Gigante norueguesa da área de produção de salmão em cativeiro pune Cargill por ligações com desmatamento na Amazônia

desmatamento

Em uma matéria assinada pela jornalista Rachel Mutter no site especializado “Intrafish“, a gigante do setor da produção de salmão em cativeiro, a norueguesa Grieg Seafood informou que excluiu uma subsidiária da multinacional estadunidense Cargill de sua lista de fornecedores por supostas ligações com o desmatamento ilegal no cerrado e na Amazônia brasileiros.

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A matéria informa ainda que a decisão está vinculada aos R$ 558 milhões em títulos verdes (green bonds) recém-captados pela Grieg Seafood. Trata-se de títulos emitidos para financiar projetos sustentáveis e voltados à mitigação do processo de mudanças climáticas. Com a medida, a Cargill Aqua Nutrition ficou excluída das fornecedoras para compras com esses papéis, usados para financiar a compra de rações inovadoras que melhorem o bem-estar e a saúde dos peixes.

Em declaração à Rachel Mutter, a gerente de comunicação global da Grieg Seafood, afirmou que “O desmatamento precisa parar porque estamos em uma crise climática e porque precisamos proteger a biodiversidade.”

Essa desdobramento na Noruega não chega a ser surpreendente, na medida em que ainda em 2018, a organização não-governamental Norway Rainforest Foundation publicou um relatório intitulado “Salmon on soy beans — Deforestation and land conflict in Brazil” (Salmão em soja – Desmatamento e conflito de terras no Brasil) onde uma série de denúncias são feitas sobre a produção de soja em áreas recentemente desmatadas na Amazônia brasileira.

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Como de lá para cá, sob a batuta do improbo Ricardo Salles, o Brasil literalmente soltou a boiada para dentro das florestas amazônicas, não deveria surpreender ninguém que ações concretas estejam sendo tomadas não apenas contra quem desmata, mas também contra as empresas multinacionais que controlam o mercado global de grãos, a começar pela Cargill.

O interessante é que ontem (01/07) recebi uma nota da assessoria de comunicação da Cargill não apenas dando conta dos esforços da empresa para controlar a origem dos seus produtos, mas também para “transformar sua cadeia de suprimentos para ser livre de desmatamento, protegendo a vegetação nativa além das florestas“. Ao que tudo indica, a Cargill já está tentando responder às crescentes críticas vindas até de grandes clientes de que não está fazendo o suficiente para impedir que haja um avanço do desmatamento em todas as regiões em que adquire seus grãos, a começar pela Amazônia.  Agora, com essa decisão da Grieg Seafood, é provável que a Cargill seja obrigada a ser ainda mais diligente do que diz estar sendo.

E nessa confusão toda como fica o Brasil que se prepara para presenciar uma estação de incêndios amazônicos maior do que os que aconteceram em 2019? Eu repetiria apenas o meu prognóstico de que cedo ou tarde (talvez mais cedo do que tarde), o nosso país será alvo de um intenso bloqueio econômico, pois, como mostra um relatório recém liberado pela própria Cargill, a destruição das florestas tropicais não é necessariamente sinônimo de mais negócios. Aliás, muito pelo contrário, conservação dos biomas tropicais está cada vez mais se tornando uma espécie de mantra corporativo. 

E se o governo Bolsonaro acha que vai enganar o resto do mundo sobre o que está de fato sendo permitido na Amazônia, melhor pensar de novo.

Cooperativa de criadores de salmão da Noruega decide banir soja brasileira

NorwayFishFarmAerialCooperativa norueguesa de criadores de salmão decidiu suspender uso de soja brasileira  em sua ração para diminuir pegada de carbono de sua produção

Em mais uma demonstração que o mar não está nada calmo para a nau do presidente Jair Bolsonaro e seus ministros negacionistas das mudanças climáticas,  a cooperativa norueguesa de piscicultores de salmão , o Salmon Group, emitiu um comunicado de imprensa informando que está suspendendo imediatamente a aquisição de soja brasileira como parte do esforço de redução de 17% da “pegada de carbono” associada à sua produção de salmão em cativeiro.

