STF proíbe Ministério do Trabalho de divulgar lista suja do trabalho escravo

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, durante cerimônia de posse do novo presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), ministro Aroldo Cedraz (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Ricardo Lewandowski proíbe, em caráter liminar, o Executivo de divulgar Lista Suja do Trabalho Escravo. Marcelo Camargo/Agência Brasil

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, determinou, em caráter liminar, que o Ministério do Trabalho e Emprego se abstenha de divulgar ao público a relação de empregadores flagrados ao submeter trabalhadores à formas degradantes de trabalho ou a condições análogas ao trabalho escravo.

A suspensão da publicação da chamada “Lista Suja do Trabalho Escravo” foi pedida no último dia 22 pela Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), a qual estão associadas grandes construtoras, como a Andrade Gutierrez, Odebrecht, Brookfield Incorporações, Cyrela, MRV Engenharia, entre outras. De acordo com informações disponíveis no site do STF, em pleno recesso do Poder Judiciário, Lewandowski apreciou o pedido por estar de plantão e apresentou a decisão já no dia seguinte. O veto temporário à divulgação foi decidido com tamanha rapidez devido à atualização do cadastro, que ocorreria esta semana.

Juridicamente, a decisão de Lewandowski suspende os efeitos da Portaria Interministerial MTE/SDH nº 2, de 12 de maio de 2011, que estabelece as regras sobre o cadastro. A decisão também suspende o efeito da Portaria nº 540, do Ministério do Trabalho, de 15 de outubro de 2004, já revogada pela publicação da Portaria Interministerial nº 2.

A consulta às portarias revela que ambas não tratam da divulgação dos nomes dos empregadores, limitando-se a obrigar o Ministério do Trabalho a manter e atualizar a relação das pessoas físicas e jurídicas flagradas e dar conhecimento de seu conteúdo a ministérios, ao Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho e bancos públicos. Nenhuma das portarias prevê a divulgação automática dos nomes ao público.

Na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 5209, a Abrainc alega que as portarias ministeriais ferem à Constituição Federal e o princípio da separação entre os Poderes, já que, na interpretação da entidade, seria competência do Poder Legislativo editar lei sobre o assunto. A associação também sustenta que os nomes dos empregadores são inscritos na lista sem a existência do devido processo legal, de “forma arbitrária”, ferindo o princípio da presunção da inocência.

“O simples descumprimento de normas de proteção ao trabalho não é conducente a se concluir pela configuração do trabalho escravo”, aponta a Abrainc no pedido de liminar. “Assim como é inconcebível que empregadores submetam trabalhadores à condições análogas às de escravos, também é inaceitável que pessoas sejam submetidas a situações vexatórias e restritivas de direitos sem que exista uma prévia norma legítima e constitucional que permita tal conduta da Administração Pública”, conclui a entidade.

Ao justificar sua decisão, Lewandowski classificou como “odiosa” a prática sub-humana a que alguns empregadores submetem seus funcionários, mas destacou que os gestores públicos devem observar os preceitos constitucionais. “Embora se mostre louvável a intenção em criar o cadastro de empregadores, verifico a inexistência de lei formal que respalde a edição da Portaria nº 2 pelos ministros de Estado”.

Embora ainda precise ser publicada no Diário Oficial da União para entrar em vigor e poder ser revertida quando for apreciada em Plenário, por todos os outros ministros da Corte, a decisão já levou o Ministério do Trabalho a retirar de seu site a relação com os nomes dos empregadores flagrados. Segundo a assessoria do STF, a publicação da decisão só deverá ocorrer em fevereiro, quando o Poder Judiciário retorna do recesso. A primeira reunião com todos os ministros acontecerá no dia 4 de fevereiro, mas não há previsão de quando o processo será julgado. A relatora será a ministra Carmem Lúcia.

trabalho escravo

Pecuária e produção florestal lideram flagrantes de fiscalizações na exploração de trabalho escravo. Marcello Casal Jr/Agência Brasil

A relação deveria ter sido atualizada esta semana. Na última atualização, feita em julho deste ano, a lista trazia 609 nomes de pessoas físicas e jurídicas. A maioria dos flagrantes registrados até então aconteceu no Pará, com 27% do total. Em seguida vinham Minas Gerais (11%); Mato Grosso (9% e Goiás (8%). Entre as atividades econômicas nas quais os fiscais do trabalho encontraram mais condições análogas à escravidão estão a pecuária (40%); produção florestal (25%) e indústria da construção (7%).

