A Petrobras e o derrame de tolueno no sistema Imunana-Laranjal: filho feio não tem dono

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Audiência pública da Comissão de Meio Ambiente da Alerj. Foto: Thiago Lontra

A convite da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro estive presente em uma audiência pública que reuniu autoridades, ativistas ambientais, líderes dos pescadores artesanais e agricultores, e representantes da Petrobras.  O objetivo desta audiência era não apenas discutir um grande derrame de tolueno (um produto com alta toxicidade e capaz de de causar fortes danos ambientais e à saúde humana) que suspendeu o abastecimento de água potável para mais de 2 milhões de pessoas no início de abril deste ano em função da contaminação ocorrida nas águas que abastecem o chamado sistema Imunana-Laranjal.

A parte inicial foi marcada por uma série de manifestações de representantes de entidades que representam os interesses de pescadores artesanais, caranguejeiros e marisqueiros que atuam na região afetada pelo derramamento do tolueno.  Ainda nessa fase pude colocar algumas questões pontuais sobre aspectos aparentemente ainda não devidamente esclarecidos, incluindo o ponto exato do derramamento, do total de tolueno que teria entrado nos corpos hídricos, bem como do total de compostos que teriam sido despejados, além do tolueno, e ainda da falta de informações sobre esses compostos não apenas na água, mas também em sedimentos e em peixes e outros organismos. Além disso, lembrei que em qualquer grande evento de contaminação, temos dois tipos de consequências: as agudas que são aquelas que correspondem aos momentos subsequentes à ocorrência do problema, e os crônicos que são aqueles que tratam do efeito prolongado do aporte de substâncias tóxicas sobre compartimentos ambientais e sobre a saúde humana.

Curiosamente, logo após a minha fala, quem teve a palavra foi uma representante legal da Petrobras que, apesar de ter sido surpreendida pelo objeto central da audiência, tinha uma apresentação pronta para apresentar a posição da empresa sobre o incidente do tolueno. Dentre os pontos apontados, a apresentação da Petrobras trouxe informações curiosas, dentre as quais destaco:

  • a empresa ainda não conseguiu determinar quem foi o responsável pela derramamento de tolueno, mas que já está claro que o incidente não foi causado pelas estruturas que a Petrobras possui na área do derrame,
  • que análises realizadas pela PUC/RJ em 195 amostras coletadas na área afetada pelo grave acidente ambiental apenas se detectou a presença de tolueno, o que reforçaria a premissa de que o tolueno não  teria sido lançado a partir das estruturas de dutos que a Petrobras possui na área do antigo Comperj,
  • a Petrobras aventou como possibilidade de origem o derrame do tolueno a partir de laboratórios clandestinos de produção de drogas ou até de caminhões que trafegam pela região afetada.

A conclusão desse arrozoada seria obviamente que a Petrobras até estava colaborando com equipes para controlar a difusão do tolueno nos rios que abastecem o sistema Imunana-Laranjal, mas que o fazia em uma boa demonstração de boa governança sócio-corporativa e não por qualquer admissão de culpa.

Pois bem, tudo poderia parecer bem resolvido para a Petrobras se não fosse a intervenção do presidente da Comissão do Meio Ambiente da Alerj, o deputado Jorge Felippe Neto (Avante), que rapidamente colocou algumas questões que colocaram em xeque a narrativa da Petrobras. Dentro os pontos levantados por Jorge Fellipe Neto, destaco os seguintes:

  • Como a origem do derramamento está próximo de estruturas da Petrobras e em local ermo e isolado, como seria possível que a Petrobras não saiba ainda qual foi origem do tolueno que foi chegou em grande quantidade aos rios que abastecem o sistema Imunana-Laranjal?
  • Dado o conhecimento e acordo existente de que a carga de tolueno que foi derramada nos rios do sistema Imunana-Laranjal, a hipótese “laboratório clandestino de drogas ou acidente com caminhões” parece bem mais improvável do que o acidente com um duto da Petrobras.
  • Se a Petrobras é a fabricante do tolueno que é distribuído no Brasil, como é possível que a empresa não saiba quem poderia ter causado o acidente?

