Enquanto desapropriações se arrastam na Justiça, Porto do Açu inaugura maior térmica do país com Novo PAC

Complexo portuário-industrial idealizado por Eike Batista abriu 500 processos por desapropriações

Enquanto desapropriações se arrastam na Justiça, Porto do Açu inaugura maior térmica do país com Novo PAC

UTE GNA II em operação no Porto do Açu tem capacidade de abastecer 8 milhões de residÊncias.  Divulgação Prumo Logística 

Por Clivia Mesquita para o “Brasil de Fato”

Como muitos brasileiros, Noêmia Magalhães e o marido Valmir Batista, o Birica, guardaram o dinheiro de uma vida inteira de trabalho para desfrutar na terceira idade. Encontraram o refúgio ideal em São João da Barra, no norte fluminense, onde passaram a cultivar alimentos orgânicos, plantar árvores, fazer caminhadas. Assim viveu o casal por anos até a chegada do Porto do Açu, maior empreendimento portuário da América Latina, interromper o modo de vida de toda a comunidade formada por pequenas propriedades de terra. 

Mais de dez anos depois, o Sítio do Birica resiste praticamente ilhado em meio a um deserto de terrenos vazios cercados com arame farpado. Um oásis verde que segue produtivo, carregado de árvores frutíferas, símbolo da persistência do casal. Aos 78 anos, dona Noêmia é uma liderança respeitada, mas sabe que a luta contra as desapropriações incomoda. Ao Brasil de Fato, a agricultora defende que “houve grilagem de terras no local”.

Segundo estimativas, um terço do município foi desapropriado pelo governo fluminense sob pretexto do projeto Minas-Rio, um complexo portuário-industrial idealizado pelo homem mais rico do país na época, o empresário Eike Batista. Apesar desse histórico, as desapropriações no Porto do Açu ainda se arrastam na Justiça, com cerca de 500 processos indenizatórios em andamento.

“A gente entende que houve grilagem, porque é uma terra tomada dos pequenos agricultores, cercada com sete fios de arame farpado que eles não vendem, alugam por um preço absurdo. Um aluguel da terra que eles tomaram dá para pagar a indenização todinha daquela terra”, afirma Noêmia do Movimento de Pequenos Agricultores (MPA).

Na última semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) esteve no Porto do Açu para cerimônia de inauguração da maior térmica a gás natural do país com recursos do Novo PAC. A Gás Natural Açu (GNA) tem entre os acionistas a Prumo, do fundo americano EIG e dona de mais de 90 km² de área do porto; além da alemã Siemens Energy, da chinesa Spic e a petroleira inglesa BP. A usina recebeu R$ 7 bilhões do governo federal, sendo considerada prioritária para segurança energética nacional.

Para dona Noêmia, que endereçou uma carta ao presidente em nome dos agricultores, a reparação dos atingidos deveria ser a prioridade do governo. “Entendo que como presidente ele tem que olhar os dois lados, mas tem que resolver primeiro a questão dos pequenos, de quem perdeu as terras e precisa ser indenizado, e depois aplaudir o projeto”, lamentou a agricultora.

‘Devolvam as terras do Açu’

Por meio de decretos do então governador Sérgio Cabral, entre 2008 e 2010, mais de 7 mil hectares de terra foram desapropriados no 5º distrito de São João da Barra em favor da Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio de Janeiro (Codin) para receber projeto do distrito industrial. 

No entanto, apenas 10% da área planejada é utilizada pelo empreendimento, segundo pesquisadores. “Nosso grito é que devolvam as terras do Açu, não têm necessidade de tanta terra”, constata a produtora de orgânicos Noêmia Magalhães. Com a instalação do porto, impactos ambientais como a salinização das águas e a consequente perda de plantações também não foram indenizadas. 

Para a agricultora do MPA, as perdas não foram apenas financeiras. “A princípio a gente até sonhou com o Porto, mas durou pouco. Principalmente na época do Eike Batista, a violência foi muito grande. O uso do Estado com todo o aparato policial, algemando agricultores, derrubando casa com eles ainda quase que dentro, ameaças. Todos que perderam a terra e que tiveram que sair deixaram de exercer a sua função, é um impacto muito grande, não é só financeiro. Atrapalhou o modo de vida das pessoas”, completou Magalhães.