Procurado, o Ministério do Trabalho informou, por meio de sua assessoria, que não comentaria a decisão judicial limitando-se a cumprir a liminar até a decisão final do STF. A Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República destacou que a Comissão Nacional para a Erradiação do Trabalho Escravo (Conatrae) está analisando a decisão e estudando as medidas jurídicas cabíveis. Vinculada à SDH, a Conatrae é o órgão responsável por coordenar e avaliar a implementação das ações previstas no Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo, entre outras atribuições. É composta por representantes de órgãos de Estado e da sociedade civil.

Editor: Marcos Chagas

FONTE: http://www.ebc.com.br/noticias/brasil/2014/12/stf-proibe-ministerio-do-trabalho-de-divulgar-lista-suja-do-trabalho-escravo

Lucro de empresas e bancos está à frente da segurança alimentar

Por João Pedro Stedile

agrotox

O Brasil consome mais de um bilhão de litros de venenos agrícolas por ano. Isso representa 20% de todos os venenos consumidos no mundo, embora sejamos responsáveis por apenas 3% da produção agrícola mundial.

Despejamos 15 litros de venenos por hectare cultivado. Essa realidade não tem paralelo com nenhuma agricultura do mundo, nem há nenhum manual de agronomia que faça tal recomendação.

Esses venenos de origem química são produzidos por poucas grandes empresas transnacionais. Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), somente as dez maiores empresas do setor foram responsáveis por 75% das vendas de agrotóxicos na última safra.

Isso lhes permite a maior taxa de lucro do mundo: US$ 8,5 bilhões de dólares na safra 2010/2011, e ainda desovam por aqui seus estoques de venenos proibidos em outros países.

Os venenos matam. Matam a biodiversidade existente na natureza, já que o agronegócio visa ao monocultivo absoluto, seja de soja, milho, algodão, cana ou pastagem extensiva. Mata os nutrientes, empobrece o solo e contamina o lençol freático fazendo com que muitas cidades com poço artesiano encontrem resíduos inaceitáveis para o consumo humano.

Os venenos também contaminam as chuvas. Quando o veneno secante não é absorvido, sobe para atmosfera e volta democraticamente para todos habitantes com a chuva. Mas, sobretudo, os venenos contaminam nossos alimentos. A Anvisa faz testes por amostragem apenas em algumas cidades a cada seis meses.

Mesmo com os níveis alarmantes, nenhum supermercado cumpre a lei do consumidor, que obriga que o rótulo ou a gôndola dos produtos avisem que aquele alimento é transgênico ou possui veneno.

Resultado: segundo os cientistas do Inca (Instituto Nacional do Câncer), a cada ano, 500 mil brasileiros são acometidos por câncer, grande parte originário dos venenos dos alimentos. Quase metade destes brasileiros irá a óbito.

Em todos os países da Europa a pulverização aérea de veneno é proibida. Aqui no Brasil, porém, é a mais usada, causando todo tipo de consequência à natureza, aos rios e às pessoas. No ano passado, uma escola rural de Goiás foi atingida, causando problemas a centenas de crianças.

Na Holanda, por exemplo, já está proibido o uso do Glifosato, o mais usado no Brasil. Cientistas conseguiram comprovar que os agrotóxicos causam alterações genéticas e aumentam as probabilidades de contrair câncer, sofrer abortos espontâneos e nascimentos com malformações.

