Após estímulo do atual governo e das Forças Armadas à destruição da Amazônia, Brasil deve investir na sociobiodiversidade da floresta

rio amazonicoAgência de Notícias do Acre / Flickr

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Há uma visão dominante entre membros do atual governo de que a Amazônia precisa ser ocupada, de forma rápida e através de atividades agropecuárias e extrativistas, para garantir a soberania do território brasileiro. Tais atividades são defendidas pelas Forças Armadas, influenciada por discursos consolidados no período da ditadura militar, de que a proteção viria da exploração. Esta concepção vai na contramão de uma economia de conhecimento da natureza, que poderia trazer diversos benefícios econômicos, sociais e ambientais ao país, incluindo o combate à criminalidade, a valorização da cultura, o aumento de investimentos estrangeiros para preservação e oportunidades de uso sustentável da floresta. Este panorama é descrito por Ricardo Abramovay, professor sênior na Universidade de São Paulo (USP), em artigo publicado na segunda (31) na revista “Estudos Avançados”.

O artigo traz uma narrativa que, nas palavras de Abramovay, funciona quase como uma denúncia. Trechos de discursos evidenciam a visão do governo brasileiro, resumida na fala do vice-presidente Hamilton Mourão no Webinar Brasil 2020 – 200 anos de Independência: “Uma das maiores questões que ameaça a soberania é a sustentabilidade.” O autor descreve o panorama da precariedade da governança florestal no Brasil, ilustrando a visão governamental e as reações da sociedade civil, ativistas, cientistas, empresas e governos estaduais ao aumento da destruição visto nos últimos anos.

Para Abramovay, tal visão vem do desconhecimento aliado a compromissos políticos e resulta na intensa destruição da Amazônia, acompanhada pelo fortalecimento de atividades ilegais e criminosas. Este processo envolve o desvirtuamento da função das Forças Armadas: “Em vez de protegerem a floresta e as populações da Amazônia, estão, sob o pretexto da soberania nacional, protegendo e estimulando a criminalidade, a destruição da floresta, o tráfico de madeira, o garimpo de ouro e a grilagem de terras.”

O pesquisador cita o combate à criminalidade como um dos possíveis benefícios de olhar a floresta amazônica de forma mais sustentável. O combate à emissão de gases emissores de efeito estufa também seria beneficiado pela redução do desmatamento, uma de suas principais causas. Além disso, a grande sociobiodiversidade das florestas tropicais detém alto potencial de geração de renda, luta contra a pobreza e inovação científica e tecnológica: “Estes militares preconizam formas de uso do território que não são capazes de aproveitar conhecimentos de povos da floresta e aquilo que a ciência hoje tem de mais avançado para dizer a respeito do uso sustentável da biodiversidade”, diz Abramovay.

Diante da destruição acentuada nos últimos anos, ativistas, empresários e outros atores relevantes têm se posicionado a favor de um novo olhar para a Amazônia. Para Abramovay, a unidade crescente entre os diversos setores da sociedade é fundamental neste cenário: “As práticas econômicas destrutivas são norteadas por uma cultura, por um jeito de olhar para o território, que tem de mudar e vai mudar, as vantagens de uma nova visão tem de aparecer e isso é fundamental”.


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Este texto foi originalmente publicado pela agência Bori [Aqui! ].

Lula recebe cartas com compromissos em defesa da Amazônia e das populações tradicionais extrativistas

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O Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), entregou ao candidato à presidência, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), duas cartas de compromissos em defesa da Amazônia e dos territórios extrativistas, como símbolo de enfrentamento ao desmatamento e grilagem, e do fortalecimento das políticas públicas de gestão territorial e de produção da sociobiodiversidade. A ação aconteceu, nesta quarta-feira (31/08), no Museu da Amazônia (MUSA), localizado na zona leste de Manaus.

De acordo com o presidente do CNS, Júlio Barbosa, os documentos são garantias de defesa dos territórios protegidos, de políticas públicas, de compras públicas e de enfrentamento à violação dos direitos aos guardiões e protetores das florestas.

“Queremos também o enfrentamento à mineração ilegal, ao desmatamento, as queimadas e, sobretudo, a flexibilização das leis ambientais que querem mudar para ‘passar a boiada’ para legalizar as terras públicas griladas na Amazônia. Nós queremos discutir uma gestão territorial, onde se possa avançar no diálogo com os órgãos ambientais do estado brasileiro, para que a região possa ter uma co-participação nas tomadas das decisões, na relação do Estado com as populações tradicionais”, disse Júlio.

O evento recebeu representantes de organizações indígenas e movimentos sociais da região amazônica, e teve o objetivo de defender propostas que geram riqueza para os povos que vivem na região e que a biodiversidade da Amazônia seja estudada, e explorada adequadamente.

O CNS compôs a mesa do encontro e defendeu a defesa dos territórios e dos direitos sociais, além da geração de renda com base na sociobiodiversidade e modos de vida das populações extrativistas.

“Todos os dias perdemos milhares de hectares da nossa Amazônia para o desmatamento e a nossa luta não é só defender os seringais, mas defender a nossa casa, nossa mãe Amazônia, os extrativistas, que geram renda e proporcionam conservação. Estamos com o Lula para que a Amazônia volte a respirar, para que o Brasil volte a brilhar e o povo brasileiro volte a sonhar e ter esperança. Para ser um país que valorize seu povo e sua riqueza”, disse a diretora de Direitos Humanos do CNS, Silvia Elena.

Propostas para a Amazônia

Para Luiz Inácio, é necessário investir na biodiversidade da Amazônia. “Nós vamos mudar esse país. A nossa floresta será cuidada. A nossa biodiversidade será estudada, em parceria com pesquisadores do mundo inteiro, porque embora a Amazônia seja território soberano do Brasil, a riqueza produzida, a biodiversidade tem que ser aproveitada por todo habitante do planeta Terra. E vamos demarcar as terras que precisam ser demarcadas e cuidar para que as áreas não sejam invadidas”, disse o candidato.

Lula disse ainda que quer voltar com disposição para mudar a realidade do Brasil e que é possível mudar o aumento do desemprego, e da fome. “Esse país não pode continuar sendo governado por alguém que não gosta de indígena, não gosta de negro, não gosta de mulher, não gosta de sindicalistas, não gosta da Amazônia, não gosta do Cerrado, não gosta da Caatinga e que não gosta do povo. Esse povo tem que ser cuidado e é com esse compromisso que eu, junto com vocês, estou nessa disputa”, afirmou.