
Por Douglas Barreto da Mata
Este texto não procura diminuir as qualidades eleitorais e da gestão municipal, apesar de eu achar que há muita coisa a ser feita. Nada disso. No entanto, não é possível ignorar a capacidade de articulação política do atual prefeito, a forma como entendeu a carência deixada pelo seu antecessor, Rafael Diniz, O Incapaz, e mais, como dominou a comunicação de si mesmo, e do seu governo.
Não posso afirmar se Getúlio (Vargas) criou a obrigação de colocar o quadro do mandatário (no caso dele, presidente) nas repartições públicas, mas ficou para a História o jingle da sua campanha de 1950: (bota o retrato de Velho outra vez/Bota no mesmo lugar/O sorriso do velhinho faz a gente trabalhar, letra de Francisco Alves).
Essa musiquinha dava contorno à concepção da onipresença, como se a imagem conferisse um olhar do líder sobre seus subordinados, compelindo-os a executar suas tarefas. Ou seja, o líder cuida de todos, mas a todos observa. Em tempos de rede social, a tarefa de se fazer presente se torna um pouco mais fácil.
Nos tempos do pai do atual prefeito, o ex-Governador Garotinho, essa maneira de agir se manifestava em presença física em obras, escolas, etc, e justiça seja feita, o filho Wladimir ainda guarda essa rotina, para além da presença virtual nas redes sociais.
Zezé Barbosa, avô de Rafael Diniz, preferia madrugar no “triturador”, instalação usada para moer ossos em um antigo matadouro, convertida como instalação da prefeitura, ao lado do cemitério do Caju, de onde o então prefeito despachava desde muito cedo.
Essa conjugação de fatores (presença, marketing pessoal de rede e fracasso do antecessor) porém, não deve ser a única explicação, eu presumo, para tanta vantagem de Wladimir sobre os oponentes.
Como o título já entrega, a fragilidade, ou pior dizendo, a indigência intelectual dos opositores ajudou, e muito! Vejam o caso do PT. Primeiro, sob as ordens do grupo político que tem no presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) seu comandante, manteve a tese de que a deputada Carla Machado poderia ser candidata, ainda que até as pedras do Cais da Lapa soubessem que não.
A justificativa? Mesmo na impossibilidade, a projeção do nome dela faria com que houvesse um capital político acumulado, que poderia ser herdado por quem ocupasse a vaga de dublê da deputada.
Bem, se foi isso, alguém tem que reclamar com o roteirista desse filme, que neste caso, dizem foi o pessoal do “Sou Feijó, mas Voto PT”, personificado em ninguém menos que Luciano D’ Angelo, considerado um dos alquimistas da político local, mas que, ao que tudo indica, perdeu um pouco a mão na dose de antigarotismo.
Além do constrangimento ao candidato, Jefferson, que sempre foi visto, e sempre se sentiu como um estepe, o tal capital político desejado (votos de Carla Machado) migrou sim, mas para o centro (Wladimir) e para a extrema direita (delegada), por um motivo simples: esse é o perfil do eleitor de Carla, a direita, conservadora, que enxerga nela um tipo de matriarca de São João da Barra.]
Pois bem, os tropeços e vergonhas se acumularam, com Jefferson debatendo dados do IDEB, mesmo com todas as evidências em seu desfavor, tingindo a campanha do PT de um negacionismo só visto nos piores tipos da extrema-direita, pois atacou, alucinadamente, dados de uma medição promovida pelo governo federal, que sabemos, hoje é liderado pelo PT.
Se já não fosse suficiente, Jefferson ainda teve que encarar o constrangimento de ter seu trágico desempenho nos índices de avaliação (ENEM-ENAD) trazidos ao público, já que em sua gestão a colocação do IFF Norte Fluminense despencou.
O outro vexame se deu pelo fato de o PT funcionou como cavalo de aluguel da candidatura da extrema-direita, e essa certeza veio quando Jefferson tentou, de forma criminosa, criminalizar a campanha de Wladimir, inferindo que o prefeito tivesse vínculo com as supostas condutas ilícitas, atribuídas a um vereador, candidato à reeleição. Logo o PT, querendo atacar e “lawfare”sendo o PT uma das grandes vítimas da ditadura das togas. (Faça o que eu falo, não faça o que faço.) Não ficaram só para o PT as trapalhadas.
O pessoal da candidata delegada também se esmerou. Primeiro a abordagem raivosa, quase bélica, contra um prefeito bem avaliado, com fama de bonachão e gente boa. O episódio de um deputado estrangeiro ofendendo a primeira-dama foi o clássico tiro no pé, ainda mais para alguém que tem no seu único ítem no currículo a passagem pela DEAM.
(Faça o que falo, não o que faço).
Ao invés de trazer debates necessários, a campanha da delegada preferiu o caminho do desgaste da imagem do atual prefeito, sem considerar o óbvio: na atual conjuntura, lendo as mesmas pesquisas qualitativas que, por certo, todos os grupos políticos têm acesso (ou deveriam), já deveria estar claro que essa tática não levaria a lugar algum.
