perinatal. Ou seja, o ramo que envolve o cuidado com a mulher durante a gestação e após o parto e com o recém-nascido. Um deles encontrou inseticidas organoclorados, banidos em muitos países devido aos efeitos altamente tóxicos e persistência no meio ambiente. É o caso do DDT, HCH, lindano, heptacloro e Aldrin — todos relacionados ao câncer de mama.

Homens

Os estudos analisados mostram também relação entre a exposição aos agrotóxicos e os casos de câncer que afetam os homens. Um deles concluiu que os residentes em áreas com maior venda desses produtos tiveram maior chance de câncer de próstata, testículos e leucemia. Outro mostrou que o risco de mortalidade por mieloma múltiplo e câncer de testículos aumentou entre os trabalhadores agrícolas durante 1979 e 1988.

As pesquisas destacam um aumento significativo no dano ao DNA em indivíduos expostos, quando comparados com grupos não expostos. Segundo os pesquisadores, a relação entre a exposição aos agrotóxicos e danos genéticos é uma conclusão comum em todos os artigos, independentes dos objetivos da pesquisa. Além disso, testes envolvendo trabalhadores da agricultura mostraram composição do esperma mais pobre, com níveis mais baixos de LH (hormônio luteinizante) na produção de espermatozoides, quando comparado com jovens das áreas urbanas. O resultado está associado principalmente à exposição a agrotóxicos ao longo da vida, especialmente herbicidas e fungicidas.

Infantojuvenil

Casos de câncer pediátrico dobraram graças aos agrotóxicos. Crédito: Wikimedia Commons/ Wilfredor

Dos estudos compilados no dossiê da Abrasco, 19 associam os agrotóxicos a danos na saúde infantil, especialmente leucemia linfoide aguda (LLA) e leucemia mieloide aguda (LMA), os tipos de câncer mais comuns entre crianças e adolescentes até 19 anos. Segundo o Inca, a previsão é de 7,9 mil casos novos por ano. Mas a incidência vem aumentando. Segundo dados do DataSus, foram registrados no Brasil 17.123 casos em crianças e jovens até 19 anos em 2021. O número é 208% maior que os 5.557 registros em 2013. 

 Uma das pesquisas mostra que a exposição intraútero durante atividades agrícolas ocasionou um risco duas vezes maior de LLA e LMA em menores de dois anos. Ou seja, crianças e jovens adoecem devido à exposição de suas mães a esses produtos ainda grávidas.

Há também estudos demonstrando que variantes de genes metabolizadores de agrotóxicos influenciam o risco de desenvolver leucemia linfoblástica aguda na infância. Isso reforça que crianças geneticamente predispostas teriam maior risco de leucemias quando expostas a agrotóxicos, cigarro, álcool, solventes, entre outros.

O dossiê inclui também estudos que buscam mensurar o risco de ocorrência de malformações congênitas e as mortes devido às suas complicações. Anomalias cardiovasculares e do sistema nervoso central foram as mais avaliadas. Mas um ponto em comum em todos os estudos é a constatação do aumento do risco para estas malformações, seja na análise por região consumidora de agrotóxicos ou pela avaliação da exposição dos pais aos venenos.

Além disso, segundo a Abrasco, análises das taxas de malformações em diferentes décadas permitem constatar que o aumento da exposição populacional aos agrotóxicos está diretamente ligado ao aumento na incidência de casos, que dobraram de 2004 para cá.

Não menos grave é a contaminação do leite materno, especialmente por agrotóxicos organoclorados. Altamente tóxicos, foram os mais encontrados no alimento para os bebês, respondendo por quase 60% do total das amostras de sangue periférico e do cordão umbilical.

Ainda segundo o dossiê, a infertilidade masculina e feminina pela exposição a diversos agrotóxicos já foi estudada e comprovada. No entanto, não é devidamente observada nos serviços de saúde, ações de vigilância e na atenção básica e média complexidades. Em geral, o tema passa batido entre profissionais de saúde, que não questionam quanto a possíveis exposições das pessoas a esses produtos. Tampouco é realizada a busca ativa entre grupos vulneráveis.

Doenças e mortes em áreas do agronegócio

Oásis no deserto da pesquisa sobre impactos dos agrotóxicos no estado campeão do consumo no país, a Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) tornou-se referência. Foi parceira da Fiocruz no estudo que espantou a todos por detectar pela primeira vez os venenos no leite materno, na década de 2010. E segue pesquisando os impactos da contaminação na população e no meio ambiente regional. Professora na instituição e integrante da relatoria do dossiê Abrasco, Marcia Leopoldina Montanari Corrêa esteve na audiência e trouxe dados estarrecedores: aumento de casos e de mortes devido ao câncer infantojuvenil e de uma epidemia de abortos espontâneos em seu estado.

“Na última década a mortalidade por câncer infanto juvenil aumentou mais de 70% no estado, mas varia entre as microrregiões, como oeste, onde subiu 132%. A incidência dos casos também aumentou. Nessa mesma região, chegou a 145%; no meio-norte, a 121%”, disse.  “Em regiões agrícolas, as taxas de abortos espontâneos chegam a ser 30% superior. É muito grande a incidência. Quando a gente começa a conversar com a família a partir da vigilância popular percebe que esses casos, que nem chegam aos serviços de saúde, são frequentes e se repetem na vida reprodutiva de cada mulher”, disse.

Para a professora da UFMT, a situação é preocupante em todo o país. E resulta também do que ela chama de cenário regulatório “muito flexível”. Ou seja, a permissividade para o uso e exposição aos agrotóxicos. O Brasil permite altas concentrações de dessas substâncias nos alimentos e na água potável, muito além que os outros países. “Aqui é permitido que o feijão tenha quantidade do inseticida organofosforado malationa 400 vezes maior que o permitido na União Europeia. Na água, o fungicida tebuconazol, que tem impacto na saúde reprodutiva, aparece em quantidade 1800 vezes maior que o permitido na UE”, comparou.

Iniquidade na pesquisa

Pesquisadora da Abrasco e coordenadora adjunta do Fórum Nacional de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos para a saúde reprodutiva, a médica Lia Giraldo da Silva Augusto reforçou o alerta sobre a invisibilidade da questão. “Um tema que continua ocultado da ciência brasileira e das políticas em termos de vigilância e monitoramento na saúde reprodutiva”, disse, durante a audiência pública.

“Muitos desses agrotóxicos, proibidos em outros países, estão entre a maioria dos mais utilizados no Brasil, mesmo causando danos na saúde reprodutiva, como infertilidade, dificuldades na concepção, gestação e desenvolvimento infantojuvenil. E também casos de câncer e alterações hormonais”, disse.

Segundo ela, a revisão dos estudos brasileiros mostrou outro dado muito grave: a iniquidade na pesquisa científica. Ou seja, diferenças na distribuição de laboratórios e falta de incentivos para o conhecimento da situação em todo o país. A maioria da pesquisa, segundo ela, é feita na área urbana. E muitas delas sobre a deriva das pulverizações e contaminação na água.