Um problema a mais na linha de argumentação oferecida pela representante da Petrobras acabou aparecendo um pouco mais tarde ao longo da audiência quando o deputado Jorge Felippe Neto leu os resultados de um laudo produzido pelo Laboratório de Estudos Marinhos e Ambientais da PUC-RJ, o mesmo que teria feito as análises apresentados pela Petrobras na audiência.

Como me retirei da audiência antes do final, não sei como os representantes da Petrobras responderam às discrepâncias apontadas em relação ao tipo de composto que teria sido encontrado nas amostras de água coletadas nos rios que fornecem água bruta para o sistema Imunana-Laranjal.  Mas me parece óbvio que a narrativa trazida pela Petrobras para se isentar de responsabilidades neste grave acidente industrial não se sustenta quando confrontada com elementos lógicos básicos.

Mas sinceramente eu não me surpreendi com a postura dos representantes da Petrobras, pois não esse não é o primeiro, nem será o último caso, em que filho feio não tem pai, especialmente quando se trata de uma questão que afetou e continua afetando uma área densamente povoada que abrange os municípios de São Gonçalo, Itaboraí e Magé.

Mas como os representantes do Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro deram conta que existem duas investigações em curso para apurar esse acidente, é bem possível que ainda tenhamos novos e dramáticos capítulos por serem vividos nesse caso.

Finalmente, vamos esperar que a Comissão de Meio Ambiente e seu presidente, o deputado Jorge Fellipe Neto, dêem a devida continuidade aos esforços não apenas de identificação e responsabilização dos culpados, mas também as ações de reparação aos que tiveram seus meios de subsistência comprometidos por esse acidente ainda sem pai.

Para quem desejar assistir a audiência em sua integralidade, basta clicar [Aqui!].

Um mês depois de o tolueno interromper o abastecimento de água em cinco cidades do Rio, autoridades ainda não sabem onde produto químico vazou

Cedae continua a usar carvão ativado e realiza testes diários no Canal de Imunana, onde fica a captação da estação de tratamento que abastece mais de dois milhões de pessoas

sistemaSistema Imunana-Laranjal, em São Gonçalo, teve o funcionamento interrompido após ser constata a presença de tolueno na água — Foto: Fabiano Rocha/Agência O Globo

Por Jéssica Marques para “O GLOBO”

Um mês depois de um vazamento de tolueno, substância altamente tóxica, provocar o fechamento do Sistema Imunana-Laranjal, em São Gonçalo, e deixar mais de dois milhões de consumidores com as torneiras secas por pelo menos três dias, as autoridades ainda não descobriram a origem do produto químico. Apesar de o fornecimento de água ter sido normalizado, um estudo feito pelo Comitê da Bacia da Baía de Guanabara, em parceria com o laboratório de química da PUC-Rio e a ONG Guardiões do Mar, mostra que o tolueno ainda aparece, em baixa concentração, às margens e ao longo dos rios Guapiaçu e Macacu, que abastecem a estação de tratamento da Cedae. Um pontos de coleta em que a substância foi detectada fica na saída para a Baía de Guanabara.

Enquanto o mistério do tolueno não é desvendado, as medidas de segurança para manter o abastecimento estão sendo mantidas. A Cedae continua a usar carvão ativado no tratamento da água e realiza testes diários no Canal de Imunana, onde fica a captação. Também estão fechados pequenos canais para evitar que a água contaminada deságue nos rios Macacu Guapiaçu, na altura das regiões da Vala Preta e do Rio Preto, trecho onde foram encontradas as maiores concentrações de tolueno. A área é cercada por fazendas, vizinha ao gasoduto desativado da Petrobras e fica a três quilômetros do Canal de Imunana.

