Juros altos do BC custaram R$ 410 bilhões a mais para o Tesouro em 2021 e 2022

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Por Jeferson Miola

Como explica o economista André Lara Resende em artigo no jornal Valor de 26/12/2022, “os juros, outra vez, ameaçam a retomada do desenvolvimento” do Brasil.

De fevereiro de 2021 a dezembro de 2022, o Banco Central [BC] elevou em 11 pontos percentuais a taxa básica de juros, que passou de 2,75% ao ano para os atuais 13,75%.

Importante lembrar que este surto altista coincide com a aprovação, pelo Congresso Nacional, da Lei Complementar nº 179, de 24/2/2021, que estabeleceu a autonomia do BC e fixou mandatos para o presidente e diretores da instituição.

Lara Resende salienta que o aumento da taxa básica de juros pelo BC representou um custo adicional, para o Tesouro, de 1,75% do PIB em 2021 e 3,65% do PIB em 2022, o que equivale a R$ 136 bilhões a mais em 2021 e R$ 274 bilhões a mais em 2022 em comparação com 2020 – um acréscimo de R$ 410 bilhões desta despesa somente nos dois últimos anos do governo fascista-militar, conforme marcação em azul na tabela:

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O economista recorda que a PEC da Transição, jocosamente chamada de ‘PEC da gastança’ pela Folha de São Paulo e de ‘PEC do estouro’ pela CNN, “autorizou gastos acima do teto num valor de até R$ 169 bilhões” para 2023.

Enquanto os R$ 169 bilhões serão direcionados para quase 30 milhões de beneficiários do bolsa-família e, ainda, para a recomposição dos orçamentos da saúde, educação, cultura, ciência e tecnologia, os R$ 410 bilhões dos juros pagos a mais pelo Tesouro foram apropriados por um restrito grupo de rentistas: instituições financeiras e fundos de investimentos abocanham 53,6%, fundos de previdência ficam com 22,7%, seguradoras com 4%, governo com 4,3% e não residentes ficam com 9,2%.

Lara Resende destaca que o Brasil está dentre os países “que mais agressivamente subiram as taxas de juros depois da pandemia”, mas que ainda assim “tiveram um desaquecimento da economia em relação aos demais países”. Apesar disso, “a inflação média continuou teimosamente alta”.

A equivocada política de juros altos do Banco Central faz do Brasil o paraíso dos rentistas. Com a taxa Selic de 13,75% ante uma inflação anual de 5,79%, “o Brasil tem hoje a taxa básica de juros real mais alta do mundo” – de 8% – que “é mais do dobro da [taxa] do segundo colocado neste triste concurso, o Chile”.

O Banco Central do Brasil está na contramão das principais economias do mundo, cujas taxas reais de juros são negativas; ou seja, os respectivos Tesouros Nacionais oferecem taxas de juros inferiores às taxas inflacionárias, conforme tabela:
comparação taxas de juros e inflação“No mundo hoje, só o Brasil garante aos rentistas uma taxa real perto de 8% ao ano sem risco e com liquidez imediata”. Para Lara Resende, trata-se de “uma excrescência que inviabiliza o investimento”.

Ele sustenta ainda que “o pagamento de juros sobre a dívida é um gasto público como qualquer outro”. A única diferença em relação aos demais gastos públicos é que o pagamento de juros não é contabilizado como despesa primária, e por isso não é computado no teto de gastos, embora os juros “expandem a demanda agregada e podem vir a pressionar a inflação”.

Para Lara Resende, “a manutenção das absurdas taxas de juros do Banco Central desafia a lógica”. Ele denuncia os “profetas do abismo fiscal”, para quem “o gasto primário, para atender necessidades básicas da população carente, seria inflacionário, mas o gasto com o serviço da dívida, com o bolsa rentistas, não”.

Cada ponto percentual de juros equivale a um gasto de aproximadamente R$ 19 bilhões para pagar a dívida de curto prazo. Isso significa, portanto, que os 8% de juros acima da inflação correspondem a cerca de R$ 160 bilhões desviados do orçamento anual diretamente para o rentismo.

A decisão do Banco Central de manter as altas taxas de juros em que pese a mudança de governo em 1º de janeiro e os novos rumos da economia nacional, é injustificável.

A política de juros altos do Banco Central, lesiva às finanças e aos interesses nacionais, legitima a desconfiança do presidente Lula em relação às intenções de Roberto Campos Neto, o presidente bolsonarista da instituição.