Dona Noêmia (no centro) recebe apoiadores, movimentos populares e organizações internacionais com almoço agroecológico no Sítio do Birica | Pablo Vergara

Quase dez anos depois, o ex-governador já preso confessou que recebeu propina para realizar as desapropriações e favorecer a empresa LLX, de Eike Batista. O empresário considerado mais rico do Brasil na época assinou um cheque de R$ 37,5 milhões ao estado do Rio pela área avaliada em mais de R$ 1,2 bilhão. 

Depois de um período de crise, em 2013, a empresa de Eike transferiu o controle acionário do megaempreendimento – e as dívidas com indenizações – para um novo grupo: a Prumo Logística Global, do fundo americano EIG Global Energy Partners. A promessa de um complexo industrial, no entanto, não se concretizou como o planejado. Além das duas térmicas, e empresas prestadores de serviço, sobretudo do setor de petróleo, o terreno do porto compreende apenas uma indústria, a TechnipFMC.

‘Reforma agrária às avessas’

Na avaliação do engenheiro e pesquisador aposentado do Instituto Federal Fluminense (IFF) Roberto Moraes, as desapropriações do Porto do Açu abriram caminho para o que chamou de “reforma agrária às avessas”. “O que aconteceu ali foi uma espécie de reforma agrária às avessas: tirou dos pequenos e passou para um grande proprietário que ganhou valor com essa renda da terra para fazer dinheiro com os negócios nessa base logístico-portuária”, afirmou ao Brasil de Fato.

“O negócio da Prumo é basicamente ceder o terreno e algumas outras facilidades para que as empresas se instalem lá, quase como se fosse uma imobiliária. Ela ganha fundamentalmente com aluguel das áreas, que em boa parte foram desapropriadas dos pequenos produtores da região do Açu”, completa Moraes, membro da Rede Latino-americana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE).

Guilherme Vasconcelos, economista e doutorando em Sociologia Politica da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) explica que atuação do porto como plataforma de exportações de commodities e produção de energia é essencialmente excludente, o que expõe as contradições do modo de desenvolvimento capitalista

“O Porto do Açu é um empreendimento simbólico do padrão de desenvolvimento seguido pelo Brasil no início do século 21. Isso implica na escolha de sustentar o desenvolvimento pela exploração da natureza, extração de recursos naturais e investindo na infraestrutura logística que viabiliza a comercialização dessas mercadorias. Na prática, isso pressionou e segue pressionando os locais onde se realizam esses empreendimentos. Ainda que seja possível haver mitigação dos impactos, é um padrão de reprodução do capitalismo por essência excludente”, afirma o pesquisador. 

Especulação fundiária

Na época das desapropriações, os agricultores do 5º distrito de São João da Barra foram surpreendidos com a venda compulsória das suas terras. A partir da instalação do porto, o município teve uma queda de 84% na produção agrícola, de 185 mil toneladas, em 2009, para 30 mil em 2015, nos quais se destacavam o maxixe, o abacaxi, a goiaba e a cana-de-açúcar.

A professora e pesquisadora Ana Costa, da Universidade Federal Fluminense (UFF-Campos), acompanha a luta dos agricultores desde o início, e afirma que os valores irrisórios das indenizações contrastam com a especulação fundiária que esse processo desencadeou.

“Com a incorporação das terras pela LLX (e posteriormente pela Prumo Logística) como ativos de mercado, as áreas foram alugadas para diferentes empresas de logística e de apoio offshore, gerando um enorme processo especulatório, rentista e concentrador, à custa do sofrimento social de centenas de famílias. O mesmo metro quadrado desapropriado pelo estado a preços irrisórios e ainda não totalmente pagos às famílias supervalorizou no interior da dinâmica de apropriação de terras no Açu e passou a ser uma alternativa financeira do empreendimento”, afirma Costa.

Uma comissão na Alerj foi criada para acompanhar os impactos do Porto Açu
Na época, uma comissão na Alerj foi criada para acompanhar os impactos do Porto Açu | Camila Nobrega/IBASE

Segundo a Defensoria Pública em São João da Barra, 476 processos desapropriatórios tramitam no Fórum do município. Dos 229 agricultores alvos de processo ajuizados só na 2ª Vara da Comarca local, menos de 5% receberam o valor total. Além deles, um grupo de menos de 10% obteve 80% da quantia a qual tem direito.