A medida de fechar os canais, no entanto, reduziu à metade o nível de água nos rios Guapiaçu e Macacu, que abastecem a estação de tratamento. Antes da crise, os cursos d’água tinham uma profundidade média de quatro metros, agora está com apenas dois, de acordo com o estudo. A Cedae descartou o risco de desabastecimento pelos próximos 30 dias, mas alertou que a estiagem que vem atingindo a região é preocupante. “Quanto aos próximos meses, a previsibilidade depende da meteorologia e do acompanhamento diário dos níveis dos rios”, afirmou a companhia em nota.

Medo do pescado

Moradores, fazendeiros e pescadores reclamam do bloqueio. Eles alegam prejuízos com os alagamentos das margens e a mortandade de peixes. Na última segunda-feira, a Associação Homens do Mar (Ahomar), uma organização criada para defender os direitos dos pescadores, convocou uma reunião com representantes de Inea, Ibama, Ministério Público Federal, Cedae e ICMBio para discutir medidas diante da possível contaminação dos pescados e dos manguezais.

— Houve uma mortandade muito grande no início de abril. As autoridades dizem que não há risco de ter pescado contaminado pelo tolueno, mas nenhum estudo foi feito que comprove essa afirmação. Desde que houve o vazamento, as pessoas estão com medo de comprar nossos peixes. Precisamos de respostas e, acima de tudo, de transparência — cobrou o presidente da associação, Alexandre Anderson.

O professor e oceanógrafo do Departamento de Química da PUC-RJ Renato Carreira, que conduziu o estudo sobre a presença de tolueno nos rios Guapiaçu e Macacu, explica que não há risco de contaminação dos peixes.

— O tolueno é um solvente, como é comercializado. Ele pode ser usado em tinta e tem várias aplicações na indústria. O fato de ser apenas tolueno na água, muda muito os impactos. Ou seja, ele por si só, em baixa quantidade, não é uma preocupação em contaminar pescado. O animal pode até ingerir o tolueno, mas, rapidamente, o elimina. A mortandade que aconteceu no início de abril segue também sendo um mistério — afirmou o professor.

A agricultora Maria Inez, de 54 anos, conta que, dias antes do surgimento do tolueno, uma tempestade causou uma enchente e deixou os canais cheios. Com o fechamento das comportas, a água não teve por onde escoar e ficou acumulada, atingindo plantações.

— Perdemos toda a safra do milho. Disseram que fariam uma negociação com os moradores sobre uma possível indenização pelas perdas, mas nada foi definido. Fizemos, então, uma nova plantação, que só deve estar pronta para colheita em julho. Isso, com certeza, vai atrasar a entrega da safra ao Ceasa para as festas de São João, além de encarecê-la — afirmou a agricultora.

A água que fica represada pelas barreiras apresenta coloração escura e mau cheiro. Bombas instaladas pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) trabalham durante o dia para fazer um procedimento de aeração — que é a produção de oxigênio na água, o que ajuda na evaporação do tolueno. Segundo técnicos, o tolueno, por ser um solvente químico aromático, evapora facilmente. Ele é utilizado como matéria-prima na produção de cola, esmalte, perfumes, adesivos e corantes, além de estar presente em processos na indústria do couro, ramo historicamente presente na região afetada, devido à criação de bovinos em Guapimirim e Itaboraí, sendo também utilizado na fabricação de pesticidas e defensivos agrícolas. Beber um copo de água que contenha traço de tolueno (isto é, muito diluído) pode gerar náuseas e tontura. Já a ingestão regular de altas doses pode causar danos aos rins e ao fígado, levando até a casos de câncer.

Diante da falta de respostas, o Inea deve ampliar a área monitorada para os rios Guaraí (Guapimirim), Caceribu (Itaboraí) e Guaxindiba (São Gonçalo) nas próximas semanas, visando mapear se houve o derramamento da substância em outros pontos. A ideia é rastrear a presença do produto químico, que pode ter origem em outra cidade. A Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) já ouviu representantes de 26 empresas do Polo GasLub (antigo Comperj), mas a investigação ainda está em andamento.

