A reitoria da UENF quer um PM para chamar de seu?

 

No último CONSUNI, realizado dia 03 de julho de 2014, o Prefeito do Campus da UENF Gustavo de Castro Xavier apresentou, em pauta incluída naquela mesma seção, a proposta de Convênio com a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Pela proposta a UENF passaria a aderir ao PROEIS (Programa Estadual de Integração na Segurança), ao custo anual de R$59.000,00, e teria a ininterrupta ronda de 4 PMs, fardados e armados, pelo campus Leonel Brizola.

A justificativa para tal iniciativa está pautada na verificação prática do não pagamento de três meses do contrato com a empresa de segurança que vem desenvolvendo o trabalho de segurança patrimonial dos prédios da UENF. Vale ressaltar o fato de já termos tido a redução do número efetivo de seguranças no campus, que deixou os estacionamentos da UENF desprotegidos.

Segundo a fala proferida durante a apresentação do projeto o problema da segurança dentro do campus está principalmente relacionado ao estacionamento de carros e bicicletas elétricas que constituiriam alvo principal de roubo e furto. O prefeito também se reportou a casos recentes de violência física e moral contra alunos e servidores da instituição. Ainda segundo o prefeito, quando acionada via telefone 190, a PM demorou 3 horas para encaminhar viatura ao campus e prestar o serviço pelo qual ela sempre foi responsável. Diante dessa conjuntura, a proposta apresentada consiste em repassar através do convênio o valor de R$59.000,00 para ter acesso ao serviço, que em teoria, a PM deveria desenvolver em seu cotidiano de responsabilidades e serviços a ser prestados para a comunidade em geral.

Infelizmente não ficou claro se a proposta da UENF aderir ao PROEIS irá impactar na diminuição do número efetivo de seguranças patrimoniais contratados hoje de maneira precária, via empresa de terceirização de serviços. Foi dito durante o CONSUNI que o repasse de verba para o pagamento da segurança patrimonial é de R$10 milhões anual e a aderência ao PROEIS poderia vir a gerar uma economia significativa nesse montante.

Durante a seção as preocupações sobre a questão da segurança do Colégio Agrícola e da sede de Macaé foram apontadas, mas sem uma proposta de atuação da PM, o que indicaria uma margem possível para ampliação do convênio.

A universidade cumpre o papel social de ser uma instituição que promove a vigília cidadã da sociedade a partir da produção de conhecimentos científicos dentro das mais distintas áreas do saber. Apesar disso, sua atuação diante dessa mesma sociedade lança mão de processos de contratação de pessoal a partir da precarização do trabalho, por meio da terceirização dos seguranças patrimoniais e das equipes de limpeza. Para que isso aconteça usamos dois pesos e duas medidas: nós, servidores públicos, asseguramos as nossas contratações estáveis, por meio de concurso público, lutamos ávida e justificadamente pela recomposição salarial de cada categoria e, insensivelmente, nos esquecemos de que os trabalhadores terceirizados não contam com os mesmos direitos, possuem uma instabilidade latente no emprego e no nível dos salários. Como esse é um problema intangível para nós, nos contentamos a responsabilizar o governo, o sistema capitalista, e a latente falta de verba pela decisão administrativa de contratar trabalhadores via terceirização. Aceitamos assim a lógica neoliberal que conformada e silenciosamente reduz o tamanho da máquina do Estado a partir do corte dos custos em nome de uma suposta eficiência. Cabe questionar, qual eficiência? E, principalmente, eficiência para quem? Será que não podermos pensar diferente e, a partir disso, propor soluções distintas para nossos problemas? Por exemplo, a contratação de um quadro fixo, ainda que reduzido, de seguranças patrimoniais, via concurso público, não poderia ser uma solução plausível para a resolução desse problema em longo prazo? Afinal revertemos R$10 milhões anuais no pagamento de empresa de segurança e esse montante, informado no CONSUNI, não pode ser considerado desprezível em relação ao compito geral dos gastos da universidade.

Uma outra questão importante para esse cenário diz respeito à natureza das pesquisas desenvolvidas no CCH onde reconhecidos grupos de pesquisadores tem seus interlocutores oriundos de comunidades, instituições e organizações que entram diretamente em conflito com a PM. Tais conflitos acontecem em diferentes instancias da sociedade e podem ser decorrentes da luta pela ampliação de direitos ou pela má conduta e insubordinação de policiais que acabam concorrendo para a criação de grupos paralelos que fazem o uso da força para a imposição de interesses escusos e contrários à ordem jurídica vigente. Questiono se a presença da PM não constrangeria tais interlocutores e não poderia contribuir para um maior distanciamento da sociedade em geral em relação à UENF.

Lembremos também que geograficamente a UENF tem em sua vizinhança uma comunidade que sofre influencia de facção criminosa https://www.youtube.com/watch?v=6vkOM1glkCo. Diante do cenário de insegura proporcionado, em boa medida, pela ação da mídia (que pauta seus conteúdos nas ocorrências policiais que envolvem a classe média das metrópoles), pelos recentes incidentes ocorridos na UENF e pelo possível fim do contrato de segurança patrimonial por falta de pagamento, a Prefeitura do campus traz sua proposta de convênio com a PM. 

Foi sob a perspectiva do prazo final para a assinatura do convênio vencer na próxima semana que os membros do CONSUNI se viram obrigados a deliberar sobre a matéria sem a devida discussão com seus representados e sem ter conhecimento sobre os prós e contras da presença da PM no campus. A questão que fica disso tudo é, se a Prefeitura sabe a três meses da suspensão do pagamento da empresa de segurança, porque a proposta de convênio com a PM não foi apresentada aos Laboratórios, assim que o problema foi detectado, para que pudesse tramitar pelas diferentes instâncias universitárias? Esse procedimento, por si só, acaba por fragilizar e dar um ar de amadorismo à proposição do convênio ao CONSUNI.

Uma pesquisa básica sobre a presença e ação da PM em campus universitário via Google expõe alguns dilemas da matéria e corrobora a necessidade de ampla discussão dos termos e encaminhamentos do Convênio UENF – PM via PROEIS.

