Deputado federal Ivan Valente (PSOL/SP) cobra apuração do escândalo do HSBC leaks

ESCÂNDALO HSBC – O Brasil precisa apurar!

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Desde meados de fevereiro tem circulado na imprensa mundial o vazamento de uma vasta documentação revelando que a filial do HSBC na Suíça foi cúmplice de uma série de crimes financeiros. As informações foram vazadas por Hervé Falciani, ex funcionário do próprio banco, que acusou o HSBC de criar um sistema de auto enriquecimento através da evasão de divisas e lavagem de dinheiro, tudo à custa da sociedade. Os dados estão de posse do Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo – ICIJ (International Consortium of Investigative Journalism). A operação foi batizada de “Swissleaks”.

Trata-se do maior vazamento de dados bancários da história, algo em torno de US$ 120 bilhões – o equivalente a 340 bilhões de reais na taxa atual de câmbio, correspondendo ao período de 2005 a 2007, envolvendo 106 mil clientes de 203 países, que tinham depositado nas contas secretas do HSBC suíço.

Mas a prática criminosa do HSBC parece não estar restrita a sua filial suíça. Segundo o jornal britânico “The Guardian”, o próprio presidente-executivo do HSBC, Stuart Gulliver, que veio recentemente a público prometer “reformar o banco”, escondeu milhões de libras em uma conta na Suíça por meio de uma empresa no Panamá. Ou seja, uma farra financeira que envolve, além dos clientes de má procedência, os próprios executivos do HSBC. Pratica esta que certamente tem contribuídos para engordar os lucros do bancos, que em 2014 foram em torno de 13 bilhões de libras.

O Brasil é o quarto país em número de clientes que constam nos documentos vazados pela ICIJ, com 8.667 potenciais sonegadores, que somam um montante de aproximadamente 8 bilhões de dólares – quase 20 bilhões de reais. Os nomes dos brasileiros ainda não foram amplamente divulgados. Apenas o jornalista do UOL, um dos brasileiros vinculados ao ICJI, recebeu a lista, que teria sido encaminhada à Receita Federal para averiguação.

Fernando Rodrigues divulgou apenas 11 pessoas da lista de brasileiros até agora, segundo ele ligadas ou citadas de alguma forma no escândalo da Operação Lava. Entre os nomes divulgados por Rodrigues estão o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, delator na Operação Lava Jato e que já havia revelado ter mantido valores no HSBC, oito integrantes da família Queiroz Galvão, o empresário Júlio Faerman (ex-representante da holandesa SBM) e o doleiro Henrique Raul Srour.

Outros nomes como o de Robson Tuma fariam parte da lista – segundo o jornalista Luis Nassif o endereço do ex-deputado ((Avenida Cauaxi 189, ap 203, Alphaville, Barueri) aparece na lista do HSBC. Ou do banqueiro Edmond Safra, do Banco Safra, e a família Steinbruch, dono da Vicunha e da CSN, segundo o jornalista Miguel do Rosário. “O Banco Safra foi o banco usado pela Globo para comprar os dólares que enviaria às Ilhas Virgens Britânicas, quando se envolveu naquela “engenhosa operação” para adquirir os direitos de transmissão da Copa de 2002 sem pagar os devidos impostos”, afirma o jornalista.

Mas apesar da grande dimensão do escândalo, e do fato do Brasil ocupar o quarto lugar na lista de potenciais sonegadores, há hoje em nosso país um silêncio sepulcral da grande mídia sobre o assunto, assim como dos líderes da oposição de direita e do próprio governo. Talvez porque muitos dos seus façam parte da lista, além do fato óbvio de que não há por parte destes segmentos muita disposição em enfrentar os ricos e poderosos, suspeitos de estarem envolvidos até o pescoço no maior escândalo financeiro que se tem conhecimento.

Até agora, só o que temos de concreto são declarações de intenções dos órgãos do governo brasileiro de que os documentos serão analisados, mas numa morosidade que beira a paralisia. A Receita Federal, por exemplo, divulgou uma nota de esclarecimento, afirmando que estava investigando o caso, apenas três meses após ter recebido a lista das mãos do jornalista Fernando Rodrigues, da UOL – único jornalista brasileiro membro da ICIJ que recebeu os dados do vazamento.

A sociedade brasileira precisa pressionar o governo e o parlamento para que a apuração deste escândalo se dê de forma imediata, com a divulgação pública dos nomes comprovadamente envolvidos nos crimes financeiros de sonegação e evasão fiscal. Da mesma forma, a mídia deve colocar em prática seu discurso em defesa do direito à informação, com a divulgação do fato e da lista de brasileiros com contas secretas na suíça. Uma informação que, aliás, já deveria ter sido solicitada oficialmente pelo governo Brasileiro, por envolver questões de interesse nacional.

É um absurdo que os partidos da base do governo e da oposição de direita, com o evidente apoio da grande mídia, falem em “ajustar as contas públicas” por meio de corte de gastos sociais e redução de direitos trabalhistas enquanto os mais ricos que sonegam impostos e guardam suas fortunas em paraísos fiscais permanecem impunes.

A economia de R$ 18 bilhões anunciado pelo Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, por meio da restrição de direitos como o seguro desemprego, seguro defeso, pensão pós-morte e auxílio doença, representa menos do que o montante de 20 bilhões de reais guardadas por brasileiros nas contas secretas do HSBC suíço. Isso num quadro em que o governo e seu ministro da fazendo não tem qualquer disposição para adotar medidas redistributivas fundamentais, como é o caso da Reforma Tributária de caráter progressivo e a taxação das grandes fortunas.

Em contra partida, nos últimos dois anos, o governo federal deixou de receber, a título de renúncia fiscal, R$ 200 bilhões de reais devido às isenções concedidas ao setor empresarial, que foram beneficiados pela redução de alíquotas, isenção de IPI e desonerações.

Exigimos a apuração imediata do escândalo do HSBC, com a adoção de todas as medidas legais cabíveis para garantir a punição dos sonegadores e o ressarcimento dos recursos aos cofres públicos.

Muito obrigado.

Ivan Valente
Deputado Federal PSOL-SP.