É legítimo se suspeitar, portanto, se por trás da política de juros elevados não se esconde um plano de sabotagem do país – além, claro, de significar um esquema de rapinagem monumental do orçamento brasileiro.

* charge: Maringoni


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Este texto foi inicialmente no blog do jornalista Jeferson Miola [Aqui!].

A lógica perversa do microcrédito: faça de todos um capitalista

Microcrédito pode ajudar pessoas físicas, mas segue a lógica do mercado liberal

seedsOs empréstimos para sementes são o principal exemplo de microcrédito. Foto: Pixabay

Por Philip Bles para o Neues Deutschland

Histórias de sucesso como as do livro-texto do liberalismo de mercado: As pessoas pobres que foram deixadas para trás no Sul Global nem sequer têm meios para obter as sementes para a próxima temporada. Mas um banco é misericordioso. Ela ajuda com um pequeno empréstimo. A família toda trabalha muito e depois da colheita ela pode pagar o empréstimo – e ainda ter um pouco a mais. O trabalho duro compensa.

Na verdade, é isso, toda a ideia por trás dos chamados microcréditos, que são vendidos em todo o mundo como ajuda privada ao desenvolvimento há quase 50 anos. Em 2006 eles – mais precisamente: o banco que os popularizou e seus diretores-gerentes – receberam até o Prêmio Nobel da Paz. Agricultores de pequena escala que desejam investir em sementes e equipamentos, mercearias em geral que desejam comprar novos produtos ou um pequeno armazém, todos podem emprestar pequenas quantias de dinheiro a bancos ou ONGs para fazer esses investimentos.

Alguns provedores especificam mais, outros menos requisitos. O Grameen Bank, que recebeu um prêmio do parlamento norueguês, depende da pressão dos pares. Várias pessoas têm que unir forças para conseguir um empréstimo. Isso aumenta o controle social e a vigilância mútua. O banco está em contato próximo com os devedores durante o empréstimo e os aconselha. Ao longo do tempo, também houve uma atribuição preferencial às mulheres. Em 2007, por exemplo, elas representavam cerca de 97% dos mutuários.   É que as mulheres devolvem o dinheiro de forma mais confiável e, portanto, são promovidos adicionalmente.

Acima de tudo, os atores desonestos do mercado de microcrédito têm sido criticados. Muhammad Yunus, economista e fundador do Grameen Bank, criticou outros bancos por altas taxas de juros e mau serviço. Essas ovelhas negras do microcrédito são atraídas pelo retorno e não pela ideia desenvolvimentista da opção de financiamento. Inúmeros documentários em emissoras públicas ou na Internet mostram exemplos e tristes vítimas que agora estão presas na armadilha da dívida.

Bom banco, mau banco – essa distinção pode ser mantida? Para isso, é preciso considerar qual é a finalidade econômica do crédito em geral. Eles superam as restrições orçamentárias, permitindo um investimento que provavelmente trará dinheiro que ainda não está disponível. Em um sistema financeiro bem desenvolvido, mesmo sem capital próprio, você pode obter os meios para comprar meios de produção – tudo que você precisa é de uma boa ideia que você possa vender com segurança.

Modelos de negócios simples de contabilidade de investimentos pressupõem um mercado perfeito. Uma empresa pode emprestar ao infinito e, assim, gerar mais fluxo de caixa. Uma vez que as pessoas físicas e jurídicas agem racionalmente no entendimento liberal de mercado, elas sabem quais transações e empréstimos fazem sentido, ou seja, são rentáveis. Ou o contrário: se uma empresa fizer um empréstimo absurdamente alto, ela terá lucro – caso contrário, os capitalistas não o fariam. O mercado regula o que está acontecendo através do preço.

Na realidade, o crédito permite que as restrições sejam estendidas, mas os limites não são totalmente abolidos. As preferências temporais são muito grandes, os atores – incluindo os bancos – não são neutros ao risco. E, teoricamente, também, a suposição de mercados perfeitos é principalmente rejeitada: informações incompletas levam à desconfiança e tornam necessários mecanismos de controle. Há muitos exemplos de impostores que montam uma empresa, mentem para investidores e ainda ganham dinheiro.

No entanto, o crédito permite que os players do mercado façam maiores investimentos e, portanto, maior crescimento e lucros. Eles espalham o risco por várias pessoas e, assim, ajudam a minimizá-lo. Até a gigante dos smartphones Apple prefere emprestar fundos para construir uma nova sede corporativa do que financiá-la com suas vastas reservas de caixa. Se o projeto de construção se tornar o próximo aeroporto de Berlim, o grupo não ficará sozinho com os custos. Ao mesmo tempo, como um player global confiável, a Apple pode emprestar dinheiro a taxas de juros muito baixas. O risco para os bancos de perdê-lo é pequeno.

