Setembro em chamas: focos de calor são 147% maior que o ano passado

Segundo dados do Inpe, o total de queimadas na Amazônia no mês é o maior dos últimos 12 anos

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Sobrevoo em Porto Velho, na região da Amacro (Amazonas, Acre e Rondônia), em uma área com cerca de 8.000 hectares de desmatamento – a maior em 2022 – Foto: Nilmar Lage / Greenpeace Brasil

São Paulo, 30 de setembro Dados recém divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) nesta sexta-feira (30)¹, a dois dias das eleições, mostram que no mês de setembro houve um aumento enorme de queimadas na Amazônia, não apenas em relação ao mesmo período no ano passado, mas sendo o maior número desde 2010. Enquanto no mês de setembro de 2021 foram registrados 16.742 focos de calor no bioma, neste ano houve 41.282. O Estado Pará é o recordista de queimadas, com 12.696 focos de calor registrados, representando 30,8% do total, seguido por Amazonas (8.659) que apesar de segundo lugar no total de focos teve o mês com o recorde de queimadas desde o início do monitoramento em 1988, Mato Grosso (6.950), Acre (6.693) e Rondônia (5.354).

Esse aumento já era esperado uma vez que a primeira semana de setembro de 2022 concentrou mais focos de calor do que setembro de 2021 inteiro: em apenas nove meses, foram 75.592 focos de incêndio contra os 75.090 registrados ao longo de 2021.

Para Rômulo Batista, porta-voz de Amazônia do Greenpeace Brasil, essa escalada que tem destruído cada vez mais o bioma e a sua rica biodiversidade precisa ter fim: “Estamos a dois dias das eleições que serão decisivas para o futuro do Brasil e todo o planeta. É necessário que a população brasileira escolha candidaturas que tenham comprometimento com a preservação do meio ambiente, com o combate ao desmatamento e às queimadas, além de proteger os povos da floresta. Não podemos mais compactuar com essa política de destruição que acontece na Amazônia, que é fruto da falta de uma política ambiental nos últimos anos e de um congresso que cria projetos de lei como a legalização da grilagem de terras, abertura das terras indígenas para atividades destrutivas e acaba com o licenciamento ambiental. É o momento de votar consciente e pensando na Amazônia”.

¹ Dados coletados às 18:30.

Amazônia em chamas tem cidades sitiadas pelo fogo

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A mídia corporativa está propositalmente ocultando a grave situação que ocorre na Amazônia brasileira em função do número recorde de queimadas, propiciado pelo avanço agressiva da franja de desmatamento em áreas ainda relativamente intocadas daas florestas ali existentes. Mas a observação da imagem abaixo pemite observar duas coisas básicas: o número recorde de focos de calor e a concentração dos mesmos em torno de várias cidades importantes nos estados da região Norte, especialmente nos estados do Amazonas, Acre e Rondônia e Mato Grosso.

A principal razão para a ocultação objetiva do que está acontecendo na Amazônia é simples: impedir que seja feito um debate mais substancial sobre a relação entre a agricultura extensiva de exportação de commodities e a destruição da biodiversidade brasileira, bem como sobre os povos indígenas.

O problema é que a grossa camada de fumaça que está sendo gerada pelo número recorde de queimadas já começou no centro sul do Brasil e poderá propiciar situações críticas na qualidade do ar em regiões metropolitanas que já convivem com a poluição gerada localmente como no caso de São Paulo (ver imagem abaixo).

sp fumaçaNo dia de ontem (09/09), a cidade de SP amanheceu coberta por fumaça cinza e moradores relatam cheiro de queimado — Foto: Reprodução/TV Globo

Talvez com a chegada das nuvens de fumaça, em vez das que traziam chuva, sirva para que o que está acontecendo na Amazônia possa ocupar um mínimo de espaço dentro da agenda da mídia corporativa e, por extensão, do debate eleitoral que agora ignora este problema.

E é como eu digo sempre, o agro não é pop, o agro é fogo.