Roberto Moraes, que pesquisou o Porto do Açu na sua tese de doutorado, pondera que a holding [Prumo] “organiza um investimento estratégico de energia e logística portuária com característica da nova ordem global dos tempos atuais com multilateralidade”, mas é inaceitável que os impactos do megaempreendimento não foram solucionados depois de 11 anos em operação. 

“A medida que novos empreendimentos vão se consolidando nessa região logístico-portuária do Porto do Açu, que permite mais lucros, mais investimentos que chegam de diferentes empresas, países, agentes, fundos financeiros, etc., fica mais grave e mais inaceitável que os pequenos proprietários atingidos por esse grande projeto não sejam ressarcidos”, opina o engenheiro.

Outro lado

Em nota à reportagem, a assessoria de imprensa do Porto do Açu se limitou a respondeu que a desapropriação de terras para a implantação do Distrito Industrial de São João da Barra foi realizada pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro. 

“O Porto do Açu efetuou o depósito judicial da indenização prévia em todos os processos de desapropriação e vem pagando regularmente as eventuais indenizações adicionais apuradas nos prazos e forma fixados pelo Poder Judiciário”, afirmou a empresa.

Brasil de Fato também procurou a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços (SEDEICS), pasta que a Codin é vinculada, para um posicionamento sobre as indenizações dos atingidos do Açu, mas não teve retorno até o fechamento desta reportagem.

 
 

Resistência à tomada de terras no Porto do Açu é notícia no O Globo

A edição deste domingo do jornal ‘O Globo” traz uma reportagem assinada pelo jornalista Rafael Galdo cujo centro é a resistência empreendida por uma das lideranças da Associação de Proprietários Rurais e  de Imóveis de São João da Barra (Asprim) (Aqui!).

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Apesar de centrada na resistência do casal Noêmia e Valmir, a narrativa da matéria serve perfeitamente para descrever o escabroso processo de tomada de terras comandada pelo (des) governo Sérgio Cabral em prol do grupo de empresas do ex-bilionário Eike Batista que, posteriormente, repassou o estoque amealhado para o fundo privado multinacional EIG Global Partners.

É  preciso frisar que o caso descrito neste matéria é uma exceção que ocorreu graças a uma combinação de resistência aguerrida por parte do casal e de uma excelente assessoria jurídica que é comandada pelo advogado sanjoanense Rodrigo Pessanha.

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Lamentavelmente no caso das terras abandonadas que foram descritas na reportagem  a imensa maioria dos proprietários espera até hoje por algum tipo de proteção judicial e pela devida compensação financeira. É que após quase 6 anos desde que centenas de famílias humildes tiveram suas terras tomadas, a justiça ainda não conseguiu concluir um mísero processo que seja.

Enquanto isso a Prumo Logística Global já vem cobrando, como o fazia a LL(X), caríssimos aluguéis das terras que a Companhia de Desenvolvimento Industrial do Rio de Janeiro (Codin) tomou e não pagou. Nunca é demais lembrar que as terras improdutivas que este processo de tomada de terras via estado gerou anteriormente eram o celeiro agrícola de São João da Barra.

O êxito socioeconômico local passa pelo uso eficiente da terra

As propriedades são vizinhas e se localizam nas proximidades do porto do Açu, em São João da Barra. A primeira, uma terra “nua”, sem trabalho e que não gera nenhum tipo de riqueza. A segunda propriedade, no “sítio do Birica”, o trabalho permite a geração de múltiplas alternativas de cultivo. Esse comparativo é importante para mostrar que a terra é uma dádiva e que, com a incorporação de trabalho e conhecimento, permite a geração de uma riqueza que insere os trabalhadores, alimenta a população, gera emprego, renda e combate a pobreza e a miséria.

Neste momento em que os municípios produtores de petróleo da Bacia de Campos mostram forte fragilidade financeira, em função da dependência às rendas petrolíferas, as alternativas econômicas estão, exatamente, na terra. A crise do setor petrolífero tende a se aprofundar e esses municípios precisam pensar na produção de bens e serviços de valor agregado.