Brasília, 25 de fevereiro de 2015.
(Pronunciamento)

Fonte: https://www.facebook.com/IvanValentePSOL/photos/a.316625541715668.82338.194174003960823/941511255893757/?type=1&theater

Fernando Rodrigues finalmente nomes ligados ao escândalo do HSBC leaks. Todos ligados a empresas de ônibus no RJ

Depois de fazer mistério, o jornalista Fernando Rodrigues finalmente soltou uma primeira leva de nomes de correntistas nas antes contas secretas no HSBC da Suiça (Aqui!). Agora que a tranca está aberta, vamos esperar que Rodrigues nos informe sobre quem são os mais de 8.000 brasileiros que mandaram parte de suas fortunas para crescerem sem impostos nos alpes.

Mas para quem acha que Fernando Rodrigues começou com nomes ligados ao escândalo em curso na Petrobras, se enganou. A lista inicial de 31 nomes é totalmente ligada aos donos empresas de ônibus que atuam no Rio de Janeiro. O mais famoso deles é Jacob Barata, maior dono de empresas de transporte coletivo atuando na região metropolitana do Rio de Janeiro, que é carinhosamente conhecido como “rei do ônibus”. 

Ai é que se vê como esses “pobres” empresários precisam mesmo de generosos reajustes nas tarifas de ônibus todos os anos. É que para manter contas secretas na Suiça há que se ter muito, mas muito dinheiro!

Abaixo vai a lista compilada por Fernando Rodrigues!

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HSBC leaks: jornalista inglês explica porque pediu demissão do “Daily Telegraphy”

Por que eu me demiti do Telegraph

Por Peter Oborne

Resultado de imagem para PETER OSBORNE DAILY TELEGRAPH

A cobertura do HSBC no Telegraph britânico é fraudulenta com seus leitores. Se grandes jornais permitem que corporações influenciem seu conteúdo por medo de perder renda de propaganda, a própria democracia está em perigo

Eu tinha bastante consciência de estar me tornando parte de uma formidável tradição de comentários políticos. Eu passei minhas férias de verão, antes de assumir minhas tarefas como colunista, lendo os artigos do grande Peter Utley, editado por Charles Moore e Simon Heffer, dois outros mestres dessa arte.

Ninguém expressou tão bem como Utley a decência silenciosa e o pragmatismo do conservadorismo britânico. O Mail é rouco e populista, enquanto o Times se gaba de dançar conforme a música, como a voz da classe oficial. O Telegraph vinha de uma tradição diferente. É lido pela nação como um todo, não apenas pela City de Londres [centro financeiro e histórico da capital britânica] e Westminster [onde está o Parlamento] É confiante em seus próprios valores. Tem uma fama antiga sobre a precisão de suas notícias. Eu imagino seus leitores sendo trabalhadores. Pequenos empresários na luta, secretárias assediadas em embaixadas estrangeiras, professores de escola, militares, fazendeiros – pessoas decentes com participação no país.

Meu avô, tenente-coronel Tom Oborne, [condecorado com a] Ordem de Serviços Distintos [concedida a oficiais britânicos que tiveram méritos durante guerras], foi um leitor do Telegraph. Ele também era representante de sua paróquia e tinha um papel na Associação Conservadora de Petersfield. Ele tinha um aparador especial na mesa de café da manhã e lia o jornal cuidadosamente sobre seu ovo com bacon, dando atenção especial às manchetes. Eu sempre pensava no meu avô quando escrevia minhas colunas no Telegraph.

Agência Efe

Lista com nome de mais de 100 mil correntistas da filial suíça do banco HSBC foi divulgada por consórcio mundial de jornalistas

“Você não sabe do que está falando”

A circulação estava caindo quando eu entrei no jornal em setembro de 2010 e eu suspeito que isso deixou os donos em pânico. Ondas de demissões começaram e a administração deixou bem claro que acreditava que o futuro da imprensa britânica seria digital. Murdoch MacLennan, o presidente, me chamou para um almoço do Goring Hotel, perto do palácio de Buckingham, onde os executivos do Telegraph gostam de fazer negócios. Eu pedi que ele não diminuísse a importância do Telegraph, dizendo que ele ainda tinha uma circulação muito saudável de mais de meio milhão de cópias. Acrescentei que nossos leitores eram leais, que o jornal ainda era muito lucrativo e que os donos não tinham direito de destruí-lo.

As demissões continuaram. Pouco tempo depois eu encontrei o Sr. MacLennan por acaso no funeral de Margaret Thatcher e uma vez mais pedi que ele não subestimasse os leitores doTelegraph. Ele respondeu: “Você não sabe do que está falando”.

Os acontecimentos no Telegraph se tornaram cada vez mais desanimadores. Em janeiro de 2014, o editor, Tony Gallagher, foi demitido. Ele tinha sido um excelente editor, muito respeitado pelos funcionários. O Sr. Gallagher foi substituído por um americano chamado Jason Seiken, que assumiu uma posição chamada “Chefe de Conteúdo”. Nos 81 anos entre 1923 e 2004, oTelegraph tinha seis editores, todos eles figuras imponentes: Arthur Watson, Colin Coote, Maurice Green, Bill Deedes, Max Hastings and Charles Moore. Desde que os irmãos Barclay [Sir David Rowat Barclay e Sir Frederick Hugh Barclay, empresários bilionários conhecidos como os “Irmãos Barclay” (Barclay Brothers)] compraram o jornal, 11 anos atrás, houve cerca de mais seis, mas é difícil ter certeza já que com a chegada do Sr. Seiken o título de editor foi abolido, depois substituído por Chefe de Conteúdo (de segunda a sexta). Havia três editores (ou Chefes de Conteúdo) em 2014.

Nos últimos 12 meses, as coisas pioraram muito. A mesa internacional – magnífica sob a liderança de David Munk e David Wastell – foi dizimada. Como todos os repórteres sabem, nenhum jornal consegue operar sem subeditores hábeis. Metade deles foi demitida e o subeditor-chefe, Richard Oliver, foi embora.

Incongruências, impensáveis até muito recentemente, agora são comuns. Recentemente, os leitores foram introduzidos a alguém chamado Duque de Wessex. O príncipe Edward é o Conde de Wessex. Houve uma matéria de capa sobre a caça de veados. Era na verdade sobre perseguição de veados [“deer stalking” como é conhecida a atividade na Inglaterra], uma atividade completamente diferente. Obviamente, administração não se importa com distinções finas como essas. Mas os leitores sim, e o Telegraph costumava tomar bastante cuidado com essas coisas até muito recentemente.

