Em fevereiro, desmatamento chega a 322 Km2 na Amazônia e bate novo recorde; governo Lula precisa encontrar soluções

A volta do PPCDAm e do Fundo Amazônia pode auxiliar no combate ao desmatamento que registrou em fevereiro um aumento de 61,8% em relação ao mesmo mês no ano passado

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Monitoramento de Desmatamento e Queimadas na Amazônia em 2022 | Foto: Christian Braga / Greenpeace Brasil

São Paulo, 10 de março de 2023 – Fevereiro bateu o recorde de alertas de desmatamento da série histórica, chegando a 322 km², conforme os dados apresentados hoje (10) pelo sistema Deter-B, do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE). Os dados representam um aumento de 61,8% em relação ao mesmo mês no ano de 2022, que chegou a 199 km² de área desmatada. Os estados que concentram as maiores áreas de alertas de desmatamento são o Mato Grosso com 162 km² (50,3% do total), seguido de Pará e Amazonas, ambos com 46 km² (14.2% do total).

Já no mês de janeiro, o acumulado de alertas de desmatamento foi de 167 km², registrando uma queda de 61% em relação ao mesmo período em 2022. Para Rômulo Batista, porta-voz de Amazônia do Greenpeace Brasil, o aumento dos alertas de desmatamento em fevereiro, comparado ao ano anterior, pode ser interpretado por inúmeros fatores: “Primeiro, é necessário entender a metodologia do programa de monitoramento realizado pelo INPE, que é referência nacional e internacional. Os sistemas são baseados em satélites ópticos e eles não conseguem enxergar abaixo das nuvens. Isso pode ter sido responsável por essas diferenças tão grandes nos dois primeiros meses, tendo em vista que estamos no inverno amazônico que se caracteriza pelas chuvas e coberturas de nuvens muito intensas. Ou seja, parte do desmatamento que foi registrado agora em fevereiro poderia ser do mês de janeiro ou até mesmo de outros meses anteriores, e também não basta olharmos apenas a quantidade de nuvens que temos a cada mês, mas também entender onde elas estão, já que a região sul e sudeste da Amazônia são as fronteiras de desmatamento mais ativos e a cobertura de nuvens não são homogénea na Amazônia”.

A troca no comando do governo federal, considerando que o anterior era favorável ao desmatamento, também pode ser um dos fatores que corroboram esse aumento: “Acabamos de sair de um governo que apoiava o desmatamento. Enquanto a fiscalização e o controle não chegam em todo território, os desmatadores ilegais podem estar aproveitando para expandir esse desmatamento enquanto essas ações do Estado não incidem sobre o território”, salienta Rômulo.

Há uma movimentação por parte do atual governo para redução do desmatamento, como os retornos do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) e do Fundo Amazônia, este que tem mais de R$ 3 bilhões para financiar ações de fiscalização, ambos foram essenciais para redução do desmatamento entre 2004 e 2012 mas ainda não é o bastante: “Foram iniciativas que já surtiram efeito no passado, no entanto o momento agora é outro. A Amazônia e o Brasil de hoje não é o mesmo de 10, 20 anos atrás. Vai ser necessário muito mais trabalho repondo os quadros de fiscais ambiental e também inovações tecnológicas, legais e infralegais, para combater as queimadas, o desmatamento, a violência contra os povos da florestas e o garimpo ilegal, que não só estiveram fora do controle, como foram apoiados pelo último governo”. Finaliza Rômulo.

Assessoria de imprensa Greenpeace Brasil

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O Greenpeace Brasil é uma organização ativista ambiental sem fins lucrativos, que atua desde 1992 na defesa do meio ambiente. Ao lado de todas as pessoas que buscam um mundo mais verde, justo e pacífico, a organização atua há 30 anos pela defesa do meio ambiente denunciando e confrontando governos, empresas e projetos que incentivam a destruição das florestas.