Assim como quase todos os municípios do estado, São João da Barra é importador de alimentos. Como produz muito pouco, uma alternativa inicial seria o planejamento para aproveitamento dos benefícios do Programa Federal da Merenda Escolar. Nesse caso, deveria diagnosticar a demanda potencial, assim como, planejar e induzir a oferta agregada dos principais alimentos, a partir de um modelo de organização produtiva de cunho coletivo. Tal ação garantiria uma maior dinamização do setor agropecuário, com reflexos no avanço qualitativo da economia local. O sucesso de um programa dessa natureza passa, necessariamente, por um maior comprometimento dos gestores públicos, maior envolvimento das lideranças não governamentais e efetiva interação com universidades e centros de pesquisa.

FONTE: http://economianortefluminense.blogspot.com.br/2016/08/o-exito-socioeconomico-local-passa-pelo.html

Sítio do Birica resiste no meio do distrito industrial fantasma da Codin/Prumo

Desde 2010 acompanho a tenaz resistência do casal Noêmia Magalhães e Valmir Batista para defender o seu pedaço de terra da sanha expropriadora do (des) governo do Rio de Janeiro pelas mãos da Compahia de Desenvolvimento Industrial do Rio de Janeiro (Codin).  Noêmia e Valmir já poderiam ter entregue as terras e movido o seu sonho de um lugar para gozar a sua terceira idade fazendo um jeito diferente de agricultura, mas teimaram e lutaram com todas as forças possíveis para preservar a integridade do Sítio do Birica.

Eu diria que a luta de Noêmia e Valmir deveria ser a luta de toda a sociedade organizada do Rio de Janeiro, e a razão é muito simples: a luta deles interessa a todos que desejam um futuro diferente do presente caótico que estamos vivendo neste preciso momento histórico.

As imagens abaixo devem deixar mais claro o que estou querendo dizer.

Sítio do Birica 2

Visto do alto o Sítio do Birica, a propriedade de Noêmia e Valmir, é um oásis verde que abriga membros da fauna que foram desprovidos do seu habitat natural pelo desmatamento ocorrido na vegetação de restinga para a implantação do Porto do Açu.

Mas o principal aspecto da resistência exemplificada pelo Sítio do Birica aparece nas duas imagens que se seguem e e vou tentar explicar a razão.

sitio do birica 1Sítio do Birica 3

Na imagem da esquerda se vê, uma placa colocada pela Codin atestando que uma propriedade expropriada seria de sua “propriedade privada”, bem ao lado do Sítio do Birica.  Esta placa ficou na área por quase dois anos, até que foi substituída agora colocando a propriedade expropriada dentro do natimorto “distrito industrial de São João da Barra”.

Qual a razão dessa mudança de placa? Provavelmente avançar a ideia de que há de fato um distrito industrial nas terras que foram tomadas da agricultura familiar para serem entregues primeiro ao ex-bilionário Eike Batista e, depois, para o fundo de “private equity” EIG Global Partners, também conhecido como Prumo Logística Global.

De quebra suspeito que a colocação da nova placa imediatamente ao lado do Sítio do Birica procura anular o valor social e ecológico que a propriedade de Noêmia e Valmir efetivamente possui.

Por essas e outras é que eu espero que em 2016, Noêmia e Valmir recebam a devida solidariedade da sociedade civil organizada, especialmente dos movimentos sociais do campo. É que, para mim, a luta deles simboliza a luta de todos os oprimidos do campo. 

Decisão judicial sobre o Sítio do Birica repercute entre os atingidos pelo mineroduto da Anglo American em Minas Gerais

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Quando postei aqui a decisão do juiz Leonardo Cajueiro sobre a desapropriação do Sítio do Birica tinha a percepção de que esta era uma decisão que ultrapassava os limites do V Distrito de São João da Barra. Confirmando essa percepção recebi esta tarde uma mensagem da Patrícia Generoso, que é uma atingida pelo Projeto Minas-Rio e membro da Rede de Articulação e Justiça Ambiental dos Atingidos pelo Projeto Minas Rio (REAJA), manifestando sua felicidade por esse desdobramento que para muitos era impensável.

Posto abaixo a mensagem da Patrícia Generoso, pois creio que a mesma é extremamente clara no que se refere ao alcance da luta realizada pela Dona Noêmia e seu esposo Valmir para manterem o Sítio do Birica como um símbolo da luta por um novo modelo de desenvolvimento no Brasil.

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Prezado Professor Marcos,

Tenho acompanhado as noticias daí.

Fiquei imensamente feliz com a  decisão  do sítio da D Noêmia.