A chegada do Sr. Seiken coincidiu com a chegada da cultura dos cliques. As histórias pareciam não ser mais julgadas por sua importância, exatidão ou interesse daqueles que compram o jornal. A medida mais importante parecia ser o número de visitas online. No dia 22 de setembro, o Telegraph online publicou uma história sobre uma mulher com três seios. Um executivo desesperado me disse que se sabia que essa história era falsa antes de ela ser publicada. Eu não tenho dúvidas de que foi publicada para gerar visitas online, no que deve ter sido bem-sucedida. Eu não estou dizendo que o tráfego na internet não é importante, mas no longo prazo, entretanto, tais episódios causam danos incalculáveis à reputação do jornal.

Aberto a negócios?

Com o colapso dos padrões veio uma consequência bastante terrível. Sempre foi axiomático na qualidade do jornalismo britânico que o departamento de publicidade e o editorial deveriam ser mantidos rigorosamente distantes. Há grande evidência de que, no Telegraph, essa distinção ruiu.

No final do ano passado, eu comecei a trabalhar em uma história sobre o gigante banco internacional HSBC. Muçulmanos conhecidos tinham recebido cartas do nada do HSBC informando que as suas contas tinham sido fechadas. Não se deu nenhuma razão, e ficou claro que não havia possibilidade de apelação. “É como cortarem sua água”, me disse uma vítima.

Quando enviei o texto para publicação no site do Telegraph, me disseram que não havia problema. Quando não foi publicado, eu fiz perguntas. Fui dispensado sem explicações, e depois me disseram que havia um problema legal. Quando eu perguntei no departamento legal, os advogados não estavam a par de nenhum problema. Quando eu insisti, um executivo me chamou de lado e me disse que “havia um probleminha” com o HSBC. Finalmente desisti, desesperado, e ofereci o artigo ao openDemocracy. Pode ser lido aqui.

Eu procurei a cobertura do jornal sobre o HSBC. Descobri que Harry Wilson, o correspondente admirável de bancos do Telegraph, tinha publicado uma história online sobre o HSBC baseada em um relatório feito por um analista de Hong Kong que dizia haver um “buraco negro” nas contas do HSBC. A história foi rapidamente removida do site do Telegraph, mesmo apesar de não haver problemas legais. Quando eu perguntei ao HSBC se o banco tinha reclamado do artigo de Wilson, ou tinha tido um papel na decisão de a matéria sair do ar, o banco não quis comentar. Os tweets do Sr. Wilson sobre a história podem ser encontrados aqui. A história em si, entretanto, não está mais disponível no site, como qualquer um que tentar seguir o link vai descobrir. O Sr. Wilson bravamente levantou essa questão publicamente na reunião de cúpula, quando Jason Seiken se apresentou aos funcionários. Ele saiu do jornal depois disso.

Então, no dia 4 de novembro de 2014, alguns jornais relataram um duro golpe nos lucros do HSBC, já que o banco teve de separar 1 bilhão de euros para compensar clientes e [sofreu]uma investigação sobre o aparelhamento do mercado de divisas. Essa história foi a capa de cidades do Times, Guardian e do Mail e foi a mais importante da página do Independent. Eu inspecionei a cobertura do Telegraph. Gerou, no total, cinco parágrafos na página 5 da seção de negócios.

A reportagem sobre o HSBC é parte de um problema maior. No dia 10 de maio do ano passado, o Telegraph publicou uma grande reportagem sobre o navio Queen Mary da [empresa] Cunard na página de notícias. Esse episódio pareceu para muitos como uma peça promocional para um anunciante em uma página normalmente dedicada a análises sérias de notícias. Eu novamente chequei e certamente os competidores do Telegraph não viram o navião da Cunard como uma grande notícia. A Cunard é um anunciante importante do Telegraph.

O comentário do jornal sobre os protestos do ano passado em Hong Kong foram bizarros. Esperaria-se que o Telegraph, dentre todos os jornais, tivesse um grande interesse e adotasse um posição forte. Mas (em forte contraste com o Times) não conseguiu encontrar nenhum destaque para o assunto.

No começo de dezembro, o Financial Times, Times e o Guardian escreveram manchetes poderosas sobre a recusa do governo chinês em permitir que um comitê de parlamentares britânicos entrasse em Hong Kong. O Telegraph se manteve calado. Poucos assuntos enfureceriam ou preocupariam os leitores do Telegraph mais que esse.

No dia 15 de setembro, o Telegraph publicou um comentário do embaixador chinês, logo antes  do suplemento lucrativo China Watch. A manchete do embaixador era, sem brincadeira, “Não vamos deixar que Hong Kong nos separe”. No dia 17 de setembro, havia 4 páginas de moda destacáveis no meio das notícias, que ganharam mais cobertura que o referendo escocês. A história de contabilidade falsa da [multinacional varejista britância] Tesco, no dia 23 de setembro, foi notícia somente na seção de negócios. Em comparação, foi a manchete, destaque das páginas de dentro e um editorial no Mail. Não que o Telegraph tenha feito pouca cobertura da Tesco. [Matérias como a] Tesco doando “10 milhões de libras pra luta contra o câncer”, “O jato de 35 milhões de libras da Tesco visto de dentro” e “Conheça o gato que morou na Tesco por 4 anos” foram todas consideradas de interesse jornalístico.

Há outros casos muito desconcertantes, muitos deles publicados [na revista crítica e satírica] Private Eye [que tem entre seus temas frequentes o jornalismo britânico], que tem sido uma grande fonte de informação para os jornalistas do Telegraph querendo entender o que está acontecendo em seu próprio jornal. Não houve como evitar a impressão de algo estava mal com o julgamento das notícias do Telegraph. Nesse ponto, eu escrevi uma longa carta pra Murdock MacLennan falando sobre as minhas preocupações em relação ao jornal e entregando minha demissão. Eu copiei essa carta para o presidente do Telegraph, Aidan Barclay.

Eu recebi uma resposta superficial do Sr. Barclay. Ele escreveu que esperava que eu pudesse resolver minhas diferenças com Murdoch MacLennan. Fui devidamente ver o CEO na metade de dezembro. Ele foi civil, me serviu chá e pediu que eu tirasse meu casaco.  Ele disse que eu era um escritor valorizado e disse que queria que eu ficasse.

