Fiocruz lança 12ª Edição da Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente dia 5 de junho

Data comemora Dia Mundial do Meio Ambiente e reunirá personalidades ligadas ao tema e estudantes da rede pública de ensino, que também visitarão o Complexo Tecnológico de Vacinas

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O Dia Mundial do Meio Ambiente – 5 de junho – foi a data escolhida para o lançamento da 12ª Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente (Obsma) da Fiocruz. O evento será realizado, às 10h, no auditório de BioManguinhos, unidade da Fundação, e receberá alunos e professores de escolas participantes e premiadas na Obsma. O lançamento é aberto ao público, que também poderá acompanhar pelo canal da Video Saúde-Fiocruz no YouTube: https://www.youtube.com/@VIDEOSAUDEFIO/featured

A Olímpiada é voltada para a participação de alunos e professores da educação básica, do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental e do Ensino Médio de escolas públicas ou privadas, por meio da inscrição de trabalhos relacionados à saúde, ao meio ambiente e suas interfaces com a educação e a ciência e tecnologia. Com o objetivo de aproximar a escola e a realidade concreta dos alunos, a Obsma premia projetos realizados em cooperação na escola e/ou com a participação da comunidade escolar.

Para o lançamento, a Olímpiada escolheu convidados especiais, que trazem no currículo vivências relacionadas à preservação da Amazônia: Ennio Candotti, diretor do Museu da Amazônia (MUSA) e ex-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) por quatro mandatos; Muriel Saragoussi, ex-Secretária de Políticas para a Amazônia do Ministério do Meio Ambiente e atual assessora  da Fiocruz Amazônia; Aline Matulja, engenheira ambiental, apresentadora do Podcast Casa Floresta do Instituto SocioAmbiental (ISA) e do programa de TV Menos é Demais (Discovery Home & Health Brasil), e Braulina Baniwa, liderança indígena, formada em Antropologia, que atua na Articulação Brasileira de Indígenas Antropóloges (ABIA) e na Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA).

Oficina de grafite e visita ao Complexo Tecnológico de Vacinas

Na parte da tarde, às 14h, os estudantes poderão participar de uma Oficina de grafite com a artista Renata Mattos.  O espaço escolhido para a atividade é um muro da Fiocruz, que será transformado em um grande painel numa das vias mais movimentadas e importantes da cidade, a Avenida Brasil.

Os alunos também terão a oportunidade de visitar o Complexo Tecnológico de Vacinas (CTV) de Bio-Manguinhos-Fiocruz, um dos maiores centros de produção da América Latina, que garante a autossuficiência em vacinas essenciais para o calendário básico de imunização do Ministério da Saúde (MS).

A ocasião marca o início das ações previstas para todo o território nacional, desenvolvidas pelas seis Coordenações Regionais sediadas, respectivamente, nas unidades da Fiocruz na Amazônia, na Bahia, em Minas Gerais, em Pernambuco, em Brasília e no Rio de Janeiro.

Dividida em duas etapas, a Olimpíada organiza-se em seis regiões olímpicas nacionais: Centro-Oeste, Minas-Sul, Nordeste I, Nordeste II, Norte e Sudeste. Desta maneira, realiza-se uma primeira etapa de avaliações regionais dos trabalhos inscritos, de acordo com as áreas geográficas em que se encontram localizadas as escolas participantes. 

Na segunda etapa, os trabalhos são avaliados e premiados. Ao todo, 36 trabalhos são reconhecidos como destaques nacionais a cada nova edição, garantindo-se a lógica da representação regional e por estados da federação. Os vencedores nacionais são escolhidos por uma comissão avaliadora nacional, composta por cientistas e personalidades das áreas da cultura, arte, da comunicação e informação. As equipes de trabalho ligadas à Obsma atuam junto a programas educativos da Fiocruz em parceria com diversos ministérios e secretarias de educação de todo o país.

A participação dos estudantes ocorre por meio da inscrição de trabalhos em três modalidades: Produção de Textos, Produção Audiovisual e Projeto de Ciências e em duas categorias: Ensino Fundamental e Ensino Médio, incluindo a Educação de Jovens e Adultos. A inscrição é realizada por professores e coordenações pedagógicas que acompanham o desenvolvimento dos trabalhos nas escolas (sala de aula e/ou ambiente escolar).

A edição de 2023 tem uma série de atividades nacionais previstas para serem realizadas ao longo do ano, como Oficinas Pedagógicas, que buscam contribuir para capacitação, atualização e aperfeiçoamento de professores em torno dos temas saúde, ambiente, educação, ciência e tecnologia; Oficinas Alunos em Ação, atividades educativas e de divulgação científica para estudantes da educação básica com acentuado interesse em seguir carreiras científicas; Mostra Itinerante Saúde e Meio Ambiente na Escola, com trabalhos selecionados como Destaque na 11ª edição da Obsma, e Curso Formação Inicial em Educação para o Desenvolvimento Sustentável, voltado para capacitação de professores na introdução em seus alunos aos conhecimentos, habilidades e atitudes para promoção do desenvolvimento sustentável.

Com o apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e de um conjunto de instituições de ensino e pesquisa em C&T, a Obsma vem se fortalecendo como um programa educacional, de abrangência nacional, com o foco em três grandes objetivos: contribuir para a melhoria da qualidade da educação básica no país, incentivar escolas a desenvolverem projetos e/ou práticas de promoção da saúde e fortalecer as estratégias voltadas para o desenvolvimento sustentável e ambientalmente equilibrado, em todos as esferas locais, regionais e global.