“A produção científica se concentra no Sudeste, principalmente na Fiocruz, no Rio de Janeiro. Há um vazio de pesquisa, principalmente nas regiões em que os agrotóxicos são mais utilizados, onde faltam também laboratórios. O estado de São Paulo, que concentra estrutura de ciência e tem grande uso de agrotóxicos, publicou apenas 5 estudos em 43 anos sobre os impactos na saúde reprodutiva. A população com mais exposição é negligenciada”.

Lia Giraldo defendeu que o governo federal, por meio do Ministério da Ciência e Tecnologia, incentive pesquisas nesse setor e nessas regiões, proporcionando a estrutura necessária. E que o Ministério da Saúde reformule e coloque em prática uma ferramenta de vigilância das populações expostas, o VSPEA. “Trata-se de um software para receber notificações passivamente. Se tiver notificação, vai para o ministério. Mas não tem investigação. É um modelo que não serve para fazer vigilância no país que é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo e a saúde reprodutiva é zero”, disse.

A íntegra da audiência está disponível aqui.

Fiocruz divulga Nota Técnica sobre PL que reformula o marco legal do licenciamento ambiental

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A Fiocruz lançou nesta quarta-feira (21/5) uma Nota Técnica (NT) sobre o Projeto de Lei (PL) 2.159/2021, que reformula o marco legal do licenciamento ambiental. De acordo com a NT, a proposta de reformulação do marco legal, contida no PL, configura um retrocesso institucional significativo, ao comprometer os fundamentos constitucionais da política ambiental e afetar direitos essenciais, como o acesso à saúde e a um meio ambiente equilibrado. Os autores da NT, pesquisadores da Fiocruz, afirmam que o PL “fragiliza os instrumentos de proteção ambiental e da saúde pública, além de comprometer a construção de um modelo de desenvolvimento sustentável e justo para o país”.

Segundo destaca a NT, “o Projeto de Lei 2.159/2021 suscita preocupações significativas ao propor mudanças estruturais no marco normativo do licenciamento ambiental. Ao alterar substancialmente o funcionamento desse instrumento estratégico de controle e prevenção, o projeto compromete a capacidade do Estado de intervir de forma eficaz nos fatores que condicionam o processo saúde-doença nos territórios. As modificações propostas fragilizam dispositivos fundamentais da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/1981) e das resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) 237/1997 e 1/1986, desarticulando mecanismos de análise técnica, avaliação prévia e participação social”.

Os pesquisadores da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, autores da NT, ressaltam que “a flexibilização do licenciamento ambiental enfraquece a função preventiva do processo, relativiza a responsabilidade dos empreendedores e reduz a capacidade do Estado de zelar pela proteção da vida, da saúde coletiva e dos ecossistemas. Essas alterações desconsideram a complexidade dos territórios, os impactos desproporcionais sobre populações vulnerabilizadas e a necessidade de articulação intersetorial para garantir ambientes saudáveis e justiça socioambiental, princípios que estruturam tanto as políticas ambientais e sociais quanto a governança federativa estabelecida pela Constituição Federal de 1988”.

Leia a nota na íntegra e confira a lista completa de signatários.


Fonte:  Agência Fiocruz de Notícias

Tubarões na costa brasileira testam positivo para cocaína, mostra estudo da Fiocruz

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O tubarão-de-nariz-afiado brasileiro é parente do tubarão-de-nariz-afiado do Atlântico (foto de arquivo de 2015)

Por George Wright para a BBC News

Cientistas dizem que tubarões na costa do Brasil testaram positivo para cocaína.

Biólogos marinhos testaram 13 tubarões-de-focinho-afiado brasileiros retirados da costa perto do Rio de Janeiro e descobriram que eles apresentavam altos níveis de cocaína em seus músculos e fígados.

As concentrações foram até 100 vezes maiores do que as relatadas anteriormente para outras criaturas aquáticas.

A pesquisa, realizada pela Fundação Oswaldo Cruz, é a primeira a constatar a presença de cocaína em tubarões.

Especialistas acreditam que a cocaína chega às águas por meio de laboratórios ilegais onde a droga é fabricada ou por meio de excrementos de usuários de drogas.

Pacotes de cocaína perdidos ou jogados no mar por traficantes também podem ser uma fonte, embora isso seja menos provável, dizem os pesquisadores.

Sara Novais, ecotoxicologista marinha do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente da Universidade Politécnica de Leiria, disse à revista Science que as descobertas são “muito importantes e potencialmente preocupantes”.

Todas as mulheres no estudo estavam grávidas, mas as consequências da exposição à cocaína para os fetos são desconhecidas, dizem os especialistas.

Mais pesquisas são necessárias para verificar se a cocaína está alterando o comportamento dos tubarões.

No entanto, pesquisas anteriores mostraram que os medicamentos provavelmente têm efeitos semelhantes em animais e humanos.

No ano passado, compostos químicos incluindo benzoilecgonina, que é produzida pelo fígado após o uso de cocaína, foram encontrados em amostras de água do mar coletadas na costa sul da Inglaterra.


Fonte: BBC News

Fiocruz lança 12ª Edição da Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente dia 5 de junho

Data comemora Dia Mundial do Meio Ambiente e reunirá personalidades ligadas ao tema e estudantes da rede pública de ensino, que também visitarão o Complexo Tecnológico de Vacinas

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O Dia Mundial do Meio Ambiente – 5 de junho – foi a data escolhida para o lançamento da 12ª Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente (Obsma) da Fiocruz. O evento será realizado, às 10h, no auditório de BioManguinhos, unidade da Fundação, e receberá alunos e professores de escolas participantes e premiadas na Obsma. O lançamento é aberto ao público, que também poderá acompanhar pelo canal da Video Saúde-Fiocruz no YouTube: https://www.youtube.com/@VIDEOSAUDEFIO/featured

A Olímpiada é voltada para a participação de alunos e professores da educação básica, do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental e do Ensino Médio de escolas públicas ou privadas, por meio da inscrição de trabalhos relacionados à saúde, ao meio ambiente e suas interfaces com a educação e a ciência e tecnologia. Com o objetivo de aproximar a escola e a realidade concreta dos alunos, a Obsma premia projetos realizados em cooperação na escola e/ou com a participação da comunidade escolar.

Para o lançamento, a Olímpiada escolheu convidados especiais, que trazem no currículo vivências relacionadas à preservação da Amazônia: Ennio Candotti, diretor do Museu da Amazônia (MUSA) e ex-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) por quatro mandatos; Muriel Saragoussi, ex-Secretária de Políticas para a Amazônia do Ministério do Meio Ambiente e atual assessora  da Fiocruz Amazônia; Aline Matulja, engenheira ambiental, apresentadora do Podcast Casa Floresta do Instituto SocioAmbiental (ISA) e do programa de TV Menos é Demais (Discovery Home & Health Brasil), e Braulina Baniwa, liderança indígena, formada em Antropologia, que atua na Articulação Brasileira de Indígenas Antropóloges (ABIA) e na Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA).

