Formação acadêmica sólida versus a miragem da inovação: a importância da base conceitual e da pesquisa científica na formação dos estudantes

pensamento crítico

Magnum Bridaroleo Sender

A Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), criada por dispositivo constitucional em 1989, trouxe muitas expectativas para nossa cidade. Como morador, há mais de 50 anos, tenho acompanhado os inúmeros movimentos internos, bem como as questões que ultrapassam os limites da instituição ao longo dos seus 31 anos de funcionamento. Nesse contexto, observei que a universidade, historicamente pautada pela excelência acadêmica, parece enveredar por outros caminhos. Decidi, então, escrever um breve texto sobre o que considero a questão central: a formação de recursos humanos nos níveis de graduação e pós-graduação.

A formação conceitual, base de todo o conhecimento, é crucial para o desenvolvimento do pensamento crítico e da capacidade de análise. Sem uma base sólida de conceitos, torna-se difícil compreender a complexidade dos desafios contemporâneos ou propor soluções sustentáveis. A universidade, idealizada para o Terceiro Milênio, e orientada pelo rigor acadêmico, deve oferecer – principalmente – o ambiente ideal para que seus alunos e alunas construam esse alicerce essencial para qualquer avanço intelectual e científico.

Nos últimos anos, a palavra “inovação” tem sido amplamente difundida, ganhando uma aura quase mágica. Apresentada, inclusive, como solução para todos os problemas da sociedade, e, é vista como o caminho para o progresso e o motor do desenvolvimento econômico. No entanto, o que muitas vezes se ignora é que a inovação não surge do vazio. Para inovar, é necessário um profundo entendimento dos fundamentos que estruturam as áreas do conhecimento. Sem uma base conceitual sólida, a “inovação” corre o risco de se tornar apenas um modismo passageiro, sem impacto real e sem capacidade de transformação.

A verdadeira inovação ocorre somente quando combinada com uma pesquisa robusta e contínua dentro de uma instituição. Por isso, a formação básica na graduação e o seu aperfeiçoamento na pós-graduação devem ser preservados, sem a criação da falsa polêmica de que as universidades precisam formar empreendedores e inovadores. Pesquisar é questionar, buscar respostas para problemas complexos e construir novos caminhos a partir de uma base teórica sólida. Sem a pesquisa, não há inovação genuína, pois é ela que possibilita o avanço do conhecimento e a aplicação prática das descobertas em soluções transformadoras.

Devemos, portanto, olhar com cautela para promessas de inovação que desvalorizam a formação conceitual e a pesquisa científica. A inovação, para ser verdadeiramente transformadora, precisa caminhar lado a lado com o conhecimento profundo e o esforço investigativo.

Prazo para se candidatar a prêmio de educação no valor R$ 250 mil acaba dia 31

Interessados podem concorrer ao Prêmio Péter Murányi, cujo objetivo é reconhecer trabalhos que melhorem a qualidade da vida da população

premio-petermuranyi_r43524

O prazo para inscrição na 20ª edição do Prêmio Péter Murányi está chegando ao fim. Focada em “Educação” este ano, a iniciativa distribuirá R$ 250 mil, sendo R$ 200 mil para o trabalho vencedor, R$ 30 mil e R$ 20 mil para o segundo e terceiro colocados, respectivamente. Os interessados podem enviar seus trabalhos até o dia 31 de outubro de 2020.

Para a inscrição, o trabalho precisa ser indicado por uma instituição, sediada no Brasil, cadastrada junto à Fundação e atender a três critérios fundamentais: ser inovador, ter aplicabilidade prática e resultados comprovados sobre seu impacto positivo para as populações de regiões em desenvolvimento. Importante destacar que a participação é gratuita e o prêmio é entregue ao autor ou autores dos projetos.

Entidade privada e sem fins lucrativos, a Fundação já investiu, ao longo de suas 19 edições, R$ 3,1 milhões e avaliou 1.704 trabalhos, desde o primeiro Prêmio Péter Murányi, em 2002. Sua periodicidade é anual, sendo que se alternam os temas “Alimentação”, “Saúde”, “Ciência & Tecnologia” e “Educação”, de modo que cada área seja revisitada a cada quatro anos.

O edital e o formulário para participação estão disponíveis no site www.fundacaopetermuranyi.org.br. Os trabalhos inscritos passam por algumas etapas de avaliação, sendo submetidos a uma Comissão Técnica e Científica, especialistas da área e a um Júri. Os autores dos 3 trabalhos finalistas serão conhecidos e receberão seu prêmio em abril de 2021.

