Consultora da Shell demite-se, acusando empresa de ‘danos extremos’ ao meio ambiente

Caroline Dennett diz em vídeo que tomou decisão por causa de ‘conversas duplas sobre o clima’

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Consultor da Shell desiste dramaticamente por causa da ‘conversa dupla’ da empresa sobre o clima – vídeo

Por Alex Lawson para o “The Guardian”

Um consultor sênior de segurança deixou de trabalhar com a Shell após 11 anos, acusando o produtor de combustível fóssil em um vídeo público bombástico de causar “danos extremos” ao meio ambiente.

Caroline Dennett afirmou que a Shell “desconsiderava os riscos das mudanças climáticas” e exortou outros na indústria de petróleo e gás a “ir embora enquanto ainda há tempo”.

A executiva, que trabalha para a agência independente Clout, encerrou sua relação de trabalho com a Shell em uma carta aberta aos seus executivos e 1.400 funcionários. Em um vídeo de acompanhamento, postado no LinkedIn, ela disse que havia desistido por causa da “conversa dupla sobre o clima” da Shell.

Ben van Beurden, CEO da Royal Dutch Shell
Chefe da Shell enfrenta rebelião de investidores por pacote salarial de £ 13,5 milhões
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Ela disse: “A ambição de segurança declarada da Shell é ‘não causar danos’ – ‘Meta Zero’, como eles chamam – e parece honroso, mas eles estão falhando completamente nisso.

“Eles sabem que a extração contínua de petróleo e gás causa danos extremos ao nosso clima, ao meio ambiente e às pessoas. E não importa o que digam, a Shell simplesmente não está diminuindo os combustíveis fósseis.”

Dennett disse ao Guardian que “não poderia casar esses conflitos com minha consciência”, acrescentando: “Eu não poderia mais suportar isso e estou pronta para lidar com as consequências”.

A Shell era um “grande cliente” do negócio de Dennett, especializado na avaliação de procedimentos de segurança em indústrias de alto risco, incluindo produção de petróleo e gás. Ela começou a trabalhar com a Shell após o derramamento de óleo da BP Deepwater Horizon em 2010, que abalou a indústria.

“Não posso mais trabalhar para uma empresa que ignora todos os alarmes e descarta os riscos das mudanças climáticas e do colapso ecológico”, disse ela. “Porque, ao contrário das expressões públicas da Shell em torno do zero líquido, eles não estão diminuindo o petróleo e o gás, mas planejando explorar e extrair muito mais.”

A consultora, que realiza pesquisas internas de segurança e está sediada em Weymouth, Dorset, reconheceu que era “privilegiada” por poder ir embora e “muitas pessoas que trabalham em empresas de combustíveis fósseis não têm tanta sorte”.

Ela pediu aos executivos da Shell que “olhem no espelho e se perguntem se realmente acreditam que sua visão de mais extração de petróleo e gás garante um futuro seguro para a humanidade”.

No final de 2020, vários executivos da Shell em seu setor de energia limpa saíram em meio a relatos de que estavam frustrados com o ritmo da mudança da Shell para combustíveis mais verdes.

Seu anúncio ocorre na véspera da AGM da Shell em Londres na terça-feira. Seus planos de redução de emissões serão discutidos na reunião em que o grupo ativista holandês Follow This pressionará para que as políticas da empresa sejam mais consistentes com o acordo climático de Paris. O conselho da Shell disse aos investidores que rejeitem a resolução do grupo que pede que estabeleça metas climáticas mais rigorosas.

O investidor da Shell, Royal London, disse que pretende se abster na votação das propostas de transição climática da empresa.

O presidente-executivo da Shell, Ben van Beurden, pode enfrentar uma rebelião dos investidores contra seu pacote salarial de £ 13,5 milhões na AGM depois que o consultor de investimentos Pirc pediu um voto contra.

Um porta-voz da Shell disse: “Não tenha dúvidas, estamos determinados a cumprir nossa estratégia global de ser uma empresa líquida zero até 2050 e milhares de nossos funcionários estão trabalhando duro para conseguir isso. Estabelecemos metas de curto, médio e longo prazo e temos toda a intenção de atingi-las.

