A Springer Nature lançou uma nova ferramenta para ser usada em submissões a seus periódicos e livros, com o objetivo de detectar frases não padronizadas em manuscritos submetidos.
A ferramenta funciona detectando frases incomuns, construídas de forma confusa ou excessivamente complexas, como por exemplo, “consciência falsificada” em vez de “inteligência artificial”. Essas frases indicam que os autores utilizaram ferramentas de paráfrase para burlar a detecção de plágio. Caso a ferramenta identifique diversas frases atípicas, o trabalho será retirado.
A ferramenta foi desenvolvida utilizando o catálogo público de frases problemáticas do Problematic Paper Screener (PPS), criado por Guillaume Cabanac, Cyril Labbé e Alexander Magazinov, e passou por múltiplas rodadas de testes e validação para fornecer uma avaliação confiável de trabalhos submetidos em diversas disciplinas acadêmicas.
Tamara Welschot, Chefe de Integridade em Pesquisa e Prevenção da Springer Nature, comentou: “Pesquisas fraudulentas são um desafio que afeta a todos nós na indústria editorial e precisamos trabalhar juntos para combatê-las. O desenvolvimento desta ferramenta foi um projeto de longa duração que envolveu estreita colaboração entre o grupo de integridade em pesquisa e diversas equipes de tecnologia da Springer Nature, com base em importantes trabalhos de investigadores de integridade da comunidade acadêmica.
“Agradecemos a Cabanac, Labbé e Magazinov por seus esforços no desenvolvimento do Problematic Paper Screener e por destacarem artigos com frases confusas para a comunidade editorial em geral. Nossa ferramenta identifica esses artigos problemáticos no momento da submissão, impedindo sua publicação e economizando o valioso tempo de editores e revisores .”
A ferramenta de detecção de frases não padronizadas é a mais recente adição ao conjunto de soluções de integridade científica da Springer Nature e complementa as ferramentas já existentes: um detector de textos sem sentido, o Snappshot (que identifica imagens duplicadas ou manipuladas) e uma ferramenta de verificação de referências irrelevantes. Essas ferramentas foram desenvolvidas internamente como parte do compromisso contínuo da Springer Nature em garantir a integridade do trabalho que publica. Esse compromisso inclui investimentos em uma equipe de especialistas em rápido crescimento e no desenvolvimento contínuo de tecnologia.
A Springer Nature também se comprometeu a colaborar com a comunidade editorial em geral, como uma organização contribuinte do STM Integrity Hub , que facilita a troca de conhecimento e dados e desenvolve ferramentas tecnológicas compartilhadas, e para o qual a Springer Naturedoou seu detector de textos sem sentido para uso em todo o setor.
Classificados digitais, como OLX, e plataformas especializadas, como StudyBay, oferecem produção de conteúdos acadêmicos. Mercado paralelo abre brechas para crimes como falsidade ideológica e violação de direitos autorais
Por Gabriel Daros | Edição Carlos Juliano Barros para “Repórter Brasil”
Um mercado paralelo de monografias, artigos científicos e trabalhos de conclusão de curso (TCC) está “a um Google de distância”. Por R$ 80, é possível encomendar um texto acadêmico de 20 páginas em sites de ‘bicos digitais’, como VintePila, em classificados de internet , como OLX, ou em plataformas especializadas, como StudyBay e TCC Nota 10.
Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, pagar alguém para produzir um trabalho científico não é necessariamente ilegal. As irregularidades acontecem, porém, quando o contratante se apresenta como autor de uma obra feita por um terceiro, ou quando produções de outros são copiadas, sem a devida citação.
Em geral, quem oferece esse tipo de serviço, de forma anônima e por meio de plataformas, tem diploma e familiaridade com o ambiente acadêmico – alguns, inclusive, trabalham como professores e pesquisadores em universidades.
Em nota, OLX diz que anúncios de venda de trabalhos acadêmicos na plataforma são proibidos (Imagem: Reprodução / OLX)
Uma graduada em psicologia ouvida pela reportagem, mas que prefere não se identificar, conta que atua neste mercado há oito anos. No começo, ela era paga por serviços básicos de edição e revisão. Mas, ao receber propostas de clientes oferecendo mais dinheiro para escrever trabalhos em nome deles, decidiu mudar de atividade.
“Até tentei divulgar para buscar mais serviços de correção, de metodologia e de ortografia. Só que o pessoal tinha muito mais interesse em que eu fizesse mesmo o trabalho”, explica.
O que começou como ‘bico’ chegou a ser fonte exclusiva de renda em períodos de desemprego – rendendo de R$ 500 a R$ 3.500 por mês. “Os próprios professores da graduação me indicavam para eu fazer o trabalho [para outros alunos]”, relata.
Clientes e profissionais podem incorrer em crimes
Consultor em direito patrimonial e membro-fundador do Núcleo de Pesquisa em Propriedade Intelectual da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Tobias Klen explica que apenas o uso efetivo destes trabalhos, como publicação ou apresentação em bancas de universidade, pode implicar crimes como violação de direitos autorais e falsidade ideológica.
“A infração está no momento que você contrata [o serviço de um terceiro] e de fato apresenta perante uma universidade, dizendo que você é o autor”, diz.
Allan Rocha de Souza, presidente do Instituto Brasileiro de Direitos Autorais (IBDAutoral) e professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), segue a mesma linha de raciocínio.
“Quem deveria estar fazendo o trabalho, mas está comprando, viola a sua relação com a instituição à qual pertence, porque se comprometeu a fazer e a entregar o trabalho. Isso é uma violação disciplinar e, inclusive, contratual, em vários aspectos – além de [uma violação] ética”, explica.
Ainda segundo Souza, a venda de produções acadêmicas, embora moralmente questionável, não chega a ser por si só um problema do ponto de vista legal. Mas o plágio de artigos feitos por outras pessoas infringe a lei.
“Se estiver copiando trabalhos alheios, é uma violação de direitos autorais. No final das contas, a partir de uma violação inicial, todos nessa cadeia acabam implicados”, complementa.
