Ainda sobre convênio firmado pela reitoria para a PM policiar o campus da UENF

Ontem perguntaram a um jogador da seleção brasileira, acho que foi o Júlio César, sobre qual seria a explicação para o massacre. Ai ele respondeu que para coisas inexplicáveis, não haveria explicação.  É óbvio que ele estava sob forte emoção, mas é claro que o massacre têm muitas explicações.
Agora vejamos a situação do convênio que os gestores da UENF assinaram no dia 26/06 com a secretaria de segurança para utilizar policiais para policiar o entorno do campus da UENF (por favor leiam o extrato do DO que eu já coloquei no ar ontem!). 
Talvez para nos distrair de mais essa ação desastrada e autoritária dessa reitoria, estamos agora recebendo mensagens na lista privada que os professores da UENF utilizam para dialogar entre si que falam sobre insegurança, pela primeira vez o tema é abordado por essas pessoas!, e apontando para, entre outras coisas, supostos crimes, tais como: uso de entorpecentes ilegais, tentativas de crimes sexuais, perigo de assalto aos caixas automáticos existentes no campus e pessoas que andam armadas.
Pois bem, o que se esperaria de quem está tentando justificar o injustificável é que nos apresentasse DADOS! Eu estou trabalhando nesse campus desde janeiro de 1998 e não estou inocente quanto aos riscos de segurança que enfrentamos dentro e fora do campus. Mas vejamos quanto ao que se falou na lista dos professores:
1. Uso de drogas ilegais: ao longo desses quase 17 anos senti pouquíssimas vezes aquele aroma característico da CANABIS SATIVA sendo queimada. E isso sempre me intrigou, pois sendo egresso da UFRJ, o cheirinho característico sempre percorreu os corredores do alojamento, e dos blocos que eu frequentei nas minhas aulas. E olha que isso aconteceu durante a vigência do regime militar. Assim, sempre tive a impressão que aqui é uma universidade para lá de careta. Mas qual é mesmo o problema de se fumar maconha? Que é ilegal? Ora, eu esperaria mais de professores universitários do que nos dizer que não estamos no Uruguai!
2. Tentativas de crimes sexuais: A ocorrência de estupros lamentavelmente é um fato na história da UENF, e tive notícia há uns 10 anos de que duas de nossas estudantes foram levadas para a frente do campus que antes era um terreno baldio e estupradas. Esse fato deveria ter gerado uma ampla campanha de educação e proteção de nossas estudantes, mas não foi. Agora, se o problema persiste por que não fomos informados antes disso? E por que não se apresenta isso por canais formais da instituição. É que se o problema está ocorrendo e ele é verdadeiramente grave, por que fomos mantidos na escuridão?
3. Perigos de assaltos aos ATMS: Em quase 17 anos só tivemos um mísero assalto ao posto bancário do Itaú por um grupo de assaltantes altamente profissionais que entraram e saíram tranquilamente fardados como policiais militares. Isso não quer dizer que a chance de novo assalto inexiste, mas a probabilidade é significativamente baixa. E como já disse antes, esse é um problema que as duas empresas bancárias que são donas dos equipamentos têm a obrigação de tratar, e a reitoria da UENF a obrigação de cobrar delas as devidas medidas de segurança.
4. Pessoas que andam armadas no campus. Essa é uma grande novidade para mim. Aliás, como já fui ameaçado de morte por múltiplas vezes, esse é um dado que me interessa diretamente. Afinal, alguns dos que me ameaçaram mandar para a “terra dos pés juntos” com a ajuda de armas de fogo continuam dentro do campus. Então se temos DADOS, que se disponibilize, até para que eu possa tomar medidas adicionais de segurança pessoal.
Agora, tendo escrito o que eu escrevi acima, creio que qualquer justificativa para a militarização de um campus universitário como o nosso não poderá se dar de forma açodada e com justificativas tão rasteiras quanto inconsistentes. A vinda do ambiente de policiamento militar para o interior de uma instituição universitário significa, entre outras coisas, a falência completa de projetos alternativos para o estabelecimento de uma cultura de segurança que seja eficiente e democrática. E o caso é que temos dentro da UENF pesquisadores que participam até de um Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) cujo foco é justamente a questão da segurança pública. Por que esses pesquisadores não foram ainda chamados para trazer a sua expertise para um debate tão central para o nosso futuro? Essa desconsideração por conhecimento científico me deixa a sensação de que não se quer abrir efetivamente o debate. E ainda por cima, em se tratando de uma instituição universitário tal desprezo seria simplesmente o fim da picada.
Finalmente, ainda estou esperando uma explicação oficial para o fato de que se assinou um convênio para aderir ao PROEIS no dia 26/06/2014 e a primeira discussão no CONSUNI só ocorreu no dia 03/07/2014. Esse tipo de manobra não é apenas anti-democrática, mas viola o Estatuto da UENF! 