“Já estamos investindo bilhões de dólares em energia de baixo carbono, embora o mundo ainda precise de petróleo e gás nas próximas décadas em setores que não podem ser facilmente descarbonizados.”

A Shell também enfrenta a perspectiva de um potencial imposto inesperado para financiar cortes nas contas das famílias depois que o setor de energia divulgou lucros enormes alimentados pelo aumento dos preços de mercado, levando os partidos da oposição a pedirem ao governo que imponha uma taxa única.

Na segunda-feira, o maior produtor de petróleo e gás do Mar do Norte se manifestou contra uma taxa única, argumentando que levaria a indústria a aprovar menos projetos.

A executiva-chefe da Harbour Energy, Linda Cook, disse ao Financial Times: “Uma carga tributária mais alta tornará mais desafiador para novos projetos de petróleo e gás atender às taxas de investimento, o que significa que menos projetos serão sancionados.

“Este é um momento em que a indústria está sendo incentivada a aumentar a produção doméstica de petróleo e gás do Reino Unido e apoiar uma transição energética ordenada”.

Harbour disse ao governo que planeja investir US$ 6 bilhões no Mar do Norte ao longo de três anos, enquanto a indústria argumenta contra o imposto. O Guardian revelou este mês que Cook recebeu um “olá dourado de £ 4,6 milhões da empresa.


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Este texto foi escrito originalmente em inglês e publicado pelo jornal “The Guardian” [Aqui!].

Organizações alertam para impactos ambientais e socioeconômicos da concessão de blocos de petróleo e de gás natural da ANP

No edital há garantias mínimas de R$ 10 mil para exploração de petróleo por sete anos, ONGs contestam

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A Agência Nacional do Petróleo (ANP) realizará, na próxima quarta-feira (13 de abril) às 9h, a sessão pública do 3º Ciclo da Oferta Permanente de Concessão (OPC), licitação para concessão de contratos de blocos de exploração ou reabilitação e produção de petróleo e gás natural. O leilão oferta 379 blocos exploratórios para concessões localizados em dez estados brasileiros: Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe, Ceará, Bahia, Espírito Santo, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, sendo que 32 dessas áreas estão localizadas em alto mar (offshore) e 347 blocos terrestres. 

“Essa rodada é um total absurdo, pois o edital líquida blocos que podem ter garantias de ofertas a partir de 10 mil reais. Estão loteando o nosso subsolo a preço de banana, em plena crise climática,” argumenta o engenheiro Juliano Bueno de Araújo, diretor técnico do Instituto ARAYARA. As organizações do terceiro setor que atuam na área questionam o leilão especialmente por desconsiderar os povos tradicionais, que têm seus direitos garantidos na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), internalizada no país por meio do Decreto no 5.051/2004. 

Referente às Diretrizes Ambientais deste certame, ainda não foram concluídas pela ANP as Avaliações Ambientais de Áreas Sedimentares (AAAS), instrumento definido pelo Conselho Nacional de Politica Energética (CNPE) para o planejamento de outorga de áreas petrolíferas. Dessa forma, há blocos que estão sendo ofertados em zonas de alta sensibilidade ambiental e sem consulta às populações tradicionais destes territórios como indígenas, quilombolas e pescadores artesanais. O processo de licitação desconsiderou, inclusive, o impacto em áreas de Unidades de Conservação próximas.

Os blocos são distribuídos por 14 setores de sete bacias: dois setores de Santos, um de Pelotas, dois do Espírito Santo, três do Recôncavo, quatro do Potiguar, dois em Sergipe-Alagoas e Tucano. De acordo com as regras da Oferta Permanente, os setores definidos para um ciclo são aqueles que receberam declarações de interesse de empresas previamente inscritas, acompanhadas de garantia de oferta e aprovadas pela Comissão Especial de Licitação.