Plataforma conecta ‘estudantes ambiciosos’ a ‘experts ao redor do mundo’
Além de plataformas generalistas, como VintePila e OLX, sites especializados também intermediam o comércio de produções acadêmicas, como o StudyBay. Criado em 2011, no Chipre, o site afirma conectar “estudantes ambiciosos” a “experts ao redor do mundo”.
No Brasil, o StudyBay permite encomendas em diferentes áreas, como Administração, Direito, Engenharia, Medicina e Pedagogia. Para produzir os conteúdos, a plataforma afirma contar com a mão de obra de ex-alunos de universidades renomadas, como USP, UFSC, UFRGS, Unifesp e Unicamp.
O modelo de negócios é baseado em uma espécie de “leilão”. Primeiro, o contratante posta os detalhes do conteúdo acadêmico de que necessita. Na sequência, produtores interessados em fazer o serviço oferecem um orçamento.
Após fechar o contrato, o cliente paga o valor combinado, mais uma taxa de 33% para a Studybay. Os produtores do conteúdo acadêmico também pagam uma comissão à plataforma, de acordo com o nível de exigência da encomenda.
No StudyBay, o modelo de negócios é baseado em uma espécie de “leilão” (Imagem: Reprodução / StudyBay)
Um estudante de psicologia conta que começou a fazer trabalhos pela StudyBay em 2020. Na época, recebia R$ 1.500 só com a redação de artigos e trabalhos – valor três vezes superior ao da sua bolsa de pesquisa na graduação.
Segundo ele, a maior parte de suas produções na StudyBay foram encomendadas por estudantes de instituições de ensino privadas.
“Nessas faculdades privadas mais precarizadas, não existem muitas oportunidades de fazer, por exemplo, uma recuperação”, explica. “As pessoas acabam preferindo pagar para alguém fazer um trabalho do que [desembolsar] R$ 1 mil só para cursar uma disciplina de novo”, complementa.
Em seus termos de uso, a StudyBay afirma que a conclusão da venda termina com a transferência dos direitos autorais para o contratante — uma prática que não é completamente validada pela legislação brasileira. Allan Rocha de Souza, do IBDAutoral, explica que não é possível vender a autoria de um trabalho acadêmico, mas apenas conceder o direito de uso.
Ele explica ainda que autores que vendem estes trabalhos podem reclamar a autoria quando bem entenderem.
“A qualquer momento, essa pessoa que permite a você dizer que fez o trabalho, pode reclamar a paternidade da obra”, finaliza.
Clientes reclamam de inteligência artificial
Além da StudyBay, plataformas brasileiras como o TCC Nota 10prometem auxílio em TCCs, monografias e demais produções científicas, com uma equipe “formada por mais de 30 redatores especialistas em diversas áreas do conhecimento”.
Tanto a StudyBay quanto a TCC Nota 10 vendem como diferencial serviços feitos supostamente por pessoas de carne e osso, para que o conteúdo produzido não seja detectado por ferramentas antiplágio. No entanto, em postagens do Reclame Aqui, é possível ler queixas de clientes sobre o uso de inteligência artificial (IA) para a produção de artigos.
Cliente da plataforma StudyBay reclama do uso de inteligência artificial na redação de trabalho de conclusão de curso (Imagem: Reprodução / Reclame Aqui)
Em julho deste ano, a StudyBay inaugurou discretamente uma inteligência artificial específica para redações e trabalhos acadêmicos, alimentada a partir de conteúdos feitos por autores cadastrados na plataforma.
Em nota enviada à Repórter Brasil, a OLX informa que anúncios de venda de trabalhos acadêmicos na plataforma são proibidos. A comercialização viola os Termos e Condições de Uso do site, que não permitem a fabricação ilegal de documentos oficiais e serviços que violem os direitos de autor.
“Quando identificados ou denunciados pelos usuários, anúncios desse tipo são removidos pela plataforma”, diz o posicionamento “Enfatizamos que, caso o usuário perceba que nossas políticas estão sendo infringidas, ele pode fazer a denúncia para que os anúncios sejam investigados e removidos”, finaliza a nota. Leia aqui a íntegra.
As demais empresas mencionadas – VintePila, StudyBay e TCC Nota 10 – não se pronunciaram até o fechamento desta reportagem. O texto será atualizado se as respostas forem enviadas.
Projeto de Lei criminaliza comércio de artigos acadêmicos
A criminalização do comércio de conteúdos acadêmicos é objeto de um projeto de lei em tramitação no Congresso Nacional — o PL 1820/2022, de autoria da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).
O texto proíbe o comércio de serviços dessa natureza, com exceção de revisão linguística e de padrões da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), e prevê punições como multa e detenção de até um ano. Atualmente, o PL aguarda a definição de relatoria na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.
Um cientista que revisava um estudo identificou figuras que pareciam idênticas às suas, o que levou a uma campanha frustrante para impedir sua publicação
O bioinformático Sam Payne tropeçou em um artigo em março que incluía figuras que, segundo ele, pareciam idênticas às de um artigo que ele publicou em 2021. Crédito: Getty
Por Dan Garisto para a Nature
Quando o bioinformático Sam Payne foi convidado a revisar um manuscrito sobre um tópico relevante para seu próprio trabalho, ele concordou — sem prever o quão relevante seria.
O manuscrito, que foi enviado a Payne em março, era sobre um estudo sobre o efeito de tamanhos de amostras de células para análise de proteínas. “Eu o reconheci imediatamente”, diz Payne, que está na Brigham Young University em Provo, Utah. O texto, ele diz, era semelhante ao de um artigo1que ele havia escrito três anos antes, mas a característica mais marcante eram os gráficos: vários eram idênticos até o último ponto de dados. Ele disparou um e-mail para o periódico, BioSystems , que prontamente rejeitou o manuscrito.