Amarildo e Douglas

Por Frei Betto*

Primeiro, mataram Amarildo de Souza. Ajudante de pedreiro, pai de família, reputação ilibada, caiu em mãos de policiais da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da favela da Rocinha, no Rio, e desapareceu.

Sabe-se, hoje, que sofreu espancamentos até a morte atrás da cabina da Policia Militar, na Rocinha. Seu corpo continua desaparecido. Paira a suspeita de que teria sido triturado em uma caçamba de caminhão de lixo.

Agora assassinaram o bailarino Douglas Rafael Pereira, encontrado morto, com um tiro nas costas, na creche da favela Pavão-Pavãozinho, na divisa de Copacabana com Ipanema. Testemunhas viram-no em mãos de policiais militares da UPP local.

Favela não é reduto de bandidos nem a Polícia Militar uma corporação de assassinos. Moram em favelas famílias trabalhadoras sem recursos para adquirir um imóvel melhor ou pagar aluguel em áreas urbanizadas, dotadas de saneamento e vias asfaltadas.

Há, sim, entre os moradores da comunidade, bandidos e traficantes de drogas, assim como eles também são encontrados em bairros como o Morumbi de São Paulo e a Barra da Tijuca, no Rio, onde residem famílias de alto poder aquisitivo.

Nas décadas de 1970-80, a expansão de movimentos populares no Brasil se estendeu para o interior das favelas. Por razões pastorais, morei na de Santa Maria, em Vitória, entre 1974 e 1979. Naqueles cinco anos participei de uma comunidade relativamente bem organizada em torno do Centro Comunitário. No Rio e em São Paulo multiplicavam-se Associações de Moradores.

Em fins dos anos 1980 e início da década seguinte, lideranças comunitárias da periferia começaram a ser cooptadas por prefeitos e governadores. Como ocorre hoje com a UNE e as centrais sindicais, as entidades comunitárias perderam credibilidade na medida em que se transformaram em agentes do poder público junto à população, quando deveriam atuar na direção inversa.

A acefalia abriu espaço ao narcotráfico, que passou a monitorar favelas e bairros da periferia. Na ausência de serviços públicos básicos, o narcotráfico desempenha o papel de assistente social, assegurando tratamento de saúde, bolsas de estudos, transporte e crédito aos desfavorecidos.

Por sua vez a PM, um resquício da ditadura, tornou-se, no Rio e em São Paulo, o avatar na guerra contra o narcotráfico. A ação preventiva deu lugar à mera ação repressiva. Sem preparo pedagógico e psicológico, policiais militares encaram moradores de favelas como o governo dos EUA jovens muçulmanos: todos são suspeitos até prova em contrário.

Como declarou um amigo e vizinho de Douglas, os PM tratam os moradores da favela com arrogância. Muitos não admitem que a pessoa abordada mire em seus olhos. Sentem prazer sádico em ver o cidadão humilhado, de cabeça baixa, suplicando por clemência. Achacam o comerciante local, bebem e comem de graça em bares e lanchonetes da comunidade, recebem propinas do narcotráfico para fazer vista grossa frente ao crime organizado.

O governo do PMDB no Rio, com apoio do PT, acreditou ter inventado a roda ao instalar UPPs em áreas de conflitos. Cometeu duplo erro: por não fazer os serviços públicos acompanhar a entrada de policiais nas comunidades e por não capacitar os integrantes das UPPs.

