A condição de colônia portuguesa por mais de 300 anos deu ao Brasil um legado de exploração que tem na mineração uma das facetas mais persistentes (a outra notável é a forte concentração da propriedade da terra) de sua formação econômico enquanto Estado independente. Um aspecto que cerca a mineração é que, apesar de todos os danos socioambientais que a acompanham, ela é normalmente vendida como dádiva econômica, já que nosso país possui grandes reservas de vários minérios estratégicos para o desenvolvimento mundial.
Em função disso, os eventuais questionamentos que são feitos sobre a propensão das atividades mineradoras de causarem menos benefícios do que seus empreendedores anunciam são normalmente rejeitadas como coisa de “ambientalista” ou de anti-desenvolvimentistas. E para que essa visão se perpetua, as mineradoras realizam um forte lobby na mídia e no congresso nacional para que sejamos convencidos de que mineração é uma benção.
Felizmente, há um crescente corpo de literatura que mostra a outra face da mineração a partir de estudos realizados sobre os efeitos da mineração e de seus grandes projetos. Assim, graças a um dos estudantes que compõe o meu grupo de pesquisa à obra da autoria de Tádzio Peters Coelho, que aparece abaixo, e que aborda os efeitos da implantação do projeto “Grande Carajás” no estado do Pará.
Selecionei duas tabelas de um dos capítulos em que o livro foi dividido, as quais considero bastante didáticas para que possamos entender o balanço que deve ser feito de um dos maiores projetos de mineração ainda em realização no Brasil.
O que essas tabelas mostram de forma é que não apenas existem uma série de impactos intrínsecos ao processo de mineração, mas como também os efeitos negativos são bastante numerosos e complexo que acompanham esta atividade. E, pior, se considerarmos o que há de positivo poderemos notar que se reduzem a benefícios fiscais que não levam em conta a necessidade de se reparar e compensar os danos causados pela mineração.
Aliás, quem já visitou áreas sob efeito da mineração verá logo que o caos socioambiental que a atividade gera implica também numa forte implicação no aumento da concentração da riqueza. Só isso me basta para apontar que a mineração está muito mais para praga do que para a benção que as mineradoras e seus áulicos tentam nos empurrar.