O superintende do Ibama, Rogério Rocco, disse que o governo federal está disposto a ajudar a descobrir de onde vazou o tolueno:

— Os órgãos estão com dificuldade de encontrar a origem do vazamento. Por isso, está se pedindo uma apuração federal. Temos interesse federal em ajudar por se tratar de uma região que tem duas unidades de conservação, a APA de Guapimirim e a Baía de Guanabara. Desde então, temos nos reunido para discutir uma estratégia de ação federal.

Um desafio

Para Maurício Marinho, gestor da Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapimirim e da Estação Ecológica Guanabara, disse que achar os responsáveis pelo vazamento é um desafio para o poder público:

— A situação mais crítica é que não se tem a origem de onde surgiu o produto, ainda que os níveis estejam caindo. Em 70 anos do funcionamento, o Sistema Imunana-Laranjal nunca precisou ser interrompido. E, até agora, não foi possível voltar à situação anterior. Além disso, os fazendeiros estão impedidos de produzir em uma área que equivale a mil campos de futebol. Quando se depara com a presença isolada de tolueno num vazamento, levanta-se a questão de quais seriam as atividades criminosas que estariam usando o componente em sua formação pura.

Procurado, o Inea ressaltou que atualmente “não há tolueno na área de captação e na estação de tratamento de água e que todo o entorno está sendo monitorado diariamente pela Cedae, pelo Inea e por outros órgãos”. A Cedae informou que seu último relatório não aponta a presença de tolueno na água tratada pela estação. O Sistema Imunana-Laranjal fornece água para consumidores de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, Maricá e Paquetá, na capital.


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Fonte: O Globo

Portal Viu produz reportagem mostrando as dúvidas que persistem sobre incidente do tolueno na Baía da Guanabara

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Depois de um mês da tragédia ambiental no Sistema Imunana-Laranjal, que abastece os municípios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, Maricá, Ilha de Paquetá e Rio de Janeiro, as autoridades governamentais, de proteção ao meio ambiente e a Polícia Civil ainda não descobriram quem foi o responsável pelo vazamento do solvente químico tolueno no manancial.

O desastre chegou a provocar a interrupção na captação de água pela Cedae no dia 3 de abril, após ser detectada altas concentrações da substância tóxica no sistema hídrico.

O Portal Viu produziu uma excelente reportagem sob a batuta da competente jornalista Cláudia Freitas que segue publicada abaixo.

Os prejuízos causados pelo acidente do tolueno continuam, concluem lideranças de pescadores após reunião na sede do IBAMA/RJ

Foto de Marcos Pedlowski

Após uma reunião realizada na sede do IBAMA no centro do Rio de Janeiro no último dia 29, que durou mais de 4 horas, tendo contado com a presença de dirigentes de órgãos governamentais e lideranças dos pescadores da Baía da Guanabara, a principal conclusão é que o incidente envolvendo o derramamento de tolueno que começou a ocorrer no início de abril, de fato, ainda não terminou.

Segundo lideranças presentes no evento, há ainda grandes incertezas até sobre o ponto original de onde o material estaria vazando, com dúvidas chegando ao montante de tolueno e de outros Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPAs) que efetivamente foi derramado por uma empresa (ou empresas) também ainda indeterminada (s).

Foto de Marcos Pedlowski (1)

Após as explicações de técnicos do INEA e do IBAMA, bem como de pesquisadores da PUC-RJ, a única certeza parece ser que o montante que vazou é maior do que originalmente estimado e de que parte significativa continua estocada próximo do ponto original de vazamento que, lembremos , fica muito próximo do ponto de captação de água do chamado sistema Imunana-Laranjal.

Como resultado dos debates que ocorreram foram tomadas uma série de decisões. Duas delas envolvem uma nota ida à área do derrame de tolueno para a realização de um processo de inspeção que deverá contar com a presença de entidades representativas dos pescadores da região da Baía da Guanabara. Além disso, um pedido será feito para que a Polícia Federal realize um processo próprio de investigação, na medida em que até o momento as apurações feitas pela Polícia Civil do Rio de Janeiro foram inconclusivas.