MCTI anuncia expansão do monitoramento do Cemaden para 2.120 municípios brasileiros

Número representa mais que o dobro das cidades monitoradas pela unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

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Sala de Situação do Cemaden – Cachoeira Paulista/SP

A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, anunciou, nesta quinta-feira (2), a expansão do sistema de monitoramento do Cemaden, que alcançará 2.120 municípios do país. O número representa mais que o dobro das cidades hoje monitoradas pelo instituto de pesquisa do MCTI. O anúncio foi feito durante o 10º Seminário Técnico-Científico de Análise de Dados do Desmatamento na Amazônia Legal, promovido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.

“Com esse esforço, dobramos a cobertura monitorada, atingindo 70% da população brasileira”, disse a ministra.

A expansão significa que o Cemaden passará a monitorar, 24 horas por dia, sete dias por semana, mais municípios localizados em Regiões Metropolitanas, emitindo alertas sobre alagamentos, inundações, enxurradas e deslizamentos de terra.

“Após quatro anos de um governo negacionista, que desacreditou a ciência e promoveu desmonte das políticas ambientais, o MCTI trabalha na construção de uma arrojada agenda de mitigação dos impactos causados pelas mudanças climáticas”, afirmou a ministra.

Ela também antecipou que, em colaboração com outros Ministérios e a comunidade científica, o MCTI trabalha na construção de um novo arcabouço que contemple a produção de dados meteorológicos, o monitoramento climático, a emissão de alertas de risco e as ações de prevenção e redução dos impactos provocados por eventos extremos.

“Não há saída para os esforços de mitigação e adaptação das mudanças climáticas, para o combate ao desmatamento ilegal e o enfrentamento das desigualdades sem ciência”, ressaltou a ministra Luciana Santos. “A pesquisa científica e o desenvolvimento tecnológico são ferramentas fundamentais na busca de soluções para estes desafios. Por isso, vamos ampliar os nossos investimentos para que os resultados da melhor ciência sejam revertidos em benefícios para a população”, concluiu.

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A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, lembrou que o desmatamento na Amazônia é um dos maiores problemas do mundo e destacou a importância da soma de esforços para enfrentar este desafio. “O sucesso do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal, lançado em 2004, se deve a um esforço coletivo. Não se faz política pública sem ouvir o que a ciência e a sociedade civil têm a dizer.”

Coordenador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o pesquisador Cláudio Almeida alertou para a necessidade de ação urgente e para a importância de produção de dados confiáveis. “É fundamental a produção de um dado público, transparente e confiável”, destacou. “O país tem que ter capacidade tecnológica para manter esse monitoramento, desde a produção da imagem até a operação do sistema, e entregar informação para a sociedade”, defendeu.

Desmatamento acelerou no Brasil enquanto as negociações climáticas ocorriam no Egito

monga 0Incêndio perto do rio Manicoré, no estado do Amazonas, em agosto de 2022. Foto © Christian Braga / Greenpeace

Por Mongabay.com

O desmatamento na maior floresta tropical da Terra acelerou acentuadamente durante o mês de novembro, quando as negociações climáticas da ONU estavam em andamento no Egito, de acordo com dados divulgados hoje pelo Brasil.

Por meio de seu sistema de alerta de desmatamento baseado em satélite, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), registrou 555 quilômetros quadrados de desmatamento em novembro, cerca de 60% acima da média do mês nos últimos sete anos e mais que o dobro da taxa de novembro passado .

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A contagem de novembro eleva a área de desmatamento detectada no ano para 10.049 quilômetros quadrados, a maior perda nos primeiros 11 meses de um ano desde pelo menos 2008.

Os novos dados vêm logo após o Brasil divulgar que o desmatamento nos 12 meses encerrados em 31 de julho de 2022 totalizou 11.568 quilômetros quadrados, uma queda de 11% em relação ao ano passado, quando o desmatamento atingiu a maior alta em 15 anos. Os resultados – ainda preliminares – são baseados em imagens de maior resolução do que as usadas pelo sistema de alerta de desmatamento do INPE.

