Agência Pública revela conexão evangélica no comércio paralelo de vacinas contra a COVID-19

Grupo evangélico fez oferta paralela de vacinas ao Ministério da Saúde e prefeituras

Grupo comandado por pastor foi ao Ministério junto a Dominguetti e ofereceu doses de Astrazeneca e Johnson em parceria com Davati

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Por Alice Maciel e  Bruno Fonseca para a Agência Pública

Em março, uma organização evangélica que articulou a aquisição de vacinas com o Ministério da Saúde (MS) ofereceu imunizantes da AstraZeneca e da Johnson para prefeituras e governos estaduais junto à Davati Medical Supply, revela apuração exclusiva da Agência Pública. A reportagem teve acesso à carta encaminhada aos prefeitos e governadores pela Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah) — presidida pelo reverendo Amilton Gomes de Paula — na qual a entidade oferece as doses no valor de US$ 11 a unidade, com prazo de entrega de até 25 dias. O valor seria 3 vezes maior que o fechado pelo Governo Federal para a mesma vacina da AstraZeneca com a Fiocruz, que foi de US$ 3,16, e o dobro do valor do Instituto Sérum, de US$ 5,25. 

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Reprodução da carta enviada pela Senah

Conforme a apuração, a carta da Senah teria sido enviada a diversas prefeituras da região Sul do país. Uma delas foi parar em Ijuí, município de pouco mais de 80 mil habitantes no noroeste do Rio Grande do Sul. A Agência Pública conversou com Luciana Bohrer (PT), vereadora do gabinete coletivo das Gurias, na cidade. Ela conta que tomou conhecimento da oferta por meio de uma pessoa ligada à Senah e que não teve contato com representantes da Davati. 

Na época, de acordo com a vereadora, a organização evangélica junto à Davati já haviam tentado “por mais de trinta dias” negociar diretamente em reuniões com o Ministério da Saúde em Brasília, mas não teria obtido sucesso. “Eram 400 milhões de doses, que eu me lembre, ainda seria fechado em quatro pacotes de 100 milhões”, diz Bohrer. A carta da entidade chegou à vereadora de Ijaí no dia 23 de março de 2021 e foi encaminhada ao prefeito Andrei Cossetin, do Progressistas (PP). Segundo Bohrer, a negociação não foi para frente. Procurada pela reportagem, a assessoria do prefeito afirmou que ele estava em viagem e não respondeu até a publicação da reportagem.

O reverendo Amilton Gomes, fundador e presidente da Senah, esteve no Ministério da Saúde, conforme fotos publicadas em suas redes sociais no dia 4 de março de 2021. Na postagem ele afirma que se reuniu com representantes da pasta “para articulação mundial em busca de vacinas”. Na visita, estava ao seu lado o policial militar de Minas Gerais Luiz Paulo Dominguetti, que afirmou à Folha de S. Paulo que o diretor do Departamento de Logística (DLOG) do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, teria cobrado propina para compra de vacinas . Também esteve na visita o major da Força Aérea Brasileira (FAB) Hardaleson Araújo de Oliveira, antigo conhecido do pastor.

Reprodução.  Na foto, o pastor Amilton Gomes, da Senah, em visita ao Ministério da Saúde junto a Dominguetti (o primeiro da foto à esquerda), o diretor do Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis, Lauricio Monteiro Cruz (ao meio) e major da Força Aérea Hardaleson Araújo de Oliveira (segundo à direita)

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Pastor Amilton Gomes foi à vigilância sanitária do Ministério da Saúde tentar articular vacinas, junto a major da Força Aérea Brasileira

A carta da Senah encaminhada aos gestores é assinada por Amilton Gomes e indica um e-mail da organização religiosa, da Davati e do empresário Renato Gabbi como contatos para “maiores esclarecimentos”. Gabbi é dono de um bar em Chapecó, em Santa Catarina. A reportagem procurou o empresário, que não respondeu até a publicação.

Roberto Dias, que foi indicado ao cargo pelo líder de governo na Câmara, Ricardo Barros (PP/PR), foi exonerado nesta quarta-feira (30/06), após denúncia do jornal. 

Também teriam participado desse encontro, segundo Dominguetti, o tenente-coronel Marcelo Blanco, que era assessor do DLOG na gestão de Roberto Dias, e um empresário de Brasília. 

A reportagem procurou o Ministério da Saúde e questionou a pasta sobre a visita da Senah, tratativas de negociação de vacina e relações com Luiz Paulo Dominguetti. A assessoria não respondeu até a publicação.

Reprodução. Na foto, pastor Amilton Gomes ao lado do senador Flávio Bolsonaro

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Líder da Senah criou frente parlamentar religiosa 

O reverendo Amilton Gomes parece ter bom trânsito no meio político de Brasília. Em suas redes sociais ele tem fotos com o filho do presidente Jair Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota/RJ), como mostra a imagem acima,  publicada em junho de 2019. Em uma outra postagem de maio daquele ano, o religioso comemorou receber uma moção de louvor na Câmara dos Deputados. Recentemente, o pastor apareceu na divulgação da “Conferência Nacional de Liderazgo” ao lado da deputada federal bolsonarista Carla Zambelli (PSL/SP).