Oficina de grafite e visita ao Complexo Tecnológico de Vacinas

Na parte da tarde, às 14h, os estudantes poderão participar de uma Oficina de grafite com a artista Renata Mattos.  O espaço escolhido para a atividade é um muro da Fiocruz, que será transformado em um grande painel numa das vias mais movimentadas e importantes da cidade, a Avenida Brasil.

Os alunos também terão a oportunidade de visitar o Complexo Tecnológico de Vacinas (CTV) de Bio-Manguinhos-Fiocruz, um dos maiores centros de produção da América Latina, que garante a autossuficiência em vacinas essenciais para o calendário básico de imunização do Ministério da Saúde (MS).

A ocasião marca o início das ações previstas para todo o território nacional, desenvolvidas pelas seis Coordenações Regionais sediadas, respectivamente, nas unidades da Fiocruz na Amazônia, na Bahia, em Minas Gerais, em Pernambuco, em Brasília e no Rio de Janeiro.

Dividida em duas etapas, a Olimpíada organiza-se em seis regiões olímpicas nacionais: Centro-Oeste, Minas-Sul, Nordeste I, Nordeste II, Norte e Sudeste. Desta maneira, realiza-se uma primeira etapa de avaliações regionais dos trabalhos inscritos, de acordo com as áreas geográficas em que se encontram localizadas as escolas participantes. 

Na segunda etapa, os trabalhos são avaliados e premiados. Ao todo, 36 trabalhos são reconhecidos como destaques nacionais a cada nova edição, garantindo-se a lógica da representação regional e por estados da federação. Os vencedores nacionais são escolhidos por uma comissão avaliadora nacional, composta por cientistas e personalidades das áreas da cultura, arte, da comunicação e informação. As equipes de trabalho ligadas à Obsma atuam junto a programas educativos da Fiocruz em parceria com diversos ministérios e secretarias de educação de todo o país.

A participação dos estudantes ocorre por meio da inscrição de trabalhos em três modalidades: Produção de Textos, Produção Audiovisual e Projeto de Ciências e em duas categorias: Ensino Fundamental e Ensino Médio, incluindo a Educação de Jovens e Adultos. A inscrição é realizada por professores e coordenações pedagógicas que acompanham o desenvolvimento dos trabalhos nas escolas (sala de aula e/ou ambiente escolar).

A edição de 2023 tem uma série de atividades nacionais previstas para serem realizadas ao longo do ano, como Oficinas Pedagógicas, que buscam contribuir para capacitação, atualização e aperfeiçoamento de professores em torno dos temas saúde, ambiente, educação, ciência e tecnologia; Oficinas Alunos em Ação, atividades educativas e de divulgação científica para estudantes da educação básica com acentuado interesse em seguir carreiras científicas; Mostra Itinerante Saúde e Meio Ambiente na Escola, com trabalhos selecionados como Destaque na 11ª edição da Obsma, e Curso Formação Inicial em Educação para o Desenvolvimento Sustentável, voltado para capacitação de professores na introdução em seus alunos aos conhecimentos, habilidades e atitudes para promoção do desenvolvimento sustentável.

Com o apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e de um conjunto de instituições de ensino e pesquisa em C&T, a Obsma vem se fortalecendo como um programa educacional, de abrangência nacional, com o foco em três grandes objetivos: contribuir para a melhoria da qualidade da educação básica no país, incentivar escolas a desenvolverem projetos e/ou práticas de promoção da saúde e fortalecer as estratégias voltadas para o desenvolvimento sustentável e ambientalmente equilibrado, em todos as esferas locais, regionais e global.

Ao longo dos seus 22 anos de existência, a Obsma destaca-se como um programa de educação e divulgação científica de amplo impacto nas escolas que promovem e valorizam as ações e os projetos voltados para as relações multidimensionais e multifacetárias entre saúde e meio ambiente, na perspectiva da sustentabilidade, da educação para a cidadania, entre outros impactos importantes no ambiente escolar.

Lançamento da 12ª Edição da Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente da Fiocruz

Dia 5 de junho de 2023

Horário: 10h

Local: Auditório Vinícius Fonseca – Bio-Manguinhos- Av. Brasil, 4365 ou pelo YouTube: https://www.youtube.com/@VIDEOSAUDEFIO/featured

Aberto ao público – GRATUITO

 

Oficina Grafite e Visita ao Complexo Tecnológico de Vacinas – CTV

Com alunos das escolas participantes

Horário: a partir das 14h

Fiocruz: Rio recebe conferência internacional sobre Ciência, Tecnologia e Inovação

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A Fiocruz traz de 13 a 15 de fevereiro para o Rio de Janeiro a reunião anual da Comunidade Global de Tecnologia Sustentável e Inovação, a G-Stic, que pela primeira vez será realizada nas Américas. Nomes como o de Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, Qu Dongyu, diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), ambos online, e Nísia Trindade Lima, ministra da Saúde, presencialmente, reúnem-se na ExpoMag para discutir o tema Por um futuro equitativo e sustentável: soluções tecnológicas inovadoras para uma melhor recuperação pós-pandemia. E como a Fundação é a principal co-anfitriã, a saúde ganha um grande destaque na G-Stic Rio.

“A Fiocruz, como principal organizadora desta edição, reforça sua participação em âmbito global na discussão de tecnologias e inovações sustentáveis, com uma visão de destaque para a saúde”, explicou Mario Moreira, presidente interino da Fundação. Para Moreira, a realização da conferência no continente confere uma ênfase especial à questão das desigualdades globais e regionais em Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I). “Essa tem se revelado uma das fragilidades da capacidade internacional de articulação de resposta e preparação para emergências sanitárias. Equidade e sustentabilidade apresentam-se, nesse aspecto, como outros elementos definidores dessa capacidade”, acrescentou.

A lista de participantes reúne outros nomes de peso, como Macharia Kamau, diplomata queniano que foi o enviado especial da ONU para Implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) a serem alcançados até 2030; Amandeep Singh Gill, enviado especial do secretário-geral da ONU para Tecnologia; e Maria Van Kerkhove, líder técnica da OMS para Covid-19. A lista segue com a ativista indígena Samela Sateré Mawé e a princesa belga Marie-Esmeralda, presidente do Fundo Leopoldo III para a Conservação da Natureza, entre outros. A Fiocruz participa ainda com integrantes como o próprio Moreira; Marco Krieger, vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde; e Mauricio Zuma, diretor do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos).

“O mundo está diante de um grande desafio: a reconstrução pós-pandemia em bases sustentáveis, respeitando a equidade e a inclusão. E para fazer frente a esse processo, o grande referencial é a Agenda 2030, com os ODS”, explicou Paulo Gadelha, coordenador da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030 (EFA 2030) e à frente da organização da G-Stic Rio. A conferência lida justamente com essa questão: pensar em como garantir tecnologias eficazes e sustentáveis visando os ODS. Gadelha lembrou que, apesar da proximidade de 2030, a grande maioria desses objetivos está longe de ser cumprida. “O desafio que temos é como CT&I podem modificar esse cenário, quebrar assimetrias, garantir o acesso às tecnologias, em processos inclusivos. A pandemia nos deu exemplos disso, como nas vacinas contra Covid-19, que foram produzidas rapidamente, mas que ficaram inacessíveis à maioria da população.”