É diferente para os pequenos agricultores indianos. Sua credibilidade é questionável. O banco assume um risco significativo ao emprestar dinheiro. As falhas de colheita são mais comuns no Sul Global, que é atormentado pelas mudanças climáticas, tecnologias complexas para aumentar as colheitas não são difundidas e os campos são bastante pequenos. O mercado supostamente neutro, que só olha para as oportunidades de lucro, talvez não seja tão cego quanto à cor da pele, origem e classe afinal.

É aí que entram os institutos de microcrédito. Seu primeiro passo, confiar em pequenos empresários autônomos e abrir opções de financiamento para eles, é definitivamente uma medida que promove a igualdade – em um cenário liberal de mercado: finalmente, os pobres podem jogar um pouco de capitalismo. Mas essa ironia provavelmente não é exata: para alguns, o microcrédito certamente era o caminho para uma vida melhor. Com bons conselhos e condições adequadas, alguns investimentos acabaram por ser um sucesso para ambas as partes. Há muito que os bancos cooperativos operam com sucesso esta ajuda para auto-ajuda como o núcleo do seu negócio.

Por outro lado, há massas de pequenos empresários e autônomos cujo microcrédito acaba na armadilha da dívida. Até o FAZ declarou em 2011 que os empréstimos não eram mais uma “bala de prata”. Os mutuários se queimam até a morte repetidas vezes porque não veem saída para a dívida. Enquanto isso, os agiotas cobram até 120% de juros.

Aí está novamente: a distinção entre boas e más instituições de crédito. Nas gradações é preciso concordar com ela. Taxas de juros exorbitantes e outras dependências não resultam em nenhum sucesso de desenvolvimento. Mas o ajuste orientado para o mercado, que também é promovido pelo “bom” microcrédito, impulsiona ainda mais a apropriação de terras capitalista. O pequeno agricultor que encomenda mais fertilizantes lixivia o solo, a outra fábrica a crédito destrói florestas e aldeias. O crescimento é essencial na luta contra a pobreza, mas os erros que já começaram no Ocidente capitalista não devem se repetir sob novos auspícios no Sul Global.

Isso aponta para um problema mais fundamental: Marx descreve no terceiro volume do “Capital” que o sistema de crédito, juntamente com sua relação entre credores e devedores, surge da simples circulação de mercadorias. Os empréstimos mútuos e as obrigações resultantes elevam a produção de commodities a um novo nível. O crédito encurta a fase de circulação do dinheiro até que ele se torne novamente uma mercadoria. Os microcréditos aceleram ainda mais esse processo. As relações de capital continuam a penetrar em todas as áreas da sociedade. A produção infinita de bens não é o que os mais pobres do Sul Global precisam. Você só quer fazer face às despesas.

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Este texto foi escrito originalmente em alemão e publicado pelo jornal “Neues Deutschland” [Aqui!].

Auditória Cidadã da Dívida e as perguntas que a mídia corporativa não quer fazer

Em 2013, R$ 718 bilhões de reais foram destinados aos serviços da dívida ou mais de 40% do Orçamento Geral da União. Mas parece que esse escândalo não chamou a atenção da grande imprensa. Por que será? Seria porque os grandes conglomerados de comunicação – controlados por pouquíssimas famílias – se beneficiam do alto rendimento da Dívida Pública, assim como os acionistas que investem em suas empresas?

O mesmo vale para a sonegação, que prejudica a arrecadação pública, enquanto os mais pobres não tem escolha de não pagar impostos, uma vez que todo o seu salário é gasto no decorrer do mês no consumo, que é altamente taxado.

E sem esquecer a dívida ativa (aquela que tem a União como credora) que chegou este ano ao patamar de R$ 1,2 trilhões.
Quando é que os microfones dos jornalistas e as lentes dos fotógrafos vão se virar ao problema do endividamento público?

FONTE:https://www.facebook.com/auditoriacidada.pagina/photos/a.568059073252337.1073741829.179192175472364/814795391912036/?type=1&theater

A verdade oculta: União gasta 47% do orçamento com pagamentos de juros aos bancos!