A ação repressiva não veio casada com a ação educativa. Crianças e jovens continuaram sem escolas de qualidade, oficinas de arte, áreas de lazer e esportes. E por vestirem uma farda e portarem armas, PMs se arvoram em senhores acima do bem e do mal. Revistam um trabalhador como um senhor de engenho tratava um escravo em tempos coloniais.

O estranho é que muitos policiais, moradores em favelas, não se reconhecem em seus amigos de infância e vizinhos, e agem como se não fossem um deles.

Amarildo e Douglas, como tantos outros anônimos, foram sacrificados pela prepotência. Quem será a próxima vítima?

Amarildo e Douglas são mortos insepultos. Seus sacrifícios clamam por um Estado que efetivamente reduza a desigualdade social, construa mais escolas que prisões, incuta nos policiais o sagrado respeito aos direitos humanos, e puna com rigor bandidos de colarinho branco e assassinos fardados.

Se até hoje o Estado brasileiro não obrigou as Forças Armadas a abrir os arquivos da ditadura nem puniu os torturadores, não é de se estranhar que policiais se sintam no direito de ignorar a lei e a cidadania, para agir como se fossem apenas UPPs – Unidades de Policiais Pervertidos.

Frei Betto é escritor, autor de “O que a vida me ensinou” (Saraiva), entre outros livros.

(Adital)

FONTE: http://www.mercadoetico.com.br/arquivo/amarildo-e-douglas/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=mercado-etico-hoje

El País: As favelas se levantam contra a violência policial

O Rio registra mais de 500 mortos por mês, além dos milhares de desaparecimentos, provocados por uma violência desmedida

 
 Rio de Janeiro 

Quatro ônibus foram incendiados neste sábado em Niterói. / AGÊNCIA O GLOBO

Não é notícia que no Rio do Janeiro os principais indicadores de segurança tenham piorado de forma alarmante no último ano. Mas é notícia que os moradores das favelas, cansados de pagarem a conta das intervenções policiais indiscriminadas contra as quadrilhas de traficantes e das tristemente populares balas perdidas, tenham decidido romper o silêncio e encarar um Estado que historicamente os trata como cidadãos de segunda. Uma imagem que vem sendo habitual nos últimos meses é a de grupos de moradores de diferentes favelas cariocas interrompendo o tráfego de ruas e avenidas, incendiando ônibus e veículos públicos, montando barricadas ou recebendo a polícia a pedradas. As fotos são muito claras: nelas se observam mulheres e homens de idade avançada, mães e jovens sem armas de fogo que, estimulados pelas permanentes manifestações que se estendem pelo Brasil, lançam agora um grito de cansaço desesperado, contido durante décadas.

Nas imediações da favela do Caramujo, em Niterói, os moradores interromperam uma rodovia nesta sexta-feira e atearam fogo a quatro ônibus e três carros em resposta a duas mortes registradas nas últimas horas na mesma região. Pouco depois de deixar a igreja de Nossa Senhora de Nazaré, Anderson Santos Silva, de 21 anos, se viu encurralado em um fogo cruzado entre narcotraficantes e policiais que pretendiam reprimir um baile funk que acontecia naquela noite na favela. Ao tentar proteger a seus familiares do tiroteio, Anderson recebeu um disparo e morreu horas depois. Sua irmã também ficou ferida. O jovem Emanoel Gomes circulava de moto pelo mesmo subúrbio quando foi atropelado por um blindado do Batalhão de Choque da Polícia Militar. Ambas as mortes levaram um nutrido grupo de moradores a tomar a justiça nas próprias mãos, incendiando ônibus e carros e interrompendo o trânsito. Protestavam contra uma polícia que parece retornar aos velhos hábitos de perseguição e destruição dos traficantes, geralmente agindo sem muitos melindres com a população local.

A ONG Rio de Paz resumiu as estatísticas publicadas durante os últimos oito anos (2007-2014) pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio do Janeiro. E os números são alarmantes: no Estado de Rio, foram registados neste período 35.879 homicídios dolosos, 285 lesões corporais seguidas de morte, 1.169 roubos seguidos de morte, 5.677 mortes derivadas de intervenções policiais, 155 policiais militares e civis mortos em ato de serviço. Total: 43.165 falecidos. Ou seja, mais de 500 mortes por mês provocadas por uma violência desmedida. Esses números não levam em conta os mais de 38.000 desaparecidos nem as mais de 31.000 tentativas de homicídio.