 

Relatório técnico documento processo de contaminação por agrotóxicos nas águas do Pantanal

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O estado de Mato Grosso registrou o uso de 142.738,855 kg de princípios ativos de agrotóxicos e é o estado brasileiro que mais utiliza substâncias tóxicas na agropecuária. Os municípios de Poconé, Cáceres e Mirassol D’Oeste foram afetados com importante quantidade de substâncias que contaminam o solo e principalmente os recursos hídricos levando assim doença e destruição dos bens comuns.

Essas e outras conclusões alarmantes estão reunidas no Relatório Técnico: “Agrotóxicos no Pantanal”, realizado pela educadora da FASE, mestre em Saúde Pública, Fran Paula; com a colaboração da professora Marcia Montanari, do Instituto de Saúde Coletiva da UFMT; Naiara Andreoli Bittencourt, advogada da Terra de Direitos e Lucinéia Freitas do MST e com revisão de Maria Emília Pacheco, assessora do Grupo Nacional da FASE.

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Para baixar a íntegra do relatório, basta clicar [Aqui!]

Amazônia e Pampa lideram queimadas de janeiro a julho de 2022

Dados do Monitor do Fogo do MapBiomas mostram que queimadas cresceram 7% na Amazônia e 3.372% no Pampa nos sete primeiros meses do ano

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O Brasil queima no Norte e no Sul de seu território. Dados do MapBiomas mostram que 2.932.972 hectares foram consumidos por queimadas nos primeiros sete meses do ano. Embora maior que o estado de Alagoas, essa área é 2% menor do que a que foi consumida pelo fogo no ano passado. Porém na Amazônia e no Pampa a situação é diferente: esses são os únicos biomas com aumento na área afetada pelo fogo. Na Amazônia o fogo atingiu uma área de 1.479.739 hectares, enquanto que no Pampa foram 28.610 hectares queimados entre janeiro e julho de 2022. Nesse período, foi registrado um aumento de 7% (ou mais de 107 mil hectares) na Amazônia e de 3372% no Pampa (27.780 ha).

Esses dados fazem parte da nova versão do Monitor do Fogo, que o MapBiomas lança hoje (18/08) em sua plataforma. Ela passará a fazer uso de imagens do satélite europeu Sentinel 2, que tem duas importantes características para esse tipo de mapeamento: ele passa a cada cinco dias sobre o mesmo ponto, aumentando a possibilidade de observação de queimadas e incêndios florestais; além disso, tem resolução espacial de 10 metros. Isso acrescenta cerca de 20% a mais na área queimada em relação aos dados do Mapbiomas Fogo coleção 1, que traz o histórico de fogo anualmente desde 1985. Também permite que a partir de agora os dados sejam divulgados mensalmente.

O Monitor do Fogo do MapBiomas difere e complementa o monitoramento do INPE porque avalia as cicatrizes do fogo, e não os focos de calor. O motivo é simples: dados de focos de calor representam a ocorrência de fogo (e potencialmente contribuem para seu combate) mas não permitem avaliar a área queimada. O Monitor de Fogo, por sua vez, revela em tempo quase real (diferença de um mês) a localização e extensão das áreas queimadas, facilitando assim a contabilidade da destruição que é apontada pelos focos de calor da plataforma do INPE.

“Este produto é o único nessa frequência e resolução a fornecer esses dados mensalmente, o que facilitará muito a prevenção e combate aos incêndios, indicando áreas onde o fogo tem se adensado”, explica Ane Alencar, coordenadora do Monitor do Fogo do MapBiomas. “Além do poder público, é uma ferramenta de grande utilidade para a iniciativa privada, como o setor de seguros, por exemplo”, completa.

Os dados dos sete primeiros meses de 2022 mostram que três em cada quatro hectares queimados foram de vegetação nativa, sendo a maioria em campos naturais. Porém, um quinto de tudo que foi queimado no período foi em florestas. Metade das cicatrizes deixadas pelo fogo localizam-se no bioma Amazônia, onde 16% da área queimada corresponderam a incêndios florestais, ou seja, áreas de floresta que não deveriam queimar.