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Incêndio perto de Humaitá, Amazonas, em agosto de 2022. Foto © Christian Braga / Greenpeace

O desmatamento na Amazônia brasileira, que representa mais de 60% da floresta amazônica, tem tendência ascendente desde 2012.

O novo presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu reverter o desmatamento priorizando os esforços para proteger a Amazônia. Durante seus dois primeiros mandatos, de 2003 a 2010, Lula presidiu um declínio acentuado na destruição da floresta amazônica.


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Este texto originalmente escrito em inglês foi publicado pela Mongabay [Aqui!].

 

Setembro em chamas: focos de calor são 147% maior que o ano passado

Segundo dados do Inpe, o total de queimadas na Amazônia no mês é o maior dos últimos 12 anos

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Sobrevoo em Porto Velho, na região da Amacro (Amazonas, Acre e Rondônia), em uma área com cerca de 8.000 hectares de desmatamento – a maior em 2022 – Foto: Nilmar Lage / Greenpeace Brasil

São Paulo, 30 de setembro Dados recém divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) nesta sexta-feira (30)¹, a dois dias das eleições, mostram que no mês de setembro houve um aumento enorme de queimadas na Amazônia, não apenas em relação ao mesmo período no ano passado, mas sendo o maior número desde 2010. Enquanto no mês de setembro de 2021 foram registrados 16.742 focos de calor no bioma, neste ano houve 41.282. O Estado Pará é o recordista de queimadas, com 12.696 focos de calor registrados, representando 30,8% do total, seguido por Amazonas (8.659) que apesar de segundo lugar no total de focos teve o mês com o recorde de queimadas desde o início do monitoramento em 1988, Mato Grosso (6.950), Acre (6.693) e Rondônia (5.354).

Esse aumento já era esperado uma vez que a primeira semana de setembro de 2022 concentrou mais focos de calor do que setembro de 2021 inteiro: em apenas nove meses, foram 75.592 focos de incêndio contra os 75.090 registrados ao longo de 2021.

Para Rômulo Batista, porta-voz de Amazônia do Greenpeace Brasil, essa escalada que tem destruído cada vez mais o bioma e a sua rica biodiversidade precisa ter fim: “Estamos a dois dias das eleições que serão decisivas para o futuro do Brasil e todo o planeta. É necessário que a população brasileira escolha candidaturas que tenham comprometimento com a preservação do meio ambiente, com o combate ao desmatamento e às queimadas, além de proteger os povos da floresta. Não podemos mais compactuar com essa política de destruição que acontece na Amazônia, que é fruto da falta de uma política ambiental nos últimos anos e de um congresso que cria projetos de lei como a legalização da grilagem de terras, abertura das terras indígenas para atividades destrutivas e acaba com o licenciamento ambiental. É o momento de votar consciente e pensando na Amazônia”.

¹ Dados coletados às 18:30.

Desmatamento no mês de agosto chega a 1.661 km², sendo o segundo pior da série histórica

Dados divulgados pelo Inpe mostra que o registrado em agosto perde apenas para o ano de 2019 e acumulado desde janeiro é o maior da série 

fogoImagem aérea de desmatamento e queimadas no maior desmatamento registrado na Amazônia em 2022 | Foto: Nilmar Lage/Greenpeace

São Paulo, 9 de setembro de 2022  Dados do Programa DETER-B do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados hoje (9), mostram que agosto registrou 1.661 km2, o segundo pior área acumulada com alertas de desmatamento da série histórica do Deter, perdendo apenas para o ano de 2019, também no governo Bolsonaro. Pará lidera, seguido do Mato Grosso e Amazonas. O registrado em agosto representa um aumento de 81% em relação ao ano anterior, e o acumulado de janeiro a agosto de 2022 foi o maior da série histórica, com 7.135 km2.