Em julho, Payne descobriu que o manuscrito havia sido publicado2no periódico Proteomics e alertou os editores. Em 15 de agosto, o periódico retratou o artigo. Uma declaração que o acompanhava citava “grande sobreposição não atribuída entre as figuras” nele e o trabalho de Payne. Em resposta a perguntas da Nature , um porta-voz da Wiley, que publica a Proteomics , disse: “Este artigo foi submetido simultaneamente a vários periódicos e incluía imagens plagiadas”.
A declaração de retratação também afirmou que quatro dos autores disseram que “não participaram da redação e submissão do artigo e não deram consentimento para publicação”, e que o quinto autor não respondeu. No entanto, a equipe de notícias da Nature encontrou links entre vários dos autores e a International Publisher, uma fábrica de artigossediada em Moscou. Nem os autores nem a International Publisher responderam aos pedidos de comentários da Nature .
O suposto plágio do artigo de Payne destaca vulnerabilidades sistêmicas na comunidade global de pesquisa, diz Lisa Rasmussen, editora-chefe do periódico Accountability in Research . De acordo com uma análise, cerca de 70.000 artigoscom características comuns ao trabalho produzido por fábricas de papel foram publicados somente em 2022.
Apesar da escala do problema, não há um equivalente da Interpol para periódicos, nem uma autoridade oficial para fornecer alertas para toda a indústria sobre manuscritos suspeitos. “Foi apenas um golpe de sorte que a pessoa solicitada para revisá-lo fosse o autor”, diz Rasmussen. “Obviamente, nosso sistema não deve depender desse tipo de serendipidade.”
Cópia carbono
Embora algumas figuras no manuscrito do BioSystems fossem cópias diretas daquelas no artigo de Payne, outras foram simplesmente refeitas usando seus dados, que estão disponíveis publicamente, ele diz. Elecompartilhoua experiência desconcertante no X, anteriormente conhecido como Twitter. “Bem, aconteceu”, ele escreveu. Ele estava revisando um artigo, ele escreveu em um post, que incluía “uma cópia direta das figuras” em um de seus próprios artigos.
Fonte: Ref. 1 e Ref. 2
Quando, meses depois, ele descobriu o artigo da Proteomics , ele postou um acompanhamento. “Bem. REALMENTE aconteceu” — o artigo que ele havia sido solicitado a revisar havia sido publicado. Duas semanas depois, a Proteomics retirou o artigo, citando plágio de imagens.
Diferentemente das figuras, o texto principal do artigo Proteomics é similar ao de Payne, mas não idêntico. Por exemplo, Payne e seus colegas escreveram:
“Da grande população de 10.000 células, subamostramos um determinado número de células n_sample ∈ [7, 16, 20, 30, 100] e calculamos S/V est .”
O parágrafo correspondente do artigo sobre Proteômica apresenta os mesmos números e muitas das mesmas palavras:
“Os autores calcularam S/Vest usando a amostra n = [7, 16, 20, 30, 100] células de uma população de 10.000 células.”
No decorrer da reportagem, a Nature encontrou ligações entre autores do artigo Proteomics e uma fábrica de artigos científicos. Dois autores, Dmitrii Babaskin e Tatyana Degtyarevskaya, ambos da IM Sechenov First Moscow State Medical University, tiveram artigos separados 3 , 4 retratados do International Journal of Emerging Technologies in Learning . Ambas as declarações de retratação, emitidas em julho de 2022, usam a mesma linguagem: “O trabalho pode estar vinculado a uma fábrica de papel criminosa que vende autorias e artigos para publicação.”
Como evidência, as declarações citaram o trabalho de Brian Perron — que estuda serviço social na Universidade de Michigan em Ann Arbor e também trabalha como detetive de má conduta — e seus colegas, que encontraram ligações entre ambos os artigos retratados e a International Publisher. Nem Babaskin nem Degtyarevskaya responderam aos pedidos da Nature para comentar sobre as retratações.
O site da International Publisher anuncia uma seleção de mais de 10.000 manuscritos, sobre tópicos tão diversos quanto ametalurgia da soldagem de liga de alumínio e as características biológicas das codornas . Os compradores em potencial podem ver o título do artigo e, às vezes, seu resumo, bem como a classificação esperada no banco de dados de citações Scopus do periódico de publicação. Eles então selecionam um slot de autor, com custos variando de cerca de US$ 500 a US$ 3.000. A empresa promete que os títulos e resumos exibidos online serão “completamente alterados” para publicação. “Ninguém jamais conseguirá encontrar o manuscrito em lugar nenhum”, declara o site.
No entanto, em 2021, Perron e seus colegas relataram no site de vigilância de fraudes científicas Retraction Watch que eles identificaram quase 200 artigos publicados que provavelmente se originaram da International Publisher. Vários dos títulos publicados “eram quase palavra por palavra” os mesmos que os listados para venda, diz Perron. Muitos dos artigos listados no relatório do Retraction Watch foram posteriormente retratados . Solicitada a comentar as alegações de que é uma fábrica de papel, a International Publisher não respondeu.
Limpando o catálogo
A International Publisher remove listagens de artigos de seu catálogo on-line após os artigos serem comprados. Para contornar isso, a Nature examinou um banco de dados de listagens de artigos anteriores da International Publisher, criado por Perron, e vasculhou capturas de tela do site da fábrica de papel tiradas pela organização sem fins lucrativos Internet Archive, sediada em São Francisco, Califórnia. A busca mostrou que os títulos de vários artigos publicados por quatro dos cinco autores do estudo Proteomics correspondiam aos títulos de artigos listados anteriormente para venda pela International Publisher.
Essas listagens de artigos não incluem o texto completo do artigo, mas fortes evidências circunstanciais conectam as listagens da fábrica de papel a estudos publicados. Por exemplo, uma captura de tela do site da fábrica de papel tirada em setembro de 2021 mostra que entre os artigos à venda estava o nº 1584, “A estrutura da vegetação florestal em lixões industriais de diferentes idades”. Degtyarevskaya foi autora de um artigo publicado na Ecology and Evolution5 em julho de 2023 com um título quase idêntico e resumo correspondente. Em resposta a uma consulta da equipe de notícias, a Ecology and Evolution disse que agora está investigando o assunto.
