Falando via video conferência a uma conferência sobre o futuro do jornalismo, a “New Era of Journalism: Farewell to Mainstream” (já que está efetivamente preso no interior da Embaixada do Equador em Londres), o líder do Wikileaks, Julian Assange, pôs o seu dedo em algo que a maioria dos internautas continua preferindo ignorar em nome do acesso aos bons serviços prometidos pela Google Inc., qual seja, a relação que a corporação possui com o governo dos EUA, e com a candidata presidencial democrata, Hillary Clinton (Aqui!).
Como usuário das diversas ferramentas disponibilizadas pela Google Inc. não estou surpreso com as declarações de Assange, e acredito que ele não apenas está correto em sua análise, mas como também expõe um dos problemas básicos que precisamos ter em conta quando usamos a internet. Falo aqui do fato de que a facilidade de comunicação e acesso à informação que a internet permitiu veio acompanhada de um alto custo para as liberdades individuais. É que somente ingênuos não percebem a estrutura gigantesca de monitoramento social que se estabeleceu a partir da conexão global de computadores e outros artefatos digitais.
Ignorar a capacidade de monitoramento que se deu aos governos nacionais e às agências internacionais é uma ingenuidade que chega a ser perigosa. Mas o fato é que a maioria das pessoas que acessam não apenas as ferramentas da Google, mas de outras corporações que oferecem serviços supostamente gratuitos, também entrega uma porção significativa da sua privacidade, aumentando assim a possibilidade de invasão de sua intimidade.
Com isto não estou falando que devamos abandonar as formas modernas de comunicação e difusão de informação, já que a tendência nesse sentido parece mais do que inexorável. O que estou dizendo é que precisamos ser mais preparados para entender as intrincadas relações econômicas e políticas que estão estabelecidas em torno do controle e do uso das ferramentas digitais, especialmente aquelas relacionadas à manutenção do status quo. Em outras palavras, quem quiser brincar com o diabo terá que se saber que nada é de graça no inferno, a começar pela captura de preferências e orientações pessoais. É que numa época tão marcada pelo afã do consumo, essas preferências valem mais do que petróleo.