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Segundo o comunicado de imprensa do Salmon Group, os seus 44 acionistas “levam a sério a sustentabilidade e, por um longo tempo, trabalharam propositalmente e concretamente com questões relacionadas a isso”.  O comunicado do Salmon Group acrescentou ainda que “estamos falando de empresas familiares de segunda e terceira geração, que operam no ambiente local onde elas mesmas nasceram e foram criadas. Eles estão muito conscientes da responsabilidade que lhes cabe ao conduzir seus negócios em público. Eles pensam a longo prazo e assumem responsabilidade moral e ética.

Ainda que esta decisão do Salmon Group possa não estar diretamente associada ao atual ciclo de queimadas na Amazônia brasileira, o certo é que a condição dos mercados para a soja brasileira que já não está tão confortável como gostariam os líderes do latifúndio agro-exportador, poderá ainda ficar ainda pior após o delirante discurso do presidente Jair Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU no dia de ontem (24/09).

Relatório produzido pela Rainforest Foundation Norway coloca pressão nos consumidores de soja brasileira

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Para quem acha que o jogo de espelhos que está ocorrendo em torno da extinção/fusão do Ministério do Meio Ambiente não está sendo acompanhando nos países que consomem os produtos saídos da Amazônia, pense de novo.

Um exemplo disso é a extensa matéria que foi publicada pela “Regnskogfondet” (Rainforest Foundation Norway) , organização sediada em Oslo na Noruega, sob o título “As águas turvas do mar norueguês” onde são apresentadas as ligações da indústria do salmão da Noruega com fornecedores de soja brasileira, e que também serviu para a divulgação de um amplo relatório sobre a produção de soja no Brasil  sob o título de ” Salmon on soybeans — Deforestation and land conflictin Brazil”[1].

A matéria começa informando que o salmão que os noruegueses estão consumindo foi alimentado com concentrado de proteína de soja (SPC) do Brasil. E que este produto, que é uma forma avançada de farelo de soja, é fornecido por três empresas brasileiras; Caramuru, Selecta e Imcopa.

A Regnskogfondet informa ainda que a soja entregue na Noruega é essencialmente certificada pelo ProTerra, que, entre outras coisas, garante que a soja não é geneticamente modificada e não contribuiu para o desmatamento. Entretanto,   é  feito o alerta de que apesar dessa certificação parecer ser boa,  é sabido que que muito mais na indústria brasileira de soja não é bom.

Para deixar isso claro, a Regnskogfondet produziu um relatório que confirma que as três empresas brasileiras podem estar associados a crimes graves, envolvendo:

Desmatamento ilegal

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Sangrentos conflitos de terr

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Uso de pesticidas ilegais

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Ocupação de territórios indígenas

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Uso de trabalho escravo

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A matéria coloca em questão a postura das empresas norueguesas de continuar comprando soja com origem tão problemática e envolvida em tantas violações de direitos fundamentais e da agressão ao meio ambiente.

Como já alertei em postagens anteriores, quem acha que a  eleição de um presidente anti-ambiente não será acompanhada atentamente fora do Brasil está completamente enganado.  E, mais, se continuar a retórica anti China, o mais provável é que a Europa seja o único destino viável da gigantesca produção de soja brasileira.  Mas na Europa, a maioria das pessoas está convencida do papel fundamental que a floresta Amazônica ocupa na regulação climática da Terra. Daí que ninguém se surpreenda se houver uma cobrança mais direta e incisiva em torno das condições em que a soja é produzida no Brasil.

Quem desejar ler o relatório completo que a Rainforest Foundation Norway produziu e que deu base à reportagem analisada, basta clicar [Aqui!].


[1] http://historier.regnskog.no/den-norske-laksens-grumsete-farvann/index.html