Embora a equipe de notícias da Nature não tenha conseguido localizar uma listagem de vendas no site da International Publisher para o artigo da Proteomics , Perron diz que o artigo tem váriascaracterísticas de artigos de fábricas de papel . A Nature não conseguiu encontrar nenhum outro estudo publicado pelos autores sobre o assunto do artigo, análise de proteínas. Além disso, o manuscrito foi enviado à BioSystems enquanto ainda estava sob revisão na Proteomics . Perron diz que enviar um manuscrito para mais de um periódico simultaneamente é uma tática clássica de pesquisadores que tentam publicar produtos de fábricas de artigos científicos.
Um porta-voz da Wiley não especificou se o artigo supostamente plagiado da Proteomics veio de uma fábrica de papel, mas disse: “Nossa investigação confirmou que houve manipulação sistemática do processo de publicação”.
Verifique e verifique novamente
Nos últimos anos, algumas editoras e periódicos tomaram medidas extras contra plágio e fábricas de papel. Um desses esforços, desenvolvido pela International Association of Scientific, Technical and Medical Publishers (STM), uma organização comercial em Haia, Holanda, é o STM Integrity Hub, um recurso para editoras científicasque inclui uma ‘ferramenta de verificação de fábrica de papel’ e uma ‘ferramenta de verificação de envio duplicado’. Este último está em uso em mais de 150 periódicos e verifica mais de 20.000 artigos por mês. Mais de 1% são identificados como duplicados.
Não há métricas sobre a frequência com que os pesquisadores detectam plágio em seus próprios trabalhos, mas vários pesquisadores responderam às postagens de Payne nas redes sociais compartilhando que se encontraram em uma situação semelhante.
Para Payne, a perspectiva defábricas de artigos tirando vantagem da IAé assustadora. “Isso, eu acho, é um golpe muito bom”, ele diz. “Eu acho que isso vai acontecer mais.”
A Câmara Técnica de Ética em Pesquisa (CTEP), instância consultiva do Conselho de Ensino para Graduados (CEPG) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), associada à Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (PR-2), convida a comunidade universitária para uma discussão sobre “Produção intelectual na universidade e Chat GPT: Novos tempos para a integridade acadêmica”.
O evento será realizado no dia 25 de maio de 2023, das 15:30 às 18h, em formato virtual (link para inscrição ao final desta mensagem). Haverá interpretação de libras.
Detalhes de acesso serão disponibilizados por e-mail no dia 24 de maio, um dia antes do evento.
O tema é de amplo interesse público e, no âmbito da produção intelectual na universidade, são inúmeras as oportunidades e desafios que incluem questões de natureza autoral e de integridade acadêmica de amplo interesse na comunidade universitária. Este evento explorará algumas dessas oportunidades e desafios nas atividades de ensino e pesquisa na graduação e na pós-graduação.
A PR-2 e a PR-1 estimulam a participação, especialmente de docentes e discentes.
Segue a programação:
“Produção intelectual na universidade e Chat GPT: Novos tempos para a integridade acadêmica” [25 de maio 2023 – 15:30-18h] Abertura (15 min) – Profa. Denise Freire (IQ/CCMN) – Pró-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa (PR-2); Prof. Marcelo de Pádula (FF/CCS) – Pró-Reitor de Graduação (PR-1); Profa. Sonia Vasconcelos (IBqM/CCS) – Coordenadora da CTEP Apresentação dos palestrantes (5 min)
Apresentação 1 (30 min) – Prof. Jesús Mena-Chalco – Centro de Matemática Computação e Cognição (CMCC); Escritório de Integridade em Pesquisa da UFABC – Universidade Federal do ABC (UFABC)
Apresentação 2 (30 min) – Prof. Renan Almeida – Programa de Engenharia Biomédica da COPPE/UFRJ; Membro da Subcâmara de Integridade em Pesquisa da CTEP/UFRJ (Vice-Coordenador)
Sessão de Debates com a Audiência (60 min) – Moderadores: Profa. Sandra Becker (Instituto de Relações Internacionais e Defesa/CCJE); Profa. Bianca Ortiz (Decania/CCS/UFRJ); Profa. Mariana Boechat (Decania/CCS/UFRJ); Ariane Roder (COPPEAD) – Superintendente Acadêmica de Pesquisa (PR-2)
Considerações Finais (10 min) – Prof. Edson Watanabe (PEE/COPPE)
O doutorado de Arash Derambarsh, que permitiu a ele se tornar advogado, foi retirado pela seção disciplinar da instituição. Diversas disfunções foram trazidas à luz
Por Por Yann Bouchez e Camille Stromboni para o Le Monde
Espera-se que o assunto afete a academia e além. Uma tese de direito, defendida e validada na Sorbonne, foi prejudicada pelo uso intenso da estratégia do “copia e cola”, constituindo assim plágio? A Seção Disciplinar do Conselho Acadêmico da Universidade de Paris-I-Panthéon-Sorbonne decidiu que sim, em uma decisão de terça-feira, 21 de julho, que Le Monde pôde consultar.
Após uma investigação aprofundada que foi resumida em 40 páginas, a Seção Disciplinar privou Arash Derambarsh de seu diploma obtido em 2015, uma “ponte” que o havia permitido se tornar advogado. O órgão da universidade decidiu pelo “cancelamento do exame de defesa da tese em questão”, “o que implica, de fato, a retirada do doutorado em direito”.
Acreditando que o plágio foi estabelecido e que o “fato agravante” da fraude é a recusa do interessado em reconhecê-la, bem como a “produção de versões falsificadas da tese antes da reunião da Seção Disciplinar”, o órgão decidiu , por maioria absoluta, pela exclusão definitiva do autor de qualquer estabelecimento público de ensino superior.
Resultados de comunicação
Personalidade da mídia, ele vem sendo eleito para a Câmara de Vereadores de Courbevoie (Hauts-de-Seine) desde 2014; agora ele é vice-responsável pelo desenvolvimento sustentável. Autor de um livro “Caia 9 vezes, levante-se 10″. Insucesso escolar: nunca desista” (Le Recherches Midi, 2019), tornou-se conhecido em particular por sua luta contra o desperdício de alimentos ou mesmo por golpes de comunicação, como quando se apresentou como presidente do Facebook na França.