Amilton Gomes participou ainda da criação da  Frente Parlamentar Mista Internacional Humanitária pela Paz Mundial (FremhPaz) junto ao pastor Laurindo Shalom, da Associação Internacional Cristã Amigos Brasil-Israel, e do deputado federal Fausto Pinato (PP/SP), em 17 de setembro de 2019. 

No estatuto da frente, a Senah aparece com a missão de dar apoio jurídico “para pessoas e comunidades em situações de guerras, calamidades, e aos refugiados, em ajudas humanitárias nacionais e internacionais”. No mesmo artigo do estatuto, que trata da cooperação interdisciplinar, diz que a frente irá “fomentar e financiar cursos de formação na temática da proteção à liberdade religiosa e aos refugiados, especialmente por meio da Senar [atual Senah], promovendo o intercâmbio de experiências nacionais e internacionais”. A entidade também integra o conselho consultivo da frente. 

A Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários, que até o ano passado se chamava Secretaria Nacional de Assuntos Religiosos, foi fundada por Amilton Gomes em 1999. “Hoje nosso DNA está na cultura pela paz mundial, na fomentação de apoio ao meio ambiente, sempre buscando meios sustentáveis para o desenvolvimento da sociedade harmonizando Homem e Meio Ambiente”, informa em sua página na internet a entidade que tem sede em Brasília.

Líder da Igreja Batista Ministério da Nova Vista, Amilton Gomes também foi cabo do Exército, na década de 1990. Ele publicou imagens do Movimento Cristão Conservador Brasileiro com sua assinatura e sua foto e se apresenta como reitor da Faculdade Batista do Brasil, além de participar da direção de entidades de psicologia, como, por exemplo, a Sociedade de Psicologia do Centro-Oeste. 

Procurado, Amilton Gomes confirmou as negociações e a visita ao Ministério da Saúde.

Reprodução. Líder religioso, Amilton Gomes foi homenageado no Congresso e participou de criação de Frente Parlamentar

Davati procurou Pazuello para vender vacinas

Também em março, um representante oficial da Davati Medical Supply procurou o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello enquanto ele chefiava o ministério para negociar a venda de vacinas, revelam documentos que Pública acessou via consulta de Acesso à Informação do governo federal.

De acordo com a troca de emails, o advogado Julio Adriano de Oliveira Caron e Silva procurou Pazuello no seu email oficial da pasta no dia 9 de março deste ano. Na mensagem ele oferecia 300 milhões de doses da vacina AZD1222, da Astrazeneca, para compra imediata pelo Ministério da Saúde. O advogado informou que representava a empresa Davati Medical Supply LLC.

Em entrevista à reportagem, Adriano Caron confirmou representar a Davati. Documento da empresa também o confirma como representante no Brasil. Não há menção a outros representantes, como Luiz Paulo Dominguetti Pereira. 

O advogado disse não conhecer Dominguetti. “Como a empresa me deu uma autorização de apenas representá-la aqui e oferecer as vacinas, eu não sei se ela fez isso com outras pessoas. Talvez tenha feito, mas eu não conheço essa pessoa, não sei das relações dele com o governo”, disse. 

Caron também disse desconhecer qualquer operação da empresa e de que a Davatti estaria ofertando a vacina da Johson.  

O email enviado por Caron ao Ministério da Saúde foi respondido no dia seguinte, 10 de março, pelo chefe de Gabinete do Ministro de Estado da Saúde, o capitão Paulo César Ferreira Junior. O militar está à frente do gabinete desde maio de 2020, quando Pazuello se tornou ministro. Homem de confiança de Pazuello, ambos estiveram na intervenção federal em Roraima, em 2018, e receberam a Ordem do Mérito Forte São Joaquim.

Em resposta ao advogado, o capitão pediu uma carta de autorização da Astrazeneca que concordasse com a intermediação da Davati. Caron disse à Pública que as negociações não avançaram porque a empresa não o retornou com os documentos solicitados pelo Ministério da Saúde. 

“Dando seguimento com a Davati, pedindo maiores informações sobre as vacinas, eles não conseguiram me confirmar a disponibilidade do estoque e nem de que eles estavam autorizados pela empresa de vender vacinas aqui no Brasil, então o negócio não seguiu em frente”, justificou Caron. “Não marquei reunião nenhuma e a conversa não seguiu em frente”, acrescentou.  

Ainda segundo o advogado, “a Davati deixou bem claro que iria buscar junto à fabricante das vacinas toda a documentação necessária para vender”. “Se ela estava tentando negociar com a Astrazeneca a possibilidade de oferecer essas vacinas para o Brasil, ou qualquer outro país, e ela não conseguiu por algum motivo, talvez seja esse o motivo de que ela não me mandou a informação porque o negócio seria fechado com a Astrazeneca, a Astrazeneca que iria fornecer a vacina. Se ela não conseguiu autorização da Astrazeneca para vender, parou de me mandar informação e eu não poderia vender um produto que ela não tinha”.