Ao longo dos seus 22 anos de existência, a Obsma destaca-se como um programa de educação e divulgação científica de amplo impacto nas escolas que promovem e valorizam as ações e os projetos voltados para as relações multidimensionais e multifacetárias entre saúde e meio ambiente, na perspectiva da sustentabilidade, da educação para a cidadania, entre outros impactos importantes no ambiente escolar.

Lançamento da 12ª Edição da Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente da Fiocruz

Dia 5 de junho de 2023

Horário: 10h

Local: Auditório Vinícius Fonseca – Bio-Manguinhos- Av. Brasil, 4365 ou pelo YouTube: https://www.youtube.com/@VIDEOSAUDEFIO/featured

Aberto ao público – GRATUITO

 

Oficina Grafite e Visita ao Complexo Tecnológico de Vacinas – CTV

Com alunos das escolas participantes

Horário: a partir das 14h

Marina Silva está sendo frita, e os próximos dias vão indicar a altura do fogo

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Se alguém ainda tinha dúvida que os cardeais do governo Lula já decidiram que não é possível conviver com as ideias pragmáticas de Marina Silva, as declarações do agora (de novo) petista Randolfe Rodrigues não deixam mais espaço para isso. É que, como em muitos outros governos, em meio aos muitos sinais de fritura de Marina Silva, Randolfe em uma entrevista ao portal UOL, disse  o justamente contrário. 

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Como já vimos esse tipo de fritura em fogo brando em outros governos do PT, incluindo a que a própria Marina foi submetida em 2008 quando ela teve vários entreveros com Dilma Rousseff por causa de várias ações anti-ambientais que emanavam diretamente de dentro da Casa Civil.

O curioso é que agora está levando bem menos tempo para que Marina Silva seja frit , apesar de ter posições bastante moderadas sobre a necessidade de impor mais restrições ao modelo de destruição da Amazônia brasileira em troca de umas poucas moedas. Mas tudo indica é que o governo Lula, ao iniciar a fritura pública de Marina Silva, vai abraçar de vez o programa que Jair Bolsonaro implementou em seus quatro anos governo.

Assim, agora que está claro que Marina Silva está sendo frita, o tempo de fritura dependerá da altura do fogo a que será submetida pelos seus desafetos dentro do próprio governo Lula, a começar por Randolfe Rodrigues.

Não há que se falar em avanços se os sinais enviados são de retrocesso

O IPAM observa com preocupação o resultado da votação no Congresso Nacional da Medida Provisória 1.154/2023 que reestrutura os ministérios

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O IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) observa com preocupação o resultado da votação no Congresso Nacional da Medida Provisória 1.154/2023 que reestrutura os ministérios, conforme o definido pelo governo federal, e atinge diretamente a área ambiental e os direitos dos povos originários e das populações tradicionais.

A conjuntura global e nacional de necessidade de retomada do crescimento econômico sustentável, da erradicação da pobreza, do enfrentamento da crise climática, da construção de uma sociedade de paz; assim como da reinserção do Brasil no protagonismo de desenvolvimento de baixas emissões, associadas à extrema urgência na redução desmatamento, garantia de direito de povos indígenas, populações tradicionais e do combate às ilegalidades socioambientais no país, sobretudo na Amazônia, requer ao Estado brasileiro, por meio de seus poderes constituídos – Executivo, Legislativo e Judiciário – convirja para uma visão estratégica de país que se conecte com o que há de mais contemporâneo e geracional em termos de desenvolvimento social, econômico, ambiental e ético.

Neste sentido, as mudanças na estrutura dos ministérios do Meio Ambiente e Mudança do Clima, que perde a gestão do CAR (Cadastro Ambiental Rural), e dos povos indígenas, que fica sem a competência de demarcar as terras indígenas; o afrouxamento das regras para licenciamento ambiental; uma simpatia inexplicável em relação ao novo marco temporal, o qual não atende aos interesses das populações indígenas; além de a permissão de mais desmatamento no já debilitado bioma da Mata Atlântica, trazem repercussões para além do tema ambiental:

  • Na diplomacia e acordos internacionais – em todas as tratativas e acordos internacionais, seja de comércio ou de clima, a governança e integridade ambiental, climática e de garantia de direitos das populações originárias, são elementos chave na mesa de discussão. Com as mudanças propostas, o Brasil se fragiliza e perde o poder de negociação, assim como torna-se vulnerável à potenciais restrições de mercado;
  • Competitividade de Mercado – o Brasil tem como um dos seus grandes valores de diferencial competitivo no mercado internacional, em relação ao agronegócio, especialmente pelo fato de possuir um arcabouço jurídico ambiental dos mais avançados e que contribui para a integridade da produção agropecuária do país. Portanto, a fragilização desse arcabouço jurídico colocará em xeque também o diferencial competitivo do agronegócio brasileiro no mercado internacional;
  • Segurança Jurídica – as mudanças propostas trazem ainda mais insegurança jurídica e instabilidade para as condições habilitantes e salvaguardas necessárias para grandes investimentos no Brasil. Nos dias atuais, os riscos ambientais, sociais e de governança são primordiais para as análises de investimentos. Com essa fragilização, corre-se o risco de afastamento de potenciais investimentos para os diferentes setores da economia, em especial aos setores da agropecuária, bioeconomia, energia, infraestrutura e logística, dentre outras.