O que chama a atenção é a intensidade da destruição nos últimos meses quando comparado ao ano anterior: em agosto de 2022, o desmatamento cresceu e as queimadas dos primeiros sete dias ultrapassaram setembro do ano anterior. Para Cristiane Mazzetti, porta-voz de Amazônia do Greenpeace Brasil: “A destruição ambiental nos últimos anos ganhou velocidade e escala já que as porteiras foram escancaradas por um governo que abraça e incentiva o crime ambiental através de suas ações e omissões, não se sabe o dia de amanhã e é melhor garantir enquanto a porteira está aberta”.

O desmonte das políticas e instituições socioambientais promovidos pela gestão Bolsonaro, a exemplo do sucateamento de órgãos ambientais, cortes e baixa execução de orçamentos, omissão quanto à invasões fortemente denunciadas em terras indígenas, levou à explosão do desmatamento e da violência no campo: em média, a taxa de desmatamento pré e pós Bolsonaro aumentou 52% e de acordo com o relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), as invasões em terras indígenas aumentaram três vezes quando comparadas à 2018, e o assassinato de indígenas tem virado rotina. “Estamos fazendo uma volta para o passado para o que há de mais retrógrado, agora, esse projeto de morte e destruição precisa ser imediatamente interrompido e revertido”, alerta Cristiane Mazzetti.

Para o Greenpeace Brasil é urgente a reversão do desmonte ambiental e a adoção de ações e medidas que consigam derrubar as altas taxas de desmatamento. “É necessário adotar uma meta de desmatamento zero, além de restabelecer um plano articulado de combate ao desmatamento, e fortalecer uma economia que conviva com a floresta em pé. Isso inclui o fortalecimento dos órgãos ambientais, a destinação de florestas públicas não destinadas para conservação e uso sustentável, a demarcação dos territórios indígenas reivindicados pelos povos originários, além de promover a proteção das áreas já destinadas com a desintrusão de invasores de Unidades de Conservação e Terras indígenas”, finaliza Cristiane Mazzetti.

Fotos e vídeos recentes de queimadas e desmatamento na Amazônia disponíveis aqui

A saga dos dois Ricardo (um cientista laureado e outro um ex-antiministro que fingia ter diploma da Yale University) como síntese do drama político brasileiro

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Na esquerda, o cientista Ricardo Galvão demitido do cargo por defender o rigor científico dos dados do desmatamento na Amazônia. Na direita, o antiministro que só saiu do governo ao ser flagrado em relações pouco republicanas na comercialização de madeira extraída ilegalmente também na Amazônia

Postei mais cedo aqui  neste blog, a informação que o ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o respeitado e laureado pesquisador Ricardo Galvão lançou sua candidatura a deputado federal pela Rede para ser representante de São Paulo na Câmara Federal. Pois bem, depois dessa postagem li informações de que outro Ricardo, no caso o ex-antiministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro, o Salles, envolveu-se em uma altercação de rua quando realizava sua campanha também a deputado federal por São Paulo, só que pelo PL, o mesmo do presidente Jair Bolsonaro (ver imagem do embate abaixo com Salles com dedo em riste).

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Com o dedo em riste, o ex-antiministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, discute com um candidato a deputado estadual pelo PSOL na cidade de  Franca (SP)

Mas mais do que estarem separados por partidos, os dois Ricardo estão separados pela trajetória que cumpriram no governo Bolsonaro. É que enquanto o primeiro Ricardo (o Galvão) foi demitido por defender de forma arrojada a qualidade dos dados científicos gerados pelo Inpe sobre o desmatamento na Amazônia, o segundo Ricardo (o Salles) só saiu do cargo de antiministro do Meio Ambiente quando sua posição se tornou insustentável após ser flagrado em relações pouco republicanas na venda internacional de madeira extraída ilegalmente na mesma Amazônia.