É preciso comemorar cada vitória. Gostaria apenas de  propor uma correção na notícia publicada no blog : a  D. NOÊMIA  não é  só  um símbolos de resistência do V Distrito de São João da Barra. 

Ela é um símbolo de resistência deste famigerado Projeto Minas-Rio, é exemplo para nós daqui de Minas, de Conceição do Mato Dentro, de Alvorada de Minas e de todos os outros municípios mineiros pelos quais este rastro de destruição chamado MINERODUTO passou.

Tivemos a honra de receber a D. Noêmia  e outros atingidos do  V Distrito de São João da Barra  aqui em Minas-unindo as resistências de uma ponta a outra. Também estivemos aí no V Distrito  e ficamos hospedados  no Sítio do Birica.

Levamos para D. NOÊMIA  uma camiseta que unificou a luta e nos uniu em uma rede de solidariedade com  a seguinte mensagem:  

INJUSTIÇA QUE SE FAZ A UM É INJUSTIÇA QUE SE FAZ A TODOS!

Patrícia Generoso

(Atingida pelo Projeto Minas-Rio e  Membro da REAJA (Rede de Articulação e Justiça Ambiental dos Atingidos pelo Projeto Minas Rio)

 

Após decisão lapidar da justiça, Sítio do Birica é prova de que a vida ainda pulsa no V Distrito de São João da Barra

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Graças a uma decisão que eu considero lapidar do juiz Leonardo Cajueiro D´Azevedo, o Sítio do Birica que é um dos símbolos da resistência da agricultura familiar no V Distrito de São João da Barra acaba de ganhar uma boa dose de sobrevida. Em um desdobramento que deverá surpreender muita gente, o juiz Leonardo Cajueiro decidiu a suspensão da execução da desapropriação do Sítio do Birica, bem como o mandado de imissão de posse que havia sido determinado em momento anterior.

Essa decisão não é importante apenas porque se preserva o espaço de trabalho e moradia da Dona Noêmia Magalhães, liderança expressiva dos agricultores do V Distrito, mas também porque mantém intacto um espaço que se transformou num verdadeiro santuário da vida selvagem desde que a implantação do Porto do Açu implicou na supressão de grandes áreas de vegetação de restinga.

Vejamos o que diz a decisão do juiz Leonardo Cajueiro conforme aparece publicado no site do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro:

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Da decisão eu ressaltaria os seguintes trechos que foram apontados pelo juiz Leonardo Cajueiro, pois acredito que vão ao centro do conflito que envolve centenas de famílias de agricultores pobres de um lado, e do outro o governo do Rio de Janeiro (na figura da CODIN) e os controladores do Porto do Açu:

1) verifica-se que, diante da análise do caso concreto, e somente em casos excepcionais, poderá ser determinada a realização de perícia antes da imissão provisória na posse. Tal posição justifica-se em razão de previsão constitucional refletiva do direito fundamental à dignidade da pessoa humana e à moradia. Neste sentido, a desapropriação por interesse público impõe que a indenização deva ser justa e prévia, refletindo o verdadeiro valor do imóvel desapropriado.

2)  É de se considerar que, embora conste laudo de avaliação do imóvel nos autos, o procedimento foi realizado de forma unilateral pelo ente expropriante, condição que o descaracteriza como prova apta a indicar a justa indenização a ser paga ao proprietário

O que eu considero essencial nesses dois pontos é que os mesmos sintetizam o que temos apontado ao longo dos últimos seis anos em face das desapropriações promovidas pela CODIN! E nesse sentido é alentador notar que o juiz Leonardo Cajueiro tenha chegado a essa compreensão. Além disso, como a situação que levou a essa decisão não é única, é de se imaginar que outros casos de reversão de imissão de posse (ainda que provisórios) venham a acontecer.  Afinal de contas, apesar de toda a sua notoriedade, o Sítio do Birica não é o único em que os procedimentos elencados na decisão foram realizados. E com graves prejuízos às famílias afetadas, quero frisar.