Linha do tempo

  • 25 de fevereiro — segundo Dominguetti, diretor de logística do MS pediu propina para oferta de vacinas feita em nome da Davati
  • 4 de março —  pastor Amilton Gomes da Senah posta foto no MS e anuncia articulação para vacinas
  • 23 de março — carta da Senah assinada por Amilton Gomes chega a Ijaí oferecendo vacinas da Davati

Colaborou Bianca Muniz/ Atualização (01/07/2021 às 11h55): Em um parágrafo o nome de Roberto Dias estava errado. A informação foi corrigida.

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Esta reportagem foi inicialmente publicada pela Agência Pública [Aqui! ].

Flávio Bolsonaro é afinal denunciado pelo MP/RJ por crimes relacionados ao esquema da “rachadinha” na Alerj

CAE - Comissão de Assuntos Econômicos

Flávio Bolsonaro foi denunciado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro por organização criminosa, peculato, lavagem e apropriação indébita.Foto: Pedro França/Agência Senado

Passados dois anos após ter irrompido no cenário político brasileiro o esquema de apropriação indébita de parte dos salários dos servidores lotados no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, o Ministério Público do Rio de Janeiro finalmente apresentou sua denúncia formal contra o filho primogênito do presidente Jair Bolsonaro por organização criminosa, peculato, lavagem e apropriação indébita.

Fosse ele uma pessoa comum (no sentido de não ser um político com vários mandatos e parte de uma das principais dinastias políticas do Brasil), Flávio Bolsonaro já teria sido denunciado muito antes. Aliás, desconfio que se fosse membro de um partido de esquerda, a denúncia também não teria demorado tanto.

O fato é que agora com a denúncia formalizada, vamos ver como se comporta a justiça brasileira. É que segundo decisão do Supremo Tribunal Federal, a ocupação de um determinado cargo político (no caso de Flávio Bolsonaro, o de senador) não oferece imunidade para crimes cometidos em outros cargos anteriores. Assim, como o esquema denunciado é anterior à ocupação do atual cargo, Flávio Bolsonaro não poderia ser isentado de responder pelo esquema imputado a ele e ao seu “jack-of-all-trades” (em bom português, um pau para toda obra), o ex-policial militar e ex-motorista pessoal Fabrício Queiroz.

Mas que ninguém prenda a respiração por conta de decisões que garantam que ninguém, nem mesmo um senador que é filho de um presidente da república, esteja acima da lei.  É que um recente caso sobre um estupro de um jovem “influencer” na bela Ilha de Santa Catarina mostra quão tortuosos os caminhos percorridos pela justiça brasileira podem ser.

Entretanto, no caso da presente denúncia pode ser que apesar de tanta demora haja alguma oportunidade para que a mesma progrida. A ver!

O Governo Bolsonaro está em queda livre

Confidentes do presidente caem ou são presos, o vírus se espalha a um ritmo alarmante. O gabinete afunda no caos

grafite 1Um grafite em São Paulo mostra um cabo de guerra entre médicos de um lado e o presidente Bolsonaro do outro lado. O chefe de estado é apoiado pelo vírus corona (Foto: AP)

Por Christoph Gurk de Buenos Aires para o Süddeutsche Zeitung

Enquanto o número de pacientes infectados com o novo coronavírus aumentou para mais de um milhão no Brasil, o governo do país está afundando cada vez mais no caos. O ministro da Educação do Brasil, Abraham Weintraub, anunciou sua renúncia na quinta-feira. O ex-banqueiro de investimentos era considerado um linha-dura da direita no governo. Ele lamentou a “infiltração socialista” de seu ministério e cortou drasticamente os fundos das universidades públicas porque as considerava um refúgio de comunistas.

Weintraub também interferiu em outras áreas da política. Nas últimas semanas, ele foi atingido por ter cometido ataques racistas contra a China em conexão com a pandemia d COVID-19. Há algumas semanas, ele comparou as buscas domiciliares da polícia federal com os apoiadores de Bolsonaro à Noite dos Cristais que ocorreu em 9 de novembro de 1938 na Alemanha nazista. E ele chamou os juízes da Suprema Corte de “vagabundos” que deveriam estar na prisão.

A renúncia de Weintraub é provavelmente a conseqüência da crescente pressão do judiciário brasileiro que o está investigando por seus comentários racistas e envolvimento em uma rede de notícias falsas. Para o governo de Jair Bolsonaro , a saída de Weintraub é uma perda irritante. O ministro era particularmente popular entre os cada vez mais importantes apoiadores de direita. A renúncia é vista como uma derrota para o governo na luta com o Supremo Tribunal Federal.

As estações de TV transmitem a prisão ao vivo

Quase simultaneamente à renúncia de Weintraub, a polícia brasileira prendeu Fabrício Queiroz, um íntimo confidente da família Bolsonaro, na quinta-feira (18/06). O presidente e o ex-policial se conhecem desde os anos de 1980. Mais recentemente, o jogador de 54 anos trabalhou oficialmente como motorista do filho de Jair Bolsonaro, Flávio. Não-oficialmente, diz-se que Queiroz ajudou o filho presidencial, que era ativo na política, a desviar fundos públicos para suas próprias contas. O caso pode ter consequências desagradáveis ​​para Jair Bolsonaro. Ele foi eleito para o cargo em 2018, principalmente porque foi considerado um político de fora do sistema político por muitos brasileiros, sem estar envolvido na ampla cultura de corrupção na política, sem conexão com as práticas de nepotismo e enriquecimento pessoal.