A premiação conta com o apoio das seguintes entidades: ABC (Academia Brasileira de Ciências), Aconbras (Associação dos Cônsules no Brasil); Aciesp (Academia de Ciências do Estado de São Paulo); Anpei (Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras); Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior); CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola); CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico); Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo); e SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência).

SERVIÇO:

20º Prêmio Péter Murányi – edição Educação

Envio dos trabalhos indicados: até 31 de outubro de 2020

Definição dos 3 finalistas: 1º trimestre de 2021

Cerimônia de entrega: 1º quadrimestre de 2021

Cadastro de instituição/empresa: premio2021@fundacaopetermuranyi.org.br

Edital e Regulamento: www.fundacaopetermuranyi.org.br

Sobre o Prêmio Péter Murányi

Direcionado a iniciativas que melhorem a qualidade de vida da sociedade brasileira, o Prêmio Péter Murányi acontece anualmente, alternando os temas “Educação”, “Saúde”, “Ciência & Tecnologia” e “Alimentação”, com entrega de R$ 250 mil, sendo R$ 200 mil ao trabalho vencedor, R$ 30 mil e R$ 20 mil para o segundo e terceiro colocados.

A premiação conta com o apoio da ABC (Academia Brasileira de Ciências), Aciesp (Academia de Ciências do Estado de São Paulo), Anpei (Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras), Aconbras (Associação dos Cônsules no Brasil), CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola), CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência).

Entidades lançam nota de repúdio contra cortes no orçamento nas áreas de educação e ciência

luto2-800

NOTA DE REPÚDIO

As entidades abaixo relacionadas, que representam comunidades acadêmicas, científicas, tecnológicas e de inovação, vêm a público denunciar a operação desastrosa feita pelo Congresso Nacional na Lei Orçamentária Anual – LOA 2017 com a criação de uma nova fonte de recursos (fonte 900) retirando verbas das áreas de educação e C,T&I. Esses recursos estavam antes assegurados pela fonte 100, que tem pagamento garantido pelo Tesouro Nacional.

Essa transferência para a fonte 900 não tem recursos assegurados, tanto que passam a ser chamados de “recursos condicionados ” de acordo com manual orçamentário. A fonte 900 inclusive põe em dúvida o cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF, que exige para cada empenho a definição clara da fonte de recursos. Qual a fonte real que o governo utilizará para honrar os pagamentos prometidos pela LOA 2017 à área de C,T&I se a fonte usada está “condicionada” a um apontamento futuro?

Salientamos que só na área de C,T&I o impacto financeiro será de R$ 1,712 bilhão, deixando a operação das OSs e das bolsas de pesquisa com apenas R$ 206 milhões na fonte 100, de pagamento direto pelo Tesouro Nacional. Em todo o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação – MCTIC, somente a pesquisa científica foi atingida pela transferência de recursos para a fonte 900.

A operação realizada pelos parlamentares gerará, na prática, um corte de 89,24% nas dotações orçamentárias previstas para administração do setor, as Organizações Sociais (OSs) e as bolsas de formação e capacitação em C,T&I. Isso porque a nova fonte 900 poderá ser uma mera ficção, ao tirar a garantia de pagamento dos recursos previstos na LOA para coloca-los na dependência futura de uma nova lei que, de fato, defina uma fonte segura que cubra a previsão orçamentária.

Para educação e C,T&I a situação é gravíssima tendo em vista a aprovação, por este mesmo Congresso Nacional, da PEC dos Gastos Públicos, que congelará os investimentos em educação para os próximos 20 anos. É triste ver o país continuar encarando educação e C,&I como gasto e não como investimento, como ocorre em países avançados, por falta absoluta de compreensão dos que decidem.

Apesar do que afirma o governo, a transferência de recursos da pesquisa para a fonte 900 gerará impactos dramáticos no sistema educacional já em 2017, caso não seja imediatamente revertida, prejudicando milhares de pesquisadores em todo o pais que dependem de bolsas da CAPES e do CNPq para dar sequencia a seus trabalhos.

Oficialmente, alegam que os recursos suspensos serão pagos por meio da Desvinculação de Receitas da União – DRU. Fosse isso verdade, porque então não manter as verbas na fonte 100, já que será o mesmo Tesouro Nacional quem irá administrar as verbas desvinculadas futuramente?