Cresce novamente a ideia de que podemos rifar a proteção do meio ambiente e o enfrentamento das mudanças climáticas em prol de ganhos econômicos efêmeros que, no final, resultará em mais prejuízos socioeconômicos e ambientais. Vivemos uma emergência climática que, por interesses setoriais, econômicos e políticos, é posta de lado. Esta emergência enseja uma reflexão no âmbito da segurança nacional.

Além disso, as decisões viram as costas para o momento no qual o Brasil procura retomar o protagonismo na pauta ambiental internacional, ignora os novos apoios para a retomada das doações do Fundo Amazônia e coloca um carimbo perigoso de intenções de destruição que vão refletir no comércio mundial.

As ameaças em curso aos direitos indígenas e ao direito dos brasileiros em ter um ambiente equilibrado, como determina a Constituição Federal, compromete o direito básico dos brasileiros de terem uma perspectiva de olhar para o futuro.

Sob os olhares plácidos de Lula, Congresso avança no desmanche ambiental e dos direitos indígenas

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Sob o olhar plácio de Lula, congresso avança no desmanche do ministério comandado por Marina Silva

Admito que não nutria muitas expectativas positivas em relação ao terceiro mandato do presidente Lula, mas tenho que admitir que tampouco antecipava a falta de disposição que estou notando em se defender minimamente o que ainda restava do sistema de proteção ambiental brasileiro ou ainda dos mecanismos de defesa dos povos indígenas.

É que apenas ontem avançaram no congresso nacional diversas medidas que retiram funções importantes do Ministério do Meio Ambiente e isto dentro da discussão de uma Medida Provisória proposta para reorganizar a estrutura do governo federal. Entre as áreas tiradas do MMA estão a retirada da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Cadastro Ambiental Rural (CAR). Além disso, ainda se prejudicou fortemente a proteção da Mata Atlãntica, o que é um completo despaultério em função da importância do bioma e da condição de profunda degradação em que se encontra, tendo os efeitos perversos que vimos no início deste ano na costa norte do estado de São Paulo.

Ainda na mesma toada, a Funai deverá se retirada do interior do Ministério dos Povos Indígenas, bem como a questão crucial da demarcação das terras indígenas que deverá voltar para o Ministério da Justiça, como era no governo de Jair Bolsonaro. Com isso, o Miinistério dos Povos Indígenas se torna natimorto e a ministra Sônia Guajajara uma peça de decoração dentro de uma estrutura para a qual não há nenhuma função importante a ser cumprida.

O pior é que de dentro do que convenciona chamar de “núcleo duro” do governo Lula há uma posição em torno de se sacrificar alguns dedos (no caso o meio ambiente e os povos indígenas) para se manter a mão que, segundo matéria da Folha de São Paulo, seria a busca de um pouco explicado processo de desenvolvimento. Oras bolas, sem proteção do meio ambiente e dos povos indígenas está mais do que evidente que o único modelo econômico que vai vigorar é o que já foi posto por Jair Bolsonaro. Em outras palavras, teremos mais desmatamento e mais agrotóxicos para turbinar a exportação de commodities agrícolas que só são viáveis com muito subsídio federal (mas muito mesmo).

E com isso tudo acontecendo, por anda o presidente Lula? Ele parece ser uma daqueles soldados perdidos em ação. Mas quando falou, Lula agiu para enfraquecer Marina Silva e turbinar as demandas pela insustentável exploração de petróleo e gás na Foz do Amazonas, como já observei aqui.  Com isso, fica claro que o maior problema não se trata de termos um “governo sob cerco” das forças reacionárias, mas termos sim um alinhamento com um modelo de inserção dependente em uma economia globalizada que rapidamente está se desglobalizando. Essa falta de entendimento das mudanças que estão ocorrendo na geopolítica global é um dos elementos que regem o abandono das promessas eleitorais e a objetiva “bolsonarização” das ações práticas do governo Lula.

A minha impressão é que Marina Silva já sabe que com menos de 6 meses de governo, a sua permanência no governo Lula está sendo inviabilizada por dentro e pelo próprio presidente da república em uma repetição trágica de sua passagem anterior pelo mesmo cargo. Resta saber quanto tempo ela vai querer ficar como ministra e de como pretende sair dele. É que a saída de Marina Silva é uma daquelas pedras cantadas que se pode levantar sem medo de errar. 

Parlamento Europeu adota lei que veta importação de produtos provenientes do desmatamento

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Vista aérea de área desmatada nas proximidades de Uruara, Pará, em 21 de janeiro de 2023. REUTERS – UESLEI MARCELINO

Daniel Vallot, enviado especial da RFI a Estrasburgo 

A partir de agora, não será mais possível importar produtos do desmatamento para a Europa. Esta é a ambição manifestada pelos defensores da nova legislação, aplicada pela primeira vez no mundo. Entre os produtos no visor estão café, cacau, óleo de palma e de soja, borracha, carvão e papel.

A União Europeia pretende barrar as importações através de controles nas fronteiras do bloco, como explica à RFI Pascal Canfin, eurodeputado francês do grupo Renew e presidente da Comissão de Meio Ambiente do Parlamento de Estrasburgo. 