Aumento da exploração

O edital vigente da Oferta Permanente publicado em 30 de julho de 2021 contempla o total de 1068 blocos em 72 setores de 17 bacias sedimentares brasileiras: um total de 462,5 mil quilômetros quadrados (o correspondente a mais de 16 vezes o tamanho do estado de Alagoas), com 522 blocos nas bacias terrestres e 546 blocos nas bacias marítimas. Restam 1005 mil blocos que poderão receber ofertas pelas atuais 79 empresas aprovadas pela Comissão Especial de Licitação (CEL) da ANP para declararem interesse em um ou mais dos blocos e áreas ofertados no edital da Oferta Permanente. Essa modalidade licitatória da ANP permite que as empresas não esperem mais uma rodada de licitação ‘tradicional’ para ter oportunidade de arrematar um bloco ou área com acumulação marginal. 

O Brasil foi loteado pela ANP para que os blocos com risco exploratório fiquem permanentemente em oferta, ou seja, disponíveis às companhias petrolíferas no tempo que elas julgarem necessário para estudarem essas áreas antes de fazer uma oferta, sem o prazo limitado como nos editais anteriores. O Instituto ARAYARA entrará com uma representação judicial na Justiça Federal contestando a ausência da consulta a comunidades diretamente atingidas pela exploração e produção de petróleo. Entre os impactados estão colônias de pescadores artesanais, quilombolas, comunidades indígenas e outros povos tradicionais extrativistas.

O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) vê o assunto com muita preocupação, particularmente no que se refere à perspectiva de aumento da produção de gás natural no país e destinação do combustível para a geração de energia elétrica. “O aumento da geração de energia em termelétricas é muito grave, pois suja a matriz elétrica do país e pressiona ainda mais as tarifas da energia”, alerta o coordenador do Programa de Energia e Sustentabilidade do Idec, Anton Schwyter.

Para a 350.org, organização global de campanhas pelo clima, este ciclo da ANP destaca-se, ainda, por agravar o racismo climático, ou seja, a piora das condições de vida de comunidades formadas majoritariamente por pessoas negras e indígenas. Dos blocos ofertados, mais de 80% localizam-se no Nordeste do Brasil, região duramente afetada pelos vazamentos de óleo que atingiram o litoral de dez estados, em 2019 e 2020. À época, o desastre ambiental impediu o trabalho, durante meses, de milhares de famílias de pescadores, marisqueiras, trabalhadores informais do turismo, entre outros grupos economicamente vulneráveis.

Consequências ambientais

A oferta de blocos de petróleo acontece logo após o lançamento da última parte do Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Segundo o documento dedicado a medidas de mitigação de mudanças climáticas, apesar da redução de emissão prevista pelos países em seus compromissos nacionais, a expectativa é que a temperatura média do planeta aumente por volta de 2,7°C neste século em relação ao fim do século XIX. Neste sentido, a queima global de combustíveis fósseis nos setores de transporte, indústria e geração termelétrica comprometem o dobro do orçamento de carbono restante para evitar um aumento da temperatura global acima de 1,5°C – meta traçada no Acordo de Paris. “Além dos compromissos nacionais não apontarem uma perspectiva suficiente de emissões de gases de efeito estufa (GEEs), a expansão de investimentos e oferta de combustíveis fósseis indica uma tendência de aumento dessa atividade”, afirma Ricardo Baitelo, gerente de projetos do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA).

O setor de energia, que contabiliza GEEs provenientes da produção e do uso de combustíveis, emitiu 393,7 milhões de toneladas de CO2 equivalente (MtCO2e) em 2020, o que representou 18% do total nacional, segundo dados do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima. Dentro desse setor, a maior atividade emissora é o transporte, responsável por 47% de todas as emissões. A produção de combustíveis contabiliza a emissão de 55 milhões de toneladas em 2020, tendo sido pela primeira vez a segunda atividade mais emissora do setor de energia. A exploração de petróleo e gás natural é um exemplo de atividade que tem crescido consistentemente devido aos novos empreendimentos no pré-sal brasileiro. “A recente publicação do IPCC enviou uma mensagem decisiva de que devemos agir imediatamente para evitar os impactos climáticos provocados pelas atividades de extração de petróleo e gás natural. Vários blocos disponíveis no leilão poderão causar danos em áreas protegidas e prioritárias para a conservação da biodiversidade brasileira. O risco de investir nessa atividade é enorme e tem consequências duradouras”, ressalta Suely Araújo, especialista sênior em políticas públicas do Observatório do Clima.