O presidente e sua família negam todas as alegações; o próprio Queiroz fugiu depois que as acusações se tornaram conhecidas. A polícia o prendeu perto de São Paulo, na propriedade de um dos advogados da família Bolsonaro. A prisão causou sensação no Brasil. Dos helicópteros, as equipes das emissoras de TV transmitiram a prisão ao vivo.

O judiciário está aumentando a pressão sobre o presidente brasileiro. Outra investigação já está em andamento contra Jair Bolsonaro: ele teria usado seu cargo político e poder para impedir a investigação da Polícia Federal sobre seus filhos. Além disso, os índices de aprovação do presidente continuam em declínio no decorrer da pandemia da COVID-19. Na noite de sexta-feira, o Brasil deverá exceder a marca de um milhão de infectados.

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Este artigo foi publicado originalmente pelo jornal Süddeutsche Zeitung [Aqui!].

Acharam (prenderam) o Queiróz, treme a república

queirozFabrício Queiroz é conduzido para a prisão após ser ser apreendido em um situação pertencente ao advogado Frederico Wassef no município de Atibaia (SP)

Em um desdobramento que deverá aumentar a temperatura política no Brasil, a Polícia Civil e o Ministério Público do estado de São Paulo prenderam na manhã desta 5a. feira, o ex-motorista e “jack of all trades” (em português, o bom e velho “pau para toda obra”) Fabrício Queiroz, que estava desaparecido sob as vistas de todo mundo há mais de um ano.

E essa prisão começa imersa em uma mar de ironias. A primeira ironia que eu vejo nessa história em desenvolvimento é que a prisão aconteceu em São Paulo, e não no Rio de Janeiro onde os supostos crimes cometidos por Queiroz teriam sido cometidos.  A segunda é que Fabrício Queiroz teria sido preso em um sítio localizado no já famoso município de Atibaia, onde também existe outro sítio que foi celebrizado por ter sido o objeto da segunda condenação judicial do ex-presidente Lula. A terceira ironia é que o proprietário do sítio onde Queiroz foi encontrado é nada menos que um dos advogados do senador Flávio Bolsonaro, o mesmo para quem o ex-motorista teria agido para, entre outras coisas, recolher parte dos salários dos servidores lotados no gabinete do então deputado estadual pelo Rio de Janeiro. Uma quarta ironia é que ontem mesmo, o dono do sítio, o advogado Frederick Wassef, esteve presente ontem na cerimônia de posse do novo ministro da Comunicação, o deputado federal Fábio Faria (PSD/RN). A quinta e última ironia que eu consiga lembrar é o fato de que o impeachment do hoje senador Fernando Collor teve como ponto de partida uma denúncia de uma transação irregular envolvendo um veículo Elba da Fiat. A ironia é que o exílio de Queiroz não foi na Ilha de Elba, mas em Atibaia, em uma conjunção inesperado com o destino do ex-presidente Lula, por quem o presidente Jair Bolsonaro não nutre os melhores sentimentos.

O advogado de Flávio Bolsonaro, Frederick Wassef, negando saber o paradeiro de Fabrício Queiroz que passou um ano hospedado em um imóvel de sua propriedade em Atibaia (SP)

Ironias à parte, a prisão de Fabrício Queiroz tem o efeito potencial de fazer tremer a república, pode-se assim dizer. É que essa prisão, somada a outros desdobramentos que ocorreram no Rio de Janeiro, tem o potencial de atingir o presidente Jair Bolsonaro onde ele mais teme ser atingido que são os seus filhos. Como o filho senador é o mais exposto deles, exatamente em função das brechas que já estão abertas pelo esquema da “rachadinha” comandado por Fabrício Queiroz no gabinete  de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. 

Essa prisão também é ruim porque ocorre em um momento em que a popularidade do presidente Jair Bolsonaro já vinha cambaleando em função da gestão desastrosa da pandemia da COVID-19 que já causou oficialmente 46.665 mortes no Brasil. Agora, com a prisão de Fabrício Queiroz, o risco é que capa de paladino anti-corrupção seja rasgada de vez, e o presidente tenha que explicar, por exemplo, o ainda inexplicado depósito que ex-motorista fez na conta bancária da primeira dama Michelle Bolsonaro.

michelleFabrício Queiroz afirmou ter dado dez cheques, no valor total de R$ 40 mil, a Michelle Bolsonaro Foto: Jorge William / Agência O Globo

Em um sinal que sentiu o golpe, o presidente Jair Bolsonaro deixou hoje de fazer a famosa parada que realiza matinalmente no “cercadinho” fora da residência oficial da presidência. O dia de hoje promete, e a república treme. Eu não me surpreenderia se hoje tivéssemos uma série de declarações de pessoas ilustres dessa mesma república que apoiaram a eleição de Jair Bolsonaro negando que um dia apostaram nele para dirigir o Brasil. A ver!