No jogo político, o sequestro das verbas aprovado pelo Congresso Nacional nos parece uma forma não ortodoxa para garantir a aprovação da controversa Lei de Repatriação de Recursos (PL 2.617/2015), de onde supostamente viria a verba capaz de voltar a garantir o pagamento efetivo dos recursos colocados na fonte 900.

É lamentável constatar esses fatos que serão extremamente prejudiciais ao país. Qualquer Nação na era da economia do conhecimento sabe que educação e C,T&I são as peças fundamentais para atingir os objetivos de cidadania num mundo global. A comunidade acadêmica, científica, tecnológica e de inovação está perplexa com a sequencia de ações tomadas pelo governo federal em parceria com o Congresso Nacional, que claramente colocam em risco o futuro do Brasil. Sinceramente esperamos que essas decisões sejam revistas pelo bem da Nação e do povo brasileiro.

  • Academia Brasileira de Ciências (ABC)
  • Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec)
  • Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento de Empresas Inovadoras (Anpei)
  • Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap)
  • Conselho Nacional de Secretários Estaduais para Assuntos de Ciência, Tecnologia e Inovação (Consecti)
  • Sociedade Brasileira de Física (SBF)
  • Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)

Investimentos em CT&I: enquanto Brasil diminui, China aumenta

Para entender como estão as chances do Brasil em se tornar um país mais avançado não é preciso ir longe. Basta ver o que anda acontecendo com os investimentos em ciência, tecnologia e inovação ao longo do tempo.  

Nesse sentido, o gráfico produzido pela revista Nature sobre a evolução dos investimentos das principais economias mundiais em ciência, tecnologia e inovação que vai logo abaixo. É que enquanto o Brasil nem aparece no gráfico, a China salta para o segundo lugar nesse tipo de alocação de recursos públicos.

giphy

A decorrência disso é que a China, que em 2016 aumentou em 70% o orçamento do ministério da Ciência, já planeja sair da fase da exportação de manufaturados para a de produtos científicos de ponta.

Já o Brasil não apenas acabou com o seu ministério de ciência, tecnologia e inovação, juntando o que sobrou com uma estapafúrdia mistura com as comunicações, como também continua incapaz de entregar as verbas já alocadas para ações estratégicas como os dos institutos nacionais de tecnologia.

Os resultados desse tipo de comportamento inverso entre Brasil e China no tocante aos investimentos em CT&I não tardarão a aparecer.  E lamentavelmente, continuaremos a regredir para o Século XVI, bem ao gosto das elites que dominam o nosso país desde a chegada dos conquistadores portugueses.

Em artigo, presidente da Fapemig Evaldo Vilela questiona os critérios para o financiamento da pesquisa científica

A edição de setembro a dezembro de 2015 da revista “Ciência para a vida”, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), publicou o artigo “Pensando ciência, repensando inovação”, assinado pelo Acadêmico e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), Evaldo Vilela, e pela analista de Gado e Leite da Embrapa, Ester Gomide.

O texto questiona os critérios adotados atualmente no Brasil pelos setores público e privado para o financiamento da pesquisa científica, muitas vezes valorizando apenas a ciência aplicada e o retorno a curto prazo e deixando de lado a pesquisa básica.

“Reconhecer que a importância da pesquisa científica continua sendo responder às questões que desafiam o conhecimento existente e que os progressos vivenciados pela humanidade não teriam ocorrido se fossem orientados apenas por demandas do setor produtivo é o primeiro passo para uma modificação da lógica de financiamento”, afirmam os pesquisadores.

“Mais importante que determinar se a pesquisa será útil para o avanço científico e tecnológico, ou para a mitigação de problemas sociais e econômicos, é certificar-se de que ela será útil na sua essência, ou seja, que resultará na refutação ou aceitação de novos pressupostos que fundamentarão os avanços”, completam.

Leia o artigo completo clicando aqui.

(Samil Chalupe para NABC / Com informações de Ciência para vida)

FONTE: http://www.abc.org.br/article.php3?id_article=7675

Ciência fluminense a caminho das trevas. Uma obra de Pezão e Albertassi!