A intensificação da oferta de blocos e áreas tem sido viabilizada também pelo desmonte das normas infralegais na pasta ambiental, a exemplo da PORTARIA MMA Nº 275, DE 5 DE ABRIL DE 2019. A medida destituiu o grupo de trabalho responsável por analisar a sensibilidade ambiental das bacias sedimentares antes dos leilões dos blocos de petróleo e gás. O grupo era composto por especialistas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e do Ministério do Meio Ambiente (MMA) que recomendavam quais blocos eram passíveis de ir a leilão e posteriormente adentrar um processo de licenciamento. “A portaria faz com que a decisão fique a cargo apenas do presidente do Ibama, fazendo com que seja muito mais política do que técnica. Resulta que áreas altamente sensíveis aos acidentes por vazamento, aos impactos da prospecção e ao trânsito de embarcações, como os recifes de corais, áreas de reprodução de cetáceos e ecossistemas de água doce (bacias sedimentares terrestres da Amazônia), se tornam passíveis de serem leiloadas”, ressalta Alessandra Cardoso, assessora política do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc).

Mobilização da sociedade civil

Em 13 de abril, às 9h, em frente ao Hotel Windsor, representantes de comunidades pesqueiras e quilombolas de Sergipe e da pesca artesanal do Rio de Janeiro, ativistas da 350.org, da ARAYARA.org , do Observatório do Petróleo e Gás (OPG), Observatório do Clima (OC) , CONFREM e da Coalizão Não Fracking Brasil (COESUS). farão um protesto em frente ao hotel onde o leilão será realizado, na capital fluminense. O ato visa chamar a atenção da sociedade para a emergência climática que exige o fim da extração e dos projetos de exploração de petróleo e gás. “As comunidades tradicionais, quilombolas e indígenas estão na linha de frente das mobilizações contra o petróleo e o gás porque são, em geral, as mais diretamente atingidas pelos frequentes acidentes nesse setor. Ao invés de manchar de óleo o território dessas populações, o governo brasileiro deveria investir em geração de energia limpa e socialmente justa”, afirma Ilan Zugman, diretor da 350.org na América Latina.

A Oferta Permanente é a principal modalidade de licitação de áreas para exploração e produção de petróleo e gás natural no país. Nessa configuração, há ofertas contínuas localizadas em quaisquer bacias terrestres ou marítimas. Até o ano passado, ela era realizada exclusivamente em regime de contratação por concessão. Agora, será realizado o terceiro ciclo de forma diferente dos demais, onde as definições dos parâmetros poderão ser adotadas para cada campo ou bloco. O evento será híbrido (on-line e presencial) no Rio de Janeiro com transmissão ao vivo no perfil da Agência Nacional do Petróleo (ANP) no YouTube: https://www.youtube.com/user/ANPgovbr.

Saiba mais sobre o processo de licitação

Para o edital da Rodada Permanente já foram realizados dois ciclos de oferta. O primeiro deles encerrou em 29 de setembro de 2021 com a assinatura de 45 contratos para concessão de 45 áreas de exploração e produção de petróleo e gás natural que totalizam 16.878 km² nas Bacias de Parnaíba, Potiguar, Recôncavo, Sergipe-Alagoas e Espírito Santo onde o SES-T6AM da área Lagoa Parda Sul foi vendido por R$ 20.159,00 para a empresa Imetame Energia Ltda.  

Já em relação ao segundo Ciclo da Oferta Permanente, a ANP em 28 de junho de 2021 realizou a assinatura dos 18 contratos de concessão, relativos a 17 blocos exploratórios e uma área com acumulações marginais que juntos somam uma área territorial de 20.149 km² nas Bacias do Amazonas, Campos, Espírito Santo, Paraná, Potiguar, Tucano e Solimões que foram arrematadas por sete empresas: Shell Brasil Petróleo Ltda., Eneva S.A., Enauta Energia S.A., Imetame Energia Ltda., Energy Paranã Ltda., Potiguar E&P S.A. e Petroborn Óleo e Gás S.A.  