Por vários meses, os debates em torno de sua tese intitulada “Arquivos policiais, uma estrutura jurídica e social em um ambiente controverso”, defendidos em 11 de dezembro de 2015, alimentaram as redes sociais. Em fevereiro, uma conta anônima no Twitter, “Tese e Síntese”, denunciou grandes empréstimos não citados na tese de M. Derambarsh, que tem quase 500 páginas e estimou que 92% dela – excluindo apêndices e bibliografia – era um simples exercício de “copia e cola”. As conclusões da Seção Disciplinar são finais. “Desde sua introdução (…) até sua conclusão (…), incluindo suas notas, apêndices, bibliografia, o manuscrito da tese de M. Derambarsh é quase inteiramente composto por um conjunto de textos, produzido em um contexto acadêmico ou publicado por outros autores que não ele próprio, e copiado de acordo com um ou mais dos procedimentos de plágio que visam fazer o leitor acreditar que o Sr. Derambarsh é o autor ”, escreve a autoridade.
“Este caso é terrível” Contou pelo menos 110 páginas – não se trata de um “censo exaustivo” – no qual são plagiados vários relatórios institucionais – do criminologista Alain Bauer, da Comissão Nacional de Computação e Liberdades (CNIL), o deputado (Ecologia, democracia, solidariedade) de Deux-Sèvres Delphine Batho e o ex-deputado (Les Républicains) de Val-de-Marne Jacques-Alain Benisti… -, artigos de jornal ou mesmo trabalho acadêmico.
O autor da tese de doutorado anulada denunciou ao Le Monde que é vítima de uma “conspiração”, enquanto anuncia que está apelando da decisão para o Conselho Nacional de Ensino Superior e Pesquisa, e solicita a suspensão de sua execução. “Não há plágio nesta tese, em nenhum momento recebo uma idéia de outra pessoa”, ele se defende. Por outro lado, é verdade, há um problema de forma, as aspas não são colocadas no lugar certo. “Se estou na fraude – não estou -, a Sorbonne é cúmplice, pois validou todas as etapas da minha tese”, acrescenta. Seu advogado, Me Yassine Bouzrou, lamenta o fracasso em respeitar os “direitos fundamentais” de seu cliente e, em particular, que a universidade rejeitou “os testemunhos que foram prestados para atestar sua boa fé”.
A presidência da Universidade de Paris enfatiza que o início desse procedimento se deu em julho de 2019, assim que surgiram suspeitas de fraude. “Esse caso é terrível”, reage Georges Haddad, presidente da Universidade de Paris-I, “haverá um antes e um depois, é claro que terá consequências. “Para o funcionário”, é a honra da universidade que está em jogo, a qualidade de seus diplomas, ainda mais no nível de doutorado, o grau absoluto. ” Ele e outros insistem, a decisão parece sem precedentes. “O cancelamento de uma tese na França e a retirada do título de doutor são extremamente raros”, observa Michelle Bergadaà, professora emérito da Universidade de Genebra, que trabalha com plágio acadêmico há quinze anos.
Que eu saiba, isso nunca aconteceu através de procedimentos internos da universidade, houve apenas alguns casos nos tribunais. As lições devem ser aprendidas neste caso, é o sistema que deve ser redesenhado em torno da integridade da pesquisa. “
“A questão de um júri de conveniência surge”
Além do plágio, a Seção Disciplinar se concentrou em várias questões delicadas: como essa tese poderia ser colocada sob o selo da confidencialidade – um procedimento extremamente raro – por um período de mais de trinta anos? A confidencialidade aumentou recentemente, quando a escola de doutorado foi alertada para essa anomalia. E como o júri da tese foi capaz de deixar esse trabalho passar?
Várias irregularidades são levantadas, em particular no que diz respeito à composição do júri, que reuniu o diretor de tese, o professor de direito Bruno Dondero, dois professores, Oleg Curbatov e Anne-Dominique Merville, além do ex-ministro e ex-ministro. deputado Frédéric Lefebvre e advogado Francis Szpiner.
Os perfis deles questionam. Primeiramente por sua falta de proximidade com o assunto da tese. “É muito incomum nomear como pré-colaborador de uma tese um professor-pesquisador que não pertence à disciplina em que a tese é defendida”, observam os autores da decisão em particular.
Mas também por causa da proximidade com o doutorado. A Seção Disciplinar identifica fatos que provavelmente serão considerados uma “comunidade de interesse óbvio”, em particular um dos membros do júri, o Sr. Curbatov, que também presidiu uma associação cultural no município do qual o Sr. Derambarsh é eleito. Acima de tudo, “é sabido que uma obra de Frédéric Lefebvre foi editada por Derambarsh com as edições do Recherches Midi em 2011”, sublinha a autoridade. O livro em questão, intitulado Le Mieux est ami du bien, fora marcado por plágio.
“Se lermos nas entrelinhas, podemos ver que surge a questão de um júri de conveniência”, aponta Jean-François Hamelin. O professor de direito da Universidade da Borgonha, “denunciante” da Universidade de Paris, há quase dois anos, elogia “um trabalho importante” que “devolve toda a sua honra a Paris-I”.
Disfunções perturbadoras
Nenhum membro do júri afirma ter detectado o plágio. No entanto, o software anti-plágio existente não foi usado. Atingido pelo escândalo, o professor de direito Bruno Dondero (orientador da tese em questão) descarta as acusações que o atacam. “O plágio é estabelecido, é perfeitamente normal que seja penalizado”, afirmou. Lamento, é claro, que o júri não tenha visto isso, mas me recuso a dizer que cobri uma tese de conveniência. “O pesquisador gostaria de salientar que ele “não dirigiu a redação desta tese”.
Depois de iniciar seu trabalho na Universidade vizinha de Assas com outro diretor de tese – que não havia aceito que o manuscrito fosse defendido, como é -, Arash Derambarsh virou-se para Bruno Dondero, em Paris -I, que assumiu a administração no outono de 2015.