“Quando você for importar, por exemplo, café ou chocolate para a União Europeia, terá que mostrar que esses produtos não vêm de hectares recentemente desmatados”, diz. “Através de coordenadas de GPS, funcionários da alfândega europeus verificarão, olhando fotos de satélite das coordenadas fornecidas, se havia ou não uma floresta tropical no local de onde veio o café ou o chocolate. É extremamente simples”, diz.

O Parlamento Europeu e os estados-membros da União Europeia (UE) chegaram a um acordo sobre o assunto em dezembro passado. O texto foi proposto em novembro de 2021 pela Comissão Europeia e amplamente adotado pelos estados-membros, mas os eurodeputados votaram para fortalecê-lo significativamente, expandindo a gama de produtos em questão.

O importador pego em flagrante terá seu produto rejeitado, e multas, que podem chegar a 4% do faturamento realizado na Europa pelo operador ou comerciante em questão, estão previstas na nova lei. 

Europa responde por 16% do desmatamento global

Segundo a ONG World Wild Fund for Nature (WWF), que comemora a adoção da lei, com suas importações, a Europa contribuiu para 16% do desmatamento global. Dois terços são provenientes apenas do consumo de soja e óleo de palma.

Na terça-feira (18), o Parlamento aprovou os acordos alcançados com os estados-membros no final de 2022, que inclui cinco textos sobre emissões da aviação e do transporte marítimo, mecanismo de ajuste de fronteira de carbono e um novo fundo social para o clima.

As novas regras fazem parte do pacote legislativo “Fit for 55”, o ambicioso plano da UE para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) em pelo menos 55% até 2030 em comparação com os níveis de 1990, de acordo com a legislação climática da UE.


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Este foi inicialmente pela Rádio França Internacional [Aqui!].

Observatório dos Agrotóxicos: Capina química noturna pode estar expondo campistas a riscos graves

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Imagem ilustrativa

Não sei quantos leitores deste blog já presenciaram, mas está em curso em Campos dos Goytacazes o uso da chamada “capina química” para impedir o crescimento de vegetação nas calçadas da cidade. Eu mesmo já presenciei várias vezes um profissional trajando o chamado Equipamento de Proteção Individual (EPI) aspergindo algum produto químico sobre as calçadas com o intuito de impedir o crescimento de vegetação. 

A primeira consequência “benigna” do uso dessa estratégia é ver vegetação ressecada pelas ruas e praças. Por outro lado, ainda que não se saiba qual substância está sendo usada nesta prática é que, dependendo do produto que está sendo utilizado, estamos sendo expostos a um risco químico sem que a maioria sequer saiba disso, já que o processo está ocorrendo de noite. Além disso, como muitos campistas saem com seus animais para passear, a possibilidade é que também os pets estejam correndo risco de intoxicação química.

Um dos produtos mais prováveis para uso na capina química é o herbicida RoundUp fabricado pela Bayer/Monsanto a qual está sendo atribuído a ocorrência do chamado Linfoma de Non-Hogdkin, uma espécie de câncer do sangue. Porém outros menos badalos, como é o caso do 2,4-D, o chamado Agente Laranja, também podem causar doenças graves quando somos expostos a eles.

Como o uso da capina química em vez do uso mais seguro de trabalhadores com instrumentos de limpeza só é explicado pelo esforço de diminuição o custo do trabalho, há que se pensar se essa opção é efetivamente necessária e ainda a mais desejável em termos de saúde pública.

Finalmente, há que se lembrar que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já proibiu o uso da capina química urbana no distante ano de 2010, justamente por causa que essa prática traz para a saúde humana e para o meio ambiente urbano. Há ainda que se lembrar que como os produtos estão sendo usados em áreas relativamente impermeáveis, os mesmos podem chegar facilmente à nossa principal fonte de abastecimento de água que é o Rio Paraíba do Sul.

 

 

Milho GM dos EUA para o México: desacordo que vai além da ciência

maiz-Mexico-996x567O conflito entre México e EUA surgiu no final de 2020, quando o governo mexicano publicou um decreto estabelecendo que até janeiro de 2024 substituiria o milho transgênico por produção local. Crédito da imagem: Rawpixel , imagem de domínio público

Por Aleida Rueda para a SciDev

[CIDADE DO MÉXICO] A recente decisão do México de deixar de importar milho amarelo transgênico dos EUA até 2024 levou o governo desse país a pedir justificativas com base científica e levantou dúvidas sobre se esse tipo de negociação pode responder mais a interesses políticos e comerciais do que a questões técnicas.

É o que afirmam alguns especialistas que veem uma espécie de maniqueísmo no uso de evidências a favor e contra a importação de milho transgênico. Essa situação, dizem eles, não contribui para uma verdadeira discussão sobre a ciência por trás dessa cultura ou sobre o que significa conservar a diversidade do milho nativo.

O conflito entre as duas nações surgiu no final de 2020, quando o governo mexicano publicou um decreto estabelecendo que até janeiro de 2024 substituiria o milho transgênico por produção local. Isso implicou deixar de importar os mais de 16 milhões de milho amarelo, principalmente transgênicos , que compra anualmente de agricultores dos Estados Unidos.

Desde então, houve várias divergências que chegaram ao auge em 9 de fevereiro de 2023, quando o novo negociador-chefe de comércio agrícola do Representante Comercial dos Estados Unidos, Doug McKalip, pediu ao México uma explicação científica que justificasse sua decisão de eliminar o uso e as importações deste milho.