Inicialmente capitaneado pelo instituto de tecnologia belga Vito, que mantém peso significativo no evento, a G-Stic reúne um conjunto de instituições com representações em todas as regiões do mundo. A entrada do Brasil em 2018, por meio da Fiocruz, deu uma relevância ainda maior para o tema da saúde, o que fica claro na programação de fevereiro.

“Um dos ativos únicos da G-STIC é sua perspectiva multissetorial e orientada para o futuro em CT&I. A G-Stic analisa clusters de tecnologia e identifica soluções que contribuem substancialmente para alcançar os princípios da Agenda 2030 e os ODS. Ela reúne partes interessadas de organizações multilaterais, governos, indústria, atores privados, sociedade civil e academia”, disse Dirk Fransaer, diretor-geral da VITO. “Em sintonia com essa abordagem, a G-Stic Rio reconhece os princípios de solidariedade e ‘trabalho conjunto’ do relatório do secretário-geral da ONU Nossa Agenda Comum como fundamentais para acelerar a implementação dos ODS. A CT&I têm o potencial de catalisar o envolvimento da comunidade nesse processo. A próxima edição do G-STIC no Rio de Janeiro trará esse conceito de integração, solidariedade e multilateralismo entre setores, partes interessadas e países em um interesse comum”, acrescentou.

Sessão especial sobre vacinas

As sessões do evento se dividem em seis temas: Saúde, Educação, Água, Energia, Clima e Oceanos. Em Saúde, Bio-Manguinhos está organizando mesas sobre vacinas e imunização. O painel Desafios e Perspectivas para a produção local, nos dias 14 e 15, será dividido em quatro sessões que trarão especialistas como James Fitzgerald, diretor do Departamento de Sistemas e Serviços de Saúde da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas); Lieve Fransen, consultora sênior do Centro Europeu de Políticas em Saúde; Carla Vizzotti, ministra da Saúde da Argentina; e Tiago Rocca, vice-presidente do Conselho de Membros de Fabricantes de Vacinas para Países em Desenvolvimento (DCVMN); além de representantes de instituições internacionais de renome na área como Wellcome, CEPI e Medicines Patent Pool, OXFAM e MSF, entre outros.

Essa agenda tem como objetivo discutir fatores críticos de sucesso para produção local de vacinas em países em desenvolvimento, endereçando os desafios e perspectivas em relação a demanda e fornecimento, financiamento e perspectiva global em relação à propriedade intelectual e acesso. As discussões envolverão os desafios sistemáticos de pesquisa & desenvolvimento e produção local de vacinas, abrangendo: desafios de saúde tendo em conta o cenário epidemiológico, doenças emergentes e reemergentes, experiências de financiamento da inovação e prontidão para respostas a emergências, os desafios de desenvolvimento de capacidades e financiamento da produção local, e equidade e acesso para assegurar a vacina e a vacinação para todos.

Também participarão do evento de Bio-Manguinhos Ethel Maciel, secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA) do Ministério da Saúde; Hugo Gomes da Silva, líder médico Global para Vacinas da Astrazeneca; Júlia Spinardi, diretora sênior da Pfizer para Assuntos Médicos e Científicos; e Cristiano Pereira, de Desenvolvimentos de Negócios do Butantan; além de integrantes da Fiocruz, como o assessor sênior científico Akira Homma, Mario Moreira, Mauricio Zuma, Rosane Cuber e Sotiris Missailidis.

A conferência

Esta é a sexta edição da G-Stic. Considerada a maior conferência global de Ciência, Tecnologia e Inovação para aceleração da Agenda 2030, ela acontecia na Bélgica desde seu início, em 2017. Para aumentar a sua capilaridade, passou a ser realizada em outros países, acontecendo em 2022 durante a Expo Dubai. A Fiocruz, que participa como coanfitriã desde 2018, sugeriu então que a edição de 2023 ocorresse no Brasil.

A G-STIC é organizada em conjunto pela Vito (organização belga de pesquisa, tecnologia e desenvolvimento sustentável) e sete outros institutos de pesquisa sem fins lucrativos: Fiocruz, CSIR (Conselho de Pesquisa Científica e Industrial, África do Sul), Giec (Instituto de Conversão de Energia de Guangzhou, China), Gist (Instituto de Ciência e Tecnologia de Gwangju, Coreia do Sul), Nacetem (Centro Nacional de Gestão de Tecnologia, Nigéria), Teri (Instituto de Energia e Recursos, Índia) e SDSN (Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas).

No Brasil, a G-Stic Rio conta com o patrocínio master da Petrobras, Pfizer e Fiotec e com o patrocínio das empresas Aegea, IBMP, Instituto Helda Gerdau, Klabin, Sanofi, GSK, Enel, Engie, The Rockefeller Foundation, RaiaDrogasil e Firjan, além do apoio do Instituto Clima e Sociedade.

Credenciamento

O evento acontece de 13 a 15 de fevereiro no Expo MAG (Rua Beatriz Larragoiti Lucas – Cidade Nova, Rio de Janeiro), em quatro auditórios e também será transmitido online. Jornalistas podem se credenciar pelo link (Link) até as 22h do dia 12. Depois disso o credenciamento é diretamente na recepção do evento.

A área destinada a cinegrafistas e fotógrafos ficará a uma distância de 25 metros do palco do auditório principal (Auditório Manguinhos).

Clique para ver o vídeo release

A programação pode ser conferida no site da G-Stic Rio

Para mais informações, entre em contato com ccs@fiocruz.br

Dossiê é lançado para dar embasamento científico à disputa política sobre agrotóxicos na arena legislativa

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Foto: Chris Ensminger/Unsplash

Nesta terça-feira (06), foi lançado o “Dossiê Contra o pacote do Veneno e em Defesa da Vida“, no quarto e último encontro da Mobilização Nacional Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.  Este dossiê sintetiza um conjunto de estudos e análises técnico-científicas e é resultado de um processo de cooperação entre a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), a  Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida,  Instituto Ibirapitanga, Patrícia Canto e pela FIOCRUZ.

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O dossiê relata as diversas manobras do Congresso Nacional nas tentativas de aprovar o “Pacote do Veneno” ou Projeto de Lei n.o 6.299/2002 e analisa e denuncia as propostas perversas do agronegócio e das indústrias agroquímicas e seus aliados no Executivo e Legislativo, no sentido de aumentarem ainda mais a venda e o uso de agrotóxicos, consequentemente, ampliando a intoxicação da vida (vegetal, animal e ambiental) no território brasileiro.

Mas o dossiê também apresenta alternativas para enfrentar o modelo agrícola hegemonico, mostrando práticas e trazendo propostas baseadas na produção agroecológica, de caráter coletivo, democrático, de
promoção da vida e produção de alimentos saudáveis. Estes itens estão contidos na Política Nacional de Redução do Uso de Agrotóxicos ou PNARA ou Projeto de Lei n.o 6.670/2016,  que são defendidos no Dossiê.