O eleitor de Wladimir não identifica os erros como sua responsabilidade por dois motivos: Wladimir conseguiu fazer com que parte dos erros sejam entendidos como resultado da gestão passada (o que é correto), mas principalmente, porque ele mesmo, Wladimir, tomou da oposição a narrativa desses erros, quando admite as suas existências, e diz que só ele poderá acertar no próximo mandato.
Isso só foi possível, como já dissemos, porque ele construiu uma relação bem sucedida com o eleitor, atributo pessoal dele, e que supera qualquer argumentação em contrário.
Restava à oposição falar daquilo que não se fala, mas aí faltou, do lado petista a coragem, e talvez também houvesse o impedimento pela estranha aliança com a extrema-direita, que interditou, por exemplo, uma discussão sobre tributos, questões fundiárias urbanas e rurais, ambiente, etc.
Já no caso da extrema-direita, esta agenda nunca seria trazida ao centro do debate, por questões óbvias. Assim, o prefeito “cercou por todos os lados”, como se dizia na contravenção, antigamente.
Claro que tudo isso foi salpicado com passagens grotescas, porém bem-humoradas, ao contrário do triste episódio do deputado alienígena ofendendo a primeira-dama, ao lado de uma sorridente delegada da DEAM.
Teve também, por exemplo, a piada que foi a representação pela censura de um boneco, o Wladinho. Ao morderem a isca e passarem ao ataque a uma referência, os opositores mostraram o quanto perdidos estão. Sim, a metalinguagem transferida ao boneco é um truque antigo, mas ainda hoje, como vemos, é super eficiente.
Para responder a uma metáfora, só outra.
Não se responde a um boneco com fala de gente, formal, séria…você responde a um boneco com a mesma linguagem, no mesmo campo do humor e da jocosidade. Atributos que não se encaixam no raivoso figurino da extrema-direita, e como também já falamos, foi a escolha desde o começo.
Já no campo dos debates, assistimos a um vídeo cansativo da deputada Carla Machado, deitando longos minutos de falação, enquanto suas mãos repousavam sobre um tipo de diploma ou título, como se a conferir respeitabilidade à interlocutora, um tipo de chancela.
Aquilo que ela prega aqui, para Campos dos Goytacazes, a candidata dela em SJB não pratica, ou seja, lá em São João da Barra, Carla Caputi, favorita à reeleição e apoiada por Carla Machado, não vai fazer debate com o opositor.
(Faça o que falo, não o que faço).
Como ato de “grand finale”, a deputada Carla Machado deu a facada final na moribunda campanha de Jefferson do PT, ao declarar apoio à delegada candidata. Matou duas campanhas com uma paulada só. Talvez nem se ela desejasse tal consequência, ela teria tanto êxito, a deputada.
Ao aderir à delegada, talvez tenha tirado qualquer chance de que ela (a delegada) fizesse um pouco mais de votos, e assim se revelasse como um quadro político relevante para o futuro próximo.
Eleitores de direita e de extrema-direita da delegada, provavelmente, não engoliram essa união, e se não migraram para o campo dos brancos e nulos, ainda podem fazer o pior, e votar em Wladimir.
Quanto ao Professsor Jefferson, eu nem sei ao certo, talvez essa “facada” fosse a deixa para ele retirar a campanha, e se poupar um pouco da extrema vergonha que se fez passar, em um auto flagelo poucas vezes visto na História.
Quem sabe faltou ensaio, e ele não seguiu o roteiro? Por último, e não menos importante, nestes últimos dias, a oposição se superou. É claro que é leviano dizer que o time da delegada tenha censurado a publicação dos resultados da pesquisa Paraná/O Dia.
Não acho que um veículo com a dimensão do O Dia aceite fazer um papel tão rasteiro. Porém, as más línguas (sempre elas) juram que essa censura pode ser verdade, pois a situação é ainda mais grave.
O resultado não seria apenas uma confirmação do quadro anterior, mas traria notícias ainda piores, ou seja, confirmava a tendência de queda já observada.
Alguns se perguntam, atônitos: Uai, se eles dizem que pesquisas não importam, e que o resultado que importa é o dos urnas (e é verdade), por que tanto trabalho para esconder os resultados (negativos) da pesquisa?
(Faça o que falo, não o que faço).
Outros ainda mais maldosos dizem que a debandada de eleitores da delegada levou o comando da campanha a gestos desesperados, como a contratação de milhares de pessoas para empunhar bandeiras pelas ruas, para dar ideia de volume (e vitória). O evento pode ser chamado de Invasão dos Bandeirantes.
Mesmo assim, o efeito parece ser o contrário, e há a nítida impressão de que os bandeirantes aceitem a remuneração, mas votem no atual prefeito, o que não seria inédito na história e anedotário eleitoral.
Como a última pesquisa foi, de fato, censurada, o que fica é a especulação, a quiromancia estatística.
Eu lembro do sincericídio de Rubens Ricúpero, chanceler do Itamaraty nos tempos de FHC, falando das estratégias de marketing do Plano Real, que foi capturado antes da entrevista, mas vazado, para desespero dele: “O que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde”.