Credit: Wellcome Library, London. Wellcome Images

Crédito: Wellcome Library, London. Wellcome 

Numa rara manifestação pública, o diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio (Faperj), Jerson Lima Silva, traça uma perspectiva sombria para o futuro do desenvolvimento científico do Rio de Janeiro caso seja aprovada a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) pelo deputado Edson Albertassi, líder do PMDB na Alerj, que propõe reduzir o investimento em educação, cortar pela metade o repasse atualmente feita para investimentos em ciência, bem como extinguir a transferência nunca realizada de um repasse de 6% da receita líquida estadual para a UERJ.

Afora os argumentos apresentados pelo diretor da Faperj, eu poderia adicionar que esses cortes representam um golpe mortal para o sistema universitário fluminense, abrindo espaço para uma profunda precarização do que já se encontra precário. E os ganhadores dessa destruição do amanhã da ciência fluminense certamente serão as empresas privadas para as quais o (des) governo Pezão continua dirigindo bilhões de reais em diferentes formas de investimento, sem que haja qualquer retorno à população.

E que ninguém se engane. Todos esses cortes propostos por Edson Albertassi, certamente a mando de Pezão, causarão uma regressão extremamente danosa à capacidade científica e educacional do Rio de Janeiro. Essa proposta é a sinalização de que as trevas são a opção para Pezão. Diante dessa situação será preciso, mais do que nunca, resistir.

Entrevista: Jerson Lima Silva. Sem verba para desvendar o zika

MOSQUITOS

Aedes aegypti, o transmissor de zika, chicungunha e dengue – Divulgação/Alexandre Carvalho / Divulgação/Alexandre Carvalho

RIO — Diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio (Faperj), Jerson Lima Silva diz que a instituição pode estar com os dias contados. Isso porque, na quarta-feira, deverá ser votada na Assembleia Legislativa (Alerj) uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que, se aprovada, reduzirá de 35% para 25% o percentual de recursos para a educação provenientes da receita obtida com impostos. Autor do projeto, o deputado Edson Albertassi (PMDB), líder do governo na Casa, sugeriu cortar à metade o repasse de 2% à Faperj e acabar com a transferência de 6% para a Uerj. Lima Silva, que também é professor de bioquímica médica da UFRJ, afirma ainda que a eventual aprovação da PEC vai inviabilizar pesquisas sobre doenças como zika, dengue e chicungunha.

O que representaria para a Faperj uma redução de 2% para 1% no volume de repasses?

Terá um efeito devastador para a ciência, a tecnologia e os trabalhos de inovação do estado e do país. Em 2007, o então governador Sérgio Cabral decidiu não só cumprir os repasses de 2% como não alterar esse índice. Em 2014, seu sucessor, Luiz Fernando Pezão, reafirmou o compromisso. Desde então, a produção científica do Rio aumentou 80% em oito anos. O estado passou a concentrar 22% dos programas de excelência do Brasil. Começamos a fomentar parcerias entre o setor empresarial, universidades e institutos de pesquisa. Atraímos centros de pesquisa de companhias internacionais como a L’Oréal e a GE. A Faperj mantém programas de interesse para o Rio, como o de estudo de doenças emergentes. Reduzir nosso orçamento à metade paralisará trabalhos sobre energias renováveis, doenças degenerativas, câncer, células-tronco e dependência química, entre outros. Na melhor das hipóteses, teremos uma fuga de cérebros para São Paulo, e na pior, para países desenvolvidos.

Como o orçamento é usado?

O atual orçamento é de 2% da receita líquida do estado, o que corresponde a cerca de R$ 420 milhões. Metade dos recursos é destinada a bolsas e cotas de auxílio financeiro de pesquisadores e estudantes de graduação e pós-graduação das redes estadual, federal e privada. Vale lembrar, por exemplo, que Artur Avila, primeiro brasileiro laureado com a Medalha Fields (uma espécie de Prêmio Nobel da Matemática), foi bolsista, com doutorado nota dez, da Faperj. A outra metade dos recursos banca os gastos com a realização de pesquisas. Também temos trabalhos sobre transporte urbano, mudanças climáticas, desastres naturais, violência, agricultura, exploração de óleo e gás, entre outros.

Há pesquisas sobre zika, chicungunha e dengue?

Se a PEC for aprovada, imobilizará o programa para esse setor, levando a Faperj a cancelar um edital lançado recentemente. A Faperj apoia, em parceria com o CNPq e o Ministério da Saúde, institutos nacionais de ciência e tecnologia que estudam os vírus e seu principal vetor, o Aedes Aegypti. Foi graças a um programa nosso que se criou o “10 minutos contra a dengue”. Lançado na semana passada, o edital visa a constituir até oito redes de pesquisa para apresentar resultados em curto e médio prazos para a prevenção, diagnóstico e tratamento das doenças transmitidas pelo mosquito.