Eu expressei todas as minhas preocupações sobre a direção do jornal. Disse que não estava saindo para entrar em outro jornal. Estava pedindo demissão por uma questão de consciência. O Sr. MacLennan concordou que a publicidade tinha permissão de afetar o editorial, mas sem remorso, dizendo que “não é tão mal assim” e acrescentando que havia um grande histórico desse tipo de coisa no Telegraph.

Desde então eu consultei Charles Moore, o último editor do Telegraph antes de os Barclays comprarem o jornal em 2004. O Sr. Moore confessou que as contas da Hollinger Inc., a holding que então comandava o Telegraph, não recebia o escrutínio que merecia. Mas nenhum jornal na história jamais deu um destaque desfavorável às contas de seus proprietários. Além disso, o Sr. Moore me disse que não houve influência da publicidade na cobertura de notícias do jornal.

Wikimedia Commons

[Capa do Daily Telegraph no dia 12 de maio de 2010, quando Cameron foi escolhido como primeiro-ministro]

Depois da minha reunião com o Sr. MacLennan, eu recebi uma carta do Telegraph dizendo que o jornal tinha aceitado minha demissão, mas aceitava minha oferta de trabalhar meus seis meses de aviso prévio. Entretanto, na metade de janeiro, me pediram para encontrar um executivo do Telegraph, dessa vez tomando chá no Goring Hotel. Ele me disse que a minha coluna semanal tinha sido descontinuada e que tinha acontecido uma “divisão de caminhos”.

Ele salientou, no entanto, que o Telegraph continuaria a honrar meu contrato até que ele terminasse, em maio. De minha parte eu disse que sairia quieto. Eu não tinha intenção de prejudicar o jornal. Com todos os seus problemas, ele continua a empregar um grande número de bons jornalistas. Eles têm hipotecas e famílias. Eles estão fazendo seu trabalho bem em todo tipo de circunstância. Eu me preparei mentalmente para a atraente perspectiva de vários meses de licença remunerada.

História, que história?

Assim ficamos quando, na segunda-feira passada, [o programa de TV] Panorama da BBC veiculou a história do HSBC e seu braço suíço, falando de um esquema de evasão de impostos em larga escala, enquanto o Guardian e o Consócio Internacional de Jornalistas Investigativos publicaram seus “arquivos do HSBC”. Todos os jornais perceberam rapidamente que esse era um acontecimento grande. O FT deu capa do assunto dois dias seguidos, enquanto o  Times e o Mail deram uma cobertura sólida para o caso de várias páginas.

Você precisaria de um microscópio para encontrar a cobertura do Telegraph: nada na segunda, seis pequenos parágrafos na parte baixa da página dois na terça, sete parágrafos lá no meio de seção de negócios na quarta. A reportagem do Telegraph só melhorou quando a história se transformou em alegações de que poderia haver questões relacionadas aos impostos de pessoas ligadas ao Partido Trabalhista.

Depois de muita agonia eu cheguei à conclusão que tenho o dever de tornar tudo isso público. Há duas razões poderosas. A primeira tem a ver com o futuro do Telegraph sob [o mando] dos Barclay Brothers.  Pode soar como uma coisa pomposa a se dizer, mas eu acredito que o jornal é uma parte significativa da arquitetura cívica britânica. É a voz pública mais importante do conservadorismo civilizado e incrédulo.

Os leitores do Telegraph são pessoas inteligentes, sensatas e bem-informadas. Eles compram o jornal porque eles sentem que podem confiar nele. Se prioridades do marketing são permitidas para determinar julgamentos editoriais, como os leitores podem continuar a sentir essa confiança? A recente cobertura do Telegraph chega a ser uma forma de fraude com seus leitores. Está colocando o que são os interesses de um grande banco internacional acima de seu dever de levar as notícias aos leitores do Telegraph. Só existe uma palavra para descrever essa situação: terrível. Imagine se a BBC – costumeiramente objeto de ataques do Telegraph – tivesse sido conduzida dessa forma. O Telegraph seria desprezível. Teria insistido que cabeças deveriam rolar, e com razão.

Isso me leva a um segundo e ainda mais importante ponto que carrega em si não apenas o futuro de um jornal, mas a vida pública como um todo. Uma imprensa livre é essencial para uma democracia saudável. Há um propósito no jornalismo, é não é só entreter.  Não deve ceder ao poder político, grandes corporações e homens ricos. Os jornais têm o que no final das contas é um dever constitucional de dizer a seus leitores a verdade.

Não é apenas o Telegraph que tem culpa aqui. Os últimos anos viram a ascensão de executivos sombrios que determinam quais verdades podem e quais verdades não podem ser repassadas por meio na mídia de massa. A criminalidade dos jornais de notícias internacionais durante os anos de grampos telefônicos [caso famoso que em que tabloides britânicos foram acusados de realizar escutas telefônicas ilegais] foi um exemplo particularmente grotesco desse fenômeno maligno por completo. Todos os grupos de jornais, com a magnífica exceção do Guardian, manteve a cultura de omertà sobre os grampos telefônicos, mesmo se (como o Telegraph) eles não tinham se envolvido no caso. Uma das consequências desse pacto de silêncio foi o indiciamento de Andy Coulson, que desde então está preso e agora enfrenta novas acusações de perjúrio, como diretor de comunicações na 10 Downing Street [endereço da sede do governo britânico].

Questões urgentes a serem respondidas

Semana passada, fiz outra descoberta. Três anos atrás, o time de investigações do Telegraph – o mesmo que fez a investigação incrível dos parlamentares – recebeu uma denúncia sobre contas do HSBC em Jersey. Essencialmente, essa investigação era semelhante à do Panorama sobre o braço suíço do HSBC. Depois de uma pesquisa de três meses, o Telegraph resolveu publicar. Seis artigos sobre esse tema podem ser encontrados online, [publicados] entre 8 e 15 de novembro de 2012, apesar de três não estarem disponíveis para serem vistos.

Depois disso, nenhuma nova reportagem surgiu. Os repórteres receberam ordens de destruir e-Mails, relatórios e documentos relacionados à investigação do HSBC. Eu agora soube que, em uma prática muito distante da normal, nesse ponto os advogados dos Barclay Brothers se envolveram de perto. Quando eu perguntei ao Telegraph por que os Barclay estavam envolvidos, [o jornal] se negou a responder.