Vida selvagem procura refúgio no Sitio do Birica. Dona Noêmia protege e a Prumo Logística faz propaganda

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Foto de Noêmia Magalhães, proprietária do Sítio do Birica

Desde ontem (12/05) acompanhei os esforços da Dona Noêmia Magalhães, proprietária do Sítio do Birica e uma das principais lideranças da resistência contra as indecorosas desapropriações realizadas no V Distrito de São João da Barra, para conseguir o devido tratamento para um jacaré do papo amarelo que ali encontrou refúgio. Seguindo minha orientação a Dona Noêmia entrou em contato com o escritório do IBAMA em Campos dos Goytacazes que tomou as devidas providências para que o animal fosse resgatado e encaminhado para o Hospital Veterinário da UENF.

Abaixo o vídeo do momento do resgate, com narrativa ao fundo da Dona Noêmia.

A poucos minutos conversei com a Dona Noêmia sobre a situação e ela me revelou sua satisfação com o trabalho do IBAMA, e me assegurou que jamais entregaria o animal para ser cuidado pela Prumo Logística Global, pois acha que a empresa até hoje não demonstrou nenhuma preocupação real com o meio ambiente do V Distrito de São João da Barra.

O interessante é que no Portal OZKNews foi dada uma nota sobre esse caso, onde a Prumo Logística aproveita a carona dos esforços da Dona Noêmia para informar que “empresa que desenvolve o Porto do Açu, esclarece que realiza um Programa de Monitoramento de Fauna contínuo formado por técnicos especializados, cujos resultados são enviados periodicamente ao Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro (INEA). (Aqui!). Como se vê, se o jacaré do papo amarelo fosse depender da Prumo Logístico ou do INEA, é provável que ainda estivesse sem os cuidados sendo dispensados no HV da UENF, o que só ocorreu por causa dos esforços da Dona Noêmia.

Há que se frisar que o Sítio do Birica não é apenas um dos bastiões da resistência dos agricultores, mas um importante refúgio da fauna que existia na área em que se promoveu a remoção da vegetação de restinga para a implantação do Porto do Açu. Aliás, nunca é demais dizer que o Sítio do Birica ainda pode cumprir estes papéis tão relevantes por causa da obstinação da Dona Noêmia e do seu esposa, Valmir.

Finalmente, esse parece ser um caso explícito de apropriação do trabalho alheio, onde o Sítio do Birica resgata, e a Prumo Logística tenta levar a fama!

Matéria do “O GLOBO” sobre regiões do Rio de Janeiro traz depoimento de Noêmia Magalhães, da ASPRIM sobre as desapropriações no Porto do Açu

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Uma reportagem que inicia uma série sobre todas as regiões do estado do Rio de Janeiro abordou hoje o drama vivido centenas de famílias de agricultores no V Distrito de São João da Barra por causa das desapropriações promovidas pelo (des) governo Cabral/Pezão para beneficiar o conglomerado econômico do ex-bilionário Eike Batista .

A reportagem traz um depoimento da senhora Noêmia Magalhães, uma das principais lideranças da ASPRIM, associação que lidera a resistência das famílias desapropriadas. Dona Noêmia falou inclusive das ameaças que ele e seu marido Valmir sofreram por se recusarem a vender o Sítio do Birica.

Quem desejar assistir ao vídeo, basta clicar (Aqui!)

 

Vozes do Açu: Noêmia Magalhães fala dos diferentes significados do Sítio do Birica

 

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Neste sábado (21/06), estive novamente no V Distrito de São João da Barra para gravar um depoimento da Sra. Noêmia Magalhães, uma das principais lideranças da resistência que foi colocada por centenas de famílias de agricultores familiares contra o indecoroso processo de expropriação de terras conduzido pelo (des) governo liderado por Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão para beneficiar o ex-bilionário Eike Batista e seu conglomerado de empresas pré-operacionais.

Fui colher um depoimento e colhi dois. Abaixo segue aquele onde a “Dona Noêmia”, como ela é conhecida no V Distrito, fala dos diferentes significados que sua propriedade, o Sítio do Birica, possui na sua e na vida de seu esposo, o Sr. Valmir Batista. Para quem nunca foi ao V Distrito, é importante saber que o Sítio do Birica, além de ser um símbolo da resistência contra o (des) governo do Rio de Janeiro e o Grupo EBX, se tornou um dos principais refúgios para muitas espécies que foram ecologicamente desapropriadas pelo gigantesco desmatamento que foi feito para a construção do Porto do Açu.

Abaixo segue o primeiro depoimento da Dona Noêmia, avisando que o outro irá ser postado amanhã.