Quais poderão ser as consequências da aprovação da PEC para a ciência do estado?

Na semana seguinte à inauguração do Museu do Amanhã, temos o risco de perder o futuro da inovação do Rio. O estado voltaria a ficar em uma posição acanhada em termos de investimentos, como ocorreu na década de 1990, quando somente São Paulo tinha protagonismo. Se a PEC for aprovada, haverá perda de cérebros. Perder a capacidade de pesquisa e inovação trará consequências irreversíveis a longo prazo. A manutenção da infraestrutura sem financiamento será muito difícil, o que provavelmente levará à redução de instalações e equipamentos. Estamos sob risco de destruição permanente do que foi conquistado em uma década.

FONTE:  http://oglobo.globo.com/rio/entrevista-jerson-lima-silva-sem-verba-para-desvendar-zika-18340672#ixzz3uxEX77yx 

Estudo da UCLA associa “publicar ou perecer” com diminuição da inovação em Ciência

JCI0836371

Venho abordando aqui neste blog as múltiplas facetas negativas do “trash science” sobre a qualidade da produção científica em escala mundial, mas principalmente em países da periferia capitalista como o Brasil. Uma coisa que não venho abordando devidamente é a gênese dessa epidemia que é a cultura do “publicar ou perecer” que é um dos subprodutos do vigoroso sistema universitário dos EUA. A disseminação do “publicar ou perecer” como modus operandi das universidades em todo o mundo é, para mim, um fator basilar na instalação primeiro do “Salami science” e, mais recentemente, do “trash science“.

Agora, três pesquisadores atuando em duas respeitáveis estadunidenses (Universidade da Califórnia- Los Angeles e Universidade de Chicago) acabam de publicar um estudo abrangente sobre o impacto fortemente negativo do mote “publicar ou perecer” sobre a inovação científica. Segundo eles, a lógica de se associar estabilidade no emprego e premiações acadêmicas com o número de publicações vem diminuindo as chamadas áreas de inovação na ciência. É que premidos pela necessidade de publicar mais em menos tempo para assegurar emprego e reconhecimento, a maioria dos pesquisadores prefere ignorar ideias mais inovadoras, mas igualmente mais arriscadas.

A principal sugestão que emerge do trabalho é de que as universidades e institutos de pesquisa façam a devida separação entre estabilidade e produtividade e, além disso, revejam as formas de investimento científico.

O curioso é que este tipo de reflexão crítica sobre o paradigma dominante venha do centro gerador desta forma de disseminar conhecimento científico.  O pior é que aqui no Brasil, além de estarmos vivendo um período de forte contenção no investimento nas universidades públicas, temos agora no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação um personagem com pouquíssimas credenciais para colocar o Brasil nos trilhos que foram apontados neste artigo. Em outras palavras, arriscamos nos atrasar ainda mais em termos de inovação científica, como se isso fosse possível. Mas como disse a famosa Lei de Murphy “nada está tão ruim que não possa piorar”. 

Quem tiver interesse de acessar o artigo em questão, basta clicar Aqui!

Abaixo um artigo preparado pela UCLA para divulgar os resultados da pesquisa que eu traduzi para facilitar a sua divulgação em português. 

A pressão para “publicar ou perecer” pode desencorajar a investigação inovadora, sugere estudo da UCLA 

As conclusões dos pesquisadores foram extraídas de uma base de dados que reuniu mais de 6 milhões de publicações acadêmicas em Biomedicina e Química

Por Phil Hampton

Book+stacks_mid

A tradicional pressão no meio acadêmico para se “publicar ou perecer” amplia o conhecimento em zonas já estabelecidas. Mas isto também pode desencorajar os cientistas a fazerem as perguntas inovadoras que são mais susceptíveis de provocar os maiores avanços, de acordo com um novo estudo liderado por um professor da UCLA.

Os pesquisadores já enfrentam uma tensão natural e um processo de troca ao decidir se deve construir sobre o conhecimento acumulado em um campo, ou prosseguir com uma ideia nova e ousada que desafia o pensamento dominante na ciência.  O professor assistente de sociologia Jacob Foster e seus co-autores descrevem essa situação como um conflito entre “tradição produtiva” e “inovação arriscada.”