Aquele foi o momento crucial. Desde o começo de 2013 em diante, históricas críticas ao HSBC seriam desencorajadas. O HSBC suspendeu seus anúncios no Telegraph. Sua conta, eu soube por uma pessoa de dentro extremamente bem-informada, era extremamente valiosa. O HSBC, como um ex-executivo do Telegraph me disse, é “o anunciante que você literalmente não pode bancar ofender”. O HSBC hoje se recusou a comentar quando eu perguntei se a decisão de parar de anunciar no Telegraph estava ligada de qualquer maneira à investigação do jornal sobre as contas de Jersey.

Ganhar de volta a conta de anúncios do HSBC se tornou uma prioridade urgente. Foi finalmente o que aconteceu, depois de aproximadamente 12 meses. Os executivos dizem que Murdoch McLennan estava determinado a não permitir nenhuma crítica contra o banco internacional. “Ele expressava preocupação sobre manchetes ou mesmo histórias menores”, diz um antigo jornalista do Telegraph; tudo o que mencionasse lavagem de dinheiro estava banido, mesmo quando o banco estava recebendo um aviso final das autoridades dos EUA. Essa interferência estava acontecendo em uma escala industrial.

“Uma operação editorial que é claramente influenciada por anúncios é um apaziguamento clássico. Quando uma empresa muito poderosa sabe que pode exercer influência, sabe que pode voltar e ameaçar você. Muda totalmente o relacionamento. Você sabe que mesmo se for forte, não será apoiado e será prejudicado”.

Quando enviei questões detalhadas para o Telegraph essa tarde sobre suas conexões com os anunciantes, o jornal deu a seguinte resposta: “Suas questões estão cheias de imprecisões e nós, portanto, não pretendemos respondê-las. Falando genericamente, como qualquer outro negócio, nós nunca comentados nossas relações comerciais individualmente, mas nossa política é absolutamente clara. Nosso objetivo é dar uma gama de soluções de anúncio aos nossos parceiros anunciantes, mas a distinção entre anúncio e nossa operação editorial premiada foi sempre fundamental para nosso negócio. Refutamos totalmente qualquer alegação contrária.”

As evidências sugerem o oposto, e as consequências da recente cobertura branda sobre o HSBC feita pelo Telegraph podem ter sido profundas. Se o setor de Impostos e Alfândega da sua Majestade tivesse sido mais enérgico em suas próprias investigações recentes sobre a sonegação de impostos, teria o Telegraph continuado a ter o HSBC em sua conta depois da investigação de 2012? Há grandes questões aqui. Elas vão até o coração da democracia e não podem mais ser ignoradas.

FONTE: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/opiniao/39566/por+que+eu+me+demiti+do+telegraph.shtml

O escândalo HSBC coloca em xeque a liberdade de expressão

Por Carlos Castilho, Do Observatório da Imprensa

No Brasil, o megaescândalo de lavagem de dinheiro na sucursal suíça do banco inglês HSBC passou em brancas nuvens apesar haver suspeitas sobre oito mil correntistas brasileiros. Mas na Europa o tema está provocando conflitos entre profissionais nas redações e a direção de jornais importantes como Le Monde, na França, e Daily Telegraph, na Inglaterra.

No Monde, que foi um dos jornais líderes na investigação do escândalo, os donos criticaram duramente repórteres e editores sob a alegação de que o noticiário prejudicou interesses financeiros da empresa editora do matutino de tendência liberal. Pierre Bergé, um dos dois principais controladores da empresa editora do Le Mondeacusou a redação do jornal de “populismo barato” e incentivo aos “instintos mais baixos” das pessoas.

Bergé é um dos três milionários franceses que em 2010 compraram o Le Monde para evitar que o jornal fechasse. Os demais sócios – Mathieu Pigasse, presidente do banco de investimentos Lazzard e Xavier Nigel, magnata das telecomunicações – apoiaram as declarações do fundador do grupo Yves Saint Laurent. Pigasse chegou a classificar a cobertura do escândalo HSBC como um “macartismo fiscal”.

Mas os três milionários foram ainda mais longe na verbalização de suas queixas contra o jornalismo praticado pela redação do Le Monde ao afirmar candidamente que “não foi para isso que decidiram assumir o controle do jornal”. Pouco depois que Bergé, Pigasse e Nigel compraram o Le Monde, eles assinaram um acordo pelo qual garantiam total independência editorial para os jornalistas, mas agora estão arrependidos do trato feito.

No britânico Daily Telegraph, o seu principal comentarista político, Peter Oborne, renunciou ao cargo e pediu demissão do jornal acusando os seus proprietários de “fraudar os leitores” ao deliberadamente omitir informações relacionadas às denúncias de que o HSBC ajudou cerca de 100 mil clientes a lavar 180 bilhões de euros (pouco mais de meio trilhão de reais) em sua agência de Genebra, na Suíça.

Oborne vinha criticando a direção do jornal desde 2013, quando o HSBC suspendeu a publicidade no Telegraph depois de ser apontado pelo jornal como cúmplice de nebulosas transações financeiras no paraíso fiscal da ilha Jersey, controlada pelo Reino Unido, no canal da Mancha. O jornalista informou que, na época , um dos executivos do Telegraph lhe disse que o banco “era um cliente importante demais para ser ignorado”.

No Brasil, os jornais GloboFolha Estadão deram uma cobertura microscópica ao escândalo HSBC, como já comentou neste Observatório o colega Luciano Martins Costa. A situação mais embaraçosa é a da Folha de S.Paulo, que participou da investigação sobre o HSBC coordenada pelo Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo, mas preferiu a omissão quando o problema esbarrou nos interesses comerciais da imprensa.

O caso HSBC tornou-se exemplar não apenas pelo fato de resultar de um esforço coletivo de um grupo de jornais, numa rara atitude de colaboração mútua, mas principalmente porque colocou na ordem do dia a independência das redações diante dos interesses comerciais dos donos de empresas jornalísticas. Patrões e empregados foram colocados em campos opostos num tema crítico como a lavagem de dinheiro e as suas óbvias ligações com a corrupção.

A retórica da independência editorial e da liberdade de expressão nas redações ficaram seriamente arranhadas com a reação pública ou dissimulada de muitos donos de jornais que não tiveram dúvidas em colocar o dinheiro acima da informação na hora de enfrentar as consequências de divulgação de um escândalo envolvendo corrupção em escala planetária.

Os mesmos jornais que mergulharam fundo na investigação das denúncias de caixa 2 na Petrobras, agora “olham para o outro lado” quando se trata de um banco que gasta por ano meio bilhão de dólares em publicidade em todo o mundo.