União gasta 47% do orçamento no pagamento da dívida pública

 Aline Louise – Hoje em Dia
Enquanto municípios, estados e a União enfrentam problemas com as contas públicas, arrochando os investimentos em diversas áreas, o valor gasto pelo governo federal com a dívida pública deve crescer 35% em relação à previsão para 2014. É o que demonstra o Projeto de Lei Orçamentária para 2015 enviado ao Congresso pela União. O texto prevê despesas de R$ 2,863 trilhões, dos quais R$ 1,356 trilhão – 47% – destinam-se ao pagamento de juros e amortizações da dívida pública.
 
O cálculo é do Movimento Auditoria Cidadã da Dívida, que reforça que este valor representa 13 vezes mais que os recursos previstos para a saúde e 13 vezes mais que para educação, ou 54 vezes o estimado para o transporte. 
 
O movimento, que conta com apoio de mais de 45 entidades nacionais e várias regionais, luta há anos para que a dívida pública brasileira passe por uma auditoria. “Feita pelo poder público, mas com participação cidadã”, diz a economista Maria Eulália Alvarenga, coordenadora do Núcleo Mineiro da Auditoria Cidadã da Dívida. 
 
Ela explica que diversos levantamentos, inclusive os realizados pela CPI da Dívida Pública, que encerrou os trabalhos em 2010, apontam irregularidades e ilegitimidades no cálculo total da dívida, com suspeita até de contratos vencidos que continuam sendo pagos.
 

Juros indevidos

O economista Rodrigo Ávila, que também integra o movimento, diz ainda que o valor exorbitante da dívida pública hoje é resultado da cobrança de juros indevidos. “A gente sabe que a dívida decorre de juros sobre juros, não de um excesso de gastos sociais. Nos últimos 20 anos fizemos superávit primário (economia do governo para pagar juros da dívida) e ela cresceu por ela mesma. Existe uma súmula do Supremo Tribunal Federal que diz que cálculo de juros compostos é ilegal”, acrescenta. 
 
Maria Eulália lembra que este problema se arrasta há anos, já que a dívida brasileira começou a tomar a forma que tem hoje na época da ditadura militar. “De lá para cá, nenhum governo enfrentou isso”, destaca.
 
De acordo com Rodrigo Ávila, sem acesso a informações “transparentes” sobre a dívida pública, conforme solicitado, sem sucesso, pela associação e pela própria CPI, não é possível estimar em quanto ela poderia ser reduzida depois de feita a auditoria e aplicados os parâmetros “justos”.
 
Porém, segundo ele, a queda poderia ser drástica. “O Equador, por exemplo, fez auditoria que começou em 2007 e teve resultados a partir de 2009. Lá, eles conseguiram uma redução de 70% na dívida externa com bancos privados, dívida em títulos com o setor financeiro, uma dívida bem parecida com a do Brasil”. 
 

Auditoria Cidadã contesta dado oficial

 Dados do Tesouro Nacional revelam que, em setembro, o estoque da dívida pública federal alcançou R$ 2,183 trilhões. A Auditoria Cidadã da Dívida contesta. “O governo contabiliza de forma equivocada, de modo a tentar reduzir o peso da dívida no orçamento”, diz o economista Rodrigo Ávila. Nos cálculos da organização, a dívida hoje superaria os R$ 3 trilhões.
 
Enquanto o governo alega gastar cerca de 5% do Produto Interno Bruto com a dívida, a associação fala em algo em torno de 15% do PIB. “O governo desconsidera nos seus cálculos as amortizações da dívida. Eles usam um dado do Banco Central que relaciona apenas juros, mesmo assim descontadas algumas parcelas. Mas a verdade é que o governo gasta dinheiro vivo do orçamento para pagar amortizações da dívida”, explica Rodrigo Ávila.
 
Ainda de acordo com o Tesouro Nacional, em setembro o país não conseguiu fazer superávit para amortizar os juros da dívida, registrando déficit de R$ 20,4 bilhões, contra o de R$ 10,4 bilhões de agosto. “Quando o governo não tem dinheiro para amortizar a dívida, faz contingenciamento dos gastos sociais. O pagamento da dívida tem preferência sobre todos os investimentos, exceto os vinculados constitucionalmente. Isso quer dizer que o Estado retira dinheiro de gastos sociais, salários, educação, saúde para pagar a dívida”, diz a economista Maria Eulália Alvarenga.
 