A blitz em Wilson Witzel e o aprofundamento da crise política no Brasil

witzel bolsoO hoje governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC/RJ), posando com camisa do então candidato Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral de 2018.

A população do Rio de Janeiro amanheceu mais uma vez com notícias de ações da Polícia Federal para apurar supostas irregularidades na área da Saúde cometidas por um governador em exercício, no caso o ex-juiz Wilson Witzel. Essa operação alcunhada de “Placebo” por causa de alegado superfaturamento na montagem dos famigerados hospitais de campanha é uma espécie de “déjà vu” porque nos últimos anos tivemos casos rumorosos envolvendo os ex-governadores Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão.

A diferença nesse caso é a rara celeridade com que a detecção das supostas irregularidades no governo estadual do Rio de Janeiro resultou em uma operação da Polícia Federal que a mídia corporativa informa está vasculhando endereços oficiais e pessoais de Wilson Witzel.  E, curiosamente, com um destacamento da Polícia Federal lotada no Distrito Federal.

Essa celeridade inaudita já levanta o espectro da perseguição política por parte do presidente Jair Bolsonaro que hoje tem em Witzel um enorme desafeto. Contribuiu para a presença desse espectro, as declarações de véspera da deputada federal Carla Zambelli (PSL/SP) (uma das ardorosas aliadas da família Bolsonaro no congresso nacional) que teria previsto com o poder de um oráculo a deflagração da operação policial de hoje. Se isso for confirmado, há, inclusive que se apurar se isso não contribuiu para a destruição de provas, já que entre o anúncio de Zambelli e a deflagração da operação Placebo passaram-se horas suficientes para destruir um caminhão de provas.

Mas colocando-se de lado a evidente disputa política que ocorre atualmente entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador fluminense, ninguém pode discordar de que é necessário apurar se realmente, em meio a uma pandemia letal, ocorreram crimes contra o estado do Rio de Janeiro com a prática de sobrepreço, por exemplo.  Ser contra a apuração e a punição de crimes de corrupção não parece razoável, especialmente se isso ocorre quando milhares de pessoas estão pessoas por falta de estruturas próprias de saúde.

Além disso, é preciso lembrar que, embora brigados no momento, Jair Bolsonaro e Wilson Witzel são praticamente inseparáveis em termos ideológicos, especialmente no que tange ao uso da força extrema para obter um apaziguamento social que se mostra totalmente deletério para o interesse da maioria pobre da população fluminense. A ligação entre Bolsonaro e Witzel é tão grande que o secretário de Ciência e Tecnologia, Leonardo Rodrigues, um dos acusados de terem praticados crimes de corrupção, é o segundo suplente do senador Flávio Bolsonaro, tendo convivido de forma próxima com o próprio presidente Jair Bolsonaro.

xleonardo_flavio.jpg.pagespeed.ic.YTdaazNep0Leonardo Rodrigues, suplente de Flávio Bolsonaro e atual secretário de Ciência e Tecnologia Foto: Reprodução / Redes Sociais

Além disso, sob o comando de Wilson Witzel, as polícias do Rio de Janeiro adotaram uma tática de violência extrema dentro de comunidades controladas pelo narcotráfico, o que motivou o jornal estadunidense a publicar uma longa matéria intitulada “License to Kill: Inside Rio´s Record Year of Police Killings” (ou em português “Licença para matar: dentro do ano recorde de assassinatos pela polícia”). Nesse sentido, há ainda que se lembrar que mesmo durante a pandemia da COVID-19, ocorreram diversos assassinatos de jovens negros dentro de comunidades da cidade do Rio de Janeiro, sendo que em algumas delas as operações policiais ocorreram durante a distribuição de cestas básicas para famílias que se encontram em dificuldades para adquirir alimentos.

license to killMatéria publicada pelo “The New York Times” no dia 18 de maio de 2020 abordou as ações letais em número recorde realizadas pela polícia fluminense em comunidades pobres da região metropolitana do Rio de Janeiro em 2019.

Desta forma, me parece que qualquer propensão a tomar posição em favor de Wilson Witzel em razão da possível interferência do presidente Jair Bolsonaro deverá levar em conta os diversos aspectos envolvendo não apenas os fatos já publicizados sobre as acusações de corrupção envolvendo o governo do Rio de Janeiro, mas também a natureza da relação política que levou os dois ao poder.

De toda forma, há ainda que se esperar o pronunciamento do governador Wilson Witzel, um ex-juiz com esperada experiência na análise processual deste tipo de operação. Se ele encontrar furos nos procedimentos que levaram à autorização da operação Placebo, é bem provável que ele saia rapidamente da defesa para o ataque. E dependendo do calibre que ele tiver nas mãos para realizar este contra-ataque, é bem possível que tenhamos um aprofundamento ainda maior da crise política que hoje se mistura com o avanço da pandemia da COVID-19.