Se essa trajetória dentro do governo Bolsonaro (lembrando que o cargo de diretor do Inpe nunca foi cargo de confiança de indicação do presidente da república e o de ministro do meio ambiente é) não sintetiza de forma lapidar o duro contexto político brasileiro do momento não sei mais o que poderia fazer isso. 

O cientista laureado versus o antiministro que dizia que tinha, mas nunca teve, um diploma da Yale University

Mas me ocorre lembrar que o primeiro Ricardo (o Galvão) após obter seu título de doutor pelo Massachusets Institute of Technology (MIT), logrou construir uma respeitabilíssima carreira científica dentro de instituições públicas como, por exemplo, a Universidade de São Paulo (USP); enquanto que o segundo Ricardo (o Salles) passou anos alardeando uma pós-graduação na Yale University que depois veio a se descobrir nunca havia sido sequer cursada, sendo basicamente um blefe que visou apenas dar ao antiministro um aura de competência acadêmica que ele jamais teve.

A questão que se coloca então, apesar de minhas poucas ilusões com o parlamento burguês, é de como se poderá agir para eleger o Ricardo cientista e impedir que o ex-antiministro consiga imunidade parlamentar pelo voto popular. Nada mais exemplarmente lapidar dos desafios existentes para os brasileiros neste momento.

Ricardo Galvão, ex-diretor do INPE, lança sua candidatura a Deputado Federal pela Rede, em São Paulo

O pesquisador que confrontou e foi exonerado por Bolsonaro promete combater o negacionismo e colocar a ciência a serviço de São Paulo e do Brasil

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Indignação e coragem para combater o negacionismo à Ciência são as palavras que podem definir uma das principais motivações do professor e pesquisador Ricardo Galvão ao decidir lançar seu nome para disputar uma vaga na Câmara dos Deputados.

Depois de questionar as mentiras perpetradas pelo governo quanto aos índices de desmatamento, Galvão manteve durante vários dias um embate em rede nacional tanto com o Presidente Bolsonaro quanto com o então ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles. Por manter suas convicções baseadas nos irretocáveis dados do desmatamento levantados pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que dirigia, Ricardo Galvão foi demitido em agosto de 2019, ainda no primeiro ano deste governo.

“É necessário reagir com contundência. Fiz isso, mesmo sabendo que assim seria exonerado. Valeu a pena, pelo objetivo de defender a ciência perante o obscurantismo e o autoritarismo que caracterizam o círculo próximo ao presidente”, afirmou o professor Galvão em artigo publicado na revista Veja.

No mesmo ano, ele foi escolhido pela prestigiosa revista Nature, um dos 10 especialistas destaques da ciência em todo o mundo.

Mesmo antes dessa exposição não intencional, Galvão já possuía uma sólida carreira na área acadêmica como professor do Instituto de Física da USP (agora aposentado) e experiência na administração pública.

E neste conturbado ano de 2022 decidiu que era o momento de contribuir com sua experiência para o bem dos brasileiros e brasileiras.

Entre as suas principais bandeiras estão a enfática defesa da democracia, a valorização da educação, as ações no combate ao desmatamento e em prol da preservação ambiental, o desenvolvimento sustentável e colocar a ciência no centro da elaboração de políticas públicas desde a sua base de atuação no estado de São Paulo. “A criação de conhecimento científico e as plataformas de tomada de decisão precisam estar intrinsecamente ligadas. Só assim o Brasil conseguirá crescer sustentavelmente”, ressalta.

Para Galvão é fundamental que se faça um enfrentamento às mazelas do país e de São Paulo por meio de ações e políticas que se baseiam em informações e dados científicos, o que tem sido totalmente ignorado pelo atual governo. “Durante a pandemia vimos os males que um governo que despreza a ciência traz para um país. Não podemos correr esse risco. É preciso que tenhamos uma bancada do conhecimento e da ciência para a construção de um Brasil justo e próspero”, afirma o candidato da Rede por São Paulo.