O Mato Grosso foi o estado que mais queimou nos sete primeiros meses de 2022 (771.827 hectares), seguido por Tocantins (593.888 hectares) e Roraima (529.404 hectares). Esses três estados representaram 64% da área queimada afetada no período.

No Cerrado, a área queimada entre janeiro e julho de 2022 (1.250.373 hectares) foi 9% menor que no mesmo período do ano passado, porém 5% acima do registrado em 2019 e 39% maior que em 2020. O mesmo padrão foi identificado na Mata Atlântica, onde houve uma queda de 16% em relação a 2021 (ou 14.281 hectares), porém um crescimento de 11% em relação a 2019 e 8% na comparação com 2020. O Pantanal, por sua vez, apresentou a menor área queimada nos últimos quatro anos (75.999 hectares), com 19% de redução de 2022 para 2021 em relação a área queimada de janeiro a julho.

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O Cerrado sofre com as queimadas neste período de estiagem, a baixa umidade no DF no fim de semana levou a Defesa Civil a declarar estado de emergência na capital(Jose Cruz/Agência Brasil)

Dentro os tipos de uso agropecuário das áreas afetadas pelo fogo, as pastagens se destacaram com 14% da área queimada nos sete primeiros meses de 2022.

O primeiro e o segundo lugar da lista de municípios que mais queimaram entre janeiro e julho de 2022 são ocupados por Normandia e Pacaraima, ambas em Roraima. Em julho de 2022, os municípios de Formosa do Araguaia e Lagoa da Confusão, no Tocantins, foram os que tiveram maior área queimada. Neste último, fica parte do Parque Nacional do Araguaia.

Sobre MapBiomas

Iniciativa multi-institucional, que envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia, focada em monitorar as transformações na cobertura e no uso da terra no Brasil, para buscar a conservação e o manejo sustentável dos recursos naturais, como forma de combate às mudanças climáticas. Esta plataforma é hoje a mais completa, atualizada e detalhada base de dados espaciais de uso da terra em um país disponível no mundo. Todos os dados, mapas, método e códigos do MapBiomas são disponibilizados de forma pública e gratuita no site da iniciativa. O Prêmio MapBiomas, realizado em parceria com o Instituto Ciência, visa estimular e valorizar trabalhos que utilizem dados de qualquer iniciativa do MapBiomas.

TJ do Mato Grosso reabre caso de um parque estadual maior que a cidade de Nova York

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Um macaco-aranha endêmico, uma espécie ameaçada de extinção devido à perda de habitat, sobe em um galho no Parque Estadual Cristalino II, no estado de Mato Grosso, Brasil, em julho de 2019. Rodrigo Vargas/AP

RIO DE JANEIRO – Depois de declarar a decisão final, o Tribunal de Justiça do Mato Grosso voltou atrás na segunda-feira (08/08) e reabriu um processo que invalida uma área protegida na Amazônia brasileira. A reversão judicial é um revés para um pecuarista apelidado de pior inimigo da floresta tropical na Amazônia brasileira

O Ministério Público de Mato Grosso anunciou que era a favor da reabertura, dizendo que o TJ/MT não notificou ao órgão sua decisão, como é exigido em ações que envolvem o interesse público. O TJ/MT confirmou a reversão à Associated Press.

O Parque Estadual Cristalino II se estende por 292.000 acres, uma área maior que a cidade de Nova York, e que fica na zona de transição entre a Amazônia e os biomas mais secos do Cerrado.  O Parque abriga o endêmico macaco-aranha-de-testa-branca (Ateles marginatus), uma espécie ameaçada de extinção devido à perda de habitat.

Por 3 a 2, o TJ/MT havia decidido que a criação do parque pelo governo em 2001 era ilegal porque ocorreu sem consulta pública. O demandante do processo de anulação do Parque Estadual Cristalino II  é uma empresa ligada a Antonio José Rossi Junqueira Vilela, que foi multado em milhões de dólares por desmatamento no Brasil e roubo de milhares de hectares de floresta amazônica, inclusive dentro desta área protegida.