Foto de Marcos Pedlowski (2)

A Petrobras estaria agindo para manter o incidente em modo “sigiloso”

Uma impressão que ficou marcada para as lideranças dos pescadores, a partir de depoimentos feitos na audiência, é de que a Petrobras estaria agindo junto à imprensa, a Assembleia Legislativa, e mesmo dentro de universidades para manter o incidente ocorrido, muito provavelmente no interior do Comperj, sob uma capa de extremo sigilo.  

A questão crucial para explicar esse comportamento seria o fato de que o ponto de vazamento estaria localizado dentro do Comperj, o que aumentaria as responsabilidades civis e econômicas da Petrobras, pois os danos ao meio ambiente e à população de diversos municípios que está sendo afetada pelo derramamento de tolueno e outros HPAs já estariam evidentes.

Um aspecto que preocupou muito as lideranças dos pescadores foi de que não apenas o tolueno, mas os peixes mortos que estão aparecendo em grandes quantidades na região próximo do vazamento estão sendo coletados e removidos para local ignorado, o que causa uma forte preocupação sobre o ponto de descarte desses materiais.

A água coletada no sistema Laranjal continua contaminada por tolueno

Uma informação que foi transmitida na reunião é de que há forte possibilidade de que a água sendo coletada no sistema Laranjal continua contaminada por tolueno, dadas todas as evidências que apontam para a continuidade do processo de vazamento que começou no início de abri. Para acalmar as lideranças dos pescadores foi dada a informação de que os níveis de tolueno estariam dentro dos limites máximo tolerados pela legislação.

O problema aqui se refere ao fato de que até o momento as análises realizadas parecem não estar sendo feitas nno ponto original de vazamento, e, mesmo assim, o tolueno e outros HPAs continuam sendo encontradas nas amostras de água que estão sendo coletadas.

Um possível agravante é o fato da contaminação também ter alcançado o lençol freático, o que implicaria não contaminação de poços cavados pela população que não possui acesso à rede de distribuição ou que procura minimizar os altos custos causados pelas caras tarifas cobradas pelas concessionárias.

Em suma, a situação envolvendo o uso da água do sistema Laranjal não está resolvida e não é trivial, o que demanda a realização de mais amostragens que cheguem não apenas ao ponto original de vazamento, mas também da identificação e responsabilização dos culpados.

Quando a Alerj vai entrar em ação?

Uma das perguntas que os pescadores que estiveram presentes na reunião se refere ao fato de que este incidente é de tamanha proporção que uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), já deveria ter ocorrido tão logo se teve notícia do vazamento de tolueno. 

Entretanto, até agora isso não ocorreu. Mas após a reunião do IBAMA, os pescadores agora esperam que isso ocorra de forma rápida, mesmo porque o problema continua ocorrendo e afetando não apenas as atividades de pesca, mas principalmente a qualidade da água que centenas de milhares de pessoas estão consumindo neste momento.  

A expectativa dessa ação na Alerj ficou mais próxima com uma fala do Coordenador da Comissão de Defesa do Meio Ambiente da Alerj, Gerhard Sardo, que indicou que levará a proposta para a realização de uma audiência pública para os demais membros da comissão.

Para uma liderança que eu ouvi, o problema vai muito além dos pescadores que, apesar de estarem tendo grandes perdas nas suas atividades, se preocupam com a saúde da população da região servida pelo sistema Imunana-Laranjal.

Presidente do Crea-RJ: ‘Poluição de tolueno que contaminou água de Niterói pode ter o mesmo impacto ambiental de Mariana e Brumadinho’

“O que aconteceu no manancial do segundo maior sistema de abastecimento de água do Estado do Rio, o Imunana-Laranjal, foi um desastre que pode ter o mesmo impacto ambiental das tragédias de Mariana e Brumadinho. O acidente mostra o risco atrelado à indústria petroquímica e a importância dos royalties pagos para que os órgãos públicos tenham condições de fazer ações de redução de risco. Isso não exime o fato de se descobrir os responsáveis e cobrar deles o ressarcimento pelos prejuízos”