A reação dos donos colocou os profissionais nas redações numa situação difícil, conforme Roy Greenslade, principal analista da mídia no jornal inglês The Guardian. Para ele, o caso HSBC colocou dramaticamente em evidência o aforismo de que a liberdade de expressão na imprensa só funciona para os seus donos. Com exceção do Guardian, que é controlado por uma fundação, nos demais grandes jornais do mundo o caso HSBC está sendo tratado com panos quentes. Peter Oborne é, por enquanto, o único profissional de renome mundial a hipotecar o seu emprego na defesa da liberdade de expressão nas redações. 

FONTE: http://www.jornalggn.com.br/noticia/o-escandalo-hsbc-coloca-em-xeque-a-liberdade-de-expressao

Abertura de contas brasileiras no HSBC suíço teve pico durante privatizações de FHC

Maior escândalo de sonegação da história mundial teve pico durante as privatizações no governo Fernando Henrique

swiss leaks

Por Redação, com informações do Blog da Cidadania

O escândalo Swiss Leaks vinha sendo repercutido muito mais na Blogosfera. Demorou a chegar aos jornalões e continua sendo ignorado pela Globo. Essa abulia da grande mídia em relação a um escândalo que, em recursos de brasileiros, chega a 7 bilhões de dólares, começou a se tornar inteligível após a divulgação de que um dos depositantes suspeitos é ligado ao PSDB.

O dito cujo, conforme vem sendo repercutido pela Blogosfera, é Saul Sabbá. Ele tem relação com os tucanos porque assessorou o Programa Nacional de Desestatização do governo FHC, sobretudo nas privatizações de empresas de energia.

O desinteresse da mídia nacional sobre o assunto vinha sendo tão grande que o deputado federal pelo PT gaúcho Paulo Pimenta recorreu ao Ministério da Justiça pedindo investigação das autoridades sobre os brasileiros que figurem nessa lista.

Esse desinteresse da mídia tradicional tornou-se suspeito já que as informações sobre o escândalo levantado pelo jornal francês Le Monde foram repassadas ao The International Consortium of Investigative Journalists (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), que, por sua vez, escolheu o portal UOL para repassar as informações.

Contudo, o UOL parece pouco interessado em divulgar nomes. Até o momento, tem se limitado a caçar nomes que de alguma forma possam estar ligados ao escândalo da Petrobrás.

Contudo, informações do ICIJ sugerem que os brasileiros envolvidos na maracutaia suíça podem ter relações muito maiores com um escândalo bem mais antigo, as privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso.

Segundo o que já foi divulgado pela entidade supracitada, grande parte das contas de brasileiros no HSBC suíço foi aberta entre 1988 e 1991. De 1991 a 1997, essa abertura de contas perde fôlego. Mas, a partir de 1997, há um novo pico. Essa forte abertura de contas dura até 2001.

Como se sabe, foi a partir de 1997 que as privatizações do governo FHC ganharam impulso. E foi por volta de 2000/2001 que o processo perdeu fôlego.

O jornalista investigativo Amaury Jr. acaba de anunciar que se desligou do ICIJ porque a instituição estaria fazendo vazamentos seletivos dos depositantes. Amaury é autor do best-seller A Privataria Tucana. Com mais de 200 mil exemplares vendidos, o livro quase gerou uma CPI, que o ex-presidente petista da Câmara Marco Maia não quis instalar.

Agora, o Swiss Leaks pode terminar investigação que o cordato PT não quis fazer, já que as autoridades brasileiras vão ter que esclarecer por que houve um fluxo tão grande de abertura de contas de brasileiros no HSBC suíço justamente no momento em que o governo FHC vendia nossas estatais a estrangeiros a preço de banana.

Confira o artigo original no Portal Metrópole: http://www.portalmetropole.com/2015/02/abertura-de-contas-brasileiras-no-hsbc.html#ixzz3SHMUV1ed

FONTE: http://www.portalmetropole.com/2015/02/abertura-de-contas-brasileiras-no-hsbc.html

Amaury Ribeiro Jr. deixa o Comitê de Jornalistas Investigativos com a suspeita de que ele investiga só um lado

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Da Redação

A troca de correspondência entre o jornalista Amaury Ribeiro Jr. e a vice-diretora do ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), Marina Walker Guevara, nos foi enviada pelo repórter. O ICIJ recebeu do diário francês Le Monde os Swiss Leaks  –vazamento de dados referentes às contas secretas do banco HSBC na Suiça.

Os vazamentos estão sendo investigados por autoridades de vários países, uma vez que podem indicar que o banco era usado para sonegação de impostos ou simplesmente esconder dinheiro sujo.

No Brasil, o ICIJ repassou a tarefa de investigar e divulgar as contas ao UOL, do Grupo Folha, representado pelo jornalista Fernando Rodrigues, integrante do ICIJ, do qual Amaury também fazia parte. O UOL e a mídia corporativa brasileira, por enquanto, só entraram no caso para denunciar contas no HSBC associadas ao escândalo da Petrobras:

Querida Ms Walker:

O seu nome me foi indicado pelo amigo Rosenthal Calmon. Meu nome é Amaury Ribeiro Jr, sou jornalista, escritor e membro do ICIJ desde a fundação da organização em 1997, na Universidade de Harvard. Estava lá na companhia de Calmon e outros amigos. Tenho me dedicado durante os 30 anos de traballho à publicação de livros, que ajudaram a elucidar vários casos de lavagem de dinheiro. Entre os meus livros públicados estão A Privataria Tucana (mais de duzentos mil cópias vendidas no Brasil) e O Lado Sujo do Futebol (compartilhado com amigos da TV Record e traduzido para o espanhol).

Desde que o ICIJ decidiu publicar as contas de políticos na Suiça, o meu telefona não pára de tocar. Ao me pedirem ajuda, os jornalistas de toda parte do Brasil dizem que o site UOL (escolhido pelo ICIJ para divulgar o caso), ao contrário do que vem ocorrendo em outros países, só tem divulgado o nome de políticos de esquerda, livrando os chamados políticos neoliberais apoiados pela grande mídia. Me comprometi, como membro do ICIJ, a tentar obter a lista.