Quem desejar baixar o arquivo contendo este importante dossiê, basta clicar [Aqui!].

Estudo da Fiocruz mostra que queimadas na Amazônia aumentam problemas respiratórios

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● Em 10 anos, o Brasil gastou quase 1 bilhão de reais com doenças respiratórias causadas pela fumaça das queimadas na região.
● A associação da pandemia com as queimadas pode ter agravado a situação de saúde da população da Amazônia legal.
Estudo da Fiocruz e do WWF-Brasil aponta que as queimadas na Amazônia foram responsáveis pela elevação dos percentuais de internações hospitalares por problemas respiratórios nos últimos 10 anos (2010-2020) nos estados com maiores números de focos de calor: Pará, Mato Grosso, Rondônia, Amazonas e Acre. Estas internações custaram quase 1 bilhão aos cofres públicos. O levantamento aponta ainda que a associação da situação da pandemia com as queimadas florestais na Amazônia pode ter agravado a situação de saúde da população da Amazônia legal, pois os poluentes oriundos das queimadas podem causar uma resposta inflamatória persistente e, assim, aumentar o risco de infecção por vírus que atingem o trato respiratório.1
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O estudo mostra que mesmo com a possível subnotificação, por conta de inconsistências na base de dados do DataSUS, os valores diários de poluentes são extremamente elevados e contribuíram paraaumentar em até duas vezes o risco de hospitalização por doenças respiratórias atribuíveis à concentração de partículas respiráveis e  inaláveis finas (fumaça) nos estados analisados.
 
No Amazonas, 87% das internações hospitalares no período analisado estão relacionadas às altas concentrações de fumaça (partículas respiráveis e inaláveis). O percentual foi de 68% no Pará, de 70% em Mato Grosso e de 70% em Rondônia.  Já as doenças respiratórias associadas às altas concentrações de partículas de poluentes emitidas pelas queimadas respondem por 70% das internações hospitalares registradas no Pará, Mato Grosso, Rondônia e Amazonas.
 
A pesquisadora Sandra Hacon, da Ensp/Fiocruz, afirma que embora os percentuais de internação hospitalar por doenças respiratórias na região tenham se mantido estáveis entre 2010 e 2020, uma parte considerável dessas internações podem ser atribuídas às concentrações de partículas respiráveis finas e inaláveis emitidas por incêndios florestais. “As micropartículas que compõem a fumaça ficam depositadas nas cavidades dos pulmões, agravando os problemas respiratórios. Elas são um fator de risco para pessoas que já possuem comorbidades. Vemos, portanto, um impacto à saúde e perda da qualidade de bem-estar das pessoas, além do elevado custo econômico das doenças respiratórias para o SUS”, explica. “A fragilização do sistema respiratório é extremamente preocupante no atual cenário de uma pandemia que também causa problemas respiratórios.  Essa sobreposição sugere que a região da Amazônia legal tenderá a ter seu sistema de saúde pressionado, já que as queimadas são mais intensas nos meses de seca, que se iniciam dentro de poucas semanas”, alerta.
 
Importante salientar que no ano de 2020 o Brasil alcançou o maior número de queimadas na década. Segundo o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) a floresta amazônica registrou 103.161 focos ante 89.171 em 2019, um aumento de 15,7%. Essa tendência contínua de destruição impacta diretamente não só na saúde das pessoas, mas em todo o ecossistema, que sofre todos os anos durante o ciclo das queimadas intensificado no período de seca, ressalta Edegar de Oliveira, diretor de Conservação e Restauração do WWF-Brasil. Ele  aponta que “as queimadas fazem parte da dinâmica de destruição da Amazônia. As áreas desmatadas são posteriormente queimadas para “limpar” o terreno, abrindo espaço para a pastagem, a agricultura, ou a simples especulação fundiária. A associação entre o desmatamento, queimadas e degradação da floresta traz um custo muito alto para todos nós, especialmente para os povos da floresta, e para o clima do planeta”, afirma.
 

O Estudo traz algumas recomendações para o poder público

– Os sistemas oficiais de vigilância e monitoramento em saúde precisam de evolução e melhorias sistemáticas, especialmente aqueles direcionados às populações indígenas da Amazônia;
 
– Políticas consistentes de redução do desmatamento e queimadas na Amazônia são críticas e imediatas, pois o combate ao desmatamento e à degradação do bioma amazônico é fundamental para a garantia de direitos básicos das populações locais, como acesso à saúde e um ambiente saudável e sustentável;
 
– Desenvolvimento e implementação de programas de vigilância epidemiológica e ambiental efetivos, direcionados à população amazônica exposta aos incêndios florestais, principalmente os grupos mais vulneráveis, como gestantes, crianças, idosos, e aquelas pessoas que apresentam comorbidades precisam de atenção dedicada;
 
– Necessidade iminente de esforço preventivo no controle de zoonoses, pois os custos associados aos esforços preventivos são substancialmente menores, comparados com os custos econômicos, sociais e de saúde no controle de potenciais epidemias e ou pandemias.
 

Metodologia do estudo

Foi analisada a relação das tendências da morbidade hospitalar (a taxa de internações registradas em hospitais) por doenças do aparelho respiratório no período de 2010 a 2020 e as concentrações estimadas de emissões de partículas respiráveis finas (PM2,5), presentes na fumaça de incêndios florestais no mesmo período, investigando os potenciais impactos à saúde nos estados com os maiores registros de focos de calor provenientes das queimadas na Amazônia Brasileira, segundo o INPE – Pará, Mato Grosso, Rondônia, Amazonas e Acre, que apresentaram  maior número de focos de queimadas registrados no período analisado – 2010-2020.
 
O estudo observou as séries temporais diárias de morbidade hospitalar por doenças do aparelho respiratório obtidas no Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), pelo Sistema de Informação sobre internação hospitalar (SIH) e analisados por dia, mês e ano no período de 1º de janeiro de 2010 a 31 de outubro de 2020, segundo a unidade de federação de residência. As internações hospitalares por doenças respiratórias relacionadas ao COVID-19 para cálculo da tendência retrospectiva foram excluídas. Portanto, as internações hospitalares derivadas do COVID-19, não entraram no conjunto das causas de hospitalizações.
Os pesquisadores selecionaram informações referentes ao valor em reais (R$) gasto com as hospitalizações de baixa e alta complexidade (Unidades de Terapia Intensiva – UTI) por doenças do aparelho respiratório para estimativa do custo econômico em saúde dessas hospitalizações que pudesse ser atribuível à poluição decorrente das queimadas.
As estimativas de concentração do material particulado (PM2,5) foram obtidas por meio de dados de satélite da NASA, com as informações de profundidade óptica de aerossóis (Aerosol Optical Depth – AOD) convertidas por modelagem matemática em estimativas de concentração de PM2,5 e disponibilizadas para acesso público pelo Copernicus Atmosphere Monitoring Service (CAMS), que é o mais recente conjunto de dados de reanálise global de composição atmosférica produzida pelo Centro Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo (ECMWF).