O Brasil consome 20% de todos os venenos do mundo, embora sejamos responsáveis por apenas 3% da produção agrícola mundial. João Pedro Stedile, membro da coordenação nacional do MST, sobre o uso de agrotóxicos

O Brasil, no entanto, caminha no sentido contrário da modernidade e da proteção da vida. Porque aqui, o lucro das empresas transnacionais e dos bancos que as financiam vem em primeiro lugar. E, ainda mais, o agronegócio tem hegemonia completa na mídia brasileira, que todo dia faz sua propaganda ideológica.

O Ministério da Agricultura, em vez de ser rigoroso no controle dos venenos, os libera – como é o caso do chamado D-4, proibido na maioria dos países. No Congresso Nacional, o agronegócio também tem hegemonia, com os deputados ruralistas se orgulhando desse modelo. Havia um deputado, líder ruralista, que defendia com entusiasmo o uso de agrotóxicos, alegando progresso e modernidade para agricultura. Deixou de fazê-lo. Há dois anos, Homero Pereira morreu de câncer no estômago.

A Esplanada dos Ministérios, por sua vez, justifica o apoio ao agronegócio pelo valor das exportações agrícolas, como se sustentassem nossa economia. Ledo engano. Nenhum país do mundo se desenvolveu exportando commodities agrícolas e minerais. Enquanto o agronegócio brasileiro representa 3% do comércio mundial agrícola, na Holanda, com seu “enorme” território, essa cifra é o dobro, porque compra nossas matérias-primas, as industrializa e revende a outros países.

Por essa realidade, que organismos internacionais, entidades de saúde pública e os movimentos camponeses de todo mundo declararam o dia 3 de dezembro como o Dia Mundial de Combate ao Uso de Agrotóxico.

Ajude a salvar vidas (inclusive a sua), vegetais, animais. Exija que o supermercado coloque no rótulo se tem ou não agrotóxico. Exija que o governo não permita, ao menos, os venenos já proibidos em outros países. E potencialize a fiscalização da Anvisa.

Cuide de sua saúde, e não se iluda com a cantilena do agronegócio e das empresas fabricantes de venenos, que somente querem o lucro, mesmo que para isso tenham que lhe enviar a um hospital.

FONTE: http://noticias.uol.com.br/opiniao/coluna/2014/12/03/lucro-de-empresas-e-bancos-esta-a-frente-da-seguranca-alimentar.htm

Paraná: Seminário discute consequências da monocultura do eucalipto

Por Pedro Calvi, Do EcoDebate e Instituto Federal do Paraná

Recente pesquisa do Instituto Federal do Paraná (IFPR), coordenada pelo professor Roberto Martins, aponta que mais de 300 mil hectares no Paraná são propriedade de apenas uma fábrica de celulose e papel. O município de Imbaú é um dos mais afetados pela monocultura. Cerca de 40% do território estão cobertos pela produção industrial de árvores, em grande parte por eucalipto e pinus. Também enfrentam problemas com esse tipo de produção, os municípios de Telêmaco Borba e Ortigueira.

Para debater essa situação, a Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados promove, dia 24 de novembro (segunda-feira), no Plenarinho da Assembleia Legislativa do Paraná, a partir das 9h, o seminário “Impacto socioambental, econômico e na saúde trabalhador advindo da monocultura do eucalipto”. O encontro é uma solicitação dos deputados Dr. Rosinha (PT-PR) e Amauri Teixeira (PT-BA), presidente da Comissão.

Deserto verde

A produção industrial de árvores segue o modelo do agronegócio, Como plantio em larga escala, flexibilização das leis trabalhistas, com situações de trabalho análogo à escravidão, e desrespeito à natureza. Uma das consequências mais graves do chamado “deserto verde” é a destruição de nascentes. A pesquisa realizada por Roberto Martins, que contou com a participação direta de 30 camponeses atingidos, identificou mais de 40 nascentes secas como resultado do intenso plantio de pinus e eucalipto.

