Livro de download gratuito do INCT Mudanças Climáticas traz olhar interdisciplinar

mudanças climáticas

O Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT)  Mudanças Climáticas está disponibilizando de forma gratuita o livro “Mudanças climáticas em rede:  um olhar interdisciplinar“.  Este livro aborda 13 temas integradores: Observações e Atribuição de Causas da Variabilidade e Extremos Climáticos; Segurança Alimentar; Segurança Hídrica; Segurança Energética; Saúde; Biodiversidade e Ciclos Biogeoquímicos; Desastres Naturais; Emissão de Gases de Efeito Estufa; Dimensões Humanas e Econômicas das Mudanças Climáticas; Zonas Costeiras; Amazônia e REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação); Modelagem do Sistema Terrestre; e Cenários Futuros de Clima para Estudos de Impactos-Vulnerabilidade-Adaptação (IVA).

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Na ciranda dos INCTs tem lugar para instituto com artigos despublicados

bode

Venho abordando neste blog uma série de mazelas que estão cercando o edital dos chamados Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) cujo principal financiador é o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) ( Aqui!Aqui! e Aqui!).

Nestas postagens eu havia identificado problemas como cortes orçamentários e mudança na lista final de projetos aprovados para financiamento pelo CNPq e, mais recentemente, pelas fundações estaduais de amparo à pesquisa.  A questão mais sensível que abordei em artigo em co-autoria com o Prof. Carlos Eduardo Rezende foi a alteração da lista de projetos aprovados, sem que os critérios de inserção e remoção tivessem sido divulgados.

Pois bem, o jornalista Maurício Tuffani do blog Direto da Ciência acaba de adicionar mais um elemento problemático na odisséia em que se tranformou o financiamento dos INCTs. Segundo  o que Maurício Tuffani revelou no dia de hoje (Aqui!), o líder de um dos projetos aprovados para ser aquinhoado com R$ 5 milhões de financiamento teve vários artigos retratados (ou seja despublicados) por conterem erros suficientemente graves para terem sua qualidade científica colocada sob suspeita.

tuffani

Sem querer tecer maiores julgamentos sobre o caso específico que o jornalista Maurício Tuffani apurou, o problema principal parece estar nos critérios que vem balizando a distribuição de recursos governamentais para fomentar a ciência no Brasil. Esse caso, que não deve ser o único, deveria ter sido objeto de uma análise mais criteriosa no momento em que se definiu a lista de projetos aprovados. É que de cara parece incorreto premiar com financiamento público um grupo de pesquisadores que teve não um, mas oito artigos retratados. Entretanto, como já mostrei anteriormente, falta de critérios transparentes tem sido justamente a marca da aprovação dos projetos aprovados no edital dos INCTs.

Além disso, como ficou bem demonstrado na matéria preparada por Maurício Tuffani, a despublicação destas pesquisas era de conhecimento dos comitês que avaliaram e aprovaram o financiamento do chamado “Instituto Nacional de Obesidades e Diabetes (Inod)”. Em outras palavras, ter artigos despublicados não compromete financiamentos com dinheiro público. Mas que beleza lição os comitês avaliadores estão dando para a comunidade científica brasileira, especialmente para os pesquisadores mais jovens!

O mais lamentável neste caso é que não haja quem queira falar publicamente sobre essa aprovação, como bem revela Mauricio Tuffani. Como em outros casos, nem parece que estamos falando de pessoas altamente gabaritadas e comprometidas com o avanço da ciência nacional.  Novamente, que bela lição estamos dandos aos nossos pesquisadores mais jovens.

Finalmente, eu tenho a impressão que se o jornalista Maurício Tuffani continuar cavocando no caso do edital dos INCTs, ele ainda achará mais minhocas, e bem gordinhas. Sei lá, chamem de inferência lógica.