Em 2016, a família Vilela ganhou as manchetes no Brasil por estar no centro de uma operação histórica de fiscalização contra o desmatamento na Amazônia. O procurador-geral do Brasil o chamou de o maior desmatador de terras da Amazônia.

O governo estadual do Mato Grosso não recorreu no processo  alegando razões técnicas, o que levou o tribunal a declarar a decisão final em abril.

O Mato Grosso, o maior estado produtor de soja do Brasil, é administrado pelo governador Mauro Mendes, político pró-agronegócio e aliado do presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro, que repetidamente disse que o Brasil tem muitas áreas protegidas e prometeu não criar mais delas. .

Os fatos legais aconteceram nos últimos meses, mas foi só na semana passada que a imprensa local deu a notícia da dissolução do parque, provocando a mobilização de organizações ambientalistas do Brasil. Agora, com o processo reaberto, o Ministério Público Estadual do Mato Grosso pretende recorrer aos tribunais superiores em nível nacional. Enquanto isso, o governo estadual não pode reverter a criação do parque como havia anunciado na semana passada.

“O parque continua”, disse Edilene Amaral, consultora jurídica do Observatório Socioambiental de Mato Grosso, uma rede sem fins lucrativos, em comunicado. “Qualquer atividade incompatível com a proteção total continua proibida e sujeita a penalidades.”


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Este texto escrito originalmente em inglês foi publicado pela NPR [Aqui!].

A extração ilegal de madeira atinge o núcleo intocado da Amazônia, mostram pesquisas “aterrorizantes”

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  • Imagens de satélite mostram que a atividade madeireira está se espalhando de áreas periféricas da Amazônia em direção ao núcleo da floresta tropical, de acordo com pesquisas inovadoras.
  • O mapeamento por satélite de sete dos nove estados amazônicos do Brasil mostrou um padrão “assustador” de avanço da exploração madeireira que desmatou uma área três vezes o tamanho da cidade de São Paulo entre agosto de 2019 e julho de 2020 sozinho.
  • No nível estadual, a falta de transparência nos dados madeireiros torna impossível calcular quanto da produção de madeira é ilegal, dizem os especialistas.
  • Evidências de corte em reservas indígenas e unidades de conservação – onde a extração de madeira é proibida – deixam claro que a extração ilegal de madeira é responsável por grande parte da atividade, segundo o relatório.
  • Um dos principais temores sobre a Amazônia brasileira está começando a se materializar: a exploração madeireira está começando a se mover da periferia da floresta em direção ao núcleo do bioma, mostram novas pesquisas inovadoras.
Por  Juliana Ennes para o Mongabay News

Rastreando árvores cortadas por meio de dados de mapeamento de satélite, a pesquisa descobriu que as atividades madeireiras desmataram 464.000 hectares (1,15 milhões de acres) da Amazônia brasileira – uma área três vezes o tamanho da cidade de São Paulo – entre agosto de 2019 e julho de 2020. Mais da metade (50,8%) da exploração madeireira estaria concentrada no estado de Mato Grosso, seguido por Amazonas (15,3%) e Rondônia (15%).

“Há cerca de 20 anos, temíamos que a floresta fosse devastada no chamado ‘arco do desmatamento’ e o movimento migrasse das áreas periféricas em direção à região central da Amazônia”, disse Marco Lentini, coordenador sênior do projeto do Imaflora , uma ONG de desenvolvimento sustentável envolvida no projeto de mapeamento. “Nosso mapa mostra que isso está acontecendo agora: a extração de madeira está indo em direção ao núcleo da Amazônia.”

Ele disse que o padrão de extração era de “migração de fronteira”, acrescentando: “Isso é algo que nos apavora. Temos que estabilizar essa fronteira.”


A maior apreensão de madeira ilegal da história do Brasil viu a polícia recuperar 226.000 metros cúbicos (8 milhões de pés cúbicos) de madeira na fronteira entre os estados do Amazonas e Pará em março de 2021. Imagem cortesia da Polícia Federal no estado do Amazonas.