Tesouro e associação divergem sobre o destino do dinheiro 

 O dinheiro gasto com a dívida pública, que é muito superior ao aplicado em saúde, educação, segurança pública e outros setores prioritários, vai para as mãos de poucos. Segundo a Auditoria Cidadã da Dívida, o maior montante beneficiaria poucos credores. Segundo dados do Tesouro Nacional relativos a agosto deste ano, as instituições financeiras detêm 28,4% da dívida pública, seguidas dos fundos de investimentos, com 21,2%.
 
A associação apresenta outros dados. De acordo com o movimento, os bancos nacionais e estrangeiros são detentores de 47,24% da dívida pública federal. Este percentual, somado com o que está nas mãos de investidores estrangeiros e das seguradoras, que pertencem principalmente aos grandes bancos, faz com que esse grupo fique com 62% do estoque da dívida. 
 
A diferença, segundo a organização, acontece mais uma vez porque o governo desconsidera alguns aspectos importantes, como as “Operações de Mercado Aberto”, que representam a dívida do Banco Central com os bancos, “conforme comprovado na recente CPI da Dívida Pública na Câmara dos Deputados”, destaca relatório da organização.
 
Os economistas da associação dizem ainda que os fundos de investimentos representam apenas 17,7% do estoque da dívida. “Isso desfaz a ideia de que é a classe média que ganha com a dívida quando investe no Tesouro Direto ou em fundos de investimento. Claro que tem um percentual pequeno que se enquadra neste caso, mas isso serve mais para legitimar a dívida. O governo faz isso para dizer que ela beneficia o povo como um todo. Mas quando pedimos informações para saber qual percentual é de classe média e qual é de grandes investidores, o governo diz que não sabe ou não pode responder por causa do sigilo bancário”, diz Rodrigo Ávila.
 
Para Maria Eulália Alvarenga, a força do setor econômico na política brasileira é um dos entraves para que a auditoria da dívida seja feita. “Se mudarmos a forma de financiamento das campanhas eleitorais, isso teria reflexo na dívida, porque o poder do capital nas eleições do Brasil é muito grande. O governo e o Congresso são eleitos com dinheiro desses grupos econômicos, que não têm interesse de resolver o impasse. Quando as empresas financiam a campanha de um político querem alguém que beneficie esse sistema, porque empresário não faz doação, faz investimento. Quem paga a banda, escolhe a música”. 
 
Maria Eulália defende uma reforma política que alcance a questão do financiamento das campanhas eleitorais como um dos primeiros passos para se conseguir fazer a auditoria da dívida pública. A economista ainda lembra que a auditoria está prevista na Constituição de 1988 e precisa ser feita pelo Congresso Nacional.
Editoria de Arte/Hoje em Dia
União gasta 47% do orçamento no pagamento da dívida pública
FONTE: http://www.hojeemdia.com.br/noticias/politica/uni-o-gasta-47-do-orcamento-no-pagamento-da-divida-publica-1.282362

Mídia e oposição engrossam o falso e fiscalista coro conservador pra encurralar governo

Por Paulo Passarinho

O Banco Central voltou a elevar a taxa Selic, a taxa básica de juros, dando sequência a um processo iniciado em abril desse ano. Na ocasião, a Selic estava em 7,25% ao ano e foi elevada para 7,5%. Agora, esta taxa chega a 10%, após seis consecutivas elevações.

Com essas medidas, somos o país que mais elevou a sua taxa básica de juros ao longo de 2013 e nos mantemos como o país com a mais elevada taxa real de juros, do mundo. Uma brutal contradição, para um país que, segundo o próprio governo, necessita “acelerar o seu crescimento econômico”. Afinal, o custo do dinheiro não é uma variável fundamental para o maior, ou menor, incentivo a novos investimentos produtivos?

Mas, as contradições não se limitam a esse ponto. O processo de elevação da taxa Selic foi iniciado sob o pretexto de se combater a inflação. Contudo, esse tipo de “solução” para o problema inflacionário está vinculado, tecnicamente, a problemas decorrentes da existência de uma suposta pressão de demanda.

No caso brasileiro atual, não há indicadores que possam nos assegurar que haja uma pressão das famílias, dos governos ou das próprias empresas que não esteja sendo possível de ser atendida pela estrutura de oferta que temos hoje.

Não fosse isso, como explicar, por exemplo, os níveis de ociosidade da indústria ou o estoque de terras disponíveis para utilização produtiva ou para um mais adequado aproveitamento econômico? As razões da existência de pressões inflacionárias permanentes em nossa economia estão vinculadas, de forma mais precisa, à dependência de produtos e insumos importados (completamente sensíveis à taxa de câmbio), ao heterogêneo e diversificado setor de serviços (muito sensível aos reajustes reais do salário mínimo) e aos eternos desequilíbrios e tensões de uma economia extremamente oligopolizada, pelo lado da oferta.