[1]  Travaglio, M., Yu, Y., Popovic, R., Selley, L., Leal, N. S., & Martins, L. M. (2021). Links between air pollution and COVID-19 in England. Environmental Pollution, 268, 115859.
 

Sobre a Fiocruz

A Fiocruz é uma instituição vinculada ao Ministério da Saúde, cuja missão é produzir, disseminar e compartilhar conhecimentos e tecnologias voltados para o fortalecimento e a consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) e que contribuam para a promoção da saúde e da qualidade de vida da população brasileira. Acesse em https://portal.fiocruz.br/

Sobre o WWF-Brasil

O WWF-Brasil é uma organização não-governamental brasileira e sem fins lucrativos que trabalha para mudar a atual trajetória de degradação ambiental e promover um futuro em que sociedade e natureza vivam em harmonia. Criado em 1996, atua em todo Brasil e integra a Rede WWF. Apoie nosso trabalho em wwf.org.br/doe
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Este texto foi originalmente publicado pela WWF Brasil [Aqui!].

Rede Genômica Fiocruz detecta alterações inéditas na proteína Spike do Sars-CoV-2 no Brasil

Por Vinicius Ferreira, IOC/Fiocruz

Em mais um achado inédito, cientistas da Rede Genômica Fiocruz identificaram importantes alterações na estrutura da proteína Spike (S) do vírus Sars-CoV-2 em circulação no Brasil. Onze sequências genéticas apresentaram deleções (perda de material genético) na região inicial da proteína e em quatro ocorreu inserção de alguns aminoácidos. A proteína Spike é associada à capacidade de entrada do patógeno nas células humanas e é um dos principais alvos dos anticorpos neutralizantes produzidos pelo organismo para bloquear o vírus. 

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“É preciso permanecer com o monitoramento para acompanhar se vírus com essas alterações não aumentarão de frequência” (foto:Josué Damacena, IOC/Fiocruz)

A descoberta é fruto de intensa vigilância genômica conduzida pela Fiocruz no país e de institutos parceiros que se empenham diariamente em gerar dados mais robustos sobre o comportamento do vírus e contribuir para um melhor preparo do país no enfrentamento da pandemia. Os cientistas ressaltam que, até o momento, poucos genomas apresentam as alterações e que ainda não se caracteriza como a formação de uma nova linhagem do Sars-CoV-2. Entretanto, alertam que é preciso permanecer com o monitoramento para acompanhar se vírus com essas alterações não aumentarão de frequência.

“Podemos dizer que esta é uma descoberta precoce, o que enfatiza a importância de ações em vigilância genômica, como a realizada pela rede da Fiocruz”, explica a chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), a pesquisadora Marilda Siqueira. O Laboratório atua como Centro de Referência Nacional em vírus respiratórios junto ao Ministério da Saúde e como referência para a Organização Mundial da Saúde (OMS) em COVID-19 nas Américas.

Os novos resultados, detectados a partir da metodologia de sequenciamento genético, são provenientes de amostras coletadas de pacientes de sete estados: Amazonas, Bahia, Maranhão, Paraná, Rondônia, Minas Gerais e Alagoas. As modificações ocorreram no domínio amino (N)-terminal (NTD), que podem dificultar a ligação com anticorpos e, assim, promover o escape imunológico do vírus no corpo humano. Mas os cientistas adiantam que dados experimentais complementares são necessários para testar essa hipótese nas linhagens que circulam no país. 

Uma amostra coletada no Amazonas apresentou deleção em sequência genética ligada à linhagem B.1.1.28. Quatro amostras da Bahia, duas de Alagoas e uma do Paraná apresentaram perdas em sequências caracterizadas como linhagem P.1. Uma amostra de Minas Gerais apresentou a alteração na linhagem P.2. Duas amostras do Maranhão apresentaram a deleção na linhagem B.1.1.33, que também continham a mutação E484K. 

Três amostras do Amazonas e uma do Paraná continham inserção de material genético em sequências provenientes da linhagem B.1.1.28 (P.1-like) – assim denominada por ser muito semelhante à P.1. Uma amostra coletada no Paraná e todas na Bahia e em Alagoas são de pacientes provenientes do estado do Amazonas ou com histórico de viagem à região. Os resultados foram publicados na plataforma de pré-print MedRxiv.

“O novo coronavírus está continuamente se adaptando e, com isso, propiciando o surgimento de novas variantes de preocupação e de interesse com alterações na proteína Spike. No entanto, vale ressaltar que as novas mutações foram, até o momento, detectadas em baixa frequência, apesar de encontradas em diferentes estados. Ainda precisamos dimensionar o impacto deste achado e, sem dúvidas, ampliar cada vez mais o monitoramento genômico”, ressalta a virologista Paola Cristina Resende, do mesmo Laboratório, que atua como coordenadora da curadoria da plataforma genômica internacional GISAID no Brasil.

Os pesquisadores da Rede Genômica Fiocruz alertam que os achados destacam a necessidade urgente de ampliação da vacinação e de implementação de medidas não-farmacológicas eficazes (foto:Josué Damacena, IOC/Fiocruz)

Os cientistas acreditam que as novas deleções e inserções estão associadas a uma evolução convergente do vírus, uma vez que foram detectadas em diferentes linhagens. “As variantes identificadas no Brasil até então não haviam apresentado as deleções e inserções que são comuns nas variantes de outros países, como Reino Unido e África do Sul. Aqui vemos pela primeira vez, que as linhagens brasileiras estão seguindo o mesmo caminho evolutivo das demais variantes de preocupação. As mutações agora alcançaram outro importante ponto da proteína viral, o domínio NTD, que é reconhecido por alguns anticorpos neutralizantes específicos”, salienta Gabriel Wallau, que integra o Núcleo de Bioinformática da Rede Genômica e é pesquisador do Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz Pernambuco).

Segundo os cientistas, a acumulação em sequência de mutações observadas em território nacional muito se assemelha ao padrão observado na África do Sul, onde a variante de preocupação B.1.351 adquiriu primeiro as mutações no domínio RBD (E484K e N501Y) e, posteriormente, apresentou uma deleção no domínio NTD. “Esta nova geração de variantes pode ser menos susceptível à neutralização dos anticorpos que suas linhagens parentais P.1, P. 2 e B.1.1.33. A pandemia de COVID-19 em 2021 no Brasil provavelmente será dominada por esse novo e complexo conjunto de variantes”, relata o pesquisador do Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz Bahia), Tiago Gräf.

Gabriel Wallau integra o Núcleo de Bioinformática da Rede Genômica e é pesquisador da Fiocruz Pernambuco

Os pesquisadores da Rede Genômica Fiocruz alertam que os achados destacam a necessidade urgente de ampliação da vacinação e de implementação de medidas não-farmacológicas eficazes, visando a mitigação da transmissão comunitária e o surgimento de variantes mais transmissíveis. Eles também apontam o investimento na vigilância genômica e em estudos de eficácia das vacinas para as novas variantes como medidas fundamentais.