A pesquisa, divulgada na semana passada, foi desenvolvida pela rede Simex formada por quatro organizações ambientais brasileiras sem fins lucrativos: Imazon, Imaflora, Idesam e Instituto Centro de Vida (ICV). As instituições afirmam que formaram a aliança para mapear, pela primeira vez, o desmatamento em quase toda a Amazônia. Eles conseguiram mapear sete dos nove estados que compõem a Amazônia brasileira – Acre, Amazonas, Amapá, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Roraima – que juntos respondem por quase 100% da produção de madeira da floresta tropical.

Embora o mapeamento não tenha sido capaz de especificar a quantidade exata de árvores extraídas ilegalmente de florestas intocadas, a maior parte das ilegalidades concentrou-se na tríplice fronteira entre Mato Grosso, Amazonas e Rondônia, onde foi detectada intensa atividade madeireira em uma reserva indígena e uma unidade de conservação. , segundo Vinicius Silgueiro, coordenador de inteligência territorial do ICV, organização sem fins lucrativos com sede em Mato Grosso. “As áreas protegidas nesta região apresentam grande presença de exploração madeireira e baixo nível de fiscalização, com muitos indícios de ilegalidade.”

O mapa do Sismex cobre as áreas onde a Polícia Federal realizou a maior apreensão de madeira ilegal da história do Brasil no início deste ano, recuperando 226 mil metros cúbicos (8 milhões de pés cúbicos) de madeira na fronteira entre os estados do Amazonas e Pará. Essa operação desencadeou a demissão do polêmico ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em junho, após ele ter pedido a liberação da madeira.

Dez municípios responderam por quase 200.000 hectares (494.000 acres) de exploração madeireira, cinco deles em Mato Grosso, dois no Amazonas e os demais em Roraima, Acre e Pará. A maior parte da atividade madeireira, 78%, supostamente ocorreu em propriedades privadas. As autorizações legais são freqüentemente usadas para mascarar a extração de madeira em áreas restritas por meio de um processo conhecido como lavagem de árvores, de acordo com as descobertas.

Um estudo mais detalhado desenvolvido pelo Imazon com foco no Pará mostra que mais da metade da exploração madeireira no estado não recebeu nenhuma autorização governamental. De agosto de 2019 a julho de 2020, 50.139 hectares (123.896 acres) de floresta foram devastados, sendo 55% sem autorização dos órgãos ambientais. Isso representou um crescimento de 20% em relação aos 12 meses anteriores, quando a extração não autorizada era de 38%, segundo o Imazon.

O mapa desenvolvido pela rede Simex mostra as concentrações da atividade madeireira no estado de Mato Grosso, seguido por Amazonas e Pará. Imagem cortesia da Simex. Antes do advento do projeto Simex , apenas Pará e Mato Grosso tinham mapas de satélite identificando áreas onde ocorria a exploração madeireira. O Imazon passou a monitorar o Pará em 2008 e o ICV aderiu à iniciativa em 2013, monitorando Mato Grosso. As instituições afirmam que esses estados foram seu foco inicial para a transparência de dados devido à alta atividade madeireira.

A extração de madeira não limpa a área florestal tão extensivamente quanto o desmatamento, e o crescimento da vegetação sobre os locais de extração pode dificultar a visualização via satélite, de acordo com Vinicius Silgueiro, coordenador de inteligência territorial do ICV.

“Com a exploração madeireira, diferente do desmatamento, ainda existe alguma cobertura vegetal. Podemos identificar cicatrizes na floresta feitas pelas estradas utilizadas para a movimentação das toras, bem como áreas desobstruídas para armazenamento. Existe toda uma infraestrutura em torno da exploração madeireira que nos ajuda a encontrar essas áreas ”, disse Silgueiro à Mongabay em entrevista por telefone.

Na maioria dos estados, no entanto, ele disse que é quase impossível verificar quando a atividade madeireira é ilegal, devido à falta de transparência ou barreiras tecnológicas. Muitas vezes, acrescentou, os certificados das atividades florestais legais são arquivados em papel, dificultando o cruzamento da base de dados de certificados com as imagens. Os únicos dois estados com bancos de dados digitalizados são Pará e Mato Grosso. 