Suplente de Flávio Bolsonaro lançou a mãe de todas as delações e diz que PF avisou sobre operação envolvendo Fabrício Queiróz

Entenda o Caso Queiroz e qual a relação de Flávio de Bolsonaro ...Flávio e Jair Bolsonaro almoçam com Fabrício Queiróz

O empresário Paulo Marinho (PSDB), suplente de senador pelo Rio de Janeiro,  decidiu lançar o que poderá ser chamada de “mãe de todas as delações” ao revelar ao jornal “Folha de São Paulo” que um delegado da Polícia Federal (PF) avisou com antecedência ao  candidato a senador Flávio Bolsonaro que seria deflagrada uma operação policial, como consequência  da chamada Operação Furna da Onça, para apurar a realização de “rachadinhas” (ou seja, a apropriação ilegal de parte dos salários de servidores) no gabinete do então deputado estadual, orientando inclusive para que fossem feitas as demissões do “jack of all trades” (pau para toda a obra) Fabrício Queiróz , seus familiares e ainda parentes de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro.

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Como Paulo Marinho foi um dos mentores da campanha do agora presidente Jair Bolsonaro, ele não poderá ser ignorado ou, simplesmente, rotulado como mais um traidor comunista pelos apoiadores do presidente da república. Essa entrevista tem conteúdo extremamente explosivo não só pelo detalhe da “indiscrição” do delegado da PF que avisou sobre a iminente deflagração da operação policial sobre o esquema das rachadinhas, mas também porque Marinho revela a existência de um telefone do falecido Gustavo Bebiano onde estariam armazenadas todas as conversas mantidas entre ele e o agora presidente Jair Bolsonaro. O problema é que o material ali contido pode ser nitroglicerina pura, pois armazena mais de um ano de conversas entre Bebianno e Jair Bolsonaro.

As próximas semanas serão extremamente problemáticas no Brasil, pois ao aumento do número de mortes pela COVID-19 serão adicionadas pitadas generosas de de crise política. E não vejo como os militares que estão hoje dentro do governo federal dando sustentação a Jair Bolsonaro poderão continuar fazendo cara de paisagem frente a essas revelações que me parecem ainda incompletas. 

E pensar que Fernando Collor caiu por causa de um Fiat Elba e Dilma Rousseff por causa de pedaladas fiscais inexistentes.  Agora está mais do que provado que em se tratando de motivos, Jair Bolsonaro não será lembrado como um presidente que foi parcimonioso no quesito “escândalo”.

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Finalmente, o Brasil agora aguarda ansioso a revelação do nome do delegado da Polícia Federal que revelou a Flávio Bolsonaro que uma operação da PF seria lançada às vésperas do segundo turno da eleição presidencial. É que dependendo de quem for esse delegado-informante, a coisa vai ficar ainda mais quente do que já está.

Com a morte do ex- capitão do BOPE, Adriano da Nóbrega, fecha-se um arquivo humano

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Ex-capitão do BOPE, Adriano da Nóbrega, foi homenageado com Medalha Tiradentes e tinha mãe e esposa lotadas no gabinete do hoje senador Flávio Bolsonaro

A mídia corporativa informa nesta manhã de domingo que foi morto na área rural do pequeno município baiano de Esplanada (cerca de 170 km ao norte de Salvador), o ex capitão do Batalhão de Operação Especiais (Bope) da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Adriano da Nóbrega. As notícias dão conta que Nóbrega teria enfrentado uma força policial composta de contingentes de pelo menos 3 estados e morrido em uma unidade hospitalar em função dos tiros que recebeu durante um tiroteio que eclodiu quando os policiais tentavam entregar um mandado de prisão.

Com a morte do ex-capitão do Bope sobre quem pesam acusações de ser um chefe de milícias e membro de um grupo de matadores de aluguel (o “Escritório do Crime”) ficaremos sem saber se ele realmente esteve envolvido na morte da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, ocorrido em 14 de março de 2018. 

Mas a morte do ex-capitão Adriano da Nóbrega faz mais do que nos deixar desprovidos de informações cruciais sobre  a morte de Marielle e Anderson. É que precisamos lembrar que Nóbrega não apenas foi homenageado com a principal honraria emitida pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), a Medalha Tiradentes, pelo hoje senador Flávio Bolsonaro, mas como teve sua mãe e esposa ocupando cargos no gabinete do então deputado estadual. Além disso, Adriano da Nóbrega era amigo de outra figura notória por causa de suas relações com a família Bolsonaro, o ex-policial e motorista Fabrício Queiróz.

Por essas questões todas é que a morte de Adriano da Nóbrega pode ser facilmente classificado como o fechamento de um arquivo humano, pois o ex-policial certamente tinha um vultoso acerca de informações de suas relações profissionais e pessoais com setores que hoje teriam muito a perder se ele resolvesse contar tudo o que sabia. Por isso, desconfio que a sensação que algumas cabeças coroadas da república estejam tendo hoje seja mais de alívio do que de tristeza. Afinal, para quem tinha relações com esse arquivo, melhor ele fechado do que aberta, não é?