Quanto à confidencialidade dos escritos por um período de trinta anos – “indevido”, segundo o órgão disciplinar, que concluiu que nada poderia justificá-lo – o professor de direito nega ter sido responsável por isso. . Alegadamente, isso foi solicitado por Arash Derambarsh à administração da escola de doutorado, sob o pretexto de que sua tese continha elementos considerados como um segredo de defesa. Derambarsh disse que não era um tomador de decisão sobre o assunto.
Ainda existem várias disfunções perturbadoras apontadas nesta decisão, como a ausência de um relatório de defesa, uma obrigação regulatória essencial para validar uma tese. O supervisor da tese “declara que acha que se lembra de ter escrito esse relatório, mas que, infelizmente, foi vítima de roubo de seus pertences e, em particular, de seu laptop e que não tem mais vestígios. documentos eletrônicos de tal documento ”, relata a seção disciplinar.
A senhora Bouzrou disse que seu cliente ainda não havia sido convocado pelo Conselho da Ordem dos Advogados e, portanto, ele ainda pode exercer sua profissão como advogado.
Este escrito foi originalmente escrito em francês e publicado pelo Le Monde [Aqui!].
O caso envolvendo o novo ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, parece ainda não ter chegado ao seu ápice. É que depois de ter tido o seu alegado título de Doutorado pela Universidade Nacional de Rosário desmentido publicamente pelo reitor da instituição argentina, agora o que está sendo questionada é a legitimidade acadêmica da dissertação de mestrado que ele defendeu no programa de Mestrado Profissional da Fundação Getúlio Vargas.
É que segundo o professor Thomas Conti, doutor em Desenvolvimento Econômico pela UNICAMP e professor do Instituto de Ensino Insper, a dissertação intitulada “Banrisul do PROES ao IPO com governança corporativa” possui trechos inteiros extraídos ao de um documento da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) do Banrisul (ver imagem abaixo).
Independente do montante retirado diretamente do documento da CVM para o interior da dissertação de Carlos Alberto Decotelli, o fato se reveste em mais um mico acadêmico, que terá impactos diretos na legitimidade dos futuros atos do novo ministro da Educação. Isto se o orientador da dissertação na FGV, o Dr. Luís Cesar Gonçalves, não decidir tomar alguma providência para se afastar academicamente do seu ex-orientando.
Como professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense, dediquei uma parte significativa dos meus anos de sala de aula oferecendo uma disciplina chamada “Fundamentos da Metodologia da Pesquisa”, onde um dos itens abordados se referia explicitamente aos problemas legais e acadêmicos decorrentes da prática de plágio. É que o plágio normalmente resulta na retirada do título que o plagiador recebeu ao violar uma das regras básicas da preparação de qualquer documento acadêmico.
No tocante ao plágio, é interessante notar que existem várias modalidades deste tipo de prática que transgride os princípios básicos da boa prática científica, que são: Integral: cópia de um trabalho inteiro, sem citar a fonte; Parcial: ‘colagem’ resultante da seleção de parágrafos ou frases de um ou diversos autores, sem menção às obras; Conceitual: utilização da essência da obra do autor expressa de forma distinta da original. Aparentemente o novo ministro da Educação incorreu no tipo de plágio parcial que é inobstante sua parcialidade poderia ser motivo de anulação do seu título de mestre pela FGV, caso alguém de dentro ou de fora da instituição decida solicitar uma apuração formal do caso.
Como se vê, o caso do ministro Carlos Alberto Decotelli parece ainda estar em evolução, com chances concretas do vexame público aumentar significativamente.
O jornal Diário de Notícias repercutiu hoje uma matéria inicialmente publicada pelo francês Le Monde que revelou que um relatório encomendado por deputados europeus mais de um ano depois de ter sido renovada a autorização de comercialização na Europa foi praticamente copiado de um dossiê de produzido pela Monsanto (empresa que comercializa o glifosato) e outras indústrias e que foi entregue às autoridades europeias.
A avaliação do relatório dos “especialistas” contratados pela União Europeia, realizada a pedido de deputados europeus dos Verdes, dos socialistas e do grupo da esquerda unitária, concluiu que 50% do documento oficial foi plagiado e 70% é resultado de cópia. Segundo o artigo assinado pela jornalista Ana Bela Ferreira, a “análise foi feita pelo especialista em plágio austríaco Stefan Weber e pelo bioquímico Helmut Burstcher, da ONG Global 2000”. A matéria acrescenta ainda que “desde que o documento do BfR foi apresentado que existiam suspeitas que este teria sido escrito pela Task Force Europeia do Glifosato (consórcio de empresas de agrotóxicos)”.
Duas coisas a salientar em relação a esse verdadeiro escândalo. A primeira é que grande parte dos problemas associados à desinformação existente acerca dos malefícios ambientais e à saúde humana causados por agrotóxicos se relacionam à atuação pouco ético de cientistas que se prestam a servir de peões em prol dos interesses das corporações que produzem venenos agrícolas. A segunda é que estas revelações vão tornar ainda mais difícil a situação do Glifosato e, muito provavelmente, implicar em maiores perdas financeiras para a multinacional alemã Bayer que acaba de adquirir a Monsanto.
Enquanto isso no Brasil, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM/MS) está mais preocupada em identificar “maus brasileiros” do que atuar para garantir a sustentabilidade ambiental e social da produção agrícola nacional.
Quem desejar o referido relatório que descobriu o plágio em prol do glifosato, basta clicar [Aqui!]
Especialistas contratados pela UE copiaram relatórios da Monsanto
Autores do relatório de avaliação dos riscos e que deram mais cinco anos de autorização para o uso do glifosato copiaram 70% da informação que estava no relatório feito pela própria produtora do herbicida
Por Ana Bela Ferreira para o Diário de Notícias [1]
O Relatório Europeu de Avalliação dos riscos do glifosato – herbicida suspeito de poder causar cancro (i.e., câncer) – e que permitiu a renovação da autorização por cinco anos de utilização na União Europeia foi quase totalmente copiado de informações prestadas pela própria própria indústria que comercializa o produto.