Poucos dias depois, em 13 de fevereiro, o México publicou um novo decreto no qual reiterou que substituirá o milho geneticamente modificado, com uma nova data: março de 2024, e que enquanto isso acontecer, poderá ser usado para indústria e ração animal. , mas não para consumo humano , especificamente masa e tortilha.

O conflito gerou opiniões opostas na comunidade científica. De um lado, há quem insista que há evidências suficientes de que, em 35 anos de uso, os transgênicos não causaram nenhum dano à saúde ou ao meio ambiente e, de outro, quem vê sua liberação como risco de contaminação , e perda potencial, de milho nativo, com a agravante de que o México é o centro de origem e domesticação da cultura.

Assim, o pedido dos EUA é atravessado por essas duas perspectivas: os que o veem como algo positivo e lamentam que o governo mexicano tome decisões sem respaldo científico, e os que veem o pedido dos EUA como um pretexto para não perder o México, seu maior importador de amarelo milho que, só em 2021, pagou 4,7 bilhões de dólares por 16,8 milhões de toneladas.

“A reação dos Estados Unidos é normal”, diz Agustín López Munguía, pesquisador do Instituto de Biotecnologia da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM). Os Estados Unidos “têm o direito de perguntar: cientificamente, o que aconteceu no México? Os animais estão morrendo? As pessoas têm alergias? Quais são as evidências que estão levando você a tomar essa decisão? E lamento que a resposta seja mais uma militância”.

“Esse tipo de decisão sobre o uso do milho transgênico não é estritamente científico, mas comercial”, diz Quetzalcóatl Orozco, pesquisador do Instituto de Geografia da UNAM, na direção oposta. “Como qualquer cliente, o México tem o direito de definir o que vai comprar, independentemente de haver ou não um argumento científico.”

“Há muitos anos existe algo chamado diálogo do conhecimento, que tem a ver com a importância de reconhecer outro tipo de conhecimento e poder dialogar. Em muitas das questões ambientais que enfrentamos atualmente, como espécie, a ciência não é a única voz.”

Quetzalcóatl Orozco, Instituto de Geografia, Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM)

“Incluso si la ciencia dijera que el maíz transgénico es completamente inocuo, o que es mucho mejor, si hay una comunidad que cree que el maíz es un dios, y cree que al hacerle esa modificación genética lo alteraron en su alma, hay que respetar a decisão. Essa comunidade não precisaria ser obrigada a comer aquele milho transgênico”, explica Orozco.

Para o geógrafo, o conflito implica uma crítica à preponderância da ciência. “É preciso descer para a ciência dessa pirâmide em que nós cientistas nos colocamos, que somos nós que sabemos e decidimos. Há muitos anos existe algo chamado diálogo do conhecimento, que tem a ver com a importância de reconhecer outro tipo de conhecimento e poder dialogar. Em muitas das questões ambientais que enfrentamos atualmente, como espécie, a ciência não é a única voz.”

Para Munguía, esses desafios ambientais exigem, justamente, ciência. “O problema que enfrentamos é monumental e, se quisermos continuar alimentando todas as pessoas, não haverá uma única coisa que resolva todo o problema.”

No meio do debate, prevalece a questão de saber se o México tem capacidade real para substituir o milho amarelo que deixará de importar. “Nossos milhos ancestrais são virtuosos, sagrados, sim, mas os produzimos com rendimentos que não passam de 2 a 3 toneladas por hectare (t/ha). Quando temos híbridos que dão 14 t/ha”, diz Munguía.

A evidência a esse respeito não é homogênea. Alguns experimentos mostram um rendimento de variedades nativas superior a 4,5 t/ha, outros concluem que não há diferenças significativas entre as duas sementes. Dados do Ministério da Agricultura do México mostram que o rendimento do milho plantado em Oaxaca (1,26 t/ha) está longe do das variedades híbridas de Sinaloa (13,83 t/ha). Por isso, considera-se que a substituição do milho transgênico exigirá a superação desses desafios.

Numa perspectiva conciliatória, Munguía explica que “quem vai decidir é o consumidor. Toda essa diversidade de milho deve ser trazida até eles, mas produzida de forma eficiente, distribuída e comercializada de forma que as pessoas possam ir a um mercado, a um supermercado, encontrar milho branco, amarelo, vermelho, roxo. E que ele pode dispor deles”.

Mas também é preciso “conscientizar o consumidor para que ele saiba que talvez algum milho vá ficar mais caro porque vai pagar o custo de preservar a riqueza cultural”.

Este artigo foi produzido em espanhol pela edição América Latina e Caribe de  SciDev.Net [Aqui!].

Somos Amazônia: saberes, desafios e visão de futuro dos povos da floresta

Jogos Mundiais dos Povos Indígenas

Jogos Mundiais dos Povos Indígenas

Por André Baniwa, Gasodá Paiter Suruí, Beka Munduruku e Nadino Calapucha

Para os povos originários da Amazônia existe uma relação indissociável entre a criação do mundo e da humanidade. Tal relação fundamenta toda explicação dos Povos Indígenas sobre a terra, a floresta, os recursos da natureza, linguagem, crenças, espíritos, criador e criaturas terrestres. Esta relação é ressaltada na visão de mundo de muitos dos Povos Índígenas da Amazônia. Por exemplo, o povo Baniwa, pertencente à família linguística Aruak, se autodeclara “Somos Amazônia”. Os Paiter Suruí de Rondônia se autodenominam gente de verdade ou povo verdadeiro. Os indígenas da Kichwa Amazônica (Amazônia Equatoriana) tratam a floresta como “Madre Selva”, “Madre Terra” ou “Madre Natureza”, sendo uma fonte de conhecimento e ensinamento para a vida. Os Mundurukus, da região do Alto Tapajós, afirmam que tudo na floresta é sagrado e tem espírito. A cultura Indígena é, portanto, intimamente ligada com a floresta e rios.