CREA RJ TOLUENOO presidente do Inea, Renato Bussiere, o secretário de Ambiente, Bernardo Rossi, e o presidente do Crea-RJ, Miguel Fernández, no marco zero da contaminação de tolueno no Rio Guapiaçu 

Por CREA-RJ

A avaliação é do presidente do Crea-RJ, o engenheiro Miguel Fernández, que esteve em inspeção técnica no Canal Imunana, em Guapimirim (RJ). Acompanhado do engenheiro Miguel Fernández y Fernández, o presidente do Crea visitou nesta sexta-feira, dia 12 de abril, o marco zero da tragédia, no município de Itaboraí, onde há um acampamento com cerca de 200 pessoas, entre técnicos da Transpetro, Cedae, Inea, e de concessionárias como Águas do Rio, além de agentes da Polícia Ambiental e bombeiros.

O acampamento da gestão da crise do tolueno recebeu também visitas do secretário de Ambiente e Sustentabilidade estadual, Bernardo Rossi, do presidente do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Renato Jordão Bussiere, além de uma comissão da Alerj formada pelos deputados Rodrigo Amorim (PTB), Professor Josemar (Psol) e Luiz Paulo (PSD), que é engenheiro. O secretário de Ambiente afirmou que surgiu uma “lagoa de tolueno” numa área de 20 quilômetros quadrados, o equivalente ao município de Nilópolis, na Baixada. Naquele local, a quantidade do produto é de 800 microgramas por litro, quando o tolerável pelo Conama é de apenas 30.

Em reunião no trailer da Ambipar – contratada pela Petrobras – o deputado Luiz Paulo questionou o secretário de Ambiente sobre como as autoridades estão preparadas para lidar com uma chuva forte na região, que poderá aumentar a gravidade da contaminação. No caso de necessidade, os técnicos da Cedae informaram que estão prontos para suspender novamente o abastecimento de água do sistema Imunana-Laranjal. O secretário Bernardo Rossi disse reconhecer até a hipótese de fazer um desvio no canal.

O deputado Luiz Paulo lembrou que será preciso descontaminar todo o solo e ter um plano de contingência para que eventos como este não voltem a afetar o abastecimento de água.

“Vistoriamos toda aquela região e verificamos a gravidade do desastre ambiental com tolueno, que é um hidrocarboneto derivado do petróleo, em uma área bastante grande, fazendo fronteira com o Polo Gaslub. É necessário descontaminar todo o solo que está poluído e, mais ainda, ter um plano de contingência para que eventos como este não afetem o abastecimento de água”, afirmou o deputado Luiz Paulo, que sobrevoou a área com os deputados.

Técnicos da Cedae afirmam que a contaminação ameaça os manguezais da Baía de Guanabara. Vizinha à área do desastre, a APA de Guapimirim também está ameaçada, o que pode levar o MPF a entrar no caso.

Uma das barreiras instaladas para conter o tolueno no Rio Guapiaçu, em Itaboraí

Uma das barreiras instaladas para conter o tolueno no Rio Guapiaçu, em Itaboraí

A Cedae já conseguiu estabilizar a produção de água e zerar a contaminação no sistema Imunana-laranjal, mas o solo está contaminado. Basta uma chuva forte para colocar o sistema novamente em risco, prejudicando cerca de 2 milhões de pessoas.

O presidente do Crea-RJ, engenheiro Miguel Fernández, percorreu a área do Rio Guapiaçu contaminada por tolueno. Miguel constatou que a área está repleta de barreiras para conter o produto químico, que está concentrado numa área de cerca de 20 quilômetros quadrados, em fazendas próximas ao Polo Gaslub Itaboraí, da Petrobras, o antigo Comperj.

Os técnicos da Cedae explicaram ao presidente do Crea que a produção da água foi estabilizada. A água do Canal Imunana — que faz parte do sistema de abastecimento de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, Maricá e Paquetá – está sendo monitorada de hora em hora, na captação, em Guapimirim, com o emprego de um medidor de oxigênio dissolvido on-line. Na estação de bombeamento, técnicos da Cedae trabalham diuturnamente colocando carvão ativado para purificar a água. No início foram usadas 30 bolsas de 500 quilos cada. Na sexta-feira, os técnicos estavam empregando 12 bolsas.