A pesquisa foi realizada pela Rede Genômica Fiocruz, com participação de pesquisadores de diversos estados do país. O estudo foi liderado pelos Laboratórios de Vírus Respiratório e do Sarampo e de Aids e Imunologia Molecular do IOC/Fiocruz, Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz-Bahia), Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia), Instituto Aggeu Magalhaes (FiocruzmPernambuco) e Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Também colaboraram com o trabalho: Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas e Laboratórios Centrais de Saúde Pública do Amazonas (Lacen-AM), Maranhão (Lacen-MA), Alagoas (Lacen-AL), Minas Gerais (Lacen-MG), Paraná (Lacen-PR) e Bahia (Lacen-BA).

Resultado inédito anterior

Recentemente, a Rede Genômica Fiocruz identificou uma nova linhagem do Sars-CoV-2 no Brasil. Chamada de N.9, a linhagem foi caracterizada como variante de interesse por conter uma mutação na proteína S do novo coronavírus, conhecida como E484K, que é associada a evasão do sistema imune e encontrada em outras linhagens com grande disseminação no planeta, incluindo as variantes de preocupação P.1 e B.1.351. A alteração foi detectada em 35 amostras coletadas entre novembro de 2020 e fevereiro de 2021 em dez estados do Sul, Sudeste, Nordeste e Norte do país. 

Identificada, pela primeira vez, em São Paulo, a linhagem foi achada, em seguida, em Santa Catarina, Amazonas, Pará, Bahia, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Sergipe. Análises do genoma dos vírus indicam que a variante N.9 surgiu em agosto de 2020. O estado de São Paulo é apontado como o local de origem mais provável, mas também é possível que a linhagem tenha surgido na Bahia ou no Maranhão. A descoberta está publicada em forma de pré-print na plataforma bioRxiv.

A virologista Paola Cristina Resende, do Laboratório de Virus Respiratórios e do Sarampo do IOC/Fiocruz, explica que a mutação E484K provavelmente teve origem entre julho e agosto de 2020, nas linhagens B.1.1.28 e B.1.1.33, as mais prevalentes circulando no Brasil naquele momento. “A partir de outubro, com a aceleração da disseminação do vírus, a mutação E484K se espalhou pelo país, coincidindo com uma grande mudança no perfil de evolução do Sars-CoV-2 no mundo”, diz.

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Este texto foi inicialmente publicado pela Agência Fiocruz de Notícias [Aqui! ].

O Brasil foi transformado em um campo de testes para as vacinas contra a COVID-19

Devido à grande circulação do vírus no país, quatro vacinas candidatas estão sendo testadas em 22 mil voluntários, incluindo a da britânica AstraZeneca, relançada no sábado, 12 de setembro.

VACINA 1Na Universidade de São Paulo, 24 de junho. Os ensaios estão sendo conduzidos lá para as vacinas da Universidade de Oxford e AstraZeneca. AMANDA PEROBELLI / REUTERS

Por  Anne Vigna para o Le Monde

Uma ala do Centro Nacional de Vacinação, no imenso campus da Fundação Oswaldo-Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, foi liberada para instalar uma nova linha de produção, ainda rodeada de celofane. “É aqui que serão fabricadas as futuras vacinas contra a COVID-19”, garante a assessoria de imprensa da Fiocruz, maior centro público de pesquisas médicas do Brasil. Em seus laboratórios farmacêuticos, Bio-Manguinhos e Far-Manguinhos, já são produzidas muitas vacinas administradas no Brasil.

Como parte da parceria com a Universidade de Oxford e a farmacêutica britânica AstraZeneca, a Fiocruz espera um dia produzi-los contra a Covid-19, enquanto os ingleses anunciam a retomada do julgamento no sábado, 12 de setembro, suspenso por uma semana após a reação negativa do paciente.

“Nossa parceria não se limita a testar a vacina”, explica Mauricio Zuma, diretor do laboratório médico de Bio-Manguinhos. É claro que estamos felizes em ajudar nessa luta global. Mas o que nos motiva acima de tudo é ter obtido uma transferência de tecnologia com os ingleses. Caso contrário, o Ministério da Saúde poderia simplesmente ter feito uma negociação comercial e comprado as futuras vacinas. “

Foi em junho que a Fiocruz se tornou parceira local das duas entidades britânicas para organizar os ensaios clínicos fase III de sua vacina. Esses exames não acontecem nesses prédios, mas na rede hospitalar dos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

A tarefa não é tão simples: trata-se de encontrar 5.000 profissionais de saúde, todos voluntários, que tenham contato frequente com o SARS-CoV-2. “Não adianta testar a vacina em uma pessoa que ficará em confinamento em casa, ela só ficará exposta muito pouco ao vírus. Por outro lado, um médico, uma enfermeira, um fisioterapeuta estão todos em contato com o vírus ”, acrescenta o diretor de Bio-Manguinhos .

“Faça algo concreto”

No Brasil, a equipe é bastante voluntária, como Denise Abranches, cirurgiã-dentista do Hospital Universitário de São Paulo, que foi a primeira a testar a vacina em junho. “Assim que soube desse recrutamento, me apresentei. Sou responsável pela higiene bucal dos pacientes intubados há sete meses na unidade de terapia intensiva. Estou na linha de frente e sou o primeiro interessado em uma vacina. “

O ginecologista Alberto Freitas, do Rio de Janeiro, teve a mesma reação. “Recebi as informações através dos grupos de WhatsApp que existem entre médicos. Junto com meus colegas de consultório, vemos muitos pacientes com COVID-19 e decidimos participar para fazer algo concreto no combate a essa epidemia ”, afirma. Alberto participou do ensaio clínico da Universidade de Oxford, mas não teria problemas para testar outro. Atualmente, quatro empresas farmacêuticas do país realizam ensaios clínicos em 22.000 voluntários.

Além da vacina da Oxford e da AstraZeneca, a farmacêutica chinesa Sinovac fechou outra parceria em junho com o instituto científico público Butantan, para a fase III da vacina CoronaVac, que será testada em 9 mil voluntários. .

Mais recentemente, outras duas empresas americanas conseguiram o direito de fazer testes no Brasil: a Pfizer vai organizar um dos quase mil voluntários da Bahia, enquanto a Janssen, laboratório da gigante Johnson & Johnson, atualmente está recrutando 7.000 em vários estados do país.

VACINA 2Vacina Sinovac no hospital São Sans Lucas em Porto Alegre, Brasil, 8 de agosto. DIEGO VARA / REUTERS

O Brasil está interessado em projetos globais de vacinas por vários motivos. Em primeiro lugar, pela circulação ativa do vírus com mais de 4,1 milhões de casos confirmados no país, número ainda considerado desvalorizado pelo grupo de pesquisadores brasileiros da COVID-19. Segundo dados recentes da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), braço regional da OMS, o continente americano concentra o maior número de profissionais de saúde infectados com o vírus no mundo, com 570 mil casos confirmados e 2.500 mortes desde março. A maior parte desse contingente encontra-se no Brasil, com 270.000 casos de profissionais, antes dos Estados Unidos (140.000 casos) e do México (cerca de 100.000 casos).

