Desmatamento no Cerrado e crise hídrica no Brasil: mais um dano causado pelo avanço descontrolado do “ogronegócio”

O jornal “Folha de São Paulo” trouxe ontem uma matéria em que são apresentados dados correlacionando o avanço do desmatamento no Cerrado com o ressecamento de rios em bacias hidrográficas importantes, incluindo a do Rio São Francisco.  A questão é que apesar de exercer um papel fundamental na regulação hídrica no Brasil, a vegetação do Cerrado sequer é conisderada uma floresta, permitindo assim que o desmatamento avance quase livremente em todo o bioma, ainda que concentrado atualmente no chamado Matopiba (ver figura abaixo).

desmatamento cerrado

O fato é que apesar de não ser tão valorizado quanto a floresta amazônica, o Cerrado é altamente biodiverso e possui características que propiciam a acumulação de água subterrânea que acaba favorecendo a recarga hídrica em toda a extensão do bioma. 

Mas agora com o avanço da monocultura da soja no Matopiba, inclusive sob a facilitação de governos do PT como é o caso da Bahia, o Brasil corre o risco de ver grandes rios se transformando em leitos secos, o que seria uma crise de proporções apocalípticas, visto que o impacto sobre o abastecimento de água irá alcançar áreas fora do Cerrado.

Aliás, como já informado aqui mesmo, em janeiro deste ano, um artigo do qual sou um dos co-autores foi publicado pela revista científica Sustainability mostrando os graves impactos que o desmatamento do Cerrado está causando no fluxo de água de 81 bacias hidrográficas dentro do bioma.  Ali alertamos para as tendências atuais e os riscos de falta de água que o avanço das monoculturas estão causando. Entretanto, até agora, os dados ali apresentados não parecem ter gerado nenhum senso de urgência, apesar das estimativas críticas que apresentamos (ver figura abaixo).

cerrado fluxo rios

E tudo isso para quê? Aparentemente para alimentar o “ogronegócio” que desmata e polui em troca de um modelo de acumulação de riqueza que só favorece um punhado de latifundiários do “ogronegócio’ brasileiro.

Ogronegócio: Marina Silva usa audiência para tirar a máscara de modernidade do latifúndio agro-exportador

ogronegocio

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, prestou um grande serviço para o Brasil ao usar ao utilizar a expressão “ogronegócio” para explicar as recentes decisões anti-ambientais tomadas pelo congresso nacional sob impulso da chamada bancada ruralista, também conhecida como Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).  Ainda que não tenha não tenha cunhado o termo, ela nos brindou com o uso dessa definição perfeita do latifúndio agro-exportador em uma audiência pública da Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados no último dia 24/5.

Ainda que Marina Silva tenha tentado contemporarizar ao afirmar que só uma parte do latifúndio agro-exportador age como “ogronegócio”, a verdade é que raros são raros os exemplos de grandes produtores rurais que adotam práticas sustentáveis. A imensa maioria gosta mesmo é desmatamento e agrotóxicos em suas propriedades, onde frequentemente ainda se encontra a prática hedionda do trabalho escravo. Por isso, não há nada disso de “agro”, pois o negócio desse pessoal é mesmo o “ogronegócio”.

E ainda há que se enfatizar que o “ogronegócio”  não sobreviveria sem os polpudos subsídios governamentais que chegam todos os anos para alimentar uma pauta de exportação que acaba servindo como ração animal em outras partes do mundo. Produzir alimentos mesmo é com a agricultura familiar que nem uso os mesmos métdos, nem, tampouco, recebe os bilhões de reais em subsídios que são dados anualmente para o “ogronegócio” continuar sua forma desastrosa de agricultura.