MEC ao léu: Renato Feder pede para sair sem ter entrado

feder paranáApós rejeição implacável ao seu nome por “olavistas” e “militares, Renato Feder usa Twitter para declinar convite para ser o próximo ministro da Educação

A situação seria cômica se não fosse extremamente trágica. É que neste domingo, o secretário estadual de Educação do Paraná, Renato Feder, gerou mais uma situação humilhante para o governo Bolsonaro ao declinar via sua página na rede social Twitter o convite que teria sido feito a ele pelo presidente Jair Bolsonaro (ver imagem abaixo).

renato feder declina

A situação de um convite ser “declinado” via redes sociais é insólita, e mostra o desprestígio do convite e de quem o fez. Em um passado não muito distante, o convite para ocupar um ministério seria celebrado e tratado com mais cuidado, e a situação que está posta é rara, mesmo para um país com um sistema político chegado à excentricidades como é o brasileiro.

Com a recusa de Renato Feder, o governo Bolsonaro está com pelo menos dois ministérios importantes sem um ocupante definitivo,  Saúde e Educação, justamente quando eles são chamados a ocupar um papel relevante no combate à uma pandemia letal como é a da COVID-19.

Por outro lado, o tratamento displicente que o presidente Bolsonaro dispensa à indicação dos ministros dessas duas pastas deixa claro que estas duas áreas não são vistas como estratégicas, o que é deixado explícito por essa sucessão de vexames que tem sido a tentativa de encontrar um substituto para um ministro que teve um desempenho para lá de pífio, como foi o caso de Abraham Weintraub no MEC.

Um detalhe mórbido sobre essa recusa pública de Renato Feder foi a oposição que seu nome sofreu de duas alas, ideológica e militar, que se debatem para saber quem determina as linhas de ação do governo Bolsonaro. É que aparentemente, Feder foi rejeitado simplesmente por não ser truculento ou direitista o suficiente. Como eu disse no início desta postagem, a situação do governo Bolsonaro seria cômica se não fosse trágica.

Finalmente, desconfio que neste momento há algum militar engalanado engraxando o sapato e engomando o terno para assumir o MEC. Temporariamente, é claro.

Com Renato Feder, Bolsonaro mantém ministro com zero impacto acadêmico e perfil privatista no MEC

O presidente Jair Bolsonaro informou hoje que o atual secretário estadual de Educação do Paraná, Renato Feder, será o próximo ocupante da chefia do MEC, mantendo um perfil que se repete desde a indicação do professor Ricardo Vélez Rodriguez que é o de ter a pasta ocupada por personagens com baixíssimo ou nenhum impacto acadêmico. No caso de Renato Feder, ao contrário da versão mitômana de Carlos Alberto Decotelli, a visita à Base Lattes mostra que Feder não possui qualquer preocupação com seu perfil acadêmico, pois a currículo que lá está depositado não é atualizado desde Dezembro de 2002 quando ele sequer tinha terminado o seu mestrado em Economia pela Universidade de São Paulo (ver imagem abaixo).

renato feder

Mas o perfil acadêmico de impacto inexistente não é o problema real de Renato Feder.  O pior mesmo são suas ideias privatistas e contra a educação pública (ver abaixo sequência de imagens com o que pode ser considerado o pensamento Feder em estado puro).

Ainda que agora Feder esteja dizendo que abandonou parte das suas ideias, que foram apresentadas no livro “Carregando o Elefante – como transformar o Brasil no país mais rico do mundo” publicado em parceria com Alexandre Ostrowiecki em 2007 (ver foto dos dois em uma performance na empresa Multilaser na qual os dois são sócios) (ver imagens abaixo).

 Mas como já dizia o profeta Jeremias “o leopardo não pode mudar a variedade das suas manchas”. E isto ficou verificado na atuação de Feder como secretário estadual de Educação do Paraná. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores da Educação Pública do Paraná (o APP Sindicato), Renato Feder marcou sua gestão por um enfoque no “controle das ações das equipes escolares, por meio do desenvolvimento da tecnologia, criação das funções dos tutores (professores lotados nos núcleos regionais de educação que desenvolvem a função de verdadeiros capatazes dos seus iguais), das avaliações externas e da retirada de autonomia das unidades escolares“.

Um dos “feitos” de Renato Feder enquanto secretário estadual de Educação do Paraná foi contratar, com dispensa de licitação, de uma rede afiliada da TV Record  para transmitir vídeo-aulas para alunos da rede estadual durante a pandemia de Covid-19.  Um detalhe curioso marcou essa contratação com dispensa de licitação: a empresa contratada não possuía sinal de transmissão em quase a metade do estado, o que deixou, segundo o site “The Intercept“, “mais de 2 milhões de pessoas vivem nas cidades que ficaram no escuro educacional – o que é quase um quinto da população do Paraná”.

Por essas nuances todas, eu me atrevo a fazer um trocadilho medonho que é dizer que com Renato Feder no MEC, as coisas têm tudo para feder.  Assim, para quem esperava algum tipo de refresco nos enfrentamentos em defesa da educação pública, sugiro esquecer e arregaçar as mangas para impedir retrocessos ainda mais graves. A ver!