A conclusão foi esta terça-feira revelada num relatório encomendado por deputados europeus mais de um ano depois de ter sido renovada a autorização de comercialização na Europa e noticiado pelo Le Monde. Um grupo de peritos alemães (do Bundesinstitut für Risikobewertung – BfR) foi mandatado pela União Europeia (UE) para avaliar os riscos do uso do glifosato, mas as 4000 páginas que produziu são afinal resultado de cópia e plágio do dossier de homologação produzido pela Monsanto (empresa que comercializa o glifosato) e outras indústrias e entregue às autoridades europeias.
Uma avaliação a esse relatório, pedido por deputados europeus dos Verdes, dos socialistas e do grupo da esquerda unitária, conclui que 50% do documento oficial foi plagiado e 70% é resultado de cópia. A análise foi feita pelo especialista em plágio austríaco Stefan Weber e pelo bioquímico Helmut Burstcher, da ONG Global 2000. Desde que o documento do BfR foi apresentado que existiam suspeitas que este teria sido escrito pela Task Force Europeia do Glifosato (consórcio de empresas de pesticidas).
Os autores usaram software WCopyfind para comparar os dois relatórios – o da indústria e o do BfR – e descobriram que “o plágio incidiu exclusivamente nos capítulos que tratam da avaliação de estudos publicados sobre riscos para a saúde relacionados com o glifosato”. O plágio é o ato de cópia maligna, o que inclui páginas inteiras, que descrevem o resultado dos estudos e avaliam a sua relevância e confiabilidade.
Entre outras coisas, cada uma das 58 avaliações chamadas Klimisch de estudos publicados no relatório de avaliação do BfR foram copiadas dos pedidos de aprovação e são apresentadas como avaliações das autoridades.
No capítulo sobre os estudos da indústria o método utilizado foi o da cópia e aparece numa percentagem ainda maior (81,4%). Ou seja, reprodução entre aspas. Neste capítulo, até a descrição do BfR sobre a abordagem para avaliar os estudos publicados foi plagiada a partir do relatório do consórcio de indústrias.
Foi este estudo encomendado ao instituto alemão que serviu de base à decisão da autoridade europeia de segurança alimentar (EFSA) e os peritos dos estados-membros decidiram que o glifosato não podia ser associado diretamente ao risco de cancro. Em março de 2015, a Organização Mundial da Saúde classificou como “provavelmente cancerígeno” o glifosato.
No dia 27 de outubro de 2015 repercuti a cassação do título de doutorado de uma docente da Universidade Federal do Pará (UFPA) por motivo de plágio (Aqui!). O caso era mais peculiar já que a docente era responsável pelo processo de avaliação institucional da instituição, e ainda atuava como avaliadora de cursos de graduação em plano nacional pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep) que é vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
Pois bem, quase quatro meses após essa cassação, o Diário do Pará publicou uma matéria comunicando que a referida professora havia sido exonerada de suas funções administrativas (seja isso lá o que for), tendo que retornar aos cofres públicos todos os valores que recebeu, na forma de gratificações e progressões salariais, como recompensa por deter um título que acabou sendo cassado.
Eu costumo dizer que no meio acadêmico (que está longe de ser composto por anjos), a pessoa vive ou sobrevive pelo que se pode ligar ao seu nome em termos de ações de formação de novos pesquisadores e, mais importante, publicações. Assim, o “nome” é algo pelo qual se pode ser laureado ou excomungado e enviado para o inferno acadêmico. Nesse caso, a professora em questão deve estar experimentando algumas labaredas fortes.
Se isso for verdade, alguns poderiam dizer que ela está recebendo o que merece, já que quem comete plágio acadêmico conhece bem os riscos envolvidos, especialmente quando já se chegou ao nível de doutoramento.
Apesar disto ser verdade, existem evidências suficientes de que os plágios de dissertações e teses se tornou uma epidemia mundial. O que parece variar é o tempo que se leva para apurar e punir, especialmente se quem plagiou estiver em postos altos de comando como foi o caso da ministra da Educação da Alemanha, Annette Schavan, que teve seu título de doutora na Universidade de Dusseldorf cassado em 2013 e acabou tendo que renunciar ao cargo (Aqui!). Mas, no caso em tela, o incrível é que se passou mais de uma década para que se chegasse ao veredito de que a docente da UFPA cometido plágio!
Por outro lado, dizer que o plágio se tornou epidêmico sem explicar as causas, torna-se insuficiente. No caso brasileiro, além dos elementos prosaicos que envolvem retornos financeiros para os títulos de pós-graduação, penso que a lógica produtivista que tem guiado a consolidação do nosso sistema nacional de pós-graduação é uma das causas principais não apenas para a proliferação do plágio, mas como da lerdeza existente em identificar e punir os transgressores.
É que presos a uma lógica de que quantidade é que importa, docentes e dirigentes institucionais acabam permitindo toda sorte de frouxidão na condução da formação dos futuros mestres e doutores, e que não raramente deságua na aprovação de documentos claramente desqualificados. A lógica dominante é que quase ninguém lê as dissertações e teses, mas os artigos, capítulos de livros ou livros que as mesmas geram.
Essa lógica perversa que permite a proliferação do plágio também facilita a proliferação exponencial das chamadas “editoras predatórias” que se especializam em publicar “trash science“, muitas vezes financiadas com dinheiro público. É que neste mundo imperfeito que se gera a partir da quantidade sobre qualidade, também se sabe que a imensa maioria desse lixo científico tampouco será lido ou, se lido, levado à sério.
De minha parte, venho insistindo que o atual contexto de valoração da quantidade sobre a qualidade precisa ser urgente e radicalmente transformado. Do contrário, continuaremos produzindo uma ciência que é tão cara quanto inútil para as necessidades estratégicas do Brasil. Lamentavelmente, poucos quadros qualificados têm se mostrado dispostos a falar abertamente desse problema. E se isso continuar assim, não tenho dúvidas que outros casos de plágio vão surgir. Resta saber se vão ser apurados e punidos e numa velocidade mais célere. E tome “trash science“!