Com um elevado grau de concentração da renda e poder de mercado nas mãos de uma minoria e uma massa de pequenos e médios produtores ao lado de consumidores com níveis de renda muito baixos, o conflito distributivo é permanente. Os agentes econômicos mais poderosos querendo manter a ferro e fogo as suas privilegiadas posições de ganho no jogo econômico, e um gigantesco universo de agentes econômicos buscando ampliar a sua participação no bolo econômico, de acordo com as oportunidades que vão se abrindo, mas sempre de forma ávida e rápida. Afinal, para essa maioria, os níveis de remuneração e ganhos possíveis são quase sempre instáveis e temporários, no contexto de uma economia que se concentra cada vez mais.

Mas, a grande ou maior contradição dessa reiterada política de juros altos – que, junto com a valorização do real frente ao dólar, é característica do modelo econômico em curso no Brasil, desde o Plano Real – é a nossa situação fiscal.

Estamos assistindo a uma enfadonha polêmica envolvendo o governo, a oposição de direita e a mídia dominante sobre uma suposta leniência com as chamadas metas de superávit fiscal. O vilão seria o governo. A oposição de direita, em coro com os analistas econômicos da mídia e dos bancos, acusa o governo de perdulário, de deixar as despesas correntes do governo se elevarem, de não enfrentar – mais uma! – a reforma do sistema previdenciário, além de outras baboseiras.

O raciocínio circular, que procura dar racionalidade a essa crítica de natureza fiscal, e falsa, alega que na medida em que o governo mostra fraqueza em cortar despesas – especialmente, despesas correntes – e, ao invés de ampliar o superávit primário, diminuí-lo, os credores do governo veem com cada vez maior desconfiança a elevação da dívida bruta do Tesouro e passam, por isso, a cobrar taxas de juros cada vez mais elevadas, para o refinanciamento desta própria dívida.

O sofisma desta argumentação é que o fator mais dinâmico do endividamento público é justamente a despesa corrente com o pagamento de juros! A contenção de todas as demais despesas correntes e de investimentos é realizada justamente para – teoricamente – se pagar cada vez mais parcelas da dívida em curso, “sem se gastar mais do que se arrecada”, e assim, diminuir o endividamento do Estado. E é isso que, intensivamente, estamos fazendo desde o acordo com o FMI, em vigor a partir de 1999. Há 14 anos, portanto.

Entretanto, desde então, a dívida jamais deixou de crescer de forma espetacular. Em valores nominais e levando-se em conta o volume de títulos públicos nas mãos do Banco Central – para as operações de curto-prazo – e dos credores da dívida pública, o valor desta dívida saltou de R$ 344 bilhões para mais de R$ 2,8 trilhões, de acordo com os dados disponíveis até o mês de setembro desse ano; em percentuais do PIB, a evolução do endividamento foi de 35% para 64%. São dados, portanto, que evidenciam que o motor do endividamento não está relacionado ao fato de o governo gastar mais do que arrecada, com as suas despesas com a manutenção da máquina pública, remuneração dos seus servidores, investimentos ou pagamento de obrigações constitucionais, como é o caso das aposentadorias e pensões do INSS.

Curiosamente, a despesa corrente que desequilibra as despesas públicas é o pagamento dos juros, jamais questionado pelos economistas e analistas vinculados à defesa do modelo macroeconômico defendido pelo sistema financeiro. É como se este tipo de despesa fosse “natural”, impossível de ser questionada. E o motor dessa despesa é a taxa de administração da dívida pública, sempre igual ou superior à própria taxa Selic. Desse modo, por mais que “economizemos” recursos para a formação do superávit primário, vamos continuar a observar a elevação do endividamento público, com todas as manipulações interpretativas que temos visto ao longo de todos esses anos. Além, é importante frisar, das inúmeras ilegalidades cometidas pelo Banco Central, conforme demonstrado no relatório alternativo da CPI da Dívida Pública, elaborado pelo deputado Ivan Valente, do PSOL-SP, e presidente desta importante iniciativa parlamentar, concluída em 2010.

Paulo Passarinho é economista e apresentador do programa de rádio Faixa Livre.

FONTE: http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=9126%3Amanchete291113&catid=34%3Amanchete&