Perfil Ricardo Galvão

É cientista e professor aposentado da IF-USP, e candidato a deputado federal pela Rede Sustentabilidade. Possui graduação em Engenharia Elétrica pela UFF (Universidade Federal Fluminense), mestrado em Engenharia Elétrica pela UNICAMP e é Doutor em Física de Plasmas pelo MIT. Também exerceu cargos de Diretor do CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas), de Presidente da SBF (Sociedade Brasileira de Física) e de Diretor do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). É membro titular da Academia de Ciências do Estado de São Paulo e da Academia Brasileira de Ciências. Recebeu diversas honrarias durante a sua carreira, sendo a mais recente o Prêmio para Liberdade Científica e Responsabilidade, em 2021, da Associação Americana para o Avanço da Ciência.

Ricardo Galvão também ficou conhecido internacionalmente por defender os dados do INPE sobre o desmatamento da Amazônia, tendo por isso sido exonerado pelo Presidente Bolsonaro. Luta contra o negacionismo e defende a educação pública de qualidade, políticas públicas baseadas na ciência e o desenvolvimento sustentável.

Alertas de desmatamento do mês de julho fecham mais um ano de destruição

De agosto a julho deste ano, monitoramento registrou 8.590 km² de alertas de desmatamento

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IDesmatamento de floresta pública não destinada na Amazônia – Christian Braga / Greenpeace Brasil

Manaus, 12 de agosto, de 2022 – Dados do sistema DETER, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados hoje mostram 1.487 km² de alertas de desmatamento no mês de julho. Trata-se do 4° maior número da série histórica, somente perdendo para os anos anteriores do governo atual. No acumulado de 1° de agosto 2021 a 31 de julho 2022, período em que a taxa anual do desmatamento é medido, os alertas apontaram para uma área total desmatada de 8.590 km², uma pequena queda de 2% em relação ao ano passado, porém, analisando os últimos três anos, foram em média 8.862 km² de alertas por ano, área 65,6 % maior que os 5.351 km² que é a média dos três anos anteriores.

“O que chamou atenção nos sobrevoos que realizamos neste último ano, além do avanço do desmatamento, é a quantidade de grandes áreas desmatadas em terras públicas não destinadas, em propriedades privadas e até mesmo em áreas protegidas. Isso reitera que o desmatamento da Amazônia não é fruto da pobreza e do desespero de pessoas em situação de grande vulnerabilidade. Trata-se de esquema organizado, patrocinado por grandes proprietários e grileiros de terra que sentem-se protegidos pelo derretimento das políticas de proteção ambiental e combate ao desmatamento que ocorreram nos últimos anos”, afirma Rômulo Batista, porta-voz de Amazônia do Greenpeace Brasil.

Acesse fotos e vídeos dos sobrevoos realizados entre agosto de 2021 e julho de 2022

Dentre os Estados que mais desmataram, destaca-se o Pará, que registrou 3.072 km² (35,7% do total), seguido pelo Amazonas com 2.292 km² (26,7% do total). Apesar da pequena queda no acumulado dos últimos 12 meses, tivemos seis meses onde o sistema DETER-B de alertas de desmatamento foram recorde desde 2016, ano do início de sua operação. Além do atual cenário de destruição ambiental, avançam também no Congresso projetos de lei que dão ao povo brasileiro ainda mais motivos para se preocupar, tal como o 2633/2020, que anistia grileiros, e o PL 490/2007, que abre terras indígenas para atividades predatórias, acrescentam mais uma camada de pressão sobre nossas florestas.

“Ao invés do poder executivo e dos parlamentares estarem focados em conter os impactos da destruição da Amazônia sobre a população e o clima, no combate ao crime que avança na floresta, e que não só destrói nossas riquezas naturais, mas também a imagem e a economia do país, eles tentam aprovar projetos que irão acelerar ainda mais o desmatamento, os conflitos no campo e a invasão de terras públicas. Nosso país não precisa da aprovação destes projetos, mas sim de uma política que promova um real avanço no combate ao desmatamento, queimadas e grilagem de terras e que defenda os povos da floresta”, finaliza Rômulo.