Caso consiga com o ICIJ, me comprometi a divulgar somente as chamadas contas sujas e não declaradas ao Fisco, na íntegra, aos demais colegas da imprensa. O Brasil vive uma crise política sem precedentes, que poderá acabar para sempre com todo o esquema de corrupção que perdura há mais 50 anos. Mas, para que isso ocorra, a imprensa não deve colaborar com a manipulação de dados. Mando-lhe também, para a sede do ICIJ, os exemplares dos meus livros.

Grato,

Amaury Ribeiro Jr

*****

Amaury,

Bom ouvir de você. Tenho trabalhado para o ICIJ por quase 10 anos e penso que esta é a primeira vez que você entra em contato conosco em busca de uma reportagem.

Como você sabe, estamos trabalhando com o Fernando Rodrigues, que ainda está fazendo as reportagens. Ele vai publicar outras delas brevemente. Não sei no que você baseou sua afirmação de que Fernando está escondendo o nome de políticos neoliberais. Você viu os dados para fazer tal acusação tão séria contra seu colega e co-integrante do ICIJ?

Não estamos planejando abrir os dados para outras organizações de mídia do Brasil por agora. Se isso mudar, você será informado.

Obrigado,

Marina

*****

Marina,

Quem sabe talvez você, uma jornalista argentina, se interesse em conhecer o mínimo do que está acontecendo em seu país vizinho.

Não estou acusando o Fernando Rodrigues, colega há mais de 30 anos, e sim a empresa em que ele trabalha (UOL). Assim como todos os grandes grandes veículos de comunicação do Brasil, o UOL segue a cartilha neoliberal dos patrões.

A denúncia de que o UOL está escondendo as contas de políticos me foi feita por centenas de jornalistas. Eles viram meu nome na lista do ICIJ e passaram a me cobrar. Por isso eu te escrevi após conversar com o Rosenthal, que me indicou para o ICIJ.

A informação também me foi confirmada por fontes da Polícia Federal, que garantem que no HSBC está grande parte do dinheiro que foi desviado na época das privatizações. Te encaminhei a carta apenas para dar satisfação aos meus colegas do país.

Queria deixar bem claro que não estou escondendo nada de ninguém. Mas há uma maneira fácil de resolvermos o problema. Tire o meu nome da lista dos membros do ICIJ. A partir de hoje não faço mais parte da organização de jornalistas. Fico devendo a prova das contas dos ladrões neoliberais que vocês estão ajudando a esconder.

Nas contas offshores desses paraísos fiscais está amopitado o dinheiro que eles desviaram durante o processo de privatizações. Nós, jornalistas progressistas brasileiros, acostumados a tantos golpes da mídia patronal, não podiamos esperar nada de uma organização mantida pelo megassonegador George Soros.

Amaury Ribeiro Jr.

*****

​Amaury,

Obrigado por compartilhar suas impressões. Não concordo com elas, mas respeito. Tal como você pediu, retiraremos sua biografia do site do ICIJ e aceitamos sua renúncia como membro.

Muito obrigado,

Marina Walker Guevara

ICIJ Deputy Director

mwalker@icij.org

PS do Viomundo: O fato de que existe um monopólio da informação sobre as mais de 8 mil contas de brasileiros significa que nunca saberemos se o UOL está divulgando os dados de forma manipulada ou não, pelo simples fato de que ninguém mais poderá se debruçar sobre as mesmas contas. Parece óbvio, não? Embora não comprovadas, as suspeitas de Amaury Ribeiro Jr. são absolutamente pertinentes. Aparentemente, elas permanecerão para sempre, já que o ICIJ não pretende jamais divulgar a lista completa das contas de brasileiros. Eterno mistério, pois: haverá ou não manipulação de dados? Pela cobertura que a mídia brasileira deu ao caso, até agora, sobram motivos para suspeitas: toda a ênfase é dada às contas no HSBC associadas ao escândalo da Petrobras, o “escândalo que interessa” ao baronato midiático.

FONTE: http://www.viomundo.com.br/denuncias/amaury-ribeiro-jr-deixa-o-comite-de-jornalistas-investigativos-com-suspeita-de-que-ele-investiga-um-lado.html

Suiça: surgem os primeiros nomes ligados ao PSDB com contas “recheadas” de dólares

SuicaPrivataria

Os internautas acharam um nome genial para popularizar o escândalo de lavagem de dinheiro e sonegação fiscal das contas de 8 mil brasileiros achadas no HSBC da Suíça.

Suiçalão!

Quem sabe se, com esse nome atraente ao público, o UOL não divulga os nomes que estão sendo mantidos em segredo, à diferença do que vem acontecendo no resto do mundo, onde as listas dos beneficiários estão vazando?

Os brasileiros tinham aproximadamente R$ 20 bilhões em contas no HSBC da Suíça.

Enquanto a mídia não se interessa, a blogosfera está indo atrás.

Alguns nomes, de brasileiros com contas no HSBC da Ásia, já vazaram, conforme se pode ver neste link.

A divulgação dos nomes ajudaria o Brasil a fazer uma campanha contra a sonegação, o maior problema do Brasil, bem maior, em escala, do que a corrupção, apesar da nossa mídia nunca abordar o tema.

Fernando Rodrigues, do UOL, disse que só iria divulgar os nomes que apresentassem “interesse público”.

Pois bem, o blog Megacidadania encontrou um nome de correntista do Suiçalão que apresenta “interesse público”.

Saul Sabbá.

Hoje dono do banco Máxima, Saul Sabbá está no banco de dados do site Off Shore Leaks, de responsabilidade do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ).

A sua conta secreta está ligada à offshore Maximizer International Bank S.A.

Máxima, Maximizer, sacou?

O banco de dados do Off Shore Leaks mostra o Maximizer, por sua vez, ligado a vários outros nomes.

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Entre os nomes, o escritório Zalcberg Advogados Associados, cujo sócio Chaim Zalcberg, que também aparece no mapa do Offshore Leaks, já foi preso pela Polícia Federal, em 2012, na Operação Babilônia, suspeito de evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

Zalcberg seria o cabeça da quadrilha, segundo a PF.

Aliás, é interessante lembrar que a PF já prendeu gente por lavagem de dinheiro e evasão de divisas… Pena que a mídia não dá ibope para esses casos, talvez porque ela mesmo seja uma grande sonegadora.

Sabbá é um daqueles tucanos que engordaram na privataria tucana: foi assessor de FHC no devastador processo de desestatização conduzido em seu governo. Ajudou FHC a vender a Vale, a CSN, e por aí vai…

Agora só falta o UOL ter a generosidade de revelar quantos milhões de dólares Sabbá e seus colegas do Maximizer, todos “brasileiros honestos”, guardavam em suas contas secretas do HSBC.

