Uma dúvida sincera: o setor produtivo campista produz o que?

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Acabo de completar 25 anos (um quarto de século!) como professor na Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) e ao longo desse tempo todo vejo com alguma incredulidade a paralisia da economia local, que só não afundou por causa dos bilhões que aportaram em Campos dos Goytacazes via os chamados royalties do petróleo.

Mais recentemente comecei a ler o uso do termo “setor produtivo” para agrupar o que seriam os eventuais responsáveis por fazer a economia local funcionar. É algo que me lembra muito a apropriação do termo “agronegócio” que chegou no Brasil para juntar uma variedade de atores vinculadas à produção agrícola e pecuária, mas que junta gente que não produz muita coisa.

Recentemente houve inclusive uma reunião entre membros do tal “setor produtivo” e o novo presidente da Câmara Municipal de Vereadores, Marquinho Bacellar, para supostamente discutir uma pauta que incluiu temas como desenvolvimento econômico, serviços essenciais e melhorias no transporte público municipal; além de um novo projeto para a “revitalização” do centro histórico de Campos.

Ao olhar a lista de participantes (entre eles CDL e ACIC) continuei sem entender exatamente o que os capacita a ser o tal “setor produtivo”. É que para ser “setor produtivo”, algo teria que estar sendo produzido.  E, afinal, o que produz o “setor produtivo” campista?

Mas, independente do que produzem seus membros, esta reunião deixou claro o que quer o “setor produtivo”.  Segundo o  presidente da Associação Comercial e Industrial de Campos (Acic), Fernando Loureiro,uma das demandas seria a criação de um  conselho composto por representantes do setor econômico (outro mistério conceitual), para discutirem com os poderes Executivo e Legislativo onde o dinheiro público deverá ser investido.   Em outras palavras, o “setor produtivo” aparentemente está querendo eliminar os atravessadores para definir o onde o nosso dinheiro vai ser alocado para, obviamente, beneficiar os que estão sempre sendo beneficiados. 

Eu até acho tudo isso bastante bacana, pelo grau de sinceridade., mas fico pensando qual “conselho” vai representar os interesses de milhares de famílias que hoje passam fome no município. É que até agora, passados dois anos de governo Wladimir, a maioria pobre da população continua comendo o pão que o diabo amassou em meio a uma grave econômica e sanitária, sem que ninguém do “setor produtivo” venha fazer qualquer cobrança no sentido de erradicar a fome que galopa por esquinas e praças deste rica cidade. 

Perguntar não ofende: em Campos dos Goytacazes, o que produz o “setor produtivo”?

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Em uma ofensiva razoavelmente bem articulada, um conjunto de entidades patronais campistas vem promovendo uma campanha midiática contra o pacote de impostos promovido pelo prefeito Wladimir Garotinho que continua atolado nos corredores da Câmara de Vereadores de Campos dos Goytacazes.

A novidade é que essas entidades patronais se apresentam agora sob o manto unificado de um tal “setor produtivo”. Que os patrões querem sempre pagar menos impostos eu até entendo, pois essa é uma forma clássica de acumulação da riqueza gerada pelos trabalhadores. Mas ao se apresentar como “setor produtivo”, os que rejeitam o pagamento de impostos com o Conde Drácula rejeita o colar de alhos, me permite levantar a singela pergunta: o que produz o setor produtivo campista?

É que comercializar o que os outros produzem não é produzir, mas simplesmente vender, não configurando assim produção. E como no meio deste setor produtivo tem muita gente que vive do rentismo, fica ainda mais curioso saber como se dá a definição de produção de que se fala. Simples assim!