Com aumento de queimadas, degradação pode ser ameaça à Amazônia

Pesquisadora do Climate Policy Initiative (CPI/PUC-Rio), Clarissa Gandour, explica como focos de fogo, que devem se tornar ainda mais frequentes entre agosto e setembro, geram degradação ambiental

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  • O desmatamento não é o único dano ambiental que afeta a Amazônia brasileira. A degradação florestal – a perda gradual de vegetação – é uma uma ameaça relevante à preservação da floresta. Ela afeta uma área bem maior do que o desmatamento em corte raso. Entre 2017 e 2020, o sistema Sistema de Detecção de Desmatamentos em Tempo Real (DETER) emitiu uma média de 17.000 quilômetros quadrados de alertas de degradação florestal por ano. Isso é quase o dobro da área desmatada anualmente medida pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (PRODES) neste mesmo período.
     
  • As queimadas são uma das principais causas de degradação florestal na Amazônia. Entre 2017 e 2020, os alertas referentes a áreas queimadas na Amazônia representaram 70% da área degradada detectada pelo DETER. A ocorrência de fogo na Amazônia é mais comum no período de seca, com auge nos meses de agosto e setembro. Os números são preocupantes. Só no mês passado, dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe) mostram que o número de focos de incêndio foi 8% maior em relação ao mesmo período do ano passado.
     
  • O fogo não é um fenômeno natural em florestas tropicais em razão da alta umidade desse ecossistema. Isso significa que o fogo em florestas úmidas, como a Amazônia, resulta da ação humana. Em áreas já desmatadas, ele é tipicamente usado para eliminar remanescentes de biomassa no terreno ou como técnica de manejo agropecuário. O fogo também pode atingir áreas de floresta tanto devido a práticas intencionais quanto a vazamentos acidentais de queimadas em áreas já desmatadas.
     
  • Como florestas tropicais são úmidas, elas não queimam facilmente de uma só vez. O primeiro contato com o fogo consome a vegetação mais frágil e compromete a resiliência da remanescente, que se torna mais vulnerável a queimadas subsequentes. Ou seja, o fogo produz estragos não só durante a sua ocorrência, mas também nos anos posteriores.
     
  • O fogo torna a floresta menos resiliente a danos futuros, contribui para a perda de biodiversidade e afeta a capacidade de a floresta absorver e estocar carbono. Os incêndios também contribuem para o agravamento da crise climática, ao liberar toneladas de gás carbônico para a atmosfera.
     

Ao longo do mês de agosto, o CPI/PUC-Rio realizará uma campanha em suas redes sociais para trazer mais informações sobre #fogoflorestal e #queimadas. Confira no Twitter (CPI_PUCRio), LinkedIn (Climate Policy Initiative/PUC-Rio) e Instagram ( CPI_PUCRio).

Sem a Amazônia o mundo não vai conseguir se manter como conhecemos

Em evento para discutir dilemas amazônicos e metas climáticas, cientistas e ativistas alertam para a essencialidade de se preservar a maior floresta tropical do mundo

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A preservação da Amazônia é fundamental para qualquer política ou iniciativa de combate às mudanças climáticas no Brasil e no mundo e sem ela o mundo não tem possibilidade de se manter, alertou o pesquisador pesquisador sênior do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), Paulo Moutinho, durante a Conferência Brasileira de Mudanças Climáticas. O evento reuniu organizações não governamentais, movimentos sociais, povos tradicionais e comunidade científica para discutir aspectos do combate às mudanças climáticas no Brasil. 

Também participaram do painel “A Amazônia é o centro e a solução” as ativistas Angela Mendes, coordenadora Comitê Chico Mendes, Eliane Xunakalo, vice-presidente da União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira, Karina Penha, coordenadora de mobilização da campanha Amazônia de Pé no NOSSAS, e Adriana Ramos, coordenadora do Programa de Política e Direito Socioambiental do Instituto Socioambiental.