Devem participar do debate, representantes da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná, do  Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Telêmaco Borba , o Movimento dos Atingidos pela Monocultura de Pinus e Eucalipto do Imbaú, da Associação Brasileira de Florestas Plantadas (ABFP), da  Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente do Município de Joaquim Távora, do Departamento de Economia Rural (DERAL), e do Instituto Federal do Paraná.

6,7 milhões de hectares

A monocultura do eucalipto também prejudica a produção de alimentos, com a substituição de áreas que eram utilizadas para a produção de alimentos e agora só são usadas para o plantio de madeira.

As áreas de monocultura levam o país a um triste recorde, o de maior consumidor mundial de agrotóxicos. Em 2013 atingiu a marca de um bilhão de litros. 

O setor florestal madeireiro do Brasil é um dos mais desenvolvidos e competitivos do mundo. Segundo a Embrapa Floresta, o Brasil conta com aproximadamente 523,7 milhões de hectares de florestas. Desse total 6,7 milhões de hectares são áreas plantadas do agronegócio florestal. Um terço dessa área, cerca de 2,1 milhões de hectares, é de monocultura do eucalipto. De 2003 a 2007 foram aplicados 4,4 bilhões de reais no setor.

FONTE: http://www.mst.org.br/node/16767

21 de Setembro: dia internacional da luta contra as monoculturas de árvores

 

 Como todos os anos, em 21 de setembro próximo, comemoramos o Dia Internacional contra as Monoculturas de Árvores.

 A data, que foi lançada no Brasil, em 2004, pela Rede Alerta Contra o Deserto Verde, serve para que tenhamos um momento especial, a cada ano, para denunciar os graves impactos do modelo de produção industrial de árvores em grande escala sobre comunidades e ecossistemas. Todos os anos, organizações e movimentos sociais realizam várias ações durante o mês de setembro para dar visibilidade às suas lutas e denunciar os impactos negativos das plantações de árvores sobre seus meios de subsistência e seus territórios. Mas, acima de tudo, o 21 de setembro é um dia para celebrar a força e a solidariedade e dizer: basta de monoculturas de árvores!

No WRM, acompanhamos e apoiamos as ações que são executadas. Como temos feito nos últimos anos, de agora até 21 de setembro, estaremos colocando à disposição uma série de ferramentas que fornecem mais informações sobre os impactos em diferentes países e sobre as novas tendências que estão promovendo a expansão de monoculturas de árvores. Além disso, informaremos sobre as ações que necessitam de solidariedade internacional.

 Muito em breve, estará disponível em nossa página uma seção com todos os materiais que vamos oferecer.

Nesta primeira comunicação, informamos sobre uma publicação que fizemos para a América Latina, intitulada “Monoculturas de árvores na América Latina: situação trabalhista e destruição das economias locais” (disponível  em espanhol), que resume três estudos de caso sobre o assunto no Chile, no Uruguai e na Guatemala. Está disponível em: http://wrm.org.uy/

 

Nuvens de Veneno

NUVENS

O filme “Nuvens de Veneno”, do cineasta e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Beto Novaes, reafirma Mato Grosso como campeão nacional em uso de venenos agrícolas, principalmente no plantio de grãos.

Em 25 minutos, o documentário mostra os riscos da cultura do agrotóxico para quem pulveriza as lavouras e para quem come os alimentos.

O filme foi lançado em Cuiabá, em um evento na Escola de Saúde Pública, que abordou a saúde do trabalhador da cidade e do campo em Mato Grosso.

Convido a todos a assistir e compartilhar o filme, no link abaixo:

http://muralvirtual-educaoambiental.blogspot.com.br/2013/12/nuvens-de-veneno.html

Esse modelo se desenvolva, em parte, pela desinformação da sociedade que não cobra das autoridades mais seriedade e responsabilidade sobre o tema.