Atividade madeireira no estado de Rondônia, com árvores já marcadas e aguardando transporte. Imagem cortesia de Vicente Sampaio / Imaflora.

Outro desafio é que os certificados que permitem o manejo florestal fornecem as coordenadas de localização, mas não o arquivo de formato – o mapa digital – da área, o que dificulta os esforços para identificar por meio de imagens de satélite onde ocorre a extração ilegal de madeira, segundo Lentini.

Apesar desses desafios, há casos em que fica muito claro que a exploração madeireira é ilegal, disse Lentini: quando acontece em áreas protegidas como reservas indígenas e unidades de conservação. O estudo constatou que 6% da extração madeireira na Amazônia, ou 28.112 hectares (69.466 acres), estava em unidades de conservação durante o período de estudo; 5% estava em reservas indígenas, em 24.866 hectares (61.445 acres). “Essas áreas não têm nenhum tipo de autorização para extração legal”, disse Silgueiro.

Um relatório de 2018 do Greenpeace, intitulado “Árvores imaginárias, destruição real ”, destacou a falta de confiabilidade dos sistemas de licenciamento e controle florestal do Brasil, o que torna mais difícil combater a fraude.

“Uma falha crítica na governança florestal dos estados amazônicos está na fraqueza do processo de licenciamento para planos de manejo florestal sustentável”, disse o relatório. Em sua maioria, não são realizadas inspeções de campo antes da elaboração dos planos de manejo, ou essas inspeções são de baixa qualidade, de acordo com o relatório.

“Isso permite que os engenheiros florestais … superestimem os volumes ou adicionem de forma fraudulenta árvores de alto valor comercial ao inventário florestal da área. Posteriormente, os órgãos estaduais emitem créditos pela colheita e movimentação dessa madeira inexistente ”, que será desmatada de florestas em terras indígenas, áreas protegidas ou públicas, segundo apuração do Greenpeace. 

Autoridades ambientais do estado do Pará apreendem madeira ilegal em operação de fiscalização em 2021. Imagem cortesia da Agência Pará.

Silgueiro, do ICV, disse que a extração legal e ilegal persiste em proporções em torno de 60:40. “Quanto mais documentação legal houver para explorar a floresta, mais madeira ilegal haverá”, disse ele. Ele acrescentou que a fraude madeireira só vai parar quando todo o processo se tornar rastreável por meio de tecnologias que ajudam a estimar o volume real de produção de madeira e rastrear cada árvore individualmente. “A rastreabilidade da produção é fundamental”, disse Silgueiro. “Essa tecnologia já existe, mas os estados produtores demoram a adotá-la”.

O impacto ambiental da extração ilegal de madeira é imenso. Estudos recentes mostram que a Amazônia brasileira é agora uma fonte líquida de CO2 , em vez de ser um sumidouro de dióxido de carbono como seria de se esperar, devido a fatores que incluem a exploração madeireira.

Imagem do banner:  Um caminhão carrega toras cortadas da Floresta Amazônica no estado de Rondônia. Imagem cortesia de Vicente Sampaio / Imaflora.

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Este texto foi originalmente escrito em inglês e publicado pelo Mongabay News [Aqui!].

Pesquisadoras aproximam ciência e combate ao fogo em MT

Nos três biomas do estado, grupo acompanha brigadas do Corpo de Bombeiros para aprimorar controle de incêndios e queimadas; previsão é de que fogo seja maior este ano

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Quando: de quinta-feira, 5 de agosto, a sábado, 14 de agosto

Onde: Chapada dos Guimarães (Cerrado), Poconé (Pantanal) e Marcelândia (Amazônia)

Um grupo de pesquisadoras do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e do Woodwell Climate Research Center, dos Estados Unidos, irá integrar, a partir desta quinta-feira, uma expedição para acompanhar o Batalhão de Emergências Ambientais do Corpo de Bombeiros de Mato Grosso em ações de prevenção e combate ao fogo. A proposta é percorrer os três biomas do estado para colher dados e identificar problemas, a fim de pensar soluções para o controle de incêndios e queimadas, que se agravam com o período da seca no país.