Em 07 de junho deste ano publiquei aqui o caso da cassação de um título de mestre na Universidade Federal de Viçosa que teve uma ampla repercussão (Aqui!). Naquela postagem notei que poderíamos estar apenas diante da ponta de um grande iceberg. Não é que hoje (27/10), a Universidade Federal de Minas Gerais comunicou a decisão do seu Conselho Universitário de cassar de um título de doutor em Estudos Literários (ver nota abaixo) também pela prática de plágio!
No presente caso, o que mais me chamou a atenção é de que a tese em questão foi defendida no já longínquo ano de 2004, tendo o plágio sido identificado em 2010. Em outras palavras, a cassação do título levou em torno de cinco anos para ser concretizada, o que revela uma morosidade inaceitável na apuração desse caso.
Além disso, além da profissional que teve o título cassado ser docente da Universidade Federal do Pará (Ufpa), ela, segundo o currículo que ela mantém na Base Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNpq), ocupa os postos de presidente da Comissão Própria de Avaliação (CPA) e Diretora de Avaliação Institucional (Aqui!).
Ainda que o fenômeno do uso do plágio para obtenção de títulos acadêmicos não esteja restrito ao Brasil (visto que até uma ministra do gabinete de Angela Merkel, justamente a da Educação, perdeu seu diploma em 2013 por acusação de ter plagiado sua tese de doutorado (Aqui!)), o problema por aqui é particularmente grave em face do estágio ainda relativamente recente do nosso sistema nacional de pós-graduação.
Agora o que se espera é que as universidades brasileiras estabeleçam mecanismos voltados para garantir a lisura no processo de obtenção de títulos acadêmicos, e também formas e rituais mais ágeis para identificar e punir os eventuais casos de transgressão da ética acadêmica. Do contrário, corremos o risco de sermos inundados por “trash science” e condenados a nunca sermos um país detentor de um robusto sistema científico e tecnológico.
UFMG comprova plágio e cassa título de doutora de ex-estudante da Faculdade de Letras
O Conselho Universitário da UFMG determinou a nulidade da defesa de tese de doutorado de Scarlet Yone O´Hara e a cassação do seu título de doutora em Estudos Literários pela Faculdade de Letras, obtido em 2004. A decisão foi tomada na reunião do dia 13 de outubro, e o ofício de notificação, enviado na última semana à ex-aluna.
A decisão é resultado de processo disciplinar instaurado contra Scarlet Yone, por prática de plágio, com base em denúncia feita pela autora do trabalho plagiado. A investigação, aberta em setembro de 2010, foi conduzida por comissão de sindicância formada por professores da Faculdade de Letras. Antes de chegar ao Conselho Universitário, o caso foi analisado pela Congregação e pela Câmara de Pós-graduação da Faculdade de Letras e pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe).
“A materialidade é indiscutível. Após ampla e exauriente instrução, restou provado neste processo, de forma inconteste, a existência do plágio de que foi acusada Scarlet Yone O´Hara”, conclui o parecer da Comissão de Legislação que embasou a decisão do Conselho Universitário.
No documento, a Comissão acrescenta que a própria autora da tese “não apresentou nenhuma justificativa excludente do ilícito de propriedade autoral por ela praticado. Pelo contrário, confessa expressamente a cópia realizada sem a citação da fonte”.
No parecer, também é citado trecho da análise feita pela comissão de sindicância que concluiu pela existência de plágio, uma vez que o texto da tese inclui “várias passagens integralmente copiadas ou ligeiramente modificadas”, sem citação de fonte.
Tramitação A comissão de sindicância da Faculdade de Letras concluiu sua investigação em maio de 2011, quando a Reitoria recomendou que a matéria fosse encaminhada à apreciação da Congregação da Faculdade de Letras. Em agosto de 2014, a Congregação deliberou pela cassação do grau de doutora conferido a Scarlet Yone O´Hara, decisão ratificada pela Câmara de Pós-graduação. Por fim, em reunião realizada em abril deste ano, o Cepe confirmou a decisão de cassar o título de doutora e de anular sua defesa de tese.
De acordo com o parecer da Comissão de Legislação do Conselho Universitário, a medida se sustenta em “farto material probatório, está revestida de legitimidade e confere segurança à comunidade acadêmica para ratificar o veredito, pois, além de combater a fraude acadêmica, cumpre-se pedagógica no sentido de dar amplo conhecimento de que a improbidade intelectual é inadmissível no ambiente universitário e deve ser severamente repudiada”.
Em agosto de 2015, a jornalista Giuliana Miranda escreveu um artigo para a Folha de São Paulo onde foi abordado o fato de que os problemas éticos afetando o comportamento de pesquisadores não estão restritos ao Brasil (Aqui!). Até ai não há grande novidade, pois os problemas gerados pelo paradigma do “publicar ou perecer” já produziram situações vexaminosas para pesquisadores vinculados a algumas das tradicionais instituições acadêmicas do planeta.
Mas a matéria de Giuliana Miranda foi bastante enriquecida pela adição de um infográfico que mostrou quais seriam, digamos, os 7 pecados capitais que hoje assombram a comunidade científica e cujos efeitos não se resumem apenas ao mundo das revistas de acesso aberto, sejam elas produtoras conscientes de “trash science” ou não.
Abaixo coloco os “7 pecados” da ciência e as principais características de cada um deles:
Plágio
Clube da coautoria
Roubo de ideia
Criatividade
Máfia da citação
Autoplágio
Produção Salame
O mais pernicioso da manifestação destes “pecados” é que raramente os mesmos vem acompanhados, já que o pesquisador que se habilita a realizar um deles vai acabar tentado a realizar os demais, já que atualmente a definição de mérito, e consequentemente premiação, está diretamente atrelada ao número de artigos publicados e não á efetiva contribuição ao avanço do conhecimento científico um determinado indivíduo está prestando com suas pesquisas.