Aliás, por falar em privataria, um internauta hoje nos brindou com uma deliciosa recordação: um artigo de Eliane Cantanhêde sobre a Petrobrás, de 1999.

Era o tempo em que os jornais falavam sobre a privatização das principais estatais com incrível naturalidade.

Cantanhede faz uma revelação bombástica no artigo: “Para ficar ainda mais claro: o que resta de equipe econômica está de olho gordo sobre a Petrobrás (“joia da coroa”), o Banco do Brasil e até a Caixa Econômica Federal.

Esses são os “brasileiros honestos” que pretendem privatizar a Petrobrás, para livrá-la do demônio petralha…

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(via Miguel do Rosário)

FONTE: http://br29.com.br/suica-surgem-os-primeiros-nomes-ligados-ao-psdb-com-contas-recheadas-de-dolares/

Além dos Steinbruch, quem são os brasileiros envolvidos no escândalo do HSBC leaks?

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O escândalo envolvendo o uso do HSBC da Suiça para lavagem de dinheiro e evasão fiscal continua brotando informações interessantes, as quais podem ser vistas em detalhes no site do “International Council of Investigative Journalistas” ((Aqui!).

Em relação ao Brasil que ocupa o inglório posto de quarto colocado em termos de números de contas abertas, pouco se sabe ainda sobre quem seria os 8.667 correntistas dessas mal explicadas contas.  Agora é preciso que se diga que no site do ICIJ há uma menção “honrosa” para a família Steinbruch (Aqui!). Aliás, essa inclusão da família Steinbruch na lista dos “agraciados” já teve como repercussão uma manifestação do Sr. Benjamin Steinbruch no site UOL negando qualquer ilegalidade, e aproveitando para atacar a credibilidade da investigação realizada pelo ICIJ.

Há que se lembrar que o Sr. Benjamin Steinbruch foi um dos grandes beneficiados pelo programa federal de estatização de estatais realizado pelo (des) governo de Fernando Henrique Cardoso. Steinbruch que é hoje o principal acionista da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) também atua como colunista no jornal Folha de São Paulo, o que talvez explique o desinteresse do veículo em divulgar um escândalo que está abalando o resto do mundo, enquanto passa quase despercebido no Brasil. 

Enquanto a mídia se cala no Brasil, polícia suíça aprofunda investigação sobre as fraudes cometidas pelo HSBC

HSBC private bank in Geneva, Switzerland

Harold Cunningham/Getty Images

Enquanto no Brasil a mídia corporativa continua concentrada de forma seletiva no chamado “Petrolão” e ignorando o caso das contas secretas mantidas por brasileiros no HSBC suiço, governos da França e da Bélgica já lançaram investigações para identificar os donos das contas que eram usadas para evasão fiscal. 

O caso que vem está sendo conhecido como o  “HSBC leaks” ganhou novos desdobramentos no dia de hoje quando a polícia federal suíça entrou nos escritórios do banco em Geneva para colher novas provas sobre este gigantesco caso de lavagem de dinheiro que está causando um verdadeiro frisson na Europa (Aqui!) . Entretanto, aqui no Brasil  o escândalo continua passando em branco na cobertura da mídia cuja preocupação com a ética e os bons costumes parece, cada vez mais, ser seletiva e pontual.

Aliás, há que se notar que não é apenas a mídia que está esquisitamente calada sobre o fato. Pode-se incluir na lista dos “calados” os partidos políticos da oposição e o próprio governo liderado por Dilma Rousseff. 

Bons motivos para manter silêncio todos devem ter. Ou seriam bilhões?

Exame: Receita investiga brasileiros com contas secretas no HSBC

Agência do HSBC

HSBC: o banco teria ajudado mais de 8,7 mil brasileiros a depositar US$ 7 bilhões em contas secretas na Suíça

Renata Veríssimo, do Estadão Conteúdo

Brasília – A Receita Federal abriu investigações para apurar “hipóteses de omissão ou incompatibilidade de informações” prestadas ao Fisco Brasileiro por brasileiros correntistas do Banco HSBC na Suíça após vazamento de dados que indicariam evasão de divisas.

Essas “hipóteses”, se confirmadas, seriam passíveis de autuação fiscal e de representação fiscal por ocorrência de crime contra ordem tributária, além de responsabilização por eventuais crimes contra o sistema financeiro e de lavagem de dinheiro.

Entre os investigados, estão nomes de pessoas ligadas à Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que apura desvios de verba da Petrobras. O banco HSBC teria ajudado mais de 8,7 mil brasileiros a depositar US$ 7 bilhões em contas secretas na Suíça.

Os dados fazem parte de documentos bancários que revelariam como a instituição teve um papel ativo em facilitar a abertura de contas, sem perguntar a origem do dinheiro e que, em muitos casos, teria ajudado a evadir impostos.

Em nota, a Receita informou nesta sexta-feira, 13, que “as análises preliminares de alguns contribuintes já revelam hipóteses de omissão ou incompatibilidade de informações prestadas ao Fisco Brasileiro, entre outros casos”.

A Receita afirmou que sua unidade de inteligência teve acesso a parte da lista contendo o nome de pessoas que “supostamente possuíam relacionamento financeiro com aquela instituição financeira na Suíça”.

O Fisco fez menção a “indícios de movimentação financeira” reveladas nesta semana pelo Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo (ICIJ, na sigla em inglês) que publicou a informação da existência de 6,6 mil contas bancárias abertas no Banco HSBC na Suíça, no período de 1988 a 2006, “supostamente relacionadas” a 4,8 mil cidadãos de nacionalidade brasileira, que totalizariam saldo em 2006/2007 no valor de U$ 7 bilhões.

A Receita Federal informou, ainda, que “segue aprofundando as pesquisas sobre o tema, com o intuito de obter mais informações”, inclusive mediante cooperação internacional para a “correta identificação do maior número possível de contribuintes relacionados” e o levantamento de possíveis valores não declarados.

“É relevante notar que alguns desses contribuintes já haviam sido investigados anteriormente pela Receita Federal, a partir de outros elementos constantes em suas bases de dados.

FONTE: http://exame.abril.com.br/economia/noticias/receita-investiga-brasileiros-com-contas-secretas-no-hsbc