O jornal “Folha de São Paulo” trouxe ontem uma matéria em que são apresentados dados correlacionando o avanço do desmatamento no Cerrado com o ressecamento de rios em bacias hidrográficas importantes, incluindo a do Rio São Francisco. A questão é que apesar de exercer um papel fundamental na regulação hídrica no Brasil, a vegetação do Cerrado sequer é conisderada uma floresta, permitindo assim que o desmatamento avance quase livremente em todo o bioma, ainda que concentrado atualmente no chamado Matopiba (ver figura abaixo).
O fato é que apesar de não ser tão valorizado quanto a floresta amazônica, o Cerrado é altamente biodiverso e possui características que propiciam a acumulação de água subterrânea que acaba favorecendo a recarga hídrica em toda a extensão do bioma.
Mas agora com o avanço da monocultura da soja no Matopiba, inclusive sob a facilitação de governos do PT como é o caso da Bahia, o Brasil corre o risco de ver grandes rios se transformando em leitos secos, o que seria uma crise de proporções apocalípticas, visto que o impacto sobre o abastecimento de água irá alcançar áreas fora do Cerrado.
Aliás, como já informado aqui mesmo, em janeiro deste ano, um artigo do qual sou um dos co-autores foi publicado pela revista científica Sustainability mostrando os graves impactos que o desmatamento do Cerrado está causando no fluxo de água de 81 bacias hidrográficas dentro do bioma. Ali alertamos para as tendências atuais e os riscos de falta de água que o avanço das monoculturas estão causando. Entretanto, até agora, os dados ali apresentados não parecem ter gerado nenhum senso de urgência, apesar das estimativas críticas que apresentamos (ver figura abaixo).
E tudo isso para quê? Aparentemente para alimentar o “ogronegócio” que desmata e polui em troca de um modelo de acumulação de riqueza que só favorece um punhado de latifundiários do “ogronegócio’ brasileiro.