MP-RJ faz busca e apreensão em endereços de Queiroz e parentes de Bolsonaro

Apura esquema de rachadinha. Ex-mulher do presidente é alvo

flavio-bolsonaro-e-amigo-Queiroz-1O ex-assessor Fabrício Queiroz (dir.) com o senador e Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ): Queiroz movimentou mais de R$ 1,2 mi de 2016 a 2017, enquanto estava lotado no gabinete de Flávio

Por

O MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) cumpre na manhã desta 4ª feira (18.dez.2019) diversos mandados de busca e apreensão em endereços de ex-assessores do senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) tanto na capital como em Resende, no Sul do Estado do Rio. Segundo o portal G1, são alvo das medidas cautelares os endereços de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio, e parentes de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro.

A operação é 1 desdobramento da investigação sobre lavagem de dinheiro e peculato (desvio de dinheiro público) no âmbito do antigo gabinete de Flávio, quando era deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio (2003 a 2019).

Queiroz é investigado após constatação de movimentações bancárias atípicas em suas contas. Relatório do antigo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras, hoje Unidade de Inteligência Financeira) apresentou a movimentação de R$ 1,2 milhão de 2016 a 2017. Os pagamentos recebidos por Queiroz eram em datas próximas da folha de pagamento dos funcionários do gabinete, o que leva a suspeita de devolução de parte do salário, a chamada rachadinha.

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Esta notícia foi originalmente publicada pelo site PODER360 [Aqui!].

Forças-tarefas da Lava Jato e Greenfield divulgam nota pública sobre decisão do ministro Dias Toffoli

Magistrado suspendeu investigações e processos instaurados a partir do compartilhamento de informações fiscais e bancárias com o MP

nota publica

Os procuradores da República que integram as forças-tarefas das operações Lava Jato e Greenfield divulgaram na tarde desta quarta-feira (17), nota pública sobre decisão do ministro Dias Toffoli. Confira:

“As forças-tarefas das operações Greenfield e Lava Jato em Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro externam grande preocupação em relação à decisão monocrática emitida pelo presidente do E. STF, Min. Dias Toffoli, que determinou a suspensão de investigações e processos instaurados a partir do compartilhamento com o Ministério Público de informações fiscais e bancárias sobre crimes “que foram além da identificação dos titulares das operações bancárias e dos montantes globais”, sem prévia decisão do Poder Judiciário. 

A referida decisão contraria recomendações internacionais de conferir maior amplitude à ação das unidades de inteligência financeira, como o COAF, inclusive em sua interação com os órgãos públicos para prevenir e reprimir a lavagem de dinheiro. 

As forças-tarefas, ao longo dos últimos cinco anos, receberam inúmeras informações sobre crimes da Receita, do COAF e do BACEN, inclusive a partir da iniciativa dos órgãos quando se depararam com indícios de atividade criminosa. A base para o compartilhamento na última situação é o dever de autoridades de comunicar atividade criminosa identificada. 

Embora seja inviável identificar imediatamente quantos dos milhares de procedimentos e processos em curso nas forças-tarefas podem ser impactados pela decisão do E. STF, esta impactará muitos casos que apuram corrupção e lavagem de dinheiro nas grandes investigações e no país, criando risco à segurança jurídica do trabalho.

A suspensão de investigações e processos por prazo indeterminado reduz a perspectiva de seu sucesso, porque o decurso do tempo lhes é desfavorável. Com o passar do tempo, documentos se dissipam, a memória de testemunhas esmorece e se esvai o prazo de retenção pelas instituições de informações telefônicas, fiscais e financeiras.

Por tudo isso, as forças-tarefas ressaltam a importância de que o caso seja apreciado, com a urgência possível, pelo plenário do Supremo Tribunal Federal, manifestando confiança de que a Corte definirá a questão com a necessária urgência, conferindo segurança jurídica para o desenvolvimento das investigações e processos suspensos”.

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Este texto foi produzido pela Assessoria de Comunicação da Procuradoria da República no Rio de Janeiro.

O filho de Bolsonaro (Flávio) entendeu tudo errado em relação às mudanças climáticas

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Por Ignacio Amigo para a ClimaTracker.org

Flávio Bolsonaro, um dos filhos do presidente do Brasil, escreveu um artigo de opinião em que nega as mudanças climáticas. Assinado com um colega senador, Márcio Bittar, o texto é cheio de falsidades e mentiras descaradas. Nos parágrafos seguintes, vamos desmascarar algumas de suas alegações selvagens. Como eles não apóiam suas declarações com qualquer tipo de evidência, será a palavra deles contra a ciência.

“Sabe-se que a ideologia verde tem sido um paraíso para os esquerdistas de todos os tipos. Há um emaranhado complexo de grupos anticapitalistas defendendo a irracionalidade e gerando um falso consenso científico ”

A política verde não é, de modo algum, uma exclusividade da esquerda. O acordo de Paris foi assinado por governos de todos os tipos, da Venezuela à Arábia Saudita. Não há “falso consenso científico” em torno das mudanças climáticas, apenas consenso científico. Organizações científicas em todo o mundo e órgãos intergovernamentais concordam que o aquecimento global é real e está sendo causado pela ação humana. Você pode encontrar mais informações no site da NASA.