Por esta intrínseca interação com a floresta, quando há destruição, a floresta sente dor e os indígenas também. Há múltiplas estratégias de ocupação desordenada da floresta e dos territórios Indígenas (TI). O garimpo de ouro tornou-se uma ameaça aos indígenas e outras populações vulneráveis, contaminando a floresta, os rios e peixes, e reduzindo a caça. Como efeito, o povo tem ficado doente. As hidrelétricas deslocam suas populações e alteram as condições básicas de seu sustento, como disponibilidade de peixes. Para muitos, a ocupação desordenada da floresta e das TI resultaram em vidas perdidas. Assassinato, escravidão e genocídios estão no modelo atual de desenvolvimento capitalista, o qual tem resultado em processos violentos contra os Indígenas. De fato, estudos do Conselho Indigenista Missionário mostraram que a cada dois dias um indígena morre por proteger a floresta.

Os Indígenas brasileiros viveram entre 2019 e 2022 um período de desrespeito, tempo ápice de destruição física e espiritual desde 1988. Atividades, tais como desmatamento, incêndios florestais, extrativismo insustentável de recursos minerais e biológicos, monocultura, extração de madeira estão desconectando os Indígenas da floresta. O desrespeito aos Povos Indígenas ultrapassou o limite territorial da Amazônia em 08 de janeiro de 2023. O ataque violento aos prédios públicos em Brasília representou uma séria ameaça aos direitos Indígenas e à democracia de modo geral.

A destruição ou ‘fim do mundo-florestas’, segundo a profecia Baniwa, ameaça acabar com os Povos Indígenas e o mundo inteiro. O aquecimento global e a crise climática são provas de que os caminhos de desenvolvimento para a Amazônia têm sido injustos e destrutivos. Isto tem gerado fuga das comunidades Indígenas, desaparecimento de línguas e perda de territórios. O resultado tem sido um perda de conhecimento inestimável, conduzindo a humanidade para um vazio de soluções para problemas que atingem a todos.

A demarcação e homologação das Terras Indígenas (TI) têm sido fundamental para evitar a destruição dos lugares sagrados. Para os Paiter Suruí, as ameaças a seu povo e a seu território surgiram a partir de 1969 após o primeiro contato com o não-indígena. Foi necessário integrar e aprender a cultura ocidental para evitar uma extinção causada pelos colonizadores. Eles conseguiram a demarcaçao do TI Sete de Setembro em 1976, com o reconhecimento de posse chegado sete anos mais tarde em 1983. Este TI de 248 mil hectares, embora represente um reconhecimento dos direitos Indígenas, não foi necessariamente suficiente para garantir todos os meios de subsistência do povo Paiter Suruí. Por exemplo, a taboca (Bambusa spp.) é uma planta essencial para a produção de arco e flecha. As áreas onde a taboca ocorre naturalmente hoje estão dentro de propriedades privadas, em fazendas sendo necessário aos Indígenas solicitar autorização de fazendeiros para extrair a taboca. Isto mostra como os povos Indígenas estão perdendo acesso a lugares sagrados onde espécies de plantas essenciais aos seus meios de vida ocorrem de forma natural.

Há grandes desafios na superação destes problemas, entre eles, a elaboração de planos de manejo para os territórios Indígenas e estratégias para proteção de tudo que descrevemos anteriormente. Os Povos Indígenas buscam alternativas para manter sua cultura. Por exemplo, o diagnóstico etnoambiental participativo da TI Sete de Setembro, realizado no ano de 2000, registrou características históricas, ritualísticas e medicinais dos Indígenas ligadas com a floresta. Atividades como reflorestamento, turismo, artesanato, música, história e pintura corporal foram inseridas nesse planejamento. Embora existam pensamentos divergentes na TI, a gestão destas atividades para fins de conservação da floresta e da cultura é valorizada por estes grupos.

Considerando o contexto do planeta-terra, da humanidade, do Brasil e da Amazônia, descrevemos aqui alguns desejos para Amazônia Indígena fundamentais para reconstrução do bem-viver e viver dos Povos Indígenas e para proteção das florestas, da biodiversidade, do conhecimento tradicional e combate às mudanças do clima.

A educação escolar Indígena é uma ferramenta fundamental para as lutas e diálogos interculturais. A necessidade de aprender o idioma português foi estimulada por gerações passadas na TI Alto Rio Negro, Aldeia Tucumã-Rupitã do rio Içana, em São Gabriel da Cachoeira, estado do Amazonas, Brasil. A construção da escola indígena Baniwa no ano de 2000 em resposta às articulações institucionais ao longo da década de 1990 foi uma vitória do seu povo. Cursos de magistério Indígena foram iniciados. Professores das comunidades receberam capacitação para a educação Indígena e as escolas foram adaptadas. Mais de 100 professores Baniwa foram formados. Alguns Indígenas fizeram mestrado e agora querem fazer o doutorado. O ensino superior Indígena intercultural deve focar em processos de construção da vivência Indígena. Por exemplo, viabilizando o desenvolvimento de cestaria, pimenta, canoa, rede, roça, remo, segurança alimentar, gerando novos conhecimentos e parcerias. Jovens Indígenas têm um papel chave na propagação do conhecimento ancestral, e dão voz aos desejos e necessidades de seus povos. A timidez dos Indígenas, no entanto, em especial durante a juventude, é reconhecida por eles como um desafio intergeracional pela continuidade da luta por direitos, pela manutenção dos lugares sagrados junto com as lideranças.