Enquanto isso, segue no congresso, projeto que facilita registro de novos agrotóxicos do senador Ruben Figueiró (PSDB-Mato Grosso do Sul). O projeto de Lei PLS 209/13 fixa em 180 dias o prazo máximo para a liberação de novos defensivos agrícolas no mercado, projeto esse, que é para atender uma das principais queixas das empresas de agrotóxicos.

FONTE: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=263604637124438&set=a.147638088721094.33444.130765053741731&type=1&theater

Novo incêndio na Mata do Carvão expõe limites do modelo de conservação ambiental

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Por Vinicius R. Leite

Na tarde desta terça-feira (19/11/2013) um incêndio de causa desconhecida atingiu a Unidade de Conservação de Proteção Integral da Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba (EEEG). Esse incêndio de proporção considerável se alastrou por uma área de vegetação brejosa no entorno da Mata do Carvão na porção Sul. A Mata do Carvão é um remanescente de florestal relictual de Tabuleiros que possui grande relevância ecológica no Norte Fluminense dada a sua representatividade e biodiversidade remanescente. O incêndio foi parcialmente controlado por equipes do INEA na última quarta-feira (20/11/2013). Porém, até à tarde desta quinta-feira ainda podiam ser constatados focos principalmente devido aos ventos que predominam na região.

No ano de 2011, outro incêndio de proporção equivalente atingiu também a vegetação de brejo situada mais ao norte na porção central da Estação Ecológica. Nesse caso, a queimada de uma área com cana-de-açúcar foi considerada como causa inicial, cujo espalhamento do fogo atingiu inclusive parte da vegetação florestal da Mata do Carvão, o que resultou em perdas para a biodiversidade devido à morte de inúmeros animais da fauna local e perda de cobertura vegetal. A mesma coisa acaba de acontecer neste incêndio.

Desde o ano de 2011 uma pesquisa científica que investiga os problemas relacionados à viabilidade de unidades de conservação no RJ vem sendo executada no Setor de Estudos de Sociedade e Meio Ambiente da Universidade Estadual do Norte Fluminense. A pesquisa inclui o mapeamento dos agentes antrópicos que possam afetar a eficácia de áreas protegidas no Rio de Janeiro. Dados preliminares conforme as figuras abaixo demonstram que no caso da EEE de Guaxindiba o incêndio atual e o ocorrido em 2011 atingiram áreas queimadas de extensão similar, entorno 300 hectares queimados para cada ano.

Apesar dos esforços de fiscalização (formação de brigadas) pelas agências governamentais para combate aos incêndios florestais, esses incêndios continuados apontam que um planejamento mais criterioso que inclua a comunidade local como parceira na conservação ambiental deva ser um caminho mais palpável para preservação dos recursos naturais locais. Diferentemente, e conforme a alegação de agricultores que vivem na área do entorno da EEE de Guaxindiba, é possível notar que além da pressão para desapropriação, haja um quadro geral de falta de incentivo político e financeiro. Incentivos que poderiam advir na forma de fomento ao desenvolvimento de atividades agropecuárias mais sustentáveis em consonância com os objetivos ambientais, o que inclui desenvolvimento de sistemas policulturais e de integração entre pecuária, lavoura e floresta, de modo a manter as comunidades no papel de conservação da terra e dos recursos naturais.

Assim sendo, e apesar de os estudos científicos mais atuais apontarem que o modelo de conservação que exclui o homem do ambiente que teve surgimento nos Estados Unidos seja insustentável, as agências governamentais brasileiras ainda continuam a utilizá-lo sem receio e também por não conhecerem a mudança de paradigma. A decisão por esse modelo de conservação retrógrado poderá, entretanto, comprometer em longo prazo a efetividade das unidades de conservação no desenvolvimento de seu papel, já que os efeitos deletérios das atividades humanas sobre o ambiente aparentemente ainda continuam descontrolados.