“O mais famoso e refutado [discurso apocalíptico] é que o aquecimento global é causado por humanos. Outros existiam: a preservação do mico-leão-dourado [um primata endêmico e ameaçado do Brasil], a destruição da camada de ozônio, o fim da biodiversidade, a superpopulação, a Amazônia como o pulmão do mundo, entre outras mentiras repetidas ”

Uma estratégia comum para espalhar notícias falsas é misturar fatos reais com mentiras. Mas este não é o caso. Aqui os autores simplesmente listam fatos bem estabelecidos e exemplos de sucesso e os chamam de “mentiras”.

O mico-leão-dourado estava quase extinto há 60 anos, devido ao desmatamento na Mata Atlântica do Brasil. Desde então, uma campanha de conservação de sucesso ajudou a espécie a sobreviver e o número de indivíduos aumentou substancialmente. Se você quiser ler mais sobre a história do mico-leão-dourado, você pode ler este estudo da Universidade de Utrecht.

A destruição da camada de ozônio é um fato bem documentado. Foi descrita pela primeira vez nos anos 70 por Payul Crutzen, Mario Molina e Sherwood Roland, que ganhou o Prêmio Nobel em 1995 por essas descobertas. A ciência é a seguinte: compostos presentes em aerossóis e refrigeradores chamados gases de clorofluorocarbonetos, se decompõem na estratosfera gerando cloro. As moléculas de cloro, por sua vez, reagem com as moléculas de ozônio, esgotando-as. Isso tem sérias conseqüências, porque as moléculas de ozônio absorvem radiações ultravioletas do sol que, entre outras coisas, causam câncer. Essas descobertas levaram ao Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio, adotado em 1987 por todos os países da ONU. Desde então, os níveis de ozono aumentaram. Erik Solheim, chefe da ONU para o Meio Ambiente, descreveu o protocolo como “um dos acordos multilaterais de maior sucesso na história”. Você pode aprender mais sobre a destruição do ozônio nesta peça da National Geographic.

A perda de biodiversidade é outra questão premente do nosso tempo. Muitos estudos científicos mostram que as taxas de extinção de espécies são maiores agora do que em estágios pré-humanos. Aqui está um exemplo de um estudo de 2014 publicado na Science: “As taxas atuais de extinção são cerca de 1000 vezes a taxa de fundo de extinção [taxa antes dos humanos]. Estes são mais elevados do que o estimado anteriormente e provavelmente ainda são subestimados ”.

A superpopulação também é real. O número de humanos na Terra aumentou três vezes mais entre 1900 e 2000 do que durante o resto da era humana. Embora os números sugiram que possamos estar perto de alcançar o pico, a população humana continuará a crescer nas próximas décadas. Isto tem várias implicações, especialmente considerando que as mudanças climáticas e a população humana estão inter-relacionadas e que as cidades continuarão a crescer à custa das áreas rurais. Confira este site para mais dados e fatos sobre a população humana.

Pode soar como um clichê, mas a floresta amazônica é o pulmão da Terra. É a maior floresta tropical do mundo. Libera uma parte substancial do oxigênio que respiramos e regula o ciclo da água na região.

“Eles até dizem que as florestas criam chuvas, desafiando o conhecimento bem estabelecido do ciclo da água: evaporação dos oceanos, lagos, rios (calor do sol), condensação (nuvens) e precipitação (chuvas). Há florestas densas porque há chuvas intensas ”

Embora seja verdade que as chuvas afetam as florestas, isso não significa que as florestas não afetam as chuvas. Por exemplo, as árvores são críticas para reter a água no solo. Sem árvores, as chuvas degradam o solo e a água cai. Um estudo publicado na Science em 2016 mostrou que a umidade do solo afeta os padrões de chuva. Outro estudo de 2017 publicado na PNAS mostra que o vapor de água das árvores na Amazônia desencadeia as chuvas que iniciam a estação chuvosa. Você pode ler sobre este estudo nesta peça chamada “Árvores na Amazônia fazem sua própria chuva”.

“Você só precisa pesquisar para saber que humanos podem mudar o clima local, mas não o clima global. Houve momentos em que a produção humana era pequena e o mundo era mais quente. Apesar do aumento nas emissões de CO2, dizem os cientistas, o mundo está passando por um resfriamento global ”

Conforme observado acima, há uma grande quantidade de pesquisas indicando que os seres humanos estão mudando o clima global. Você pode ler mais sobre isso nesta história da National Geographic. Os cinco anos mais quentes registrados são, nesta ordem, 2016, 2015, 2017, 2018 e 2014. Não há evidências que sugiram que o resfriamento global está ocorrendo e os fatos mostram exatamente o contrário.

“Está bem estabelecido que os grandes reguladores climáticos são o sol, os oceanos e os vulcões. Nada disso pode ser alcançado pela ação humana ”.

Os seres humanos estão mudando a atmosfera, que por sua vez tem um impacto sobre a radiação solar que atinge a Terra. Nós também estamos poluindo os oceanos e a mudança climática está piorando ainda mais. Erupções vulcânicas podem afetar o clima, mas os autores provavelmente estão exagerando sua importância.

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Este artigo foi publicado originalmente em inglês pela ClimateTracker [Aqui!]