De volta para o passado: CNPq passa a tesoura nos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia

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Os chamados Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) representam um dos maiores projetos e avanços que o Brasil teve ao longo da última década. É importante lembrar que o primeiro edital para formação dos INCTs ocorreu em 2008 com a participação do CNPq, Capes, Fapemig, Faperj e Fapesp. Já no edital de 2014, além das fundações estaduais que participaram da primeira chamada, mais 11 fundações participaram como co-financiadoras desta importante ferramenta de desenvolvimento da ciência nacional, apontando para uma sinergia na ação de Ciência e Tecnologia entre estados e a união.

Mas os INCTs se encontram neste momento sob grave ameaça de descontinuidade, ainda que o problema já venha antes da assunção ao poder do presidente “de facto” Michel Temer e do desmantelamento do Ministério da Ciência e Tecnologia (M C&T).  Mas para entender o grave problema que a continuidade INCTs enfrenta nesta conjunção histórica de crise política e aplicação de medidas de caráter neoliberal, vamos à cronologia dos fatos. O edital lançado para dar continuidade aos INCTs ficou aberto entre 10 de julho a 15 de setembro de 2014, com a data para divulgação dos resultados a partir de março de 2015 e implementação em 6 de abril de 2015.  Porém, estranhamente, os resultados só saíram em maio de 2016 e até no momento, obviamente, não foi desembolsado um centavo sequer.

Agora, no que se provou ser uma surpresa desagradável para os cientistas envolvidos nos INCTs, o CNPq em reunião realizada no dia 5 de outubro, e que contou com a participação dos diretores científicos das fundações estaduais de C&T, propôs a liberação de recursos financeiros para apenas a 100 projetos, dentre os 252 que foram aprovados e a lista divulgada na página no CNPq  (Aqui!).

Outra questão que me chamou atenção nessa decisão que eu considero muito esquisita é que a lista divulgada inicialmente pelo CNPq, não apresentou previamente os critérios utilizados para realizar o ranqueamento de 1 a 252, bem como uma pontuação objetiva que cada projeto alcançou, de modo a permitir que a comunidade científica brasileira pudesse saber como teriam sido definidos os 100 primeiros classificados.  A nota de divulgação do resultado apenas mencionou que a lista dos 252 projetos aprovados estava em ordem decrescente (Aqui!). 

Este fato é bastante relevante neste momento dado que o CNPq e os representantes das FAPs decidiram efetivamente que apenas 100 projetos, e não os 252 aprovados inicialmente, serão apoiados. Em minha opinião, o correto seria financiar todas as propostas aprovadas, ainda que para isso fosse feito um corte linear nos valores atribuídos a cada proposta. Mas pelo que se vê  isto não vai acontecer. E de concreto, o que parece estar em curso é mais uma tesourada do governo “de facto” de Michel Temer no orçamento do CNPq.

Mas uma coisa é certa, quando alguns cientistas entram para o sistema administrativo parecem se esquecer do que significa o apoio à C&T no Brasil.  É que enquanto se vêem importantes manifestaçoes como a da Academia Brasileira de Ciências  sobre o grave risco criado pela PEC 241 para o futuro da ciência nacional (Aqui!), se vê uma postura tão rápida em cortar recursos em vez de se lutar para ampliar o financiamento de uma iniciativa tão vitoriosa como a dos INCTs.

De forma específica, causa surpresa que o representante da Faperj que não paga projetos desde 2014, ou quando paga projetos aprovados o faz apenas parcialmente, tenha apoiado esta proposta, pois isto irá claramente comprometer os institutos que estão sediados no estado do Rio de Janeiro. Afinal, se o (des) governo do Rio de Janeiro tivesse um interesse genuíno em investir no desenvolvimento da C&T estaria repassando o recurso para Faperj e esta para seus pesquisadores. Aliás, se o (des) governo do Rio de Janeiro tivesse algum interesse em investir em ciência, tecnologia e educação estaria honrando e repassando o orçamento para as universidades estaduais (Uenf, Uezo e Uerj) que vivem hoje o seu pior momento na história de sua existência.

Finalmente, penso que não houver uma reação firme da comunidade científica, os cortes que já estão aparecendo no orçamento da C&T são apenas sinais de que o governo “de facto” de Michel Temer não irá parar até colocar a ciência brasileira no nível que antecedeu a chegada da família real portuguesa no Brasil.