Confira os blocos da Oferta Permanente:  https://www.gov.br/anp/pt-br/rodadas-anp/oferta-permanente/opc/arquivos/mapas/blocos-oferta-ciclo-1/mapa-geral.pdf

Contatos das assessorias

350.org – Peri Dias

+351 913 201 040 – peri.dias@350.org 

Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) – Isis Nóbile Diniz

(11) 98116-4880 – isis@energiaembiente.org.br

Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) – Silvia Alvarez  

(61) 98229-3659 – comunicacao@inesc.org.br

Instituto Internacional ARAYARA – Silvia Marcuzzo

(51) 993416213 – silvia@arayara.org

Observatório do Petróleo e Gás – Grazielle Garcia e Nicole Oliveira

(41) 984450000 e (11) 970795232 – Nicole@arayara.org nicole@naofrackingbrasil.com.br

Em frente a leilão da ANP, comunidades exigem o fim do petróleo e gás na Amazônia

Manifestantes dizem às empresas participantes que impactos sobre 47 Terras Indígenas e 22 Unidades de Conservação são inaceitáveis

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Em uma manifestação na manhã desta sexta-feira, 04 de dezembro, em frente ao hotel Sheraton da Avenida Niemeyer, no Rio de Janeiro, líderes indígenas, pescadores e ambientalistas da 350.org pediram o fim da extração de petróleo e gás na Amazônia.

A ação foi realizada no mesmo horário em que, do lado de dentro do hotel, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) promoveu a sessão pública de anúncio das propostas pelos blocos exploratórios disponíveis no 2o Ciclo da Oferta Permanente. Entre os blocos leiloados, 16 localizam-se na Bacia do Amazonas, dos quais três foram arrematados pela empresa Eneva.

Estudo inédito da 350.org mostra que a produção de petróleo e gás nesses 16 blocos pode provocar ou agravar impactos socioambientais consideráveis, como desmatamento, invasões e conflitos, em 47 Terras Indígenas e 22 Unidades de Conservação do entorno.

“A Amazônia representa a vida para os Povos Indígenas e para o planeta, mas o petróleo pode trazer a morte de animais, florestas e pessoas. Estamos unidos para lutar e vencer essa ameaça”, afirma Ninawá Huni Kui, presidente da Federação do Povo Huni Kui do Estado do Acre, presente à manifestação no Rio.

Também foram leiloados blocos em outras nove bacias, com potenciais impactos em biomas terrestres e sobre a vida marinha. As pescadoras e os pescadores artesanais de Magé (RJ), que participaram da ação, se pronunciaram em defesa desses territórios em risco.

“Nas últimas décadas, vimos os estragos que a exploração de petróleo trouxe para o meio ambiente, para as mulheres e para as famílias na Baía de Guanabara. Por isso, viemos mostrar nosso apoio à luta para proteger a Amazônia e todo o Brasil dos impactos dessa indústria”, afirma Daize Menezes de Souza, diretora da Ahomar e coordenadora da Articulação Nacional das Pescadoras. 

O diretor da 350.org na América Latina, Ilan Zugman, lembrou que as pessoas mais afetadas pela crise climática, provocada pela queima de combustíveis fósseis, são aquelas que menos contribuíram para o aquecimento do planeta.

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“As empresas participantes deste leilão e a própria ANP estão agravando a injustiça climática, ao colocar comunidades tradicionais em risco e concentrar dinheiro nas mãos de poucos, já que nem mesmo os ganhos econômicos chegam aos moradores da região. Para as companhias que fazem ofertas nesses leilões, fica o lucro da exploração, mas para os moradores da Amazônia fica só o medo de vazamentos, destruição ambiental e invasões”, afirma.

A manifestação desta sexta-feira foi a primeira iniciativa da campanha Resistência Amazônica, coordenada pela 350.org e lideranças indígenas, para amplificar as vozes e potencializar as ações de comunidades tradicionais em defesa de suas terras e do clima global, frente às investidas dos setores de petróleo e gás na Amazônia.