Por outro lado, a grande diversidade genética da população brasileira – com a presença de genes europeus, africanos e asiáticos – permite uma ampla representatividade do planeta. Por fim, o Brasil conta com instituições científicas renomadas e um grande número de facilidades para considerar ensaios clínicos em larga escala e, eventualmente, produzir as vacinas. Junto com a Argentina e o México, o Brasil é um dos poucos países do continente com essas capacidades.

Também em São Paulo, o Instituto Butantan reformou parte de seus prédios para poder fabricar as futuras vacinas. Esse centro de pesquisas, que agora depende do Estado de São Paulo, também assinou um acordo de transferência de tecnologia com a farmacêutica chinesa Sinovac. “Procuramos parceiros em todo o mundo, inclusive na China, e a Sinovac procurava um parceiro específico na região”, diz Ricardo Palacios, diretor de pesquisas médicas do Instituto Butantan.

Estoque de hidroxicloroquina

Fiocruz e Butantan fazem parte da mesma rede de produtores de vacinas para países em desenvolvimento (DCVMN, por sua sigla em inglês). “Os países do Sul estão um pouco deixados de lado. Mas, graças às transferências de tecnologia, conseguimos avançar com a mesma velocidade e qualidade de pesquisa das empresas privadas dos países ricos ”, explica o Sr. Palacios.

O outro problema que o Brasil terá de superar diante dessa pandemia é o “ceticismo corona” de seu presidente. Em 31 de agosto, Jair Bolsonaro afirmou que “ninguém pode forçar ninguém a tomar a vacina”. A declaração do presidente foi amplamente criticada tanto pelo diretor da OMS quanto por cientistas brasileiros. A intervenção do senhor Bolsonaro está em total desacordo com a lei que ele mesmo assinou em 6 de fevereiro e que especifica precisamente que, “em situação de pandemia, o governo poderá fazer a vacinação obrigatória”.

Mas, para si mesmo, o presidente brasileiro não vê utilidade de uma vacina quando, segundo ele, há uma cura muito eficaz a partir da hidroxicloroquina. Jair Bolsonaro continua a promovê-la ativamente em todas as oportunidades. Talvez porque, após uma produção massiva decidida pelo executivo, o Brasil tenha hoje dezoito anos de estoque desse medicamento eficaz contra a malária.

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Este texto foi escrito originalmente em francês e publicado pelo jornal Le Monde [Aqui!].

Relatório da Fiocruz considera prematuro retorno às atividades escolares

sala de aula

A Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz divulga, nesta segunda-feira (20/7), nova versão do documento sobre o retorno das atividades escolares durante a pandemia de Covid-19. O texto apresenta um panorama epidemiológico, com fontes de diferentes instituições, para uma melhor compreensão sobre a pandemia no Brasil e considera prematura a reabertura das escolas no município do Rio de Janeiro. “Diante da possibilidade de possível recrudescimento de casos e óbitos no município, ainda parece prematura a abertura das escolas no atual momento da pandemia pelo SARS-CoV2. É necessário que especialistas, epidemiologistas, infectologistas, pneumologistas, pediatras e outros acompanhem e monitorem todo o processo pandêmico. Principalmente para avaliar o impacto no número de casos e mortes com a reabertura dos outros processos produtivos na cidade do Rio de Janeiro.”, dizem os autores.

Ainda de acordo com o relatório, o município do Rio de Janeiro precisa garantir que as escolas públicas e privadas apresentem seus planos específicos para abertura e a construção de diretrizes e protocolos rígidos para monitoramento e controle de casos, atenção redobrada para os alunos especiais e política de abordagem psicossocial e saúde mental.

covid rjCasos da COVID-19 confirmados no município do Rio de Janeiro por data de notificação, total do dia e média móvel de 7 dias (Fonte Painel Rio COVID-19; acesso em 19 de julho de 2020).

O relatório aponta os seguintes critérios para o retorno das atividades escolares:

1. A transmissão da doença deve estar controlada. O município deve ter disponibilidade de pelo menos 30% de leitos disponíveis. Diminuição constante do número de hospitalizações e internações em UTI de casos confirmados e prováveis pelo menos nas últimas duas semanas. Diminuição do número de mortes entre casos confirmados e prováveis pelo menos nas últimas três semanas. O sistema de saúde deve estar pronto para detectar, testar, isolar e tratar pacientes e rastrear contatos.

2. Medidas preventivas devem ser adotadas nas escolas – apresentar um plano detalhado de medidas sanitárias, higienização e garantia de distanciamento entre as pessoas, de 2 metros, no ambiente escolar e salas de aula. Adotar medidas individuais com uso de máscaras para todos os alunos, trabalhadores e profissionais da educação, não sendo indicado para crianças abaixo de 2 anos e observando o aprendizado para o uso nas crianças entre 2 e 10 anos.

3. Controle dos transportes públicos e escolares para garantir o distanciamento social.

4. Controle do risco de importação de doença, vinda de outros lugares.

5. Comunidades escolares devem ser capacitadas, engajadas e empoderadas para se adaptar às novas regras. Os pais, sempre que possível, através de suas organizações, trabalhadores da educação e professores devem estar participando no planejamento do retorno.

6. Atenção para estudantes especiais.

7. Atenção para o bem-estar psicológico e socioemocional para toda a comunidade. Ao reabrir as escolas, os professores precisam lidar com os riscos à saúde e com o aumento da carga de trabalho para ensinar de maneiras novas e desafiadoras. As autoridades precisam garantir que os professores e toda a equipe recebam apoio psicossocial contínuo para alcançar seu bem-estar socioemocional. Isso será especialmente crítico para os professores encarregados de fornecer o mesmo apoio aos alunos e famílias.

8. Inclusão de professores e suas organizações representativas nas discussões sobre o retorno à escola. As organizações devem estar envolvidas para identificar os principais objetivos da educação, reorganizar os currículos e alinhar a avaliação com base no calendário escolar revisado. Devem ainda ser consultados sobre questões relacionadas à reorganização da sala de aula.

9. Trabalhadores da educação e Professores acima de 60 anos ou com comorbidades devem permanecer no isolamento social.

10. Garantir melhores condições de trabalho para toda a comunidade escolar. O retorno às atividades escolares pode revelar lacunas nos recursos humanos e criar horários e rotinas de trabalho difíceis. Os professores e suas organizações representativas devem ser incluídos no diálogo sobre o desenvolvimento de estratégias de recrutamento rápido, respeitando as qualificações profissionais mínimas e protegendo os direitos e as condições de trabalho dos professores.

11. Ampliar e manter recursos financeiros. Para garantir a continuidade da aprendizagem, as autoridades educacionais precisarão investir em professores e trabalhadores de apoio à educação, não apenas para manter os salários, mas também para fornecer capacitação essencial e apoio psicossocial. É importante que os governos resistam a práticas que possam prejudicar a atividade didática e a qualidade da educação, como aumentar as horas de ensino ou recrutar professores não capacitados.

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Este texto foi publicado inicialmente no site da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fiocruz [Aqui!].