A Revista Carta Capital publicou artigo intitulado “O que está por traz da presença da PM na USP” http://www.cartacapital.com.br/sociedade/o-que-esta-por-tras-da-presenca-da-pm-na-usp onde lemos “Uma coisa é certa: no dia 18 de maio deste ano, quando morreu o estudante Felipe Ramos de Paiva, a PM já estava no campus, revistando carros de estudantes. De lá para cá, aumentou seu efetivo, mas não aumentou a segurança – a sede do centro acadêmico da ECA, por exemplo, foi recentemente invadida e furtada, sem que a presença da PM tenha servido para impedir a ação. Aumentaram, isto sim, as abordagens invasivas e provocações a estudantes. Como isso pode ajudar a prevenir assaltos, estupros e assassinatos?”. Na mesma matéria há o levantamento de ações simples que me parecem oportunas e que podem servir para a UENF refletir sobre sua segurança interna. Diz o artigo: “aspectos muito práticos do cotidiano universitário seguem sendo sumariamente ignorados pela administração da USP, tais como a iluminação, a frequência dos ônibus e circulares e uma reestruturação da Guarda Universitária. São medidas simples, aparentemente bastante banais, mas que melhorariam muito a segurança da universidade, sem a necessidade do recurso à força”.

A grande questão levantada para justificar a presença da PM em campus universitários diz respeito ao combate ao uso de drogas ilícitas. Mas, tomemos por base a ação da PM na UFSC no dia 25 de março de 2014. Segundo o site da UNE  http://www.une.org.br/2014/03/estudantes-e-professores-da-ufsc-sao-agredidos-pela-policia-militar/ dois policiais à paisana prenderam cinco estudantes pelo suposto porte de cigarros de maconha, o que gerou protestos dos demais alunos. Ainda segundo a UNE “Sob a alegação de dissuadir a manifestação que cercava a viatura, a tropa de choque foi chamada e invadiu o campus fortemente armada com bombas de gás lacrimogêneo, disparando balas de borracha em professores, estudantes e funcionários. Para o presidente da União Catarinense dos Estudantes (UCE), Yuri Becker, presente no ocorrido, a ação foi imatura e desproporcional. “Nada justifica o que aconteceu na UFSC. Eles chegaram abrindo fogo contra todos, sendo que a simples assinatura de um termo circunstanciado resolveria a questão. Temos, sim, que falar e discutir sobre a questão das drogas, mas violar os direitos humanos é uma agressão. Eles atiram primeiro pra depois tentar resolver’’, lamentou”.

Lembremos que na última greve recém findada a participação dos alunos, funcionários e professores foi constante. Alunos se mobilizaram durante os três meses da greve para reivindicar a ampliação de seus direitos, negociaram ativamente com membros da Reitoria e com deputados, participaram das mais diversas reuniões e manifestações em Campos e no Rio de Janeiro. Chamo a atenção para isso pois, assim como na USP e na UFSC, nossos alunos invadiram o espaço da Reitoria a fim de pautar a agenda da administração universitária e do governo do Estado para reivindicações antigas e não cumpridas como o Restaurante Universitário. Os alunos souberam astutamente aproveitar a oportunidade da greve para negociar o atendimento de novas demandas, como o subsídio para custear a moradia nessa cidade que assiste o aumento exorbitante do preço do aluguel em decorrência da construção do Porto do Açu.

Fica a dúvida: Como seria uma greve de alunos, professores e funcionários com a presença da PM no campus? Por fim, diante do clima de insegurança generalizado, essa é uma questão que não quer calar.

Mário Magalhães pergunta: PM apreende ‘Marighella’ em protesto. Queimará livros, como os nazistas?

Por Mário Magalhães

Link permanente da imagem incorporada

Reprodução de tuíte da revista “Veja São Paulo” – 1º.julho.2014

Na versão do romance “A menina que roubava livros” para o cinema, as salas de exibição se iluminam com a luz das imagens das imensas fogueiras queimando livros na Alemanha nazista.

Nos tempos de barbárie, nos anos 1930 e 40, os mesmos algozes que incineravam seres humanos vivos em fornos dos campos de concentração eram os censores que destruíam bibliotecas inteiras e proibiam a leitura de um sem-número de obras.

Aqueles tempos se foram, mas parecem ter deixado saudade em alguns intolerantes.

Entre as 18h e as 19h desta terça-feira (1º de julho), a conta da revista “Veja São Paulo” (@VejaSP) no Twitter informou: “Livro encontrado pela polícia em mochila de manifestante na Praça Roosevelt”.

Abaixo da legenda, uma fotografia mostrava a biografia “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo”.

No fim da noite, o tuíte foi apagado pela @VejaSP. Entre as dezenas de pessoas que generosamente me informaram do episódio, houve quem copiasse e me enviasse a foto, reproduzida  lá em cima.

Escrito por mim e editado pela Companhia das Letras, o livro foi lançado em outubro de 2012. Já teve 38 mil exemplares impressos e recebeu seis prêmios literários e jornalísticos. Vai virar filme dirigido por Wagner Moura e produzido pelo diretor estreante e a produtora O2, de Fernando Meirelles.

Trocando em miúdos: durante um protesto pacífico, a Polícia Militar do Estado de São Paulo apreendeu a biografia “Marighella” que um manifestante carregava na mochila.

O ato na praça Roosevelt, na capital paulista, reuniu centenas de manifestantes que reivindicam a libertação de dois ativistas presos.

Apesar do caráter pacífico do protesto, a PM deteve dois advogados e no mínimo outras quatro pessoas, disparou balas de borracha, lançou bombas de gás e empregou, também contra repórteres, spray de pimenta (leia reportagem da ‘Folha’ clicando aqui).

Manifestantes tiveram as mochilas revistadas e o conteúdo exposto, inclusive o livro.

Por que os policiais militares procederam assim?

É crime ler a biografia de Carlos Marighella (1911-1969)?

Abre-se uma caça às bruxas a quem pretende, gostando ou não do personagem, conhecer a trajetória do revolucionário brasileiro?

Durante décadas, certa historiografia oficial se empenhou em eliminar Marighella da história do Brasil.

Mas livros sobre ele só eram apreendidos durante a ditadura instaurada em 1964.

A PM paulista poderia esclarecer se adotou a política _inconstitucional_ de recolher livros.

Em caso positivo, o que faz com os volumes? Queima-os, como os nazistas?

Ou o procedimento só se aplica à biografia de Marighella?

Se fosse outro o livro não teria sido subtraído do cidadão?

Quem determina, em flagrante ofensa à lei e à democracia, que livro é ou não autorizado?

Por que exibiram a biografia como “troféu de guerra”?

Não está em questão se o livro é bom, ruim ou mais ou menos _cada leitor tem sua opinião, legítima. Ou se o personagem vale ou não uma missa. Mas, sim, o direito à difusão de conhecimento histórico, bem como a liberdade de expressão e o acesso à informação.

Estamos em 2014, mas às vezes não parece.

FONTE: http://blogdomariomagalhaes.blogosfera.uol.com.br/2014/07/02/pm-apreende-marighella-em-protesto-queimara-livros-como-os-nazistas/

ROLETA PRESIDIÁRIA

roleta

De forma aleatória, a Polícia Militar deteu até agora 10 pessoas durante a concentração do ato #20J O RETORNO DO GIGANTE (1 ano) no Rio de Janeiro, na Candelária. Um dos detidos foi levado por ter uma máscara na mochila. 

O repórter NINJA Filipe Peçanha foi retido por portar um carregador de notebook que a polícia considera como explosivo.

Foto: Mídia NINJA

FONTE: https://www.facebook.com/midiaNINJA/photos/a.164308700393950.1073741828.164188247072662/330998857058266/?type=1&theater

Ururau informa: Polícia Militar realiza prisões por causa de lançamento de esgoto no Rio Paraíba do Sul

Diretor da Águas do Paraíba e mais três presos em operação do MPF

Detidos foram conduzidos à Delegacia da Polícia Federal de Campos

 Marcelo Esqueff / Carlos Grevi

Detidos foram conduzidos à Delegacia da Polícia Federal de Campos

O Ministério Público Federal (MPF) de Campos com o apoio da Polícia Militar deflagrou nesta quarta-feira (04/06) uma operação contra poluição, lançamento de esgoto in natura, dejetos químicos e industriais no Rio Paraíba do Sul.

Foram detidos um dos diretores da concessionária Águas do Paraíba do Sul e outras três pessoas. Os nomes não foram divulgados para não atrapalhar a ação, que ainda visa à prisão de outras pessoas. Todos os presos foram conduzidos à Delegacia da Polícia Federal, no Centro, para auto de prisão em flagrante.

O procurador da república Eduardo Santos Oliveira ficou de dar uma coletiva, às 20h30, para informar detalhes da operação, mas o pronunciamento foi transferido para esta quinta-feira (05/06), com horário a ser definido. Segundo informações do MPF a investigação apura denúncias de poluição no Rio Paraíba por parte da empresa Águas do Paraíba, além de outras particulares no leito do rio, que também estariam praticando crime ambiental.

A operação terminou por volta das 20h15, e de acordo com o MPF, outras testemunhas estavam sendo ouvidas na Polícia Federal.

A equipe de reportagem do Site Ururau tentou o contato por telefone com a assessoria de imprensa às 18h25, novamente às 18h50 e pela terceira vez às 19h, mas em todas as vezes o telefone estava desligado. Ainda foi enviado um e-mail para o assessor como forma de obter uma resposta da empresa.

CPI PROPOSTA TEM ASSINATURAS RETIRADAS E NÃO VINGA
A empresa Águas do Paraíba e a poluição no Rio Paraíba do Sul foram temas de acaloradas discussões na Câmara dos Vereadores em Campos nos últimos meses.

Primeiro o Grupo de Trabalho formado pelos vereadores Alexandre Tadeu (PRB), Genásio (PSC), Linda Mara (Pros) e Marcão (PT) realizaram e apresentaram o relatório final com indícios de irregularidades como o mau uso dos caminhões de fossa da Empresa Municipal de Habitação Urbanização e Saneamento (EMHAB), cedidos à concessionária; indício de coleta de esgoto em outro município que seria trazido para estações de tratamento em Campos, além de outros crimes ambientais. Os vereadores destacaram ainda que tais irregularidades, caso comprovadas, seriam suficientes para quebra de contrato entre a empresa e a Prefeitura.

Em seguida o vereador Alexandre Tadeu, relator do Grupo de Trabalho, apresentou a proposta de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a atuação da Concessionária Águas do Paraíba, mas depois de anunciar publicamente nas redes sociais que tinha 11 das nove assinaturas necessárias para a aprovação, não teve como seguir com a proposta, já que quatro vereadores voltaram atrás de suas posições e retiraram as assinaturas.

“Pedi a CPI justamente por ter provas de que a Concessionária Águas do Paraíba é caso de polícia”, declarou nesta quarta-feira ao Site Ururau, o vereador Alexandre Tadeu.

“Basta! É preciso sim uma CPI para obrigar a Concessionária Águas do Paraíba a se explicar e corrigir o mais rápido possível as suas falhas. Com a CPI teremos informações que podem possibilitar uma revisão do contrato, ou em último caso o seu cancelamento, e hoje o município encontra-se amparado na Lei do Saneamento, aprovada no final de 2013 e já em vigor, para que a população possa ser atendida com o respeito que merece”, dizia o vereador Genásio, presidente do Grupo de Trabalho.

Com a não aprovação da abertura da CPI, o presidente da Câmara de Campos, Edson Batista anunciou a criação de uma Comissão, formada pelo vereador Magal (PR) e Paulo Hirano (PR), da base do governo, e do vereador Marcão (PT), da oposição, para iniciar o relacionamento e ouvir representantes da empresa. Para o dia 10 de junho foi agendada uma audiência pública com os diretores da empresa.

LINKS DE MATÉRIAS RELACIONADAS

Vereador diz que esgoto do Porto estaria sendo tratado em Campos

Proposta de CPI da Águas do Paraíba gera acalorada discussão na Câmara

Líder do Governo promete acionar a Justiça contra Águas do Paraíba

Moradores do Matadouro reclamam de esgoto lançado no rio Paraíba

Rio Paraíba recebe esgoto in natura na Ilha do Cunha e na Tira Gosto

No dia do trabalhador, o direito de greve mais uma vez é transformado em caso de polícia

Eu venho acompanhando de forma tangencial a atual greve dos rodoviários em Campos dos Goytacazes cujas reivindicações me parecem tão básicas que não deveria nem estar sendo motores de uma greve. Agora veio a intervenção do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) de intervir com a ajuda da Polícia Militar para que os 30% mínimos de veículos sejam colocados na rua por profissionais cuja habilitação e capacidade para fazê-lo é, no mínimo, questionável.

Essa situação me parece peculiar, pois não entendo poro que o MPRJ já não interveio a mais tempo nas diferentes facetas que expõe o caos quase completo que a população pobre dessa cidade é obrigada a viver imersa todos os dias. E aqui não falo apenas da falta de ação objetiva da PMCG e do órgão teoricamente responsável por garantir um mínimo de qualidade nos serviços, o tal Instituto Municipal de Trânsito e Transporte (IMTT), mas também das condições terríveis de trabalho a que são submetidos muitos profissionais que hoje se colocam em greve. Para quem já teve a oportunidade de adentrar um desses veículos caquéticos que circulam pela  cidade verá trabalhadores à beira da exaustão, quase sempre irritados em função da condição em que precisam trabalhar todos os dias.

E a tal famigerada política da passagem a R$ 1,00. Por que até hoje não tivemos uma auditoria externa para verificar se os números declarados de repasse às empresas coincide com a realidade? E por que até hoje e R$ 150 milhões depois, a população de Campos ainda é submetida a esse tipo de transporte público?

Os defensores do grupo político do deputado Anthony Garotinho poderão dizer que os donos das empresas é que estão bloqueando a licitação que poderia colocar um pouco de ordem e qualidade nos serviços prestados à população. Mas esse argumento não resolve a questão de porque até hoje não viu a mesma urgência aplicada na tomada de parte da frota que volta circular, sem que se saiba quem garantir, por exemplo, a limpeza e a manutenção dos veículos se a greve durar mais tempo.

Finalmente, só posso lamentar que em pleno Dia do Trabalhador, uma greve seja tratada como caso de polícia.

Rodoviários12-RS

Sonho das UPPs cariocas virou pesadelo

Astrid Prange, da redação brasileira da Deustche Welle (Voz da Alemanha)

upp

Era bom demais para ser verdade. Quando em dezembro de 2008, policiais e soldados ocuparam a primeira favela do Rio de Janeiro, sequer um único tiro foi disparado. De lá para cá, cerca de 40 das 300 favelas cariocas foram “pacificadas”. Traficantes de drogas tiveram que se mudar e procurar novos pontos de venda.

Mas, a menos de 50 dias da Copa do Mundo, o milagre parece estar se esfacelando perante a realidade. A aproximação do torneio de futebol parece atiçar os conflitos que estavam há tempos latentes dentro da sociedade brasileira. As recentes batalhas de rua em Copacabana mostram claramente que ficou para trás o tempo em que no Brasil as questões sociais eram simplesmente “resolvidas” com violência policial.

Ironia do destino, exatamente o governo do PT é que começa a sentir a revolta popular. Seus programas sociais tiraram nos últimos anos milhões de pessoas da pobreza. No entanto, o avanço social foi acompanhado por uma grande desilusão, pois muitos brasileiros logo se deram conta que o crescimento da renda não vem automaticamente acompanhado por mais direitos civis. A revolução da justiça social proclamada pelo PT se volta, paradoxalmente, contra seus próprios criadores.

A diferença entre sonho e realidade é enorme. Mesmo se hotéis de luxo são inaugurados em favelas com vista para o mar, o contraste há séculos existente entre as comunidades negligenciadas e as partes privilegiadas da cidade não foi superado. Moradores das favelas continuam tendo que se contentar com escolas deficitárias, empregos mal remunerados e um sistema de saúde sucateado. Os progressos muitas vezes permanecem longe das expectativas.

E mais: quem mora na favela ainda é considerado como um potencial traficante ou assaltante. A última vítima desse preconceito implacável foi o ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido desde o ano passado, após ser detido “por engano”, confundido com um traficante por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha. Testemunhas afirmam que ele foi torturado até a morte. Dez policiais militares envolvidos no incidente estão presos.

O caso Amarildo enterrou para sempre a esperança de uma polícia nova e realmente pacífica. O desejo inicial de moradores de favelas de, finalmente, serem tratados com respeito pela polícia se transformou numa rejeição generalizada ao novo conceito de polícia pacificadora, deixando patente a certeza de que a tortura ainda é um método usado pela polícia brasileira quase 30 anos após o fim da ditadura militar.

Ainda não foi esclarecido se o dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira, encontrado morto na terça-feira na favela Pavão-Pavãozinho, foi mais uma vítima dessa violência policial arbitrária. A guerra diária entre polícia e traficantes de drogas pode custar a vida de mais outros inocentes, como Amarildo. A história de sucesso da polícia pacificadora precisa de um milagre para virar realidade.

FONTE: http://www.dw.de/opini%C3%A3o-sonho-das-upps-cariocas-virou-pesadelo/a-17592359

A greve dos garis e os argumentos de ocasião para justificar a repressão

leminski

O primeiro deles é a questão da oportunidade temporal da greve, já que a mesma ocorreu durante o Carnaval quando a cidade se torna mais suja por causa do lançamento quase ilimitado de restos da folia pelos seus participantes. Ai me desculpem os puristas, não há momento melhor do que esse para demonstrar a essencialidade de uma categoria que , convenhamos, é tratada de forma invisível pela imensa maioria das pessoas.

O segundo argumento tem a ver com a saúde pública que seria ameaçada pelo acúmulo de lixo. Ora, e a saúde dos trabalhadores que retiram esse lixo diariamente a troco de salários miseráveis não conta? Se não fosse o território fluminense palco de isenções bilionárias para grandes corporações econômicas, eu até me deixaria comover com tanta preocupação com a saúde coletiva. Enquanto esse cenário se mantiver, prefiro me preocupar com a saúde dos garis.

Um terceiro argumento é que essa greve está sendo manipulada pelos partidos aos quais estão ligados os deputados Marcelo Freixo e Anthony Garotinho. Isso daria então um caráter partidário ao movimento. Sem sequer levantar em conta que o sindicato dos garis da cidade do Rio de Janeiro é controlado pelo PTB, partido que está na base do governo Eduardo Paes, eu diria que se for verdade que o PR e o PSOL estão apoiando o movimento dos garis, estes partidos não fazem mais nada do que a sua obrigação.  Mas como existem outros partidos apoiando o movimento, a escolha seletiva do PR e do PSOL tem apenas o objetivo óbvio de desqualificar um movimento que possui amplo apoio na população carioca.

Para encerrar não há qualquer explicação financeira para o uso da Polícia Militar para “escoltar” garis que estão supostamente desejando trabalhar. Essa manobra representa um claro aprofundamento da criminalização da luta dos trabalhadores, e reflete uma visão autoritária de resolver pela força as justas demandas que emergem dos setores explorados da sociedade brasileira.  O problema é que esse uso contínuo da PM para ações que se assemelham à operações de contra-insurgência ainda poderá render frutos muito amargos para todos nós. Mas o que esperar de (des) governantes como Eduardo Paes e Sérgio Cabral se não o pior do pior? Mas o problema começa mesmo a ficar verdadeiramente grave quando pessoas que se pretendem de esquerda começam apoiar esse tipo de fórmula repressiva. Depois não venham chorar sobre o leite derramado. E não custa lembrar: em 24 dias teremos mais um aniversário do Golpe Militar de 1964.

latuff gari

O manual de repressão do governo Dilma, por Aldo Fornazieri

Exigência Neoimperial

Por Aldo Fornazieri

Como é publicamente sabido, sou ligado ao PT desde os primeiros anos de existência do partido. Esta declaração seria desnecessária se os argumentos do debate público fossem julgados pelo seu conteúdo e não pelo sectarismo adesista que não quer reconhecer o debate democrático e a legitimidade das opiniões dos outros. O fato de alguém militar ou simpatizar com um partido não o isenta do juízo crítico acerca dos rumos partidários ou de governos integrados por membros desse partido. O bem e o interesse de um povo e de um país estão acima dos bens e dos interesses dos partidos.

O fato é que o governo Dilma vem errando em muitas frentes. E quanto menos tem a oferecer para garantir os direitos dos cidadãos, mais parece flertar com o conservadorismo. A aproximação da copa do mundo, que vem se revelando cada vez mais uma escolha errada para o Brasil e uma falta de noção de prioridades para o povo, parece aumentar o risco desse flerte.

O governo parece ter sido tomado por uma fúria legiferante visando regulamentar e criar travas às manifestações populares. Mas não é só ao Congresso que o governo dirige seus esforços legislativos. Em dezembro passado, o Ministério da Defesa publicou a Portaria  N° 3.461/MD, que trata da “Garantia da Lei e da Ordem”. A Portaria se remete ao Artigo 142 da Constituição de 1988, que prevê o uso das Forças Armadas na garantia da “Lei e da Ordem” internas, o que vale dizer, em funções de segurança pública. Convêm lembrar que, na Constituinte, os parlamentares do PT e outros parlamentares progressistas lutaram contra a possibilidade de uso das Forças Armadas para fins de segurança interna, pois ela era de clara inspiração no regime militar.

Mais tarde, na medida em que a Guerra Fria caminhava para seus estertores com o fim da União Soviética, os Estados Unidos, a partir da concepção imperial dos neoconservadores que se articularam nos governos de Bush pai e de Bush filho, pressionaram os países periféricos para que direcionassem as Forças Armadas para as funções de segurança interna. As próprias Forças Armadas dos EUA passariam a desempenhar funções técnicas de polícia, garantindo a Paz e a Lei e a Ordem no mundo, numa clara visão imperial de dissolução das idéias de fronteiras e de interesses nacionais. As Forças Armadas dos países periféricos deixariam de ter a conotação de forças armadas nacionais destinadas à defesa do Estado e do território nacional frente a ameaças externas para se engajarem na vontade imperial de garantir a Lei e a Ordem interna ou em outras partes do mundo onde a Pax americana, elevada ao estatuto dePax mundial, fosse ameaçada. Decorreram daí os conceitos de “guerra preventiva” e de “guerra ao terror”, que autorizam as forças de segurança dos EUA a intervirem em qualquer lugar do mundo para garantir a Lei e a Ordem.

Em que pese o fracasso dos esforços conservadores na afirmação de uma ordem neoimperial, as tentativas de destinação das Forças Armadas em países periféricos para funções de garantia da Lei e da Ordem internas não foram afastadas. Agora a portaria do Ministério da Defesa confirma essas funções. Esta Portaria, nos seus pressupostos e nos seus objetivos, se inspira claramente na Lei de Segurança Nacional do regime militar.

A Portaria do Ministério da Defesa

Como se sabe, a Lei de Segurança Nacional do regime militar voltava-se para a segurança interna e articulava-se em torno da necessidade de combater o “inimigo interno”. O parágrafo primeiro do Artigo 3° diz o seguinte: “A segurança interna, integrada na segurança nacional, diz respeito às ameaças ou pressões antagônicas, de qualquer origem, forma ou natureza, que se manifestem ou produzam efeito no âmbito interno do país”. A Portaria substitui o conceito de “inimigo interno” pelo de “forças oponentes”. Define: “Forças Oponentes (F Opn) são pessoas, grupos de pessoas ou organizações cuja atuação comprometa a preservação da ordem pública ou a incolumidade das pessoas e do patrimônio”. Na sequência define-se o que se entende por ameaça: “Ameaça são atos ou tentativas potencialmente capazes de comprometer a ordem pública ou a incolumidade de pessoas e do patrimônio praticados por F Opn previamente identificadas ou pela população em geral”.

É preciso perceber que a definição de “ameaça” assume todo o viés dos regimes autoritários: não apenas organizações e grupos representam ameaças, mas a própria população em geral. Aqui a oposição é clara: trata-se de proteger o Estado contra a sociedade. A sociedade (força oponente), representa uma ameaça potencial à ordem pública – prerrogativa exclusiva do Estado. Nas “Considerações Iniciais” da Portaria se diz que as Operações de Garantia da Lei e da Ordem (Op GLO) são operações de “não guerra”, mas se reconhece que podem, “em circunstâncias especiais, envolver o uso da força de forma limitada, podendo ocorrer tanto no ambiente urbano quanto rural”. Isto equivale dizer que poderão ser feitas operações de guerra limitada.

Mais adiante, a Portaria afirma que deverá ser usada a dissuasão para evitar confrontos entre as Operações de Garantia da Lei e da Ordem e as Forças Oponentes. Mas acrescenta que se a dissuasão não funcionar e as condições o permitirem “a tropa deverá fazer uso progressivo da força”. A Portaria prevê ainda o emprego de operações de inteligência e contrainteligência, emprego da comunicação social e de operações psicológicas.

A portaria afirma que em Operações de Garantia da Lei e da Ordem não existe a caracterização de “inimigo” na forma clássica das operações militares. E neste ponto existe uma definição mais clara do que sejam as Forças Oponentes:

“a) movimentos ou organizações;

b) organizações criminosas, quadrilhas de traficantes de drogas, contrabandistas de armas e munições, grupos armados etc;

c) pessoas, grupos de pessoas ou organizações atuando na forma de segmentos autônomos ou infiltrados em movimentos, entidades, instituições, organizações ou em OSP, provocando ou instigando ações radicais e violentas; e

d) indivíduos ou grupo que se utilizam de métodos violentos para a imposição da vontade própria em função da ausência das forças de segurança pública policial”.

O que fica claro é que qualquer movimento social ou até mesmo partidário poderá ser enquadrado como Força Oponente. Chama a atenção também o que a Portaria entende o que sejam ameaças:

“a) ações contra realização de pleitos eleitorais afetando a votação e a apuração de uma votação;

b) ações de organizações criminosas contra pessoas ou patrimônio incluindo os navios de bandeira brasileira e plataformas de petróleo e gás na plataforma continental brasileiras;

c) bloqueio de vias públicas de circulação;

d) depredação do patrimônio público e privado;

e) distúrbios urbanos;

f) invasão de propriedades e instalações rurais ou urbanas, públicas ou privadas;

g) paralisação de atividades produtivas;

h) paralisação de serviços críticos ou essenciais à população ou a setores produtivos do País;

i) sabotagem nos locais de grandes eventos; e

j) saques de estabelecimentos comerciais”.

O destaque aqui vai para as letras c, d, e, f, gj. Em tese, a Portaria entende que é possível empregar as Forças Armadas em protestos, quebra-quebras, conflitos urbanos, invasões e ocupações mesmo em aeras privadas e greves. Basta que haja um entendimento de que as forças policiais não são capazes de enfrentar esses conflitos e, a partir disto, por decisão da presidência da República, ou mediante uma requisição até mesmo demandada por um governador, para que ocorra uma militarização de conflitos sociais inerentes a qualquer processo democrático. A Portaria merece uma análise mais aprofundada que foge ao âmbito deste artigo. Mas o que fica claro é que ela resvala para uma perigosa possibilidade militarização dos conflitos sociais. Conflitos e movimentos sociais que precisam ganhar as ruas para conquistar direitos, dada a impermeabilidade e a carência de legitimidade das instituições e dos partidos. Se isto ocorrer, a democracia brasileira assumirá um forte contorno repressivo.

Aldo Fornazieri – Cientista Político e Professor da Escola de Sociologia e Política.

FONTE: http://jornalggn.com.br/noticia/o-manual-de-repressao-do-governo-dilma-por-aldo-fornazieri#.UwsokyMckts.facebook

Os Intelectuais do “Governismo-bloc” e a Criminalização dos Protestos

Rejane Carolina Hoeveler

Em artigo publicado sexta-feira 14, no blog “Conversa Afiada”, do jornalista Paulo Henrique Amorim, o renomado cientista político Wanderley Guilherme dos Santos dá sua contribuição à atual ofensiva conservadora contra aqueles que protestam contra as injustiças sociais nas condições da limitada democracia vigente no Brasil, dirigido já há mais de dez anos por um governo, segundo ele, “dos trabalhadores”. Propagando o ódio a estes supostos “propagadores de ódio”, o professor Wanderley Guilherme praticamente acusa os intelectuais que se opõem ao atual estado de coisas no Brasil de serem “mentores do assassinato”, referindo-se implicitamente à morte do cinegrafista da Band – um caso, como se sabe, repleto de, digamos, “curiosidades” jurídicas, políticas e midiáticas.

Intitulado “Os whiteblocs são os assassinos intelectuais”, seu artigo, no melhor estilo “Veja governista”, se dirige a “vetustos blogueiros, artistas sagrados como marqueteiros crônicos, jovens colunistas em busca da fama que o talento não assegura, políticos periféricos ao circuito essencial da democracia, teóricos sem obra conhecida e de gogó mafioso, estes são os mentores da violência pela violência, anárquica, mas não acéfala”; intelectuais que abençoariam “um suposto legítimo ódio visceral contra as instituições, expresso em lamentável, mas compreensível linguagem da violência, segundo estimam, busca seduzir literariamente os desavisados”.[i]

Caracterizando o período que vivemos como uma “era de violência”, uma violência por sinal injustificável contra nossas “democráticas instituições”, o autor parece esquecer que a política moderna é entendida como marcada pela “violência” pelo menos desde Maquiavel, e que em nenhum período da história contemporânea houve qualquer momento em que não estivesse presente. Não precisamos nem recorrer à análise marxista do Estado, para a qual todo regime de dominação de classe é intrinsecamente violento contra os de baixo, mesmo nos períodos de aparente tranqüilidade política. O artigo de Wanderley consegue a proeza de estar à direita daqueles que como José Murilo de Carvalho  brilhante em seu liberalismo bastante conservador, fazem no mínimo questionar a ação desproporcional das polícias militares nos protestos, algo hoje destacado em toda imprensa internacional e que o nosso governismo bloc procura esquecer, ou não tratar como “violência”.[ii]

Evidentemente a posição política do petista não se refere apenas ao Black-bloc, e não se trata absolutamente de divergência tática ou estratégica com seja lá o que signifique politicamente o Black Bloc. Não. A posição do professor, e de todo o governismo bloc, que tem desesperadamente tentado impedir protestos neste ano eleitoral, além de garantir a estabilidade política para defender os grandes interesses privados envolvidos nos mega-evento, se dirige a todo o conjunto da esquerda e dos lutadores que se negam a sair das ruas, mesmo com todas as balas de borracha e gases venenosos, prisões e manipulações da mídia corporativa (cujos interesses, nesse sentido, estão intimamente ligados ao do governo).

Está cada vez mais patente o avanço dos defensores da ordem, governistas ou não, em criminalizar toda a esquerda que não se vendeu e os movimentos sociais não enquadrados na atual ordem política. Até mesmo movimentos muito mais tradicionais e enraizados como o MST não têm escapado do recrudescimento repressivo, como demonstra o caso da marcha em Brasília ocorrida na última quarta-feira, 12, que deixou 32 feridos pelos desmandos da polícia de um governo petista, enquanto, aliás, a presidenta Dilma festejava com Kátia Abreu e Blairo Maggi. Já é sabido, por exemplo, que no Rio de Janeiro o sanguinolento governo de Sérgio Cabral, junto com o governismo bloc, se empenha agora em difundir a tese de que não há nada de errado no Brasil, e que os protestos seriam o resultado não de insatisfações generalizadas, mas de uma grande e obscura conspiração de partidos de esquerda que pagariam manifestantes para “promover o quebra-quebra”. Em São Paulo as forças repressivas do governo do tucanato não ficam para trás, como ficou mais uma vez claro no episódio em que um jovem trabalhador foi sem mais nem menos baleado pela PM nos arredores da Avenida Paulista durante uma manifestação contra os efeitos da Copa, cujo grande legado, claro está, consiste num conjunto de medidas draconianas e cerceadoras de direitos.

O governo do PT, tão diferente daqueles dos tucanos, fechou os olhos para este e outros inúmeros dramáticos episódios de violência política, ao mesmo tempo em que autorizava colocar o Exército para reprimir as manifestações durante a Copa. A lógica retórica utilizada para justificar coisas assim é sempre algo como “porque senão, a direita vai voltar e todos sabemos como era ruim na ditadura” – quando qualquer pessoa podia ser baleada numa manifestação ou ser presa sem acusação… Muito coerente! Só que não.

Os intelectuais governistas preferem assim fazer coro com “The Globe”, que em sintomático editorial desta semana, intitulado “Inimigos da democracia”, retoma seu passado “glorioso” de apoio ao golpe de 1964 e à toda a ditadura, em nome da democracia, deixando claro que sua “auto-crítica” do ano passado nada mais foi do que um “limpar a ficha” para sujar de novo. [iii]

Não. O alvo do renomado professor não é nem a mídia conservadora (o famoso PIG), nem as polícias truculentas ou a legislação draconiana de restrição aos direitos democráticos em curso; seus inimigos são os supostos “mentores” da violência política, que seriam “professores universitários do Rio de Janeiro, de São Paulo e outras universidades”, que “falam do governo dos trabalhadores (sic) como se fosse o governo do ditador Médici, embora durante aquele período não abrissem o bico”.

Curioso que Wanderley mencione isto, já que ele sim, “abriu o bico” exatamente durante o governo Médici, e não foi tanto para denunciar o terrorismo de Estado daquele que foi o período mais tenebroso de todo o regime ditatorial, como faziam professores como Florestan Fernandes. Não. Preocupado estava com a garantia de uma transição “tranqüila” e “estável” para uma democracia que viria das mãos dos militares, sua atuação à época foi de colaborar com aquele nefasto regime em sua estratégia para uma transição que mudasse tudo para não mudar nada. Senão, vejamos.

Colaboracionismo, ontem e hoje

Poucos conhecem essa faceta da obra do renomado cientista político, lembrado por sua participação tanto no antigo ISEB, junto aos intelectuais comunistas e nacionalistas, quanto por sua simpatia ao PT, que na década de 1980 foi o ator político que mais denunciou a transição pactuada da ditadura. Mas é bom recordar, ainda mais num ano de efemérides relacionadas aos 50 anos do golpe empresarial-militar de 1964.

O fato é que o então diretor do Departamento de Ciência Política da Faculdade Candido Mendes e professor visitante da Universidade da Califórnia, participou, em 20 de setembro de 1973, de conferência organizada pelo Instituto de Pesquisas, Estudos e Assessoria do Congresso Nacional (IPEAC), então presidido pelo senador José Sarney (ARENA/MA), intitulada “Seminário Problemas Brasileiros”.  A iniciativa do IPEAC de Sarney contou com a participação, nada mais nada menos, de figuras que dispensam maiores apresentações, como Roberto Campos, Octavio Gouvêa de Bulhões, Mário Henrique Simonsen e Carlos Langoni, todos figuras de peso da ditadura. Segundo noticiou a própria imprensa à época,[iv] a conferência mais marcante foi sem dúvida a de Wanderley Guilherme dos Santos,[v] e o principal motivo disto era justamente o fato de que se tratava não de uma figura, como as demais, comprometidas com o regime até a medula, mas justamente de uma voz da oposição. Isso afinal dava muito mais legitimidade ao debate que à época se fazia sobre a chamada “institucionalização da revolução”. Sua atuação revela o caráter da oposição consentida ao regime, expressa por exemplo nas posições políticas da “ala moderada” do MDB.

Em seu paper, Wanderley Guilherme dos Santos apresentou a caracterização de que havia uma “crise institucional” em curso, presumindo um acordo sobre a necessidade de superá-la, porém desacordo sobre como fazê-lo. Definindo por crise institucional “não a instabilidade das instituições (…), mas a não institucionalização da estabilidade”, o autor já apresenta, logo de entrada, o problema da institucionalização política, preocupação comum de outros intelectuais, estes organicamente vinculados à ditadura, como o conhecido cientista político norte-americano Samuel Huntington, que escreve em 1973, sob encomenda do governo Médici, um documento chamado “Abordagens da descompressão política”, que guarda inúmeras semelhanças com o paper do professor brasileiro.[vi] O objetivo do autor era apresentar uma contribuição própria para a solução desta crise institucional, colaborando para a elaboração de uma “estratégia não-revolucionária”[vii] (leia-se: conservadora) de substituição do sistema político autoritário para outro, mais estável porque institucionalizado.

Segundo o paper do professor Wanderley, em primeiro lugar, a política de descompressão deveria ser “uma política incrementalista”, controlada a partir de cima, e cuja “gradualidade” da introdução de medidas garantiria assim o máximo de previsibilidade política (para o regime, evidentemente). A recomendação do cientista político era para que se evitasse “a simultaneidade das pressões”, ficando excluída da política de descompressão “a discussão de modelos globais, onde a decisão se estrutura em função de distintos ‘pacotes’ de medidas”.

Coerente com sua proposta de descompressão controlada, o professor Wanderley não apenas justificava como imprescindível a repressão ao que fosse considerado (pelo governo) como um “abuso da liberdade concedida”, mas também a criação de mecanismos de coação “suficientemente fortes e de rápida aplicação”.[viii] Garantida a coerção organizada, o outro passo, segundo o autor, seria “garantir processos compensatórios”, pois a estabilidade política dependeria de tal balanceamento. Assim, o equilíbrio da nova ordem política decorreria tanto da “disseminação de lealdade pela persuasão” e da “imobilidade pela coação”, afinal, segundo o autor, “o poder público não pode apenas abrir mão de sua capacidade genérica de coagir sem paralelamente aumentar a distribuição da lealdade ao sistema”.

Segundo o autor, a lealdade ao sistema (sic) seria criada tanto pelo que o sistema faz (positiva), quanto pelo que o sistema impede que os outros façam (negativa). A participação dos “atores políticos” poderia assumir diversas modalidades, na “geração de alternativas de decisão”, na “discussão das alternativas”, sendo a decisão propriamente dita (por exemplo, eleições diretas) apenas uma dessas “modalidades” possíveis.

Como se vê, tratava-se de um receituário com premissas políticas bem explícitas, no essencial muito análogas às orientações de Samuel Huntington e de outras figuras que estavam pensando em como garantir o fim da ditadura sem o fim de suas instituições (entre eles o próprio Roberto Campos); ou seja, nada mais que uma democracia restrita e controlada como a que temos hoje.

Nada mais coerente que quem colaborou com uma transição conservadora de uma ditadura, colabore hoje com a criminalização dos movimentos sociais fora da ordem. A conjuntura é muito distinta, mas a lógica é a mesma: construir “instituições fortes”, estáveis, ficando em segundo plano a que custo político. A democracia se resume a um conjunto de procedimentos e instituições que devem ser preservadas mesmo contra o povo.

Viva o governo! Viva o regime e suas instituições! Viva o Estado!, é o que gritam os mentores dos “revoltados a favor”. Mas ao contrário do que afirma nosso cientista político, são eles que não vão vencer no grito, pois, por mais que se esforcem, não podem abafar o grito das ruas.

[i] http://www.conversaafiada.com.br/politica/2014/02/14/wanderley-os-whiteblocs-sao-os-assassinos-intelectuais/

 

[ii] Ver http://oglobo.globo.com/rio/o-perigo-white-bloc-11589577.

[iii] http://oglobo.globo.com/opiniao/os-inimigos-da-democracia-11575241

[iv] Ver por exemplo Folha de São Paulo, 20 de setembro de 1973, p.3; Folha de São Paulo, 30 de setembro de 1973, p.3, ou Folha de São Paulo, 30 de agosto de 1974, , onde a intervenção de Wanderley Guilherme é comparada á de Samuel Huntington, como também em Folha de São Paulo, 08 de agosto de 1975. Consultar também Anais do Senado, sessão ordinária de 1º de novembro de 1973, p.57/58, onde um senador da Arena elogiava as elaborações do professor. Lembrar também que até um moderado como Ulisses Guimarães era à época crítico das proposições gradualistas, como aparece explicitamente em declaração sua publicada na Folha de São Paulo, em 19 de setembro de 1973, sob o título “MDB pode apoiar Geisel”.

[v] A Conferência foi publicada pelo próprio IPEAC em 1973, e também republicada em 1978 em conjunto com outros ensaios do autor. SANTOS, Wanderley Guilherme dos. Poder & política. Crônica do autoritarismo brasileiro. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1978.

[vi] HUNTINGTON, Samuel. Abordagens da descompressão política. (mimeo). Disponível em:http://cpdoc.fgv.br/acervo/arquivospessoais. Para uma análise do mesmo, ver HOEVELER, Rejane. “Ditadura e democracia restrita: a elaboração do projeto de descompressão controlada no Brasil”. Monografia de conclusão de curso. Rio de Janeiro: IH/UFRJ, 2012. (disponível em:https://www.academia.edu/3563103/Ditadura_e_democracia_restrita_a_elaboracao_do_projeto_de_descompressao_controlada_no_Brasil_1972-1973.)

[vii] SANTOS, Op. Cit., p. 146.

[viii] “A política de descompressão, ao renunciar aos instrumentos genéricos de coação (atos, cassações, censura, etc), precisa substituí-los por instrumentos específicos de coerção, que obriguem as áreas liberadas a não,extravasarem os limites da descompressão planejada, e isto com a mesma agilidade e velocidade com que o extravasamento tende a ocorrer.” SANTOS, Op. Cit., p.154.

FONTE: http://jornalggn.com.br/blog/antonio-ateu/debate-os-intelectuais-do-%E2%80%9Cgovernismo-bloc%E2%80%9D-e-a-criminalizacao-dos-protestos

O fogueteiro mudou de cor: transmutação ou armação?

A foto abaixo revela um desses mistérios que ocorrem de tempos em tempos, no melhor estilo das teorias da conspiração. Passemos a observá-la:

rojao

Como se vê, a mesma traz imagem da pessoa que teria detonado o rojão que terminou matando o cinegrafista Santiago Andrade da Band TV. No lado direito, ele está suado e usando uma camiseta cinza, com cabelos compridos e de pele branca. De quebra, aparenta conversar com policiais do Pelotão de Choque da PM. Já no lado esquerdo aparece o Caio Silva Souza que confessou ter detonado o rojão. Caio, além de estar de cabelos curtos em diferentes momentos, também possui a pele bem mais escura, e não se assemelha em nada à pessoa mostrada incansavelmente pelas redes de TV como quem teria detonado o petardo.

Ai é que se pergunta: como as próprias imagens mostraram e analistas depuseram, a chance que o verdadeiro detonador do rojão seja a pessoa mostrada no lado direito da imagem é simplesmente escassa. Então por que Caio Silva Souza confessou o crime?

Essa discrepância que deveria estar merecendo um mínimo de cobertura pela mídia corporativa vai ter que ser apurada via as redes sociais e a blogosfera. Como de junho para cá isso já se deu em inúmeros casos, o mais provável é que nas próximas semanas possamos ter uma idéia mais clara de como esse jogo todo vai se desdobrar. Agora, que está estranho, nem é preciso insistir.