“Vamos investigar quais são os problemas enfrentados pelos bombeiros e que temos potencial de solucionar ao melhorar como utilizamos e combinamos os dados de satélites. Existem quebras na informação, em alguns momentos, entre quem a produz e quem a utiliza, e isso vem prejudicando o planejamento do combate”, explica Manoela Machado, pesquisadora do Woodwell, que coordena a iniciativa. “Pretendemos coletar o máximo possível de informações dessas duas pontas, da ciência e da prática, na intenção de propor um formato automatizado no futuro”.

As brigadas de combate ao fogo ambiental do Corpo de Bombeiros direcionam suas operações a partir de boletins emitidos quase em tempo real por órgãos de pesquisa e monitoramento como o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e a NASA (Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço, em português), agência espacial norte-americana. Com a expedição, a ideia das pesquisadoras é estreitar esse diálogo para promover melhoramentos na identificação e prevenção de focos de incêndio.

Fila do osso em açougue de Cuiabá mostra que de pop, o agro só tem a propaganda

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O estado do Mato Grosso é um dos líderes nacionais do latifúndio agro-exportador (i.e., também conhecido como agribusiness ou agronegócio) e os feitos dos seus grandes latifundiários capitaneados por Blairo Maggi são cantados em loas pela mídia corporativa nacional.

Mas é desse mesmo Mato Grosso que surgiu uma das cenas mais acachapantes do cenário político nacional nas últimas décadas: a fila do osso. Essa “fila do osso” nada mais é do que a distribuição de restos de carcaças de animais que não puderem ser aproveitadas (ainda) em algum tipo de canal de comercialização pelos pecuaristas mato-grossenses e torna explícita a grande dicotomia econômica e social que jaz solene sob os escombros que o agronegócio deixa para trás ao estabelecer sua hegemonia territorial (ver vídeo abaixo).

A contradição contida neste cenário socialmente devastador é flagrante. Enquanto o Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo, uma quantidade crescente dos brasileiros está sendo impedida de consumir essa fonte de proteina em função das políticas ultraneoliberais adotadas desde o golpe parlamentar que apeou a presidente Dilma Rousseff do poder em 2016.

Essa é uma prova eloquente que a devastação causada nos biomas florestais brasileiros, principalmente na Amazônia, para viabilizar o avanço da pecuária não possui qualquer conexão com a melhoria de vida da maioria dos brasileiros.  Assim, não bastasse a destruição ambiental, o latifúndio agro-exportador escancara as profundas diferenças de oportunidades que surgem no rastro de sua atuação.

E antes que eu me esqueça: o neoliberal bolsonarista adora mencionar as dificuldades vividas em países sob bloqueio dos EUA, Venezuela e Cuba, para indicar aos descontentes com o governo Bolsonaro que existem possibilidades piores do que a que estamos vivendo.  Depois da publicização da fila do osso em Cuiabá, é bem provável que a capital do latifúndio agro-exportador se torne o destino por eles a quem ousar criticar o “mito”.

Finalmente, a situação aqui abordada mostra que de pop o agro não tem nada. Tem sim muito agrotóxico, trabalho escravo e miséria.

Artigo científico mostra que extração de madeira em florestas ocorre como fenômeno desagregado do desmatamento

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Um artigo que acaba de ser publicado pela revista Ciência Florestal, que é publicada pela Universidade Federal de Santa Maria, aborda a questão da  extração seletiva de madeiras no estado do Mato Grosso. Nesse estudo, no qual tive a oportunidade de colaborar, é discutida a dinâmica espaço-temporal da extração seletiva de madeiras no estado de Mato Grosso com base em um série temporal  de dados de florestas exploradas seletivamente entre 1992 e 2016, usando dados de sensoriamento remoto.

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Os dados apresentados no artigo foram gerados a partir da interpretação visual e a classificação semiautomática de imagens Landsat que foram utilizadas para detectar a alteração de florestas pelas atividades de extração seletiva de madeiras.