A Amazônia protegida é uma obrigação moral e política. Queremos sustentar a harmonia com a floresta, Amazônia respeitada, venerada, que seja esperança da humanidade, coração biológico do planeta. É preciso diálogos concretos às questões urgentes, a fim de reconstruir princípios de Estado e sociedade. É preciso compromissos internacionais como o Acordo de Paris, Convenção da Biodiversidade e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável 2020-2030 que devem ser do tamanho do sonho de conservar a Amazônia.

A participação do Indígena na política é um anseio dos povos originários. A criação do Ministério dos Povos Indígenas no Brasil, como foi descrito pela ministra Sonia Guajajara, sinaliza para o mundo o compromisso do Estado brasileiro com a emergência e justiça climática. Tal ministério é inédito na história do Brasil, assim como uma Indígena na função de ministra de Estado. Não há dúvida que a política é essencial para reconhecer e valorizar o papel dos Povos Indígenas na conservação do clima e da biodiversidade, garantindo seu acesso à educação, saúde integral, demarcação e gestão de território, proteção ambiental e articulações interinstitucionais.

Os direitos Indígenas devem ser igualmente assumidos e respeitados internacionalmente. Os Povos Indígenas não vão salvar a Amazônia sozinhos. A união entre os povos Indígenas da Amazônia deve ser estimulada. O conhecimento Indígena pode sustentar o conhecimento científico. Esta combinação pode oferecer respostas concretas a problemas críticos da Amazônia, criando um esforço intergeracional: Indígenas e não Indígenas caminhando juntos no conhecimento.

A Amazônia preservada é garantia de proteção de vidas. Queremos que os rios e a florestas sejam protegidos para as futuras gerações. Uma Amazônia livre de assassinato Indígena. Uma Amazônia sem destruição e roubo de recursos naturais. Uma Amazônia cujo povo Indígena não seja extinto por proteger seu território. Queremos a sustentabilidade a partir de plantios de espécies nativas (por exemplo, castanha e copaíba) e apoio para organizar cadeias de produtos da floresta com valor agregado que gerem renda e bem-estar social às comunidades.

O sagrado-floresta deve ser cuidado com mais elevado conhecimento que o capitalismo. Pois, manter a floresta em pé e os rios fluindo é importante para a humanidade. Além disso, é preciso mais mensagem ambiental nos meios de comunicação como jornais, livros e teleconferência. A sociedade precisa ouvir Indígenas sobre o que estão dizendo ao mundo. A natureza tem avisado que a degradação ambiental não pode continuar. Que a natureza precisa de alegria. Neste sentido, o desenvolvimento sustentável deve ser com diálogo, respeitando vidas e construindo um futuro melhor para todos.

Sobre os autores

André Baniwa é Indígena, amazonense, empreendedor social, formado em Gestão Ambiental e Vice-Presidente da Organização Indígena da Bacia do Içana. Teve papel fundamental na criação da escola intercultural Baniwa e Koripako. É autor do livro Bem Viver e Viver Bem: Segundo o Povo Baniwa no Noroeste Amazônico Brasileiro. André é autor do capítulo 32 do Relatório de Avaliação da Amazônia 2021 produzido pelo Painel Científico para a Amazônia (PCA).

Gasodá Paiter Suruí é indígena do povo Paiter, pertencente ao grupo Gãmeb (maribondo preto). Nasceu na Terra Indígena Sete de Setembro, em Cacoal – Rondônia. Graduado em Turismo com mestrado em Geografia e doutorando em Geografia. Fundador e Coordenador do Centro Cultural Indígena Paiter Wagôh Pakob. Gasodá é autor do capítulo 10 do Relatório do PCA.

Beka Munduruku é Indígena do Povo Munduruku. Mora na Terra Indígena Sawré Muybu, na região do rio Tapajós, próximo dos municípios de Itaituba e Trairão, Pará Brasil. É uma das mais novas vozes da juventude Indígena. Beka é membro do comitê estratégico do PCA.

Nadino Calapucha é Indígena natural de Arajuno, Pastaza, Equador, é da etnia Indígena Kichwas Amazônia e Coordenador das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA). Nadino é autor do capítulo 34 do Relatório do PCA.

Este artigo faz parte de série de artigos publicados, conjuntamente, por Agência Bori e Nexo Políticas Públicas por meio de parceria com o Painel Científico para a Amazônia. Para reproduzi-lo em veículos de comunicação, é preciso informar que o texto foi originalmente publicado na Agência Bori e no Nexo Políticas Públicas [Aqui!  ]. 

Porta-aviões brasileiro afundado pode despejar mais de 300 toneladas de substâncias tóxicas no mar

A decisão de afundar a embarcação, além de prejudicial ao meio ambiente, viola tratados internacionais e ignora parecer do Ibama. A recuperação energética de resíduos, tecnologia que transforma o lixo não reciclável em energia, é uma alternativa ambientalmente mais correta e segura para tratar grandes quantidades de materiais perigosos.