Para estudar essa tensão, Foster e seus colegas montaram um banco de dados de mais de 6,4 milhões de publicações acadêmicas nas áreas de biomedicina e de química no período de 1934 a 2008. Eles então analisaram se as publicações individuais foram construídas a partir  de descobertas existentes ou criavam novas conexões . A partir dai fizeram a criação de um mapa da rede crescente do conhecimento científico. Finalmente, eles correlacionaram cada uma das duas estratégias  com dois tipos de recompensa: citações em pesquisas posteriores e o reconhecimento mais substancial conferido por 137 diferentes tipos de premiações acadêmicas.

O estudo, publicado na “American Sociological Review”, é um dos primeiros a analisar a tensão entre tradição e inovação produtiva arriscada em escala maciça.

O estudo descobriu que um padrão notavelmente consistente caracteriza a investigação contemporânea em Biomedicina e da Química: mais de 60 % dos artigos não tinham novas conexões, o que significa que eles foram construídos  principalmente com base na tradição e evitaram a inovação.

Com base na  análise das recompensas científicas, Foster e seus colegas argumentam que os investigadores que confinam seu trabalho para responder perguntas estabelecidas são mais propensos a ter os resultados publicados, o que é uma chave para a progressão na carreira acadêmica. Por outro lado, pesquisadores que pedem mais perguntas originais e procuram forjar novas ligações na rede de conhecimento são mais propensos a tropeçar no caminho para a publicação, o que pode fazê-los parecer improdutivos para os seus colegas. Se publicada, no entanto, estes projetos de investigação inovadores são mais altamente recompensado com citações. E os cientistas que ganham prêmios – especialmente os mais importantes, como o Prêmio Nobel – incluem mais  movimentos inovadores em sua carteira de investigação.

“As publicações que fazem conexões novas são raros, mas mais altamente recompensado”, disse Foster, autor principal do estudo. “Então, o que corresponde à disposição dos cientistas para prosseguir a tradição sobre a inovação? Nossa evidência aponta para uma explicação simples: pesquisa inovadora é um jogo cuja recompensa, em média, não justifica o risco. Não é uma maneira confiável para acumular recompensa científica. “

Foster acrescentou: “Quando os cientistas inovar, eles podem estar apostando no impacto extraordinário. Eles estão jogando para a posteridade. “

Foster se especializa no estudo computacional de idéias científicas. Os co-autores do estudo foram James Evans, um professor associado de Sociologia da Universidade de Chicago, e Andrey Rzhetsky, professor de  Medicina e Genética Humana na Universidade de Chicago.

Os autores sugerem que as universidades poderiam incentivar mais a assunção de riscos em pesquisa, dissociando a estabilidade no emprego da produtividade. Eles observam que uma abordagem semelhante foi especialmente bem sucedidas no laboratórios da Bell   em meados do Século 20; quando cientistas  podiam trabalhar em um projeto por vários anos antes de ter sido avaliada. O estudo também recomenda um modelo em que o financiamento da investigação vai para cientistas individuais, em vez de projetos de pesquisa específicos – uma estratégia que está sendo usada pelo Instituto Médico Howard Hughes e em alguns projetos financiados pelo National Helath Institute.

Instituições e organizações de financiamento poderiam também reduzir as barreiras à investigação inovadora, utilizando regimes de financiamento que o tornassem menos arriscados para os pesquisadores para lançar uma idéia nova – e mais provável de que essa idéia possa ser financiada. A Fundação Gates usa esta abordagem em certos programas de investigação, reduzindo drasticamente a duração dos pedidos iniciais, financiando projetos  numa base experimental, e reestruturando painéis de revisores para que as idéias inovadoras possam encontrar defensores em vez de críticos.

Foster pediu que as universidades, outras organizações de pesquisa e agências de financiamento usem mais análises quantitativas de larga escala para orientar as suas políticas de pesquisa científica..

“Estudando a ciência em grande escala nos dá uma nova perspectiva sobre esta instituição fundamental. Uma melhor compreensão da ciência vai levar a uma ciência de melhor qualidade. “, disse ele.

O estudo foi financiado com doações da National Science Foundation e da  John Templeton Foundation.

FONTE: http://newsroom.ucla.edu/releases/pressure-to-publish-or-perish-may-discourage-innovative-research-ucla-study-suggests