Com base nos resultados obtidos,  foi estimado que 41.926 km2 de florestas nativas foram exploradas ao menos uma vez em Mato Grosso entre 1992 e 2016, com uma área média anual de 1.747 km2 (ver figura abaixo).

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As florestas exploradas seletivamente e detectadas com distúrbios persistentes ou recorrentes foram mais frequentes nos anos mais recentes do período analisado.  Uma constatação importante do estudo foi que a maioria das florestas exploradas seletivamente na área e no período de estudo não foram desmatadas até 2016.  Este fato indica que a extração seletiva de madeiras consiste em um fenômeno desagregado do desmatamento no estado de Mato Grosso (ver figura abaixo).

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Este estudo mostra que a exploração madeireira impacta uma grande extensão de florestas nativas anualmente no estado de Mato Grosso e, por isso, precisa ser devidamente considerada e monitorada pelos órgãos ambientais devido aos seus potenciais impactos nas florestas.

Quem desejar baixar este artigo na íntegra, basta clicar [Aqui!].

Fogo surpreende pescadores no Pantanal

Com recorde histórico de queimadas, região já perdeu 10% de seu território no ano

fogo 1Imagem registrada por grupo de pescadores em Cáceres (MT)

Um grupo que praticava pesca profissional na margem direita do rio Paraguai foi surpreendido por um incêndio de grandes proporções na mata em região próxima à cidade de Cáceres (MT). A queimada registrada em vídeo ainda não está na conta dos 4,2 mil focos de incêndio contabilizados de janeiro a julho deste ano pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Este é o maior número desde 1998, quando a série histórica foi criada. Segundo o instituto, os incêndios na zona pantaneira saltaram 240% este ano, e o bioma já perdeu cerca de 10% de sua área.

“Foi muito triste e desesperador ver tudo isso. Estou sem chão ainda. Só quem está vendo de perto para ter noção”, conta a pescadora Enilza Silva, que estava presente quando o fogo se alastrou no sábado (15/8). “Me trouxeram agora a pouco para cidade porque meu psicológico não está legal. Os bichos desesperados sem saber pra onde ir, outros já mortos. É desesperador.”

O grupo que desenvolvia a atividade na região é experiente e usa uma base de apoio localizada em um rancho nas proximidades. Acampados, eles chegam a pescar durante 5 a 7 dias ou até atingir a cota máxima permitida, que é de 125 kg de peixes por pessoa, por semana. Os pescadores relatam que ultimamente não estão conseguindo atingir essa cota.

“O rio já está quase atingindo a maior baixa dos últimos 50 anos. E no mês de fevereiro ocorreu um fenômeno chamado decoada exatamente porque o rio não encheu o suficiente, o que causa a decomposição de matéria orgânica, como folhas e galhos. Isso tira o oxigênio da água, matando muitos peixes no rio. E ainda tem o assoreamento”, explica Joari Costa de Arruda, professor da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Ele é especialista em biodiversidade e biotecnologia e atua no projeto “Corredor ecológico, econômico e cultural do Rio Paraguai” junto a pescadores e comunidades ribeirinhas da região. “Este ano não está favorável para o rio e para quem depende dele para tirar o sustento da família”, lamenta o pesquisador.

Mensageiro sem verbas

Segundo notícia do jornal Folha de S. Paulo, o INPE, que monitora por satélites os desmatamentos e as queimadas no território brasileiro, ficará sem verba em 2021. Com a decisão, os pesquisadores da instituição serão mantidos, mas não terão condição de desenvolver seus trabalhos.

A medida é mais um desdobramento da crise institucional entre o órgão e o governo federal, desencadeada em 2019, após a divulgação dos números recordes de desmatamento. Na ocasião, a fumaça das queimadas nas regiões amazônica e pantaneira escureceram o céu de cidades localizadas no Sudeste do país, gerando comoção dentro e fora do Brasil. O cientista Ricardo Galvão foi exonerado da diretoria do INPE na sequência das divulgações, e em seu lugar foi efetivado o coronel da Aeronáutica Darcton Damião.