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O afundamento do casco do porta-aviões São Paulo, realizado na última sexta-feira (3), pela Marinha do Brasil, é visto com grande preocupação pela Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos (ABREN).O motivo é que a embarcação pode despejar mais de 300 toneladas de substâncias tóxicas no mar, ignorando, inclusive, parecer do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), que apontou os riscos ambientais de tal atitude.

Em um primeiro momento, o governo da Turquia havia comprado o porta-aviões, de 265 metros de comprimento, para que fosse reciclado, mas devido a uma série de questões, em agosto de 2022 ele foi devolvido ao Brasil. No entanto, a Marinha brasileira se recusou a dar permissão para o navio atracar com segurança em uma base naval e tomou a decisão de afundar o navio no Oceano Atlântico.

A embarcação, carregada de amianto, pode conter mais de 300 toneladas de materiais carregados de Bifenilos Policlorados (PCB), um Poluente Orgânico Persistente (POP), que pode causar sérios danos à vida marinha devido à sua toxidade crônica. Com o afundamento do navio, o Brasil viola, inclusive, a Convenção sobre a Prevenção da Poluição Marinha por Despejo do Protocolo de Londres de Resíduos e Outras Matérias, de 1996, bem como a Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes.

Para tratar os PCBs, assim como os POPs, de forma ampla, uma das alternativas mais recomendadas em todo o mundo é a incineração por meio de altas temperaturas, a fim de destruir os contaminantes. Esse método possibilita lidar com grandes volumes desse tipo de material contaminado, de maneira segura e eficiente.

No Brasil, inclusive, é recomendada a incineração para resíduos sólidos permeáveis com concentrações acimada de 50 partes por milhão (PPM), desde que seja devidamente licenciado, com Eficiência de Destruição e Remoção (EDR) mínima de 99,9999%.

Atualmente, uma das soluções mais sustentáveis é o tratamento térmico por meio das Usinas de Recuperação Energética de Resíduos (UREs), que podem facilmente lidar com esse tipo material e ainda gerar energia elétrica, de forma limpa e sustentável, para uma grande parcela da sociedade.

Porém, ao contrário do resto do mundo, o Brasil ainda está atrás quanto à utilização dessa metodologia para transformar o lixo não reciclável em energia. Enquanto há mais de 2,5 mil URE’s em todo o mundo, o país está em processo de construção de sua primeira usina, localizada em Barueri (SP). A planta tem previsão de entrar em operação a partir de 2025.

Redução de biodiversidade é um dos principais impactos da criação de camarão

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Por Agência Bori

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O Brasil é o terceiro maior produtor de camarão da América Latina, sendo a região Nordeste responsável por quase toda a produção nacional. Além da pesca tradicional, o camarão também é obtido por meio de criação em viveiros, prática chamada de carcinicultura. Um estudo foi publicado no dia 28/12/2022 na revista “Arquivos de Ciências do Mar”, apontou que um dos principais impactos ambientais gerados pela carcinicultura é a redução da biodiversidade da fauna e da flora, e que há possíveis soluções para os problemas encontrados.

O artigo de pesquisadores da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS) e da Universidade Estadual do Ceará (UECE) faz uma revisão sistemática da literatura já publicada a partir de 2011, utilizando a base de dados do Portal de Periódicos da Capes, Scielo e Google Scholar, sobre os aspectos e impactos ambientais da carcinicultura e medidas de prevenção. Com o levantamento, os autores puderam identificar 28 impactos ambientais, como degradação de manguezais e  surtos de doenças, causados por 13 aspectos ambientais, como despejo de efluentes e ocupação de ambientes naturais.

Também foram encontradas mais de 20 medidas preventivas e mitigadoras nos trabalhos analisados para evitar impactos da criação de camarões, sendo as principais relativas ao tratamento de efluentes, gestão integrada da zona costeira, gestão ambiental adequada, utilização de bioflocos e boas práticas de manejo. O sistema chamado de super intensivo foi apontado pelos pesquisadores como o mais eficaz na manutenção da qualidade ambiental, qualidade econômica e sanidade dos camarões.

“É um sistema em que você produz uma quantidade alta de camarões por área, então você produz mais usando menos espaço”, explica Ana Carolina Correia de Oliveira Gomes, uma das autoras do estudo e engenheira ambiental. Dessa forma, é possível otimizar o uso da terra e da água na produção.

Segundo os autores, as principais razões para os impactos da carcinicultura são a falta de monitoramento adequado da prática, ilegalidade na criação de camarão e falta de fiscalização no setor, manejo e planejamento inadequados e falta de conhecimento científico. “É uma área difícil de conseguir dados”, relata a autora. “Existem informações soltas e isoladas entre um estudo e outro, então vimos a necessidade e importância de existir um compilado de informações e determinar as relações entre elas”, completa.

A partir da identificação dos problemas e possíveis soluções, a equipe pretende continuar investigando soluções para redução de impactos da carcinicultura. Os pesquisadores esperam que o artigo possa contribuir para tomadas de decisões referentes à criação de camarão no Brasil e fomento de políticas públicas, além de levar o conhecimento para os carcinicultores para que a produção possa ser feita de forma mais sustentável e com menos impacto ao meio-ambiente, ampliando a relação entre cientistas e produtores.


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Este texto foi originalmente publicado pela Agência Bori [Aqui!].