O Sistema Imunana-Laranjal é composto pelo Canal de Imunana, que capta e leva a água dos rios Guapiaçu e Macacu até a elevatória de água bruta através de um canal no município de Guapimirim. A água é então bombeada até a Estação de Tratamento de Água (ETA) do Laranjal.


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Fonte: CREA-RJ

Pescadores denunciam que o derrame de tolueno continua ameaçando a integridade ambiental da Baía da Guanabara

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Barreiras físicas são instaladas em corpo aquático que teria sido contaminado pelo derrame de tolueno 

Convivendo há décadas com constantes derrames de substâncias tóxicas no interior da Baía da Guanabara por vazamentos e descartes realizados pela Petrobras, os pescadores artesanais que sobrevivem da pesca no interior daquele ecossistema, estão sendo novamente assombrados por mais um episódio de contaminação, agora por tolueno, que é a matéria-prima a partir da qual se obtêm derivados do benzeno, como caprolactama, sacarina, medicamentos, corantes, perfumes, TNT e detergentes.

A situação que neste momento preocupa os pescadores da Baía da Guanabara é, na prática, uma espécie continução de episódio ocorrido no início de abril que forçou a suspensão da captação de água no Sistema Imunana-Laranjal, responsável pelo abastecimento de várias cidades da região metropolitana do Rio de Janeiro, e que está localizado em um trecho do Rio Guapiaçu, em Guapimirim, na Baixada Fluminense.

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Barreiras físicas instaladas para deter fluxo de tolueno para o interior de rios da Baía da Guanabara

A situação de forte preocupação em torno deste episódio  continuado envolvendo o derramento de tolueno já forçou a realização de uma realização de lideranças de pescadores sob liderança da Rede Ahomar com a direção do IBAMA no Rio de Janeiro no dia 24. Mas lideranças presentes dã conta que a reunião que não chegou a ter resultados conclusivos, especialmente porque o licenciamento dos dutos de onde teriam vazado o tolueno é de responsabilidade do Instituto Estadual do Ambiente (INEA), configurando uma verdadeira dança das cadeiras.

Afora, as dificuldades de acesso aoss dados em posse do INEA,  as lideranças dos pescadores reclamam que se estabeleceu uma cortina de silêncio sobre o nível de contaminação que efetivamente ocorreu nos rios alcançados pelo derrame de tolueno. A questão para os pescadores é que, apesar do tolueno não ser bioacumulável, os seus efeitos biológicos no homem e em animais se manifestam principalmente no sistema nervoso central,  tendo como efeitos coleterais, mesmo em doses baixas, a ocorrência de casos de náusea, tontura, desorientação e queda da imunidade. O problema é que em casos de exposição a concentrações extremas, pode haver, inclusive, a morte do organismo afetado. 

Uma coleta realizada em 20 de abril, sobre a qual os pescadores têm dúvidas sobre a validade científica, aponta que efetivamente há ainda a presença de tolueno nas amostras coletadas, ainda que a maioria esteja supostamente em níveis abaixo dos limites estabelecidos  pela Resolução CONAMA 357/2005 (ver figura abaixo).

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Desta forma, neste momento  há uma forte mobilização entre os pescadores para obter a devida transparência sobre o que de fato está ocorrendo nos rios que estariam sendo afetados pelo episódio continuado de contaminação de tolueno.  Um dos temores é que as atividades de pesca sejam prejudicadas por um período de tempo que comprometa a geração de renda e a obtenção de alimentos para centenas de famílias de pescadores.

Uma liderança da Rede Ahomar com quem pude conversar sobre a situação, me informou que  a situação ocorrendo em Guapimirim é fortemente preocupante, na medida em que que a retomada da coleta de água para abastecimento do Sistema Laranjal pode não ter sido acompanhado pelo devido  monitoramento, colocando em risco a saúde da população.