O evento tem como objetivo se debruçar sobre dilemas do contexto regional da Amazônia, buscando soluções para o avanço do desmatamento e as violações aos direitos socioambientais como forma de cumprir as metas climáticas e de redução da emissão de gases de efeito estufa.

Para Moutinho, a preservação da Amazônia não é apenas fundamental para o cumprimento de acordos internacionais, mas imprescindível para a viabilidade do agronegócio brasileiro e para o bem-estar da humanidade e, portanto, merece total atenção de todos os tomadores de decisão.

“Sem a Amazônia o mundo não vai conseguir se manter como conhecemos. Não são só as chances de atingirmos as metas climáticas que desaparecem. Todos os problemas serão agravados. Qualquer meta e qualquer desejo de combater as mudanças climáticas exige que a Amazônia seja preservada e recuperada. Isso parece óbvio, mas não é óbvio para os tomadores de decisão”, alerta.

Já conhecemos o caminho

De acordo com análise do IPAM com base nos dados do sistema Deter (Detecção de Desmatamento em Tempo Real), a destruição da Amazônia bateu um novo recorde histórico. Com a destruição de 3.988 km² de florestas acumuladas entre os meses de janeiro e julho, o primeiro semestre de 2022 foi o mais destrutivo desde 2016, quando se iniciaram as medições.

Apesar do aceleramento do ritmo de desmatamento e da aproximação da época de maior ocorrência de incêndios florestais, Moutinho afirma que o passado brasileiro pode dar esperança para o futuro da preservação ambiental e do crescimento sustentável.

“Podemos ser otimistas. O Brasil já demonstrou que consegue reverter os processos de destruição da Amazônia. Entre 2005 e 2012, derrubamos 80% das taxas de desmatamento e ainda dobramos a produção agropecuária no nosso território. Existem soluções para crescer de maneira sustentável.”

Caminhos para se seguir 

Moutinho também aponta passos fundamentais a serem dados para evitar que a Amazônia não atinja o seu tipping point, quando o bioma passa a produzir mais CO2 do que é capaz de absorver.

“Primeiramente, precisamos defender, avançar e consolidar os direitos dos povos originários e tradicionais e das áreas protegidas da Amazônia. É preciso retomar a homologação de Terras Indígenas e é preciso destinar as florestas públicas que ainda não receberam uma função”.

Apesar das ameaças de grilagem e incêndio florestais, as áreas mais conservadas da floresta são as pertencentes a terras indígenas. De acordo com levantamento do MapBiomas, entre 1985 e 2022, apenas 1,6% de todo o desmatamento ocorreu em terras indígena demarcadas.

Por outro lado, florestas públicas não destinadas têm sofrido com fraudes no CAR (Cadastro Ambiental Rural) e no desmatamento. Dos 56,5 milhões de hectares de áreas não destinada na Amazônia, 18,6 milhões de hectares possuem CARs ilegais sobrepostos às áreas preservadas e, nos últimos 2 anos, as taxas de desmatamento nessas áreas dispararam em 50%.

Além da demarcação de terras, Moutinho também aponta o investimento em inovação e produtividade como caminhos para um agronegócio mais sustentável, conservação das florestas e dos regimes de chuva relacionados à amazônia e fundamentais para a agricultura e o combate ao desmatamento legal dentro de propriedades privadas como soluções fundamentais para o crescimento sustentável no Brasil.

“Hoje temos 20 milhões de hectares da Amazônia que podem ser desmatados legalmente de acordo com o Código Florestal. Sem essas áreas, prejudicamos os rios voadores, não temos alimento e não temos produtividade. Não temos nada. Isso não é só um problema de alimentação e saúde, mas também um problema de segurança nacional”, ressaltou Moutinho.