No Complexo da Maré, recém-ocupado pelo Exército brasileiro, também foram registrados nos últimos dias duas mortes de civis suspeitos de trabalharem para o narcotráfico. O fato gerou uma onda de indignação entre os moradores do complexo, que não entendem como uma ocupação militar com fins pacificadores pode começar causando vítimas mortais desde o primeiro momento. Claudia Silva Ferreira, a mulher de 38 anos que no último dia 16 de março morreu vítima de balas perdidas numa favela da zona norte do Rio e que, para maior escárnio, foi arrastada ao longo de 250 metros por um veículo da Polícia Militar que a levava para ser atendida em um hospital, se tornou outro dos ícones dos últimos tempos contra a violência policial. A morte de Claudia também desatou a ira dos moradores e uma enxurrada de críticas à polícia nas redes sociais.

No começo de abril, um grupo de moradores da favela do Cantagalo, no rico bairro de Ipanema, desceu do morro, interrompeu as ruas e incendiou caçambas de lixo depois que dois dos seus moradores ficaram feridos a tiros. Nas imediações da favela de Vila Kennedy, outro grupo de cidadãos interrompeu no fim de fevereiro a movimentada Avenida Brasil. A morte de um morador em um confronto armado entre policiais e narcotraficantes foi igualmente o estopim da fúria coletiva. Dias depois, o Batalhão de Operações Especiais ocupava a mesma comunidade para sua futura pacificação.

Mas o caso que mais rios de tinta e mais protestos gerou foi o do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, torturado até a morte e desaparecido por um grupo de policiais pacificadores na favela da Rocinha. A pressão gerada pelos constantes protestos e mobilizações organizados pelos moradores da maior favela do Rio conseguiu algo inédito até hoje: que os responsáveis tenham sido identificados e estejam respondendo perante a Justiça. Enquanto isso, as operações policiais continuam ocorrendo nas favelas do Rio, a menos de dois meses do início da Copa do Mundo. Nelas, registram-se mortos e feridos, mas raramente a polícia se responsabiliza por eles.

FONTE: http://brasil.elpais.com/brasil/2014/04/20/politica/1397952771_527057.html

Pezão e a remoção da Favela Oi: foi feito o que tinha que ser feito

As imagens da ação violenta e desordenada da ação da Polícia Militar na remoção de centenas de pessoas pobres (incluindo crianças e idosos) mereceu do (des) governador Luiz Fernando Pezão, a seguinte frase segundo reportagem do Jornal O GLOBO (Aqui!): foi feito o que tinha que ser feito.

Agora cabe à população do Rio de Janeiro fazer o que tem de ser feito com Luiz Fernando Pezão nas próximas eleições, qual seja, jogar seu triste período de (des) governo na lata de lixo da história. É que em democracias minimamente consolidadas, o que não é o caso do Brasil e em especial do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão já teriam sofrido, no mínimo, um impeachment faz muito tempo. 

Brasil 247 e a pergunta que não quer calar: Cadê os direitos humanos?

No país da Copa 2014, o que há para os pobres? Repressão, tiros, bombas

O texto e fotos abaixo são do repórter Vladimir Platonow da “Empresa Brasil de Comunicação” e mostram como foi feita a desocupação de centenas de pessoas de um prédio abandonado da empresa telefônica OI.

E depois ainda vem a CUT anunciar que vai sair às ruas para defender a realização da Copa do Mundo da FIFA…..

 

Desocupação prédio da Oi

Por Vladimir Platonow

Quando a política de habitação de um governo é traduzida em tiro, porrada e bomba, algo vai muito mal. Tem muita diferença cobrir uma desocupação do lado da polícia ou da comunidade. Nesta sexta-feira, fiquei junto com os moradores do Rato Molhado, que me deram abrigo. Tive que fugir da PM para não ser preso por “desacato”, conforme gritava comigo um sargento e outros tantos, só porque eu estava fotografando a prisão de uma liderança e do colega Bruno, de O Globo. Sinceramente, a forma como a polícia trata os moradores das favelas é muito desumana